sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

BLOG DE PERNAS PRO AR POR 30 DIAS

Estarei por alguns dias, a partir de hoje (24/12/2010) sem contato com o mundo da internet. Nos últimos dias de janeiro retomarei contato. Antes deixo esta poesia de Bertold Brecht :


Militantes do PSTU - campanha 2010









ELOGIO DO PARTIDO

O indivíduo tem dois olhos
O Partido tem mil olhos
O Partido vê sete Estados
O indivíduo vê uma cidade.
O indivíduo tem sua hora
Mas o Partido tem muitas horas.
O indivíduo pode ser liquidado
Mas o Partido não pode ser liquidado.
Pois ele é a vanguarda das massas
E conduz a sua luta
Com o método dos Clássicos, forjados a partir
Do conhecimento da realidade.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

ITÁLIA: Hoje os estudantes, amanhã os operários




Do site do PSTU

O governo do premiê italiano, Silvio Berlusconi, enfrenta uma serie crise que poderá derrubá-lo do poder. Além de inúmeros escândalos de corrupção e sexuais, o premiê enfrenta uma sucessão de protestos contra as medidas de austeridades para reduzir o déficit fiscal do estado. O ataque do governo prevê um corte de verbas de 25 bilhões de euros em prol da austeridade fiscal. Os primeiros ataques já estão sendo respondidos pelos estudantes. No dia 14 de dezembro, Berlusconi enfrentará duas votações de moções de confiança nas duas instâncias do Parlamento, o Senado e na Câmara dos Deputados. Uma derrota em qualquer uma delas o forçaria a renunciar e, possivelmente, resultaria na antecipação das eleições. Leia abaixo um artigo publicado pelo O Partido de Alternativa Comunista (PdAC, secção italiana da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional), que faz uma análise dos protestos do dia 30 de novembro. De lá pra cá, outros protestos sacudiram o país. O último foi realizado no dia 11.

Depois das mobilizações da semana passada, cuja radicalidade está eficazmente sintetizada nas imagens dos estudantes que investiram contra o Senado Italiano, as lutas contra o Decreto-lei Gelmini (Atual ministra da educação de Berlusconi) explodiram de novo com força na terça-feira, 30 de novembro, dia da votação final do documento. Pelo menos, um milhão de estudantes, pesquisadores, precários e docentes saíram às ruas para dizer não aos cortes e à drástica aceleração dos processos de privatização do ensino público. Depois do corte no Ensino de 180 mil trabalhadores precários, do congelamento dos salários dos trabalhadores do serviço público (professores e pesquisadores incluídos), da destruição do ensino público secundário com a chamada “reforma” das escolas superiores, é agora a vez da destruição definitiva do Ensino Superior público.




Centro-direita e centro-esquerda unidos nas privatizações

Depois de décadas de leis bipartidárias (de Berlinguer e Fioroni no centro-esquerda e de Moratti e Gelmini no centro-direita), que desmantelaram o ensino público e aceleraram os processos de privatização, hoje o governo Berlusconi desfere o golpe final à Universidade estatal. O Decreto-lei aprovado prevê o corte drástico dos financiamentos às universidades. As que se encontra com os orçamentos no vermelho não só não verão os seus recursos econômicos redimensionados, mas arriscam-se mesmo serem entregues a comissões. Serão introduzidos em todas as Universidades Comissões de Administração abertas à participação de empresas, que transformarão o ensino universitário numa oportunidade de investimento para o capital privado. A consequência imediata será um aumento estratosférico das taxas universitárias. Para compensar os cortes do governo, as taxas aumentarão substancialmente, com a consequente impossibilidade para os filhos da classe operária de terem uma formação universitária.

Tudo isto é o resultado lógico das leis de autonomia promulgadas anteriormente pelos governos de centro-esquerda. Por esta razão são também hipócritas e ridículas as afirmações de Bersani, de Vendola, de Di Pietro e Ferrero em apoio aos pesquisadores e aos estudantes. Para dar apenas um exemplo, o decreto que pela primeira vez transformou os institutos escolares (escolas de ensino profissional superior) em fundações de direito privado tem o nome do próprio Bersani.

A tudo isto se adicionam, quer os cortes das bolsas de estudo (até já se fala apenas de alguns “empréstimos” para os mais… “meritórios”), quer o congelamento das contratações por tempo indeterminado dos pesquisadores (fala-se de contratos trianuais renováveis apenas por duas vezes, depois ou se passa ao quadro de efetivos – perspectiva decididamente improvável, tendo em conta o turnover – ou se é despedido). A piada está no fato de que, enquanto aumenta a carga de trabalho para os docentes precários, diminuem os salários e as garantias para o futuro, pois está ocorrendo uma demissão de milhares de bolsistas e doutorandos, que durante décadas desenvolveram atividades de pesquisa, a troco de umas míseras bolsas de estudo.

A explosão das lutas: um aviso para governos e patronato

Em toda Europa, as lutas estudantis estão a irromper com uma força que há décadas não se via. Em Londres, as manifestações estudantis são quase quotidianas, com inúmeras investidas contra os edifícios do governo. Na França, em todas as cidades, existem coordenações de luta entre operários e estudantes. Também em Itália, nestes dias, as massas estudantis, em conjunto com pesquisadores e docentes precários, invadiram as estradas, as avenidas e as praças das principais cidades italianas.

Apenas na terça-feira, centenas de milhares de jovens, parafraseando um dos slogans lançados nestes dias, “bloquearam as cidades”. Em Bolonha, milhares de estudantes criaram uma barreira humana na estrada. Em Pisa, Génova, Pádua e Cosenza, as estações dos trens foram invadidas pela onda estudantil. Foram centenas e centenas as faculdades e os institutos superiores ocupados. Mobilizaram-se também os centros universitários, como os de Bérgamo e Brescia, que nas últimas décadas não tinham conhecido qualquer movimento de protesto. Claramente, a força de colisão das lutas estudantis ignora o endurecimento das leis de segurança desejadas por Maroni (com graves sanções penais para aqueles que bloqueiem o trânsito e as estradas). Esta é a demonstração de que apenas com a mobilização das massas se pode reverter as relações de força. Como na semana passada, o centro do protesto é Roma. Os estudantes, em massa, cercaram o Parlamento; a polícia, na base da força, travou a enchente humana, impedindo o ingresso no Montecitorio (sede da camara dos deputados) com a colocação de viaturas. Mas os estudantes não pararam e procuraram derrubá-las.

E agora, greve!

As palavras de ordem dos estudantes demonstram uma maior consciência em relação aos anos passados. As derrotas recentes, incluindo a aprovação do Decreto-lei, precisamente na terça-feira passada, demonstram aos jovens que não é lícito esperar seja o que for dos partidos do governo, nem dos seus interlocutores parlamentares e governamentais. Por isso, hoje os estudantes gritam: “nós não pagaremos a crise” ou “voltemos a agarrar o futuro”. Por entre as palavras de ordem, está a consciência fundamental de que este sistema econômico e social nada tem para oferecer às jovens gerações. Mas nenhuma reivindicação poderá ser ouvida ou ser vitoriosa, se a luta dos estudantes não se aliar à dos trabalhadores. É necessário construir uma grande greve geral europeia, a partir da qual dar vida a um movimento de lutas de modo a que, em conjunto com a ocupação das fábricas e a criação de comitês de luta em todos os locais de trabalho, se transformem as relações de força a favor das massas proletárias. A crise do capitalismo mostra, na pele dos jovens e dos operários, que apenas a ruína deste sistema econômico e a construção de uma economia socialista podem garantir um futuro às jovens gerações.

Fonte: http://www.litci.org/pt/

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

CARTA – DENÚNCIA À SOCIEDADE BRASILEIRA

Quilombo Cruzeiro/Palmeirândia (MA), 01 de dezembro de 2010


O QUE SIGNIFICA UMA LINHA DE MANDIOCA?

Significa uma produção 25 a 30 paneiros de farinha. Significa o trabalho de 10 meses a um ano, desempenhado por mais de 15 trabalhadores, numa jornada de trabalho de mais de 12 horas diárias.

Significa alimento para 900 pessoas por um dia, se cada uma comer um quilo de farinha.
Mas, além de comer a farinha, ela pode ser transformada em carne, açúcar, café, roupa, remédio e até educação para os filhos e filhas de dezenas de famílias de quilombolas. Então será que dá para saber o que significa uma linha de mandioca para um trabalhador quilombola?

Bom e então, quanto será que custa um quilo de farinha na mesa de um latifundiário? E de um policial? De um promotor? E na mesa de um juiz quanto será que custa?
Custam 46 linhas de roça destruídas com fogo. Custam as vidas de centenas de famílias postas em risco pela falta de alimento, pelos mandos e desmandos daqueles que não sabem o que é ter fome.

Custa também o sangue inocente de dezenas de camponeses, quilombolas, indígenas assassinados neste Maranhão, que se sustenta na arbitrariedade dos atos de seus representantes e, no completo descaso para com a vida destes trabalhadores que com seu sangue sustentam impérios neste de chão de exploração.

Custa ainda o desespero de mulheres, que já não conseguem dormir por não saber onde vão plantar para alimentar seus filhos dignamente, com o trabalho honesto de seu braço de trabalhadora rural. Ela que enfrenta o sol, ele que enfrenta a chuva e os dois que enfrentam juntos outras tempestades como aquelas provocadas por decisões de quem se acha dono da verdade. Juízes, latifundiários, grileiros. Eles que não sabem o que é ter fome.
Custa a peregrinação de enorme quantidade de famílias quilombolas expulsas do seu chão, rumo à cidade grande, para sofrer e ver seus filhos, suas filhas entregues ao terror das grandes cidades.

Custa uma sentença de morte a seus jovens que são vitimados por drogas, pela polícia como se vê no rio de Janeiro, em São Luís. A morte nas penitenciárias ou na rua. É isto o quanto custa um quilo de farinha na mesa do latifúndio, de policiais, de promotores e de juízes. Na mesa de governadores, prefeitos, e todos os seus comparsas.

Custa a morte de comunidades inteiras que são obrigadas a largarem seu modo de vida, comunitário, de respeito a cada ser vivo, aos seus semelhantes e à TERRA. Significa um etnocídio, uma morte qualificada pelo grupo e modo de viver deste grupo. Os sentenciados são: Quilombolas, ribeirinhos, índios, posseiros.

Sabem por que este é o preço do quilo de farinha na mesa destes senhores? Porque é com o trabalho suado de mulheres e homens neste país, inclusive dos quilombolas, que são pagos a estes senhores, ricos salários. Ou, que são sustentados os ricos negócios de alguns destes senhores.

E na mesa do quilombola, da quilombola, será quanto custa um quilo de farinha?
Na mesa do quilombola custa sua própria vida, senhores todos poderosos. Sim, na mesa do quilombola um quilo de farinha custa sua própria vida.


QUEM SOMOS NÓS

Então senhor juiz, discutir teses acadêmicas não pode, então vamos discutir sobre trabalho.

Os senhores costumam dizer que somos preguiçosos, que não gostamos de trabalhar. Mas senhor, todos os dias nós acordamos 5:30 da manhã e às 7;00 já estamos na roça e de lá saímos 6 horas da tarde ou mais tarde ainda, porque trabalhamos enquanto se puder ver o sol.

E vossa excelência, quantos dias trabalha? Segunda não está, quinta depois do meio dia não está. Quando é que o senhor está no seu posto de trabalho senhor? E, para completar quando o senhor está ainda não pode discutir teses acadêmicas! Qual é mesmo o seu trabalho senhor?
Senhor juiz, nós trabalhamos quase 12 horas por dia. E o senhor, quantas horas mesmo o senhor trabalha? Nós recebemos por salário, nossas roças devoradas no fogo, e o senhor Excelência, qual o tamanho do seu salário?

Vossas senhorias nas suas reuniões de final de semana, nas casas de vossos amigos, que depois trazem suas causas para serem julgadas por vossas excelências, vocês falam que somos parasitas do Estado, que recebemos bolsas isso, bolsa aquilo. É recebemos mesmo e sabe por que senhor juiz, porque vossas excelências trabalham pouco e ganham muito e ainda como resultado do seu trabalho nos vemos obrigados e ficar sem trabalhar. Somos nós os parasitas, senhor? Como, se trabalhamos todos os dias quase 12 horas?

Então senhor, deite sua cabeça no travesseiro e pense na situação de cada trabalhador rural quilombola que tem suas vidas controladas por suas decisões.

Carta-Denúncia dirigida a toda a sociedade brasileira acerca da violência sofrida pelo quilombolas do quilombo Cruzeiro, município de Palmeirândia, que, em pouco mais de 01 ano, já sofreu três despejos judiciais. No último, executado no dia 22 de novembro, foram incendiadas mais de 40 linhas de roças. O juiz Sidney Cardoso Ramos, titular da comarca de São Bento, atua como se fosse advogado da pretensa proprietária Noele de Jesus Barros Gomes.

sábado, 4 de dezembro de 2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Rio de Janeiro pacificado. Será mesmo?


*Zé Maria, metalúrgico e presidente nacional do PSTU


• Toda a imprensa brasileira e internacional tem dado grande destaque para os acontecimentos dramáticos que vive a região metropolitana do Rio de Janeiro neste momento. Ao noticiar os ataques desencadeados pelo crime organizado contra alvos da cidade e o imenso aparato militar do Estafo mobilizado para enfrentar os criminosos, tratam de difundir acriticamente – como é praxe, aliás, na grande imprensa – a versão do governo. A versão é de que se trata de uma ação necessária para erradicar o crime organizado que ameaça a cidade e inferniza a vida das comunidades carentes do Rio. Nas palavras, que beiram ao cinismo, do governador carioca “o Rio está sendo pacificado”. Esta discussão tem várias dimensões e aspectos, e é muito difícil tratar de todas elas em um só artigo. Mas eu queria discutir rapidamente algumas delas aqui, em particular esta falácia da “pacificação do Rio”.

Em primeiro lugar não se pode deixar de registrar e denunciar o viés racista e discriminatório contra negros e pobres que caracteriza o enfoque com que as autoridades e, em particular a polícia, usam para tratar deste assunto. O tratamento que tem sido dado pelas autoridades e pela polícia às comunidades carentes do Rio é absolutamente inaceitável. Não são apenas os traficantes que eventualmente vivem nestas comunidades que são criminalizados e alvo da repressão da polícia. Todos os moradores, em sua imensa maioria negros e pobres, são tratados como bandidos, desrespeitados sistematicamente em todos os seus direitos, agredidos pela polícia de forma covarde e sistemática.

Alguém em plena consciência acredita que seria visto como normal, que a polícia chegasse chutando as portas de todas as casas do bairro dos Jardins, em São Paulo, ou da Barra da Tijuca, Leblon ou São Conrado, no Rio, agredindo seus ocupantes, para “procurar bandidos”? Pois é exatamente isto que está acontecendo nas comunidades carentes do Rio de Janeiro neste momento. São, em sua imensa maioria, pessoas trabalhadoras, honestas, que estão sendo tratadas assim. É claro que a presença e a ação dos traficantes também inferniza, em vários sentidos, a vida das pessoas que vivem nas comunidades carentes. Um deles, talvez o mais cruel, é justamente o envolvimento de crianças e jovens (abandonados pela sociedade, e vitimas fáceis portanto) nas atividades criminosas. Mas nada disso justifica que o Estado faça o que faz com pessoas que não são criminosas.

E, mais grave ainda são as centenas de assassinatos praticados pelas forças de segurança do Estado todos os anos. Quantas pessoas são vitimas de “bala perdida” disparadas pela polícia? Dizer que parte delas é atingida por balas perdidas disparadas pelos bandidos não justifica essa barbárie praticada pelo Estado, como já está dito acima. Quantos jovens são assassinados pela polícia, sem nunca terem cometido nenhum crime, simplesmente por serem negros, pobres e estarem no lugar errado e na hora errada. Numa leitura superficial dos grandes jornais do país poderemos contar às centenas os casos como esses. Centenas de pessoas inocentes, mortas pelas forças de segurança que deveriam protegê-las. Conseqüências? Não há nenhuma. Eram “pobres coitados” mesmo. Aqui se manifesta a face mais cruel da discriminação. Não há conseqüências porque são negros e pobres. Seria essa a mesma situação se estas centenas de mortos fossem brancos, filhos da classe média alta e da burguesia carioca? Alguém pode imaginar a impunidade atual, se estas centenas de jovens mortos fossem brancos, moradores da Barra da Tijuca ou do Leblon, ou dos Jardins, em São Paulo?

Aqui o que se vê é uma das faces da exploração capitalista que os governantes e a mídia tentam esconder usando o preconceito. O terreno fértil que o crime organizado encontra nestas comunidades, para recrutar, inclusive, os seus “soldados”, não existe por um problema relacionado ao caráter das pessoas que vivem aí. Existe porque essas pessoas, milhões de pessoas, são condenadas pelo desemprego, pelos baixos salários, pela ausência de políticas públicas voltadas para garantir moradia digna, saúde, educação, etc, etc, a viver onde vivem e da forma que vivem. São fruto da barbárie que caracteriza a sociedade capitalista que, para garantir os bilhões e bilhões de rentabilidade para os donos do capital, produzem essa legião de deserdados, condenadas a viver em condições cada vez mais indignas. Não são elas que escolhem viver assim. Isso lhes é imposto pela sociedade. Se alguém, portanto, deveria ser criminalizado por esta situação são os banqueiros, grandes empresários e as autoridades governamentais, os verdadeiros responsáveis por tudo isso.

Não há como acabar com este “terreno fértil” onde floresce o crime organizado sem colocar fim à fonte que o alimenta: a exploração capitalista e a discriminação, racial e social.

Até aqui eu imagino o que pensaria sobre o que estou dizendo as pessoas que têm a sua vida cruzada por esta situação que vive o Rio de Janeiro neste momento. Seria preciso primeiro acabar com o capitalismo para que possa haver alguma mudança nessa situação? Para que as pessoas, pelo menos, fiquem livres do assedio e da violência, seja por parte do crime organizado, seja por parte da polícia? Isso não seria razoável, não é mesmo? É por isso que a ampla maioria da população apóia a ação do aparato de repressão que está em curso neste momento no Rio (a imprensa afirma que esse apoio existe, inclusive, entre os moradores das próprias comunidades carentes). Elas acreditam que, como garante o governador do Rio, isso vai acabar com o crime organizado e “pacificar o Rio”. As pessoas acham que ficarão livres, daqui para frente, dessa violência toda que aflige as suas vidas. Mas isso é verdade mesmo?

Não. Não é preciso esperar o fim do capitalismo para mudar alguma coisa nessa situação de violência que aflige a vida das pessoas. Mas tampouco é verdade que a ação desenvolvida pelo governo estadual e federal através de seus aparatos de repressão vai acabar, ou mesmo diminuir, este quadro. Trata-se de uma falácia. Primeiro quero falar disso que chamo de falácia das autoridades, mais à frente falarei do que acredito que deva ser feito.

É sabido por todos que o tráfico de drogas é o carro chefe das finanças do crime organizado. Alguém acredita que a invasão, e mesmo uma eventual prisão de todos os traficantes de drogas que vivem nos morros cariocas, vai simplesmente acabar com o consumo e, portanto, com a demanda por drogas no Rio de Janeiro? Se você não acredita, está com toda a razão. As autoridades também não acreditam, por isso estão mentindo quando falam que esses problemas vão acabar. A procura por drogas, o vício, a dependência de drogas, como se sabe há muito, alem de um problema de liberdade, escolha individual, é um problema de saúde pública.

Esta situação envolve centenas de milhares ou mesmo alguns milhões de pessoas só no Rio de Janeiro. E vai seguir levando essas pessoas a buscar a droga, onde quer que seja, ou seja, a demanda vai continuar. E isso aqui é capitalismo, onde há demanda, vai haver oferta. Não nos enganemos, é um mercado que deve render quase 1 bilhão de reais por ano, só no Rio. O que vai acontecer é óbvio: a única mudança será a mudança de “fornecedores”, por assim dizer (a não ser que as autoridades acabem fazendo algum acordo com os atuais mesmo...). A droga no Brasil é ilegal. Então os novos “fornecedores”, como os atuais, comporão algum tipo de crime organizado. Esse novo crime organizado vai recrutar mão de obra onde?

Hoje são dezenas de milhares trabalhando para o tráfico no Rio. E assim vamos a uma repetição da história. Dramática e tragicamente. Quem viu em Tropa de Elite 2 como as milícias substituíram o tráfico na ficção (ficção?) tem uma idéia bastante clara do que estou dizendo. O filme, aliás, é bastante ilustrativo quando mostra setores da própria polícia ocupando o espaço e os “negócios” antes ocupados pelos traficantes. Repito: há a demanda e o negócio é literalmente milionário.

Daqui se depreende três medidas fundamentais para começar a superar esta situação, mesmo ainda nos marcos dessa sociedade capitalista. Elas não vão assegurar uma paz verdadeira para todos, pois não pode haver paz onde há fome, exploração e opressão, situações inerentes a essa sociedade em que vivemos. Mas sem dúvida tornariam muito melhor a vida das pessoas que hoje estão sujeitas ao flagelo do crime organizado e da violência policial.

A primeira delas é a legalização das drogas. Como eu disse antes, a procura pela droga, seja por um desejo ou curiosidade individual, seja pelo vício e dependência química vai continuar. O usuário da droga não a compra do traficante porque gosta de financiar o crime organizado, e sim porque este é o único fornecedor da praça, tão simples assim. Se legalizarmos a droga e o próprio Estado assumir o monopólio do seu fornecimento (mediante acompanhamento, apoio e tratamento médico), esta situação mudará completamente. Os que sofrem de dependência química começarão a ser tratados adequadamente, como um cidadão doente que precisa de apoio, ajuda médica para se livrar de sua doença (isso não é papel do Estado?). De quebra, retiraríamos assim a principal fonte de financiamento do crime organizado. Esse dinheiro poderia ser canalizado para financiar as próprias políticas de saúde voltadas para o atendimento do viciado, e de campanhas educativas para proteger os jovens contra o vício. Lamentavelmente, todo o debate feito pela candidata Dilma nas eleições (do seu principal oponente também), e pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, foi em sentido oposto. Mais repressão, diziam eles. “Se a droga for legalizada teremos um imenso problema de saúde pública”. Ora, se reprimir, ilegalizar o consumo da droga, servisse para alguma coisa não haveria mais viciados nem venda de drogas no Brasil, pois isso é tudo que tem sido feito sabe-se lá há quantos anos. E, problema colossal de saúde pública já temos, pois os viciados e dependentes químicos de drogas ilegais (para não falar no álcool e no tabaco) se contam às centenas de milhares. E esse número não diminui com a proibição, pelo contrário, o número só tem aumentado.

A segunda questão se refere à polícia, que longe de solução se apresenta como mais uma fonte de terror à população das comunidades carentes. Muitas vezes, inclusive, associada ao crime organizado. É intolerável a forma como a polícia trata a população pobre e negra em nosso país. É, pior ainda, completamente ineficaz para combater o crime. É preciso unificar as polícias, desmilitarizá-las para que seu comando seja escolhido e controlado pelos cidadãos, única forma de fazer com que ela esteja a serviço de proteger e não de aterrorizar a população. Os defensores da situação atual falam que a população não terá discernimento, condições de escolher bem, acabaria elegendo a milícia, e um longo etcetera. Não que as autoridades responsáveis pelas escolhas dos chefes atuais da polícia tenham moral para falar do assunto.

Difícil ver uma instituição tão mal administrada, distante de seus objetivos e atravessada de ponta a ponta pela corrupção como é o caso das polícias em nosso país. Mas é revoltante ver como estas autoridades e alguns jornalistas subestimam a inteligência das pessoas. O povo saberá sim escolher os chefes da polícia e também controlá-los, assegurando uma estrutura de segurança que responda às necessidades da população. Também é necessário agregar que os trabalhadores que fazem parte da estrutura de segurança do Estado têm de ser tratados com dignidade. Isso se aplica aos seus direitos democráticos – os policiais têm de ter o direito de se organizar em sindicatos e de participar da vida política do país – como também no que diz respeito ao seu direito a um salário e condições de trabalho dignas.

Em terceiro lugar, é preciso combater duramente as estruturas que dão sustentação ao crime organizado. Isso vai desde o combate à corrupção nas estruturas do Estado que deveriam coibir o crime e se associam a ele, até acabar com a lavagem do dinheiro do crime organizado que é feito nos grandes bancos (alguém aí acredita que os milhões de reais faturados todo mês pelos traficantes ficam escondidos dentro de um colchão num barraco de uma favela?). São grandes empresários, banqueiros e políticos, os sócios do crime organizado e responsáveis por boa parte da “legalização” dos seus recursos. O Estado tem instrumentos para identificar e punir (exoneração a bem do serviço público, cadeia, confisco dos bens, etc.) todos os corruptos e burgueses associados ao trafico de drogas e ao crime organizado.

São algumas medidas, estas que citamos aqui. Há outras. Mas é nesta direção que devemos caminhar se queremos reverter a situação que vivemos hoje nessa área. E devemos fazê-lo ao mesmo tempo que seguimos lutando para superar de vez esta sociedade injusta e desigual em que vivemos e avançarmos para a construção de uma sociedade socialista. São estas medidas que devemos exigir das autoridades do Rio de Janeiro e do país para que se possa dizer, aí sim, que o Rio e o país estariam livres do crime organizado. De quebra, livraríamos a população, também, da violência e do abuso da polícia.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

EXPLICAÇÃO

Por motivos técnicos foi retirado dete blog um video da Companheira Cláudia Durans que discutia o dia da consciência negra.
Noleto