segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

ATÉ 2012

A todos lutadoras e lutadores desejo que no próximo ano nossa classe conquiste mais direitos para que possamos viver dias melhores do que este que se finda. Vou aposentar este blog até o dia 2 de janeiro e só voltarei a publicar algo se for de extrema importância para a luta dos trabalhadores. Até lá vou curtir meus filhos, amigos e parentes, além da minha nova rua e casa.


Frente da minha casa, a rua e a visão do fundo do quintal





segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

UM ANO IMPOSSÍVEL DE ESQUECER

EDITORIAL DO OPINIÃO SOCIALISTA 436




Manifestantes comemoram na Praça Tahrir, após a queda de Mubarak


• Esse é o momento em que as pessoas refletem sobre o ano que está acabando, mas, também, sobre o que está vindo. Alegrias e tristezas, esperanças e frustrações. Momentos muito diferentes, em geral cheios de significado, bons ou ruins. A tradição natalina projeta uma alegria artificial e muitas vezes inexistente. Mas o décimo terceiro salário e as férias (para os quem têm) tornam o fim de ano mais agradável para muitos.

É hora também de pensar coletivamente o futuro. Queremos nos dirigir aos ativistas que estiveram junto conosco nas lutas durante 2011. Essa edição do Opinião Socialista é dedicada a vocês, para fazermos, juntos, uma reflexão sobre o que ocorreu de mais importante nesse ano... E, também, as projeções para 2012.

Seguramente, você acompanhou as revoluções no Norte da África e do Oriente Médio. Deve ter se emocionado junto conosco ao ver as vitórias das massas, que derrubaram ditaduras no Egito e Tunísia. E, agora, torce pelas novas lutas contra o governo militar egípcio.

Você também acompanhou o debate em relação a Kadafi. Viu como nosso jornal esteve na linha de frente da defesa do levante contra sua ditadura e pôde comprovar que, desde o início, nos colocamos contra a intervenção imperialista na Líbia. Na realidade, os governos imperialistas não têm a mínima preocupação com a democracia. Por isso, apoiaram Kadafi enquanto ele mantinha uma ditadura estável e assegurava o controle das multinacionais sobre o petróleo líbio. Passaram para a oposição quando as massas se rebelaram diretamente contra ele, para tentar manter seu controle sobre o petróleo. Vergonhosamente, grande parte da esquerda apoiou Kadafi e foi derrotada junto com ele. Outra parte também se equivocou gravemente ao apoiar a intervenção imperialista. Mantivemos nossa independência política, apoiando a revolução do povo líbio contra Kadafi e lutando contra o imperialismo.

A situação na Europa deve tê-lo alertado da dimensão histórica que a crise econômica está tomando. Uma situação que, hoje, se traduz em mobilizações radicalizadas e crises políticas. O capitalismo se aproveitou da queda das ditaduras stalinistas no Leste Europeu para comemorar a “morte do socialismo”. Agora, a crise recoloca a discussão da necessidade do socialismo em pauta.

Você deve ter, também, acompanhado a evolução do governo Chávez, na Venezuela, que apóia Lula e Dilma, no Brasil, e apoiou Kadafi na Líbia. Esse governo prendeu e entregou para o governo, de direita, da Colômbia o dirigente das FARC, Julián Conrado, gerando repúdio por parte de todos aqueles que mantém algum grau de independência política. Nós, desde o início, não nos iludimos com o “socialismo do século 21” de Chávez, que é apenas o velho nacionalismo burguês reciclado.

Como não podia deixar de ser, você também viu a evolução do governo Dilma. Grande parte dos trabalhadores segue apoiando o governo. Mas os ativistas que estiveram à frente das lutas metalúrgicas, da construção civil, de professores, dos Correios, dos bancários e do funcionalismo público, podem tirar suas próprias conclusões.
De que lado estava o governo? Ao lado das greves, contra os patrões? Ou em defesa dos patrões, usando até a repressão para derrotar os trabalhadores?

Os ativistas das lutas estudantis puderam comprovar de que lado estava a UNE, governista e chapa branca, sempre contra as mobilizações, ao lado do governo.
Os que estiveram à frente das lutas dos trabalhadores, da juventude e setores oprimidos fizeram a experiência prática de terem a CSP-Conlutas e a ANEL como instrumentos necessários para a mobilização e unificação das lutas.

O ano de 2011 dificilmente poderá ser esquecido. É o momento em que a crise econômica internacional se juntou a grandes mobilizações de massas em muitas partes do mundo. Em que a revolução e o socialismo começam a voltar ao primeiro plano das discussões.

Agora, é hora de pensar em 2012 e no futuro. Existe um partido que esteve do seu lado nas lutas. Que pode ter uma política revolucionária porque é independente de Dilma, de Chávez, da Kadafi. E que expressa o programa da revolução socialista, cada vez mais necessário e presente. Esse partido é o PSTU.

Venha se juntar a nós para ajudar a construir o novo. A social-democracia dos partidos parlamentares e eleitorais não tem nada de novo. O PT que o diga. O stalinismo do PCdoB tampouco aponta para o futuro. Não por acaso, está junto ao PT em tudo, até na corrupção.

Venha se juntar ao nosso partido para lutar pelo novo, pelo socialismo, pela revolução.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Sócrates: "Imagina a Gaviões da Fiel politizada! Esse é o grande medo do sistema" Confira a entrevista concedida por Sócrates ao Sintrajud-SP




Como você está vendo a organização da Copa do Mundo aqui no Brasil daqui a quatro anos?


SócratesAqui no Brasil, ainda não há organização nenhuma, pelo que eu saiba. Na verdade, existe uma desorganização dirigida para que os investimentos que sejam alocados nas obras não passem por licitações, então estão protelando o máximo possível para que isso ocorra.

Você acha que é intencional?

É claro! Isso aconteceu no Pan-Americano, acontece sempre. Quanto mais demorado melhor, porque aí tudo é feito a toque de caixa, e a toque de caixa tem situação emergencial que vale a pena para desviar alguma coisa.

Você acha que a exclusão do Morumbi como um estádio da Copa tem a ver com isso?

Não tenho dúvida. Eles querem construir um outro estádio. Desde o começo estava na cara, criaram todo tipo de dificuldade. E acho que o São Paulo fez certo, fazer um investimento de 700 milhões no Morumbi? É mais fácil o São Paulo construir outro estádio.

Você acha que o interesse é mais econômico ou político?

É para-econômico. Não é nem econômico. Economicamente não poderíamos escolher Manaus em vez de Belém. Cuiabá como sede, onde eles vão ter que construir o estádio para depois ficar parado, Brasília a mesma coisa, Natal a mesma coisa. É não é interesse econômico. É desperdício de dinheiro. Desperdício econômico. É para-econômico, para desviar verba.

Você não vê o fato de o São Paulo ter encabeçado uma chapa de oposição na eleição do Clube dos 13 como um elemento para a exclusão?

Não, isso vem lá de fora. Todos os estádios vão ser reformados. Alguns com um custo absurdo. Deve ser a quinta ou sexta vez que fazem reforma no Maracanã nos últimos três anos. O Minerão também. Vão construir outro na Bahia. Entendeu? É pro dinheiro andar. Andando o dinheiro alguém tá ganhando. Seja quem constrói, quem administra. O único que não ganha é o povo.

Você sempre diz que atualmente o futebol tem mais força do que arte. Você acha que a Copa de 1982 foi um marco na consolidação do esporte como está hoje?

Não existe um divisor aí. O que ocorre é uma falta de adaptação do futebol com a evolução física dos atletas. A questão não é só filosófica, claro que isso faz parte do processo. Mas ela é muito mais dependente da questão física. Inclusive na minha tese de mestrado, seria nove contra nove, tirar dois jogadores de cada time. Quer dizer, você resgatar os espaços que tínhamos há anos atrás. Então vão ter que jogar. Hoje tem gente que se esconde. Você pega um back central da vida ai que não sai do lugar. A única coisa que ele faz é chutar a bola pra frente, pro lado, isso não é jogar futebol. Com nove contra nove, o back central vai ter que saber jogar. Não só ele, todos vão ter que saber jogar, porque a bola vai correr.

Na verdade o futebol é um dos poucos esportes que não se adaptou a essa evolução. Imagine uma prova de atletismo, 100 metros, hoje, com cronômetro manual... Iria dar empate para caramba. Ou 50 metros na piscina. Tem que se adaptar a isso. E futebol não mudou nada. Não quer mudar. Nem tecnologia se utiliza para se dirimir as dúvidas de arbitragem.

Você não acha que essa não adaptação beneficia maus jogadores, que mesmo não tendo tanto talento, mantêm contratos milionários?

Hoje, na verdade, se nivelou o futebol. Um ou outro jogador que se destaca, que tem mais técnica, mais talento. Na verdade, todo mundo privilegia o físico hoje e é isso que impera no futebol. Seja na seleção de Honduras, você comparar com a seleção da Inglaterra. Você vê as equipes que se classificaram, tem time que nunca passou para a segunda fase e tem um monte na segunda fase, tá tão igual.

Como foi a democracia corinthiana?

Uma sociedade que decidia tudo no voto e a maioria simples levava vantagem nas decisões, absolutamente democrático. O roupeiro tinha o mesmo peso de voto de um dirigente.

Como a direção do time reagiu? Não só a direção, mas os patrocinadores, o Leão quis dar uma pernada?

O Leão não dava pernada em ninguém, ele nunca votou ué. Um voto nulo, em branco. Se você não quer participar de uma sociedade você não vota e agüente a decisão da maioria. A direção participava, um voto era da direção do clube e não tinha patrocinador, nessa época não tinha essas coisas.

Esse foi um dos poucos momentos em que o futebol cumpriu um papel mais positivo politicamente?

Na verdade cumpriu um papel importante nesse processo de redemocratização, porque o processo corintiano começou dois anos antes da grande mobilização das Diretas Já! Acho que foi um fator importantíssimo na discussão da realidade política brasileira. Você está dentro de um meio extremamente popular, com uma linguagem que é acessível a todo mundo está discutindo uma coisa que há muito tempo ninguém ou muita gente jamais teve a possibilidade de efetuar, que era o voto. Foi importantíssimo. Igual a isso eu não conheço nada parecido no futebol.

Você acha que o futebol pode cumprir um papel mais progressivo?

Claro. E esse é o grande medo do sistema. Você imagina a Gaviões da Fiel politizada. Né!? Você tem mobilização já pronta, você tem palco, duas vezes por semana, para exercer o seu direito, a ação política, só falta a politização.

Falta organização política para os jogadores?

Falta consciência! Falta... Por isso o sistema deseduca esses caras. Em vez de educar, faz de tudo para o cara não adquirir uma consciência social, política, porque esse é o mais importante. Ele é mais ouvido que o Presidente da República, esse cara pode mudar o país. Uma das brigas que eu tenho é “por que não educar esse povo, se é obrigação do Estado educar todo mundo?”. Pelo menos esse povo tem que ser educado. Agora mesmo, fui para a África do Sul, uma campanha pró-educação, inclusive com iniciativa da Fifa, com chancela da ONU, Educação Global, que é uma das metas do milênio, até 2015 pôr todas as crianças na escola. Então, no caso da Fifa, ponha primeiro os jogadores. (risos)

Você acha que o Estado deveria cumprir um papel mais importante na gestão do esporte?

É claro! Mas ninguém quer mexer muito nisso. Ninguém quer mexer, porque é um vespeiro. Mas deveria. Particularmente o futebol no Brasil é um negócio, como outro qualquer. Por que o Estado não tem controle sobre isso. Ele usa todos os símbolos nacionais, hino, bandeira, até a alma do brasileiro ele usa.

Você acha que o Estado deveria intervir para tentar segurar os jogadores no Brasil?

Já existe legislação para isso. O trabalho infantil ele é penalizado. Mas como você vai evitar que uma criança se transfira para outro país dentro das condições legais, quer dizer, arrumam emprego para os pais, os caras sempre fazem aquilo que precisa ser feito. Isso só vai ser educado quando tivermos consciência de que temos que valorizar a ‘commodite’ que temos em mão. Que é a qualidade do jogador brasileiro, o talento do jogador brasileiro. Em vez de vez vender o artista, tem que vender a obra dele. Quando a gente começar a vender a obra dele, a gente vai ter muito mais riqueza.
Um bom exemplo é o Ronaldo. O Ronaldo é um cara que vale ouro, que veio pra cá e está ganhando o mesmo que estava ganhando lá, ou mais.

Então é possível sim, mas é uma mudança de mentalidade. Na verdade o futebol brasileiro vende seu artista porque também é uma forma mais fácil de se manipular os recursos. Nem todo dinheiro que saí de lá chega aqui, no meio do caminho tem muita gente intermediária.

sábado, 3 de dezembro de 2011

SOBRE A GREVE OS POLICIAS DO MARANHÃO


O velho Marx costumava dizer: quando duas pessoas acham que tem direito só a força resolve e o camarada Lenin dizia: só o silencio das máquinas faz com que os patrões os ouça. A greve vitoriosa dos policiais mostrou o acerto dos dois heróis da nossa classe.

Os trabalhadores ao longo do tempo sabem que é a através da luta que conquistamos nossos direitos. Nós do PSTU sintetizamos esta oração numa frase.

SÓ A LUTA MUDA A VIDA

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O que a Mirante não diz sobre o Movimento Militar

Mais uma do Jornal Vias de Fato.

Depois que o governo Sarney resolveu sair de sua arrogância e negociar com os militares acampados na Assembléia Legislativa foram feitas duas propostas objetivas, uma por parte do governo e outra por parte do movimento. Ontem (29/11) o governo ofereceu 10,1% de reajuste. No mesmo dia, uma assembléia com mais de mil trabalhadores rejeitou a proposta. A reivindicação inicial era de 30%.

Hoje pela manhã, os militares encaminharam uma nova proposta que esta sendo discutida em outra rodada de negociação. A nova reivindicação do movimento é a seguinte:

Para janeiro de 2012 - 17,9% de reajuste, com o salário base de um soldado da PM ficando em R$ 2400,00.

Para 2013 - 12,5% de reajuste

Para 2014 - 11,11% de reajuste

Para 2015 – 10% de reajuste

Segundo informações dos dirigentes do comando do movimento, já houve acordo em relação às seguintes reivindicações: anistia geral, o fim do Regulamento Disciplinar do Exército (com a implantação de um novo código de ética para a PM do Maranhão), a forma de promoção, a data base, a mesa paritária e a carga horária.

Estes dirigentes nos informaram também que o governo não aceitou a aposentadoria com 25 anos de trabalho, nem a equiparação do cargo de Comandante da PM ao cargo de Secretário de Estado. Sendo, assim, para viabilizar o acordo, estas reivindicações foram retiradas.

Porém, enquanto o governo não tem a capacidade de viabilizar um acordo, cresce a cada dia o apoio ao movimento dos militares em todos os setores da sociedade civil. Ontem, o MST e um grupo de quilombolas, estiveram na Assembléia Legislativa para prestar solidariedade. E os quilombolas fizeram uma festa, com música e tambores, cantando: “quem não pode com a formiga, não assanha o formigueiro”. Um dia antes, estiveram na sede da Assembléia Legislativa para prestar solidariedade os estudantes, políticos de vários partidos e organizações sociais.

Quanto ao Sistema Mirante/Sarney, ele segue querendo criminalizar o movimento militar e, como resposta, ficou sem conseguir falar com o comando da paralisação, num boicote que continua merecendo o nosso elogio. A violência comandada e iniciada por Fernando Sarney (definido pela PF como chefe de uma organização criminosa) desencadeia uma reação natural da PM, criando, lamentavelmente, um ambiente hostil para os diferentes profissionais que trabalham nos órgãos de comunicação da oligarquia. Neste caso, os diferentes empregados pagam pelos atos e crimes do patrão opressor.

E assim, neste clima criado pelo próprio grupo Sarney, o governo Roseana vai se desgastando cada vez mais junto à opinião pública, com direto até a um pedido de impeachment circulando nas redes sociais. Nos bastidores, todos dizem que, se os trabalhadores militares continuarem unidos, o governo - que está cada vez mais desmoralizado - será obrigado a ceder.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

De novo a mesma tautologia: a greve dos policiais é política.

Foi assim nas inúmeras greves de professores e dos trabalhadores em geral. Os escribas dos governos de plantão sempre afirmam que a greve é política. Na história da luta dos trabalhadores é impossível uma greve não ser política. Na iniciativa privada os patrões têm uma política salarial a cumprir. Os trabalhadores destas empresas, através dos seus sindicatos, também têm a sua política salarial, oposta a dos patrões.

No serviço público a coisa se repete com um ingrediente a mais. No caso da greve em questão, os policias estão contestando politicamente uma política salarial do governo Roseana Sarney. A decisão de Roseana não é divina, ela não é uma deusa. É uma falsa guerreira decadente. Mas, os escribas da branca podem me contestar dizendo: mas a greve tá sendo partidarizada. Eu respondo: não é Roseana que governa. Quem governa são os partidos políticos. No caso de Roseana são treze. Entre eles o PT, PMDB, DEM, alem de inúmeras legendas de aluguel. Nada mais correto e justo que os partidos que não fazem parte deste governo, e que não tenham acordo com a política salarial do governo dela, prestem solidariedade aos trabalhadores em greve. Inclusive nem precisam de autorização dos grevistas para isso, pois a greve dos policiais afeta a todos.




Por último, dizem: a policia militar não pode fazer greve. Esta é mais fácil de responder, e com uma perguntar: policial pode dar GOLPE MILITAR?

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Policiais civis se juntam a militares e decidem entrar em greve

por Frederico Luiz

Os policiais civis do Maranhão acabam de deflagrar greve por tempo indeterminado. A decisão foi tomada em assembléia da categoria que terminou agora há pouco, no plantão central da Reffesa em São Luís-MA onde funciona um conjunto de delegacias especializadas Eles reivindicam Plano de Carreira, Cargos e Salários, URV, Vale Transporte e adicional noturno.

Após a decretação da greve, os policiais civis se dirigiram com os carros de polícia até a Assembléia Legislativa onde se juntaram aos militares.


"Foi uma cena emocionantes, polícia unida em defesa de seus direitos e querendo prestar um serviço de melhor qualidade para a população", disse por telefone ao Blogue, o coronel Francisco Melo, ex-comandante da Polícia Militar do Maranhão.

Amanhã, às 15h em São Luís e às 17h em Imperatriz, entidades da sociedade civil organizada realizam ato público em defesa da greve dos militares e agora dos policiais civis.

Na capital, a concentração é na Assembléia Legislativa e em Imperatriz no 3º Batalhão de Polícia Militar.


Com o recrudescimento da crise no setor de segurança pública no Maranhão, o Blogue defende intervenção federal no Estado, como forma de prevenir o caos e a desordem que ameaçam a paz do maranhense com as greves das polícias e do corpo de bombeiros.

domingo, 27 de novembro de 2011

Ótima notícia: Greve dos militares boicota Sistema Mirante!



Esta vem do Jornal Vias de Fato (www.viasdefato.jor.br)

O comando da greve dos militares do Maranhão decidiu não dar entrevistas ao Sistema Mirante, incluindo aí a rádio, a TV, o jornal O Estado Maranhão, o site e seus penduricalhos. Segundo eles informaram, a razão do boicote são “as sucessivas mentiras e distorções veiculadas” nos órgãos do grupo Sarney.



A sociedade maranhense, incluindo os comunicadores livres deste Estado, deve aplaudir esta decisão dos grevistas. Eles estão de parabéns! Ao boicotar a Mirante eles, entre outras coisas, estão dando um exemplo muito positivo para outros movimentos e organizações sociais do Maranhão. Este Sistema é um instrumento poderoso contra a população deste estado. Em muitos casos, é um lobo em pele de cordeiro.

Lembrando que a Policia Federal (PF) definiu Fernando Sarney, em recente inquérito, como chefe de uma organização criminosa. Fernando (filho do presidente do Senado, José Sarney) é a figura que comanda o Sistema Mirante. Ele, além de irmão, é sócio de Roseana nestas empresas de comunicação. Muita gente sabe disso, mas, não custa lembrar neste momento. Um dia o Maranhão acorda...

Em relação à greve, agora, as redes sociais, blogs, listas de e-mail e outros veículos de comunicação – devem servir para que o movimento possa divulgar a sua versão sobre os fatos.

Neste momento, o jornal Vias de Fato lembra também o livro do jornalista Altamiro Borges, chamado de “A Ditadura da Mídia”, publicado em 2009, para a I Conferencia Nacional de Comunicação do Brasil. Neste importante trabalho, está dito que “a batalha pela democratização dos meios de comunicação não comporta ilusões e, muito menos, omissões. Diante do enorme poder da mídia hegemônica, que manipula informações e deforma comportamentos, a luta por mudanças profundas neste setor adquire um caráter estratégico”. Segundo Altamiro, para que haja “avanços na democracia e na mobilização dos trabalhadores por seus direitos”, é preciso “enfrentar e derrotar a ditadura midiática”. E para ele, nesta batalha, é preciso “denunciar a grande imprensa”.

A greve dos militares do Maranhão neste ano de 2011 está, também, cumprindo este corajoso e importante papel em nosso estado. Mais uma vez, parabéns!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

“Indignados”, “Anonymous”, “Somos 99%”, “Geração à Rasca” - O que propõe os novos movimentos e quais são suas diferenças com os socialistas?

Excelente texto do companheiro e militante do PSTU HENRIQUE CANARY de São Paulo, principalmente para aqueles que se dizem "apartidários".




Há, sem sombra de dúvida, uma nova situação mundial. As revoluções árabes e os triunfos que esta vêm obtendo até agora, aliadas aos efeitos da crise econômica mundial e aos planos de “austeridade” impostos pelos governos, fizeram despertar em inúmeros países uma infinidade de novos movimentos e protestos multitudinários.

Na Plaza del Sol, em Madri, seguindo o exemplo da Praça Tahir, se reuniram centenas de milhares de jovens, estudantes, desempregados, imigrantes e também trabalhadores (embora estes últimos não sejam a maioria, nem cumpram um papel de vanguarda) que comoveram os lutadores de todo o mundo e os inspiraram. Este movimento teve continuidade e, embora a Plaza del Sol tenha sido desocupada pela ação truculenta dos “mossos d'esquadra” (a tropa de choque espanhola), seguem ocorrendo enormes manifestações a cada momento e em diferentes pontos do país.

No Chile vimos como centenas de milhares de estudantes se enfrentam incansavelmente há quase um ano contra o governo e estiveram muito perto de provocar a sua queda em uma luta mais do que justa por reformas na educação.

Na Inglaterra, talvez o país mais fleumático do mundo, o brutal assassinato de um jovem de periferia fez explodir uma autêntica revolta popular que incendiou não só carros e estabelecimentos comerciais, mas também a ira da Scotland Yard, que, em uma operação policial de dimensões jamais vistas, prendeu mais de 1.600 pessoas.

Nos Estados Unidos o movimento Occupy Wall Street (menos numeroso do que as manifestações europeias, mas extremamente simbólico pelo inimigo que escolheu) se reverteu em uma referência de luta e passa cada vez mais para atos radicalizados, como a ocupação do porto de Oakland, na Califórnia.

Não é preciso falar da Grécia, que já viveu nada menos do que 17 greves gerais nos últimos meses e acaba de derrubar o primeiro-ministro George Papandreu. A Itália segue a mesma trilha...

Todos esses movimentos tiveram uma importante unidade no dia 15 de outubro, escolhido como dia mundial de luta que levou centenas de milhares, talvez milhões, de jovens, trabalhadores e populares às ruas em todo o mundo e resultou na multiplicação dos acampamentos, ocupações e formas de organização.

Em cada um desses processos surgem novos slogans e marcas registradas do caráter espontâneo das mobilizações: “Somos 99%!” nos EUA, “Indignados” na Europa, a inconfundível máscara dos “Anonymous” por todo o mundo, “Democracia Real Já!” na Espanha, “Geração à Rasca (em perigo)” em Portugal e um longo etc.

Mesmo no Brasil, que devido ao crescimento econômico, ainda não reflete a dinâmica mundial, há importantes sinais de descontentamento e mudanças mais estruturais na consciência e disposição de luta: a começar pela rebelião operária de Girau, passando pelas manifestações contra a corrupção e terminando com a participação da juventude nas manifestações mundiais de 15 de outubro.

Além desse grande ascenso das lutas, há ainda a própria revolução árabe, que demandaria toda uma análise à parte, mas que não é o objetivo deste artigo.

De qualquer forma, ninguém ousa dizer que nada mudou nos últimos tempos. Se não somos a geração que presenciará o Armagedom, como gostava de dizer o arquireacionário Ronald Reagan, somos pelo menos a geração que viu o fim do “modo de vida americano” e do “Estado de bem-estar social” europeu. O mundo não é mais o mesmo. Fato. Somos uma geração que voltou a ver revoluções.

Os novos movimentos surgidos nessa onda refletem exatamente o momento histórico. Seu caráter espontâneo é evidente: atos marcados pelo Facebook, cartazes de papelão e, poderíamos dizer, uma incrível criatividade nas formas de luta e expressão. São movimentos que inspiram e cativam!

Mas para além das questões de forma, há também as questões de conteúdo. Qual é o significado mais geral de todos esses movimentos? Quais suas perspectivas? Seus méritos? Seus limites? Um resposta precisa a essa pergunta é fundamental para uma estratégia revolucionária, que deve evitar tanto o sectarismo estéril frente aos movimentos populares espontâneos, quanto o oportunismo e a capitulação diante de forças tão vivas, combativas e intensas.

Por qual mundo se luta?

Um dos desafios centrais desses novos movimentos é a adoção de um programa claro de luta. Mas não estamos falando de qualquer luta e sim daquela que realmente decide: a luta contra o capitalismo. Até agora, infelizmente, por radicais que sejam na forma, as propostas destes movimentos se mantém nos marcos do sistema.

Recentemente, Boaventura de Sousa Santos, um intelectual português amplamente reconhecido nos novos movimentos sociais, escreveu um pequeno artigo denominado “Carta às esquerdas”, onde explicita as bases teórico-metodológicas para uma renovação do que ele chama de “esquerdas”. Nesta carta, Sousa Santos defende que “a propriedade privada só é um bem social se for uma entre várias formas de propriedade e se todas forem protegidas”. Esta frase encerra em si um verdadeiro programa, mas, infelizmente, está errada da primeira à última palavra. A propriedade privada não é, nunca foi, e nunca poderá ser um “bem social”. A propriedade privada é a apropriação, por um indivíduo, de um trabalho excedente, que é produzido socialmente, ou seja, por toda a sociedade. Como pode então o roubo do trabalho social ser ao mesmo tempo um bem social? Resposta: não pode. Por isso a propriedade privada, não deve ser “uma entre várias formas de propriedade”, mas sim deve ser eliminada e substituída pela propriedade estatal, primeiro passo para sua socialização completa.

Além disso, o que significa “se todas [as formas de propriedade] forem protegidas”? Ora, na sociedade capitalista, a propriedade privada já é protegida por meio das leis; e a lei é garantida pelo Estado; e o Estado, como todos sabemos, é o exercício organizado da violência. Assim, a violência física é a verdadeira proteção de qualquer tipo de propriedade, inclusive e sobretudo a propriedade privada, que é construída em base à exploração da ampla maioria. O programa de Sousa Santos mantém, portanto, os pilares fundamentais da sociedade que ele pretende criticar: a propriedade privada e a defesa dessa propriedade por meio do Estado. Não entendemos até agora o que mudaria no mundo se o programa de Sousa Santos fosse aplicado.

No campo político, Sousa Santos afirma: “A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas”. O texto não explica exatamente o que significa “de alta intensidade”, mas supomos que seja uma democracia mais “participativa” do que a atual, com mais mecanismos etc. Mas o problema fundamental da democracia atualmente existente não é a sua maior ou menor “intensidade”, nem a existência de mais ou menos mecanismos de participação popular (ainda que sejam mecanismos muito progressivos). O problema fundamental é o caráter de classe desta democracia: uma democracia que serve à dominação de uma classe sobre a outra; que tem assegurada a vitória do capital em todos os terrenos importantes; que tem por detrás de si forças repressivas selvagens e assassinas; que se baseia em leis que tem um claro caráter de classe, em um sistema prisional e judiciário que condena e esmaga a pobreza e criminaliza a luta e a organização da classe trabalhadora: enfim, uma democracia burguesa.





Um exemplo prático dessa concepção de “democracia de alta intensidade” é o movimento “Democracia Real Já!” na Espanha, cujo programa não fala uma única palavra sobre o fim da monarquia, nem sobre a autodeterminação das nações oprimidas pelo Estado espanhol, nem sobre a expropriação dos grandes bancos e monopólios espanhóis. O que esta nova democracia tem de “real” ou de “alta intensidade” então? Em quais instituições este novo modelo “democrático” se baseará? No atuais parlamentos nacionais? No Parlamento Europeu? Mas os trabalhadores gregos já estão recebendo uma dura lição sobre estas instituições: milhões lutam contra os planos de “austeridade”, enquanto o governo e o parlamento grego permanecem de joelhos diante dos bancos alemães. A verdade é que a democracia burguesa não pode ser reformada, intensificada ou radicalizada. Ela deve ser destruída e substituída por um regime político absolutamente distinto, não em sua forma, mas no seu conteúdo de classe: uma democracia operária, baseada nas organizações da classe trabalhadora.

O caráter de classe dos novos movimentos

Reconhecemos desde já que os novos movimentos são heterogêneos internamente e diferentes entre si. Não há uma característica universal aplicável a todos eles em todas as situações. O que vale para um, pode não valer para outro etc. A análise, portante, requer certo grau de abstração, de generalização, mas não é por isso menos válida ou necessária. A dialética nos ensina: dizer que as partes são diferentes entre si, não significa negar a existência do todo.

A caracterização social desses movimentos é que são movimentos juvenis-populares sem um claro caráter de classe. A classe trabalhadora ainda representa uma pequena minoria nessas manifestações. A exceção, está claro, é a Grécia, onde as lutas tem o conteúdo e os métodos tradicionais da classe trabalhadora: a mobilização de massas e a greve geral.

Até agora, desgraçadamente, o conteúdo social desses movimentos tem determinado também a relação que estes estabelecem com as organizações da classe trabalhadora: os sindicatos e os partidos de esquerda. Sobretudo na Espanha e também no Brasil, os novos movimentos tem sido avessos à participação das organizações da classe trabalhadora nos atos, acampamentos e manifestações.

Essa repulsa aos partidos tem provocado grandes embates e ameaçado a unidade do movimento. Na Espanha, por exemplo, as “assembleias de vizinhos”, que são um subproduto da ocupação da Plaza del Sol, são constantemente polarizadas pelas questão da presença dos partidos e sindicatos. Os partidos de esquerda e os sindicatos são obrigados a travar uma luta cotidiana para permanecerem em um movimento que eles mesmos ajudaram a criar. Com isso perde-se um tempo caríssimo: o tempo de planejar ações, de organizar as forças etc.












O discurso predominante é de que só é possível participar desses movimentos como “pessoa física”. Vejamos esse argumento mais de perto.

“Pessoas físicas”, “cidadãos”, “povo” e outras ilusões

O corte do 13º e 14º salários em Portugal não tem nada a ver com as “pessoas físicas”. Não é uma ataque às “pessoas físicas” em geral, mas sim aos trabalhadores. A corrupção no Brasil, que já desvia e continuará desviando centenas de milhões de reais das obras da Copa não agride as “pessoas físicas” em geral, mas sim os trabalhadores pobres que ficarão sem saneamento básico, sem educação e sem hospitais para que os clubes, cartolas, empreiteiras e corruptos encham os bolsos. O que têm a ver as “pessoas físicas” com isso? Nada! Mas imaginemos que os ataques fossem às “pessoas físicas” em geral. Então contra quem elas deveriam lutar? Certamente, contra as “pessoas jurídicas”. Mas os governantes são pessoas físicas ou jurídicas? Que confusão! O absurdo da situação é tamanho, que não é preciso desenvolver essa ideia. O fato inegável é que se trata de ataques de uma classe contra a outra: da burguesia contra o proletariado. Daí, nada mais justo do que os trabalhadores participarem, não como “pessoas físicas”, mas como classe, ou seja, através de suas organizações.

São as organizações da classe trabalhadora (principalmente partidos e sindicatos) que detém, ainda hoje, as alavancas e os meios de acesso à classe, ou seja, à maioria esmagadora da população. Os sindicatos organizam os trabalhadores por empresas e profissões. Os partidos organizam os trabalhadores por afinidade ideológica. Combinadas, essas formas de organização são extremamente poderosas e poderiam significar um salto na capacidade de mobilização, organização e continuidade de todos esses movimentos. Junto com elas, poderiam entrar muitas outras formas organizativas, novas e velhas, todas juntas, combinadas – não separadas e opostas, mas combinadas! Essa deveria ser a preocupação dos líderes e organizadores desses movimentos (sim, eles existem, os líderes e organizadores).

Toda tentativa de reduzir a participação nesses movimentos às “pessoas físicas” não é outra coisa senão a reedição das velhas ideias que já demonstraram a sua falência: a ideia de “cidadania”, de “povo”. A Líbia, onde alguns “cidadãos” atiraram em outros “cidadãos” e o “povo” se dividiu no apoio ou não a Kadaffi, é a prova definitiva de qual é o mecanismo mais profundo de funcionamento da sociedade: nem o “povo” em geral, nem as “pessoas físicas”, mas sim a luta de classes. E a luta de classes requer organizações de classe: partidos, sindicatos, comitês de fábrica, associações, centrais sindicais etc.

O sentimento anti-partido

O movimento ou rede Anonymous se tornou conhecido em todo o mundo por ter atacado virtualmente os sites da PayPal, Visa, MasterCard e outras operadoras de crédito que se recusavam a repassar os donativos feitos ao site WikiLeaks, quando da prisão de Julian Assange, em 2010. Aqui no Brasil, tiveram um importante papel na organização das marchas contra a corrupção no dia 7 de setembro em todo o país e também no 15 de outubro. Sua marca registrada é a máscara do personagem “V”, do filme “V de Vingança”.

Infelizmente, durante as manifestações contra a corrupção no 7 de setembro e no 15 de outubro, houve muitos conflitos em torno ao problema da presença dos partidos. Sobre isso é preciso debater, em primeiro lugar, com aqueles que simpatizam com o movimento Anonymous.

O sentimento anti-partido neste tipo de movimento tem uma raiz contraditória: por um lado é fruto de um sentimento progressivo – o de que o regime político burguês, com suas eleições fraudulentas, seu parlamento podre e carcomido, seus partidos burgueses vendidos e seu sistema eleitoral antidemocrático não representa a sociedade, está de costas para ela. Esta é uma grande verdade. A burguesia brasileira está de costas para o povo e essa será, arriscamos aqui um prognóstico, a causa última de sua queda final. Mas é preciso distinguir entre o regime político como um todo e uma parte específica desse regime: as liberdades democráticas, que são uma enorme conquista do movimento de massas. Aqueles que exigem que se baixe uma bandeira de um partido de esquerda ou expulsam os militantes de um sindicato de uma manifestação – simplesmente pisoteiam uma das principais liberdades democráticas: a liberdade de organização.

Alguns ativistas poderão argumentar que ninguém quer acabar com a liberdade de organização. Apenas se quer impedir que os partidos “aparelhem” os movimentos. Preocupação justa – método completamente errado. O direito de organização é inseparável do direito de expressão. Levantar uma bandeira é expressar-se. É expressar uma adesão política, uma visão de mundo; é divulgar os objetivos de um coletivo legitimamente organizado. Pisotear essa liberdade tem consequências gravíssimas para a unidade e a força do movimento. A luta contra o aparelhamento dos movimentos deve ser travada através da democracia de base, do voto por maioria, da liberdade de expressão de todas as correntes de pensamento etc. A isso, voltaremos mais adiante.

Mas a outra raiz do sentimento anti-partido não é progressiva, mas sim diretamente reacionária: é a ideia de que todos os partidos sem exceção são iguais. Essa avaliação, por mais que se encaixe no senso comum, não suporta a menor crítica. Se todos os partidos são iguais, por que somente alguns estão presentes? Se todos os partidos são iguais, por que somente alguns gastam seu dinheiro imprimindo panfletos de apoio ao movimento e colocam todas as suas forças para construir a mobilização? Se todos os partidos são iguais, por que alguns estão de um lado da barricada e outros estão de outro lado? Não serão alguns partidos mais iguais que os outros? E alguns deles – completamente diferentes?

A outra ideologia, também reacionária, amplamente difundida entre esses movimentos, é a de que o poder não importa: o anarquismo. Essa tese, a de que “a lógica do poder”, ou seja, a luta política, é por si só corruptora e fonte de degeneração, e que o que devemos, portanto, é construir um “contra-poder” ou um “não-poder” pode ser muito charmosa, mas não tem nenhum conteúdo.

Todas as transformações sociais importantes se deram por meio de revoluções de massas. Todas as revoluções de massas colocaram não apenas a questão da destruição ou derrubada do poder, mas também da sua conquista. Aqueles que, diante do poder, se negaram a tomá-lo, afastaram-no de si como um cálice envenenado, não fizeram mais do que conduzir o movimento à derrota e preparar a contraofensiva do inimigo. O Estado, e portanto o poder e a política, não são uma arbitrariedade, fruto da imaginação macabra das pessoas, mas a expressão inevitável da divisão da sociedade em classes sociais antagônicas. Fazer uma revolução social não significa ainda acabar com esse antagonismo, nem nacionalmente, nem muito menos internacionalmente. Portanto, a tomada do poder (e não apenas a sua derrubada, a sua negação) continua sendo a tarefa daqueles que querem vencer. É claro, para aqueles que só querem ter boas recordações de sua juventude, o anarquismo pode sim ser uma boa opção.

O método do consenso e a democracia operária

Como a classe trabalhadora decide suas divergências, suas polêmicas? Por maioria. A proposta que obtiver a maior quantidade de votos é a vencedora. Todos aplicam o que a maioria decidiu. Isso se chama “democracia operária”. “Democracia” porque é por maioria; “operária” porque a ênfase é dada no embate de ideias e na organização, e não no voto “isolado”, “solitário”, “plebiscitário”. A democracia operária é a democracia da classe operária em luta diante de um inimigo poderoso; não a democracia de um eleitor passivo diante de uma urna. Esse método tem sido utilizado desde o surgimento do movimento operário, há cerca de 200 anos. Com esse método se conquistou pequenas reformas e se fez grandes revoluções.

Como os novos movimentos decidem suas divergências? Por consenso. O que isso significa? Que uma proposta só pode ser aceita se obtiver a totalidade dos votos, ou seja, se ninguém se opuser a ela. Muito bem. À primeira vista, parece algo muito mais democrático do que o método tradicional de votação por maioria. Afinal, em uma votação por maioria de, digamos, 70% contra 30%, os derrotados serão obrigados a aplicar uma decisão com a qual não concordam. O método do consenso visa impedir essa “injustiça”. Só se faz aquilo que todos concordam! É muito bonito, porém nefasto e inaplicável.

Não falaremos aqui do absurdo a que se chega com esse método ao encaminhar pequenas questões como o local e o trajeto do ato, o horário de servir a comida no acampamento etc. Onde uma única pessoa não tenha acordo – acabou-se. Não se faz nada. O movimento se paralisa e não encaminha nem mesmo os detalhes. Mas não falaremos disso. Falaremos das grandes questões.

O consenso e a luta pela consciência das massas

Qualquer pessoa que já tenha participado de alguma luta sabe o quanto é difícil convencer os trabalhadores ou estudantes a participar de uma mobilização. Os trabalhadores não são seres sedentos por lutar, sempre dispostos aos mais heroicos sacrifícios. Isso é uma idealização romântica que jamais se verifica na realidade. Os trabalhadores são uma classe social explorada, oprimida e alienada, que durante a maior parte do tempo reproduz as ideias de seus dominadores. É uma classe “em si”, antes de se tornar uma classe “para si”. Por isso, quase sempre, há uma enorme maioria que é contra a luta ou tem medo dela. Essa é a situação cotidiana com a qual lidamos em nossos sindicatos e DCEs. De tempos em tempos, a depender de muitos aspectos, essa difícil correlação de forças se inverte, e uma parte considerável dos trabalhadores ou estudantes vira à esquerda, muda de opinião, se dispõe a sair à luta. São momentos maravilhosos, que enchem de orgulho e emoção qualquer lutador honesto. São os momentos em que se percebe do que essa classe explorada, oprimida e alienada é capaz! Mas mesmo nesses momentos, não é possível convencer a totalidade da categoria, a totalidade da empresa, a totalidade da classe. Na melhor das hipóteses, se conquista uma maioria – às vezes mais sólida, às vezes menos – mas nunca a totalidade. Isso é assim porque as pessoas são diferentes e por isso pensam diferente umas das outras, e seria impossível que tivessem todas elas a mesma opinião. Isso é uma ideia utópica, além de diretamente reacionária.

Por isso, para tocar as lutas, contamos com a maioria da classe. Isso é o suficiente para que as coisas andem, para que se vote uma greve, para que se faça uma passeata. O que aconteceria se, em uma greve, os trabalhadores adotassem o método do consenso? A resposta é simples: não aconteceria nada, eles não fariam nada, ficariam paralisados porque sempre haveria alguém para “vetar” as decisões da diretoria, da assembleia ou de toda a categoria. Não é preciso dizer que esse método seria o paraíso dos provocadores, dos infiltrados, da patronal e dos governos.

Consenso: a ditadura da minoria

O método do consenso tem mais um problema: ele obriga a maioria a se submeter à vontade da minoria. Se uma ampla maioria de trabalhadores quer greve, mas uma ínfima minoria quer fazer apenas uma operação-padrão, o método do consenso levará o movimento a ir apenas até a operação padrão, pois a proposta mais rebaixada será sempre a única “consensual”. Se, no caso de uma greve, a maioria quiser garantir a paralisação com um piquete na porta da fábrica, mas a minoria não quiser, o piquete não acontecerá. A minoria vence em todas. Por isso é o método mais antidemocrático que se pode imaginar: porque por maior que seja a maioria, ela nunca vai poder fazer valer a sua vontade.

Não negamos, evidentemente, a necessidade de se trabalhar com o maior grau possível de acordo em torno às questões centrais em cada luta. Todo sindicalista honesto sabe que a luta sindical é uma busca permanente por acordos: com as correntes de oposição, com os delegados de base, com os outros membros da diretoria e em muitos casos até mesmo com a patronal e a polícia, por exemplo, para se estabelecer o número de faixas da avenida que a passeata irá ocupar etc. (seitas ultraesquerdistas – tremam de indignação!). Mas um sindicalista honesto não substitui a vontade da maioria pelos acordos. Em uma assembleia de greve o bom sindicalista não recua diante de uma minoria insignificante, organizada e plantada ali pela patronal para impedir a greve e paralisar a assembleia. O bom sindicalista fará passar a decisão da maioria e garantirá essa decisão no dia seguinte na porta da empresa, e se necessário com piquete, socos e pauladas. Lutas, greves e revoluções são atos de imensas e esmagadoras maiorias, mas nunca atos de consenso. Sob a aparente democracia do consenso, se esconde uma ideia terrivelmente antidemocrática e perigosa para qualquer movimento.

Os socialistas e os novos movimentos

Diante de movimentos tão heterogêneos e contraditórios, os socialistas adotam a atitude mais paciente e construtiva possível. Queremos marchar juntos e buscaremos todos os acordos para isso. Ao mesmo tempo, lutaremos em todos os atos e atividades não apenas para que se respeite nosso direito de expressão (e portanto, de portar bandeiras, de nos declararmos membros de um partido etc), mas sobretudo para que esses movimentos se aproximem da classe trabalhadora, adotem seus métodos, enriçam-se com a experiência dos velhos combatentes operários, e, ao mesmo tempo, rejuvenesçam o movimento de massas com sua criatividade e irreverência. Defendemos a unidade nas lutas, mas não nos iludimos: o combate contra o capitalismo, suas injustiças e opressões só poderá ser vitorioso se a classe trabalhadora se colocar à frente do movimento de massas. É ela, e não a juventude, nem as “pessoas físicas” em geral, que detém a alavanca dessa sociedade, que gera a riqueza que todos consomem, que movimenta toda a economia.

Nesse aspecto, fica clara a diferença entre a Grécia e todos os outros países onde esses movimentos de desenvolveram. Por serem mobilizações essencialmente de trabalhadores, as manifestações gregas abalaram profundamente as bases não só do Estado grego, mas da própria União Europeia. Até agora, em nenhum outro país algo semelhante ocorreu. Aí se vê o poder da classe trabalhadora e o que acontece quando ela levanta sua cabeça.

É o próprio personagem “V”, do filme “V de Vingança”, que sentencia: “Ninguém deveria temer seu governo. O governo é que deveria temer seu povo”. Faltou acrescentar que somente o povo trabalhador é capaz de impor um medo verdadeiro aos governantes. A unidade com os trabalhadores e o respeito às suas organizações é, portanto, a única garantia de futuro de todos esses movimentos.

Há braços na Luta,

POLICIAIS MILITARES E BOMBEIROS OCUPAM A SEDE DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO MARANHÃO


Ocupação anterior

Estive agora há pouco (22:00h) na porta da Assembleia Legislativa para observar de perto a ocupação da tal "casa do povo" por mais de três mil Policiais e Bombeiros. O motivo da ocupação é reivindicar melhorias salariais que o governo Roseana se recusa a conceder, aliás, a negação de direitos dos servidores é uma prática recorrente do Governo da “branca”. Até hoje os professores sofrem com a politica desastrosa da oligarquia Sarney.

Vários jornalistas estão fazendo a cobertura. Entres eles está o meu amigo Garrone, de quem reproduzo abaixo um texto publicado em seu Blog:

Os Policiais Militares e Bombeiros ocuparam agora à noite a sede da Assembleia Legislativa, onde pretendem ficar acampados até serem atendidas as reivindicações da categoria, que decretou greve por tempo indeterminado, enquanto não forem atendidas “todas as reivindicações”.

O clima é de revolta, principalmente depois do anúncio do governo classificando que quem gosta de greve é bandido.

Os militares querem que seja refeita a peça orçamentária do governo, que segundo denunciam, retirou 12 milhões de reais da polícia, enquanto praticamente triplicou o orçamento da secretaria de ciência e tecnologia somente na folha de pagamento.

A presença da Força Nacional não intimidou o movimento. Dizem até que a presença desses policiais no Maranhão demonstra a incompetência do governo do Estado.

O problema é que diariamente, somente em São Luís, a Polícia Militar coloca cerca de 600 homens nas ruas, e somente 100 policiais da GN estão no Estado.

Desses, 30 foram mandados para Imperatriz.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Grécia, Itália e os sagazes sarcasmos de Marx sobre os “governos técnicos”


Marcello Musto*

Se retornasse ao debate jornalístico no mundo de hoje, analisando o caráter cíclico e estrutural das crises capitalistas, Marx poderia ser lido com particular interesse hoje na Grécia e na Itália por um motivo especial: a reaparição do “governo técnico”. Na qualidade de articulista do New York Daily Tribune, um dos diários de maior circulação de seu tempo, Marx observou os acontecimentos político-institucionais que levaram ao nascimento de um dos primeiros “governos técnicos” da história, em 1852, na Inglaterra: o gabinete Aberdeen (dezembro de 1852/janeiro de 1855).

A análise de Marx é notável por sua sagacidade e sarcasmo. Enquanto o Times celebrava o acontecimento como um sinal de ingresso “no milênio político, em uma época na qual o espírito de partido está destinado a desaparecer e no qual somente o gênio, a experiência, o trabalho e o patriotismo darão direito a acesso aos cargos públicos”, e pedia para esse governo o apoio dos “homens de todas as tendências”, porque “seus princípios exigem o consenso e o apoio universais”; enquanto os editorialistas do jornal diziam isso, Marx ridicularizava a situação inglesa no artigo “Um governo decrépito. Perspectivas do gabinete de coalizão”, publicado em janeiro de 1853.

O que o Times considerava tão moderno e bem articulado, era apresentado por Marx como uma farsa. Quando a imprensa de Londres anunciou “um ministério composto por homens novos”, Marx declarou que “o mundo ficará um tanto estupefato ao saber que a nova era da história está a ponto de ser inaugurada por cansados e decrépitos octogenários (...), burocratas que participaram de praticamente todos os governos desde o final do século passado, frequentadores assíduos de gabinetes duplamente mortos, por idade e por usura, e só mantidos vivos por artifício”.

Para além do juízo pessoal estava em questão, é claro, o de natureza política. Marx se pergunta: “quando nos promete a desaparição total das lutas entre os partidos, inclusive o desaparecimento dos próprios partidos, o que o Times quer dizer?” A interrogação é, infelizmente, de estrita atualidade no mundo de hoje, no qual o domínio do capital sobre o trabalho voltou a tornar-se tão selvagem como era em meados do século XIX.

A separação entre o “econômico” e o “político”, que diferencia o capitalismo de modos de produção que o precederam, chegou hoje ao seu ápice. A economia não só domina a política, fixando agendas e decisões, como retirou competências e atribuições que eram próprias desta, privando-a do controle democrático a tal ponto que uma mudança de governo já não altera as diretrizes da política econômica e social.

Nos últimos 30 anos, inexoravelmente, o poder de decisão foi sendo transferido da esfera política para a econômica, transformando possíveis decisões políticas em incontestáveis imperativos econômicos que, sob a máscara ideológica do “apolítico”, dissimulam, ao contrário, uma orientação claramente política e de conteúdo absolutamente reacionário. O deslocamento de uma parte da esfera política para a economia, como âmbito separável e inalterável, a passagem do poder dos parlamentos (já suficientemente esvaziados de valor representativo pelos sistemas eleitorais e majoritários e pela revisão autoritária da relação entre Poder Executivo e Poder Legislativo) para os mercados e suas instituições e oligarquias constitui, em nossa época, o maior e mais grave obstáculo interposto no caminho da democracia. As avaliações de Standard & Poor’s, os sinais vindos de Wall Street – esses enormes fetiches da sociedade contemporânea – valem muito mais do que a vontade popular.

No melhor dos casos, o poder político pode intervir na economia (as classes dominantes precisam disso, inclusive, para mitigar as destruições geradas pela anarquia do capitalismo e a violência de suas crises), mas sem que seja possível discutir as regras dessa intervenção e muito menos as opções de fundo.

Exemplos deslumbrantes disso são os acontecimentos dos últimos dias na Grécia e na Itália. Por trás da impostura da noção de um “governo técnico” – ou, como se dizia nos tempos de Marx, do “governo de todos os talentos” – esconde-se a suspensão da política (referendo e eleições estão excluídos), que deve ceder em tudo para a economia. No artigo “Operações de governo” (abril de 1853), Marx afirmou que “o mínimo que se pode dizer do governo de coalizão (“técnico”) é que ele representa a impotência do poder (político) em um momento de transição”. Os governos já não discutem as diretrizes econômicas, mas, ao contrário, as diretrizes econômicas é que são as parteiras dos governos.

No caso da Itália, a lista de seus pontos programáticos ficou clara em uma carta (que deveria ter sido secreta) dirigida pelo Banco Central europeu ao governo Berlusconi. Para “recuperar a confiança” dos mercados, é preciso avançar pela via das “reformas estruturais” – expressão que se tornou sinônimo de dano social – ou seja, redução de salários, revisão de direitos trabalhistas em matéria de contratações e demissões, aumento da idade de aposentadoria e privatizações em grande escala. Os novos “governos técnicos” encabeçados por homens crescidos sob o teto de algumas das principais instituições responsáveis pela crise (veja-se os currículos de Papademos e de Monti) seguirão esse caminho. Nem é preciso dizer, pelo “bem do país” e pelo “futuro das gerações vindouras”, é claro. Para o paredão com qualquer voz dissonante desse coro.

Mas se a esquerda não quer desaparecer tem que voltar a saber interpretar as verdadeiras causas da crise em curso e ter a coragem de propor e experimentar as respostas radicais exigidas para a sua superação.

(*) Marcello Musto é professor de Ciência Política na Universidade York, de Toronto.

Fonte:
http://www.sinpermiso.info/textos/index.php?id=4558

Tradução: Katarina Peixoto

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

AMBIENTALISTAS PROMOVEM VISITA DE DEPUTADOS AO SÍTIO RANGEDOR

Do blog do jornalista Ed Wilson

A Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa fará vistoria na Área Leste 2 do Santuário Ecológico do Sítio Rangedor, na próxima terça-feira 22, às 15h. A iniciativa é de pessoas engajadas na causa ecológica e entidades ambientalistas.

O objetivo da vistoria é conhecer e verificar a riqueza natural exuberante do lugar (águas, flora, fauna silvestre) e também observar os graves crimes ambientais que estão destruindo e ameaçando a biodiversidade desta floresta em plena área urbana, ameaçando a vida da micro-bacia hidrográfica do Rio Calhau e das comunidades locais.

A meta é que após a vistoria seja criado de um dispositivo legal que efetive a proteção da área que por si só é considerada Área de Preservação Permanente – APP, por ser a micro-bacia do Rio Calhau.

O próprio Plano Diretor de São Luis classifica como Área de Mananciais e Fundo de Vales, sem contar que constitui-se na Zona de Amortecimento da Estação Ecológica do Sítio Rangedor.

“Ninguém mais indicado para proteger esta área do que a Assembléia Legislativa do Maranhão, cuja sede encontra-se na Estação Ecológica do Sítio Rangedor”, afirmam os organizadores da visita.

A vistoria terá como ponto de partida o Sítio Rangedor, localizado na Av. Luis Eduardo Magalhães, nº 16, local onde reside a “guardiã” da floresta, Rita Fiquene.(na frente do sítio, tem uma placa “Sítio Rangedor”).

CONHECENDO A REGIÃO E OS PROBLEMAS

O Sítio Rangedor é um corredor ecológico em plena área Urbana de São Luis, composto da seguinte forma:

Área 1 do Sítio Rangedor: formada pela Estação Ecológica, a EE do Sítio Rangedor: esta, protegida por lei, a salvo de degradações. À sua direita, separada pela Avenida Eduardo Magalhães, está a Área 2.

Área 2 do Sítio Rangedor: área não demarcada, com cerca de 80 hectares, parte indissociável do ecossistema de vegetação, solos e aquíferos (águas subterrâneas, lençóis freáticos) da gleba Sítio Rangedor, uma das principais florestas de água doce, incluindo as nascentes do grande Rio Calhau da zona norte da Região Metropolitana da Ilha de São Luis.

Na “segunda parte” do bioma estão as nascentes do grande Rio Calhau, com vários sítios na região do Alto do Calhau e ainda áreas de preservação ligadas ao norte do bairro Vinhais.

PROBLEMA SOCIOAMBIENTAL

A referida área está sendo degradada, destruída pela ambição da especulação imobiliária que soterra nascentes e brejos, muitos já poluídos pela descarga direta de esgotos.

Com a construção de condomínios residenciais no Vinhais e na Cohama, canalizaram o esgoto para os córregos e mananciais que cortam os quintais de várias casas da Vila Nossa Senhora da Conceição, bem como para alguns sítios, de propriedade de gente muito humilde.

Infelizmente, os órgãos públicos municipais e estaduais não fiscalizam nem protegem as riquezas naturais e fundamentais para a garantia da vida das gerações futuras.

RIQUEZA DA REGIÃO

Na Leste 2 existem macacos capijuba, jacarés, vários tipos de pássaros. A flora local tem a presença de muitas palmáceas como o babaçu, coqueiro, tucum, buriti, juçara, anajá, pés de manga, murici, caju, saputi, cajá, bananeiras, embaúba, castanheiras, bambu, mamona.

Contatos para entrevista:

Moradora Rita Fiquene, presidente da APAR - Associação de Preservação Ambiental do Rangedor: Av. Luis Eduardo Magalhães, nº 16 (na frente do sítio, tem uma placa “Sítio Rangedor”). Fones: 8407-9414/3236-9526/8733-6460.

Érika Nogueira, presidente da ONG IPEFLOR - Instituto de Pesquisa e Preservação das Florestas e Rios, entidade em fase de instituição como ONG, cujo objetivo é trabalhar nos espaços urbanos a preservação de rios e florestas ameaçados de extinção. Fone: 3248-2218/8165-0252

Uimar Junior, ambientalista, artista, um dos protetores do Santuário Ecológico do Sítio Rangedor, tendo criado o personagem da “Mulher Babaçu”, uma crítica à derrubada de nossos importantes babaçuais, um apelo de amor às nossas riquezas maranhenses. Fone: 8114-0895

Professor da UFMA, Alcântara Junior, sociólogo, componente da APAR, um dos protetores da Área Leste 2 do Sítio Rangedor. Fone: 3235 - 4151

Rosa Maria Barros, moradora da Vila Nossa Senhora da Conceição: 8858-9608

Fábula Brasil (ONG Permacultural): 3232-2325 - Célida Braga

Gissele Soares: pesquisadora socioambiental, especialista em Sociologia das Interpreções do Maranhão com pesquisa apresentada na UEMA sobre o Sítio Rangedor, 9616-8134/3219-1915 (trabalho – geralmente até às 14h00).

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Fortalecer o dia 20 de Novembro nas ruas Participe da Marcha da Periferia contra a violência e a criminalização da pobreza e dos movimentos sociais.


JÚLIO CONDAQUE. DA SECRETARIA NACIONAL DE NEGROS E NEGRAS DO PSTU

A comemoração do 20 de Novembro como Dia Nacional da Consciência Negra surgiu na segunda metade dos anos 1970, no contexto das lutas dos movimentos negro e dos trabalhadores e dos movimentos populares contra o racismo. O dia homenageia Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra no Brasil, morto em uma emboscada em 1695, após sucessivos ataques ao Quilombo de Palmares, em Alagoas. E desde 1997, Zumbi faz parte do Livro dos heróis brasileiros.

A negação de uma reivindicação histórica do movimento negro como reparação, dentre elas tornar Zumbi um símbolo da luta de resistência negra de Palmares, onde também tiveram outros revolucionários homens e mulheres quilombolas, só nos incentiva a continuar na luta pelo Feriado Nacional do 20 de Novembro, tão aguardada pelo povo negro.

Apesar de hoje as instituições parlamentares, escolares, entre outras, lembrarem, comemorarem e até festejar a memória do líder Zumbi dos Palmares, nem sempre foi assim. A data foi resultado de muita luta e organização do movimento negro, desde as décadas de 70. Só em 2005, quando foi realizada a marcha dos 300 anos da morte de Zumbi, o antigo líder negro começou a receber algum destaque e o 20 de Novembro comemorado passou a ser comemorado.

Somos a segunda nação fora da África com um maior contingente de negros e negras. O racismo fica claro quando vemos que é a população negra que está na base da pirâmide social do Brasil. Há uma pesquisa da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) que prevê que em 2020 mais de 216 mil jovens negros e brancos serão mortos pela violência. No entanto, de cada 5 jovens assassinados um é branco e 4 são negros.

A comunidade negra que faz parte da classe trabalhadora está cansada de ser enganada pelos governos. Nossas lutas foram adiadas por meio da cooptação da maioria das organizações negras pelo governo Dilma. Mas existe em curso um processo de reorganização do Movimento Negro que está resgatando novos e velhos ativistas. Nosso objetivo é criar um Movimento Negro de luta e independente de governos e da burguesia, no qual a população negra será protagonista de sua própria história. Lutamos para o que 20 de Novembro seja um Feriado Nacional, em homenagem a Zumbi. Mas não queremos que seja uma data qualquer a ser comemorada apenas com festas. Queremos que seja, sobretudo, uma data de luta.

E para que ela seja vitoriosa será preciso fortalecer as organizações independentes e de luta do povo negro. O primeiro passo é construir um 20 de Novembro nas ruas, onde se expresse toda nossa resistência (herança de Zumbi de Palmares) para que possamos denunciar a dor causada por todos os ataques aos direitos da população negra trabalhadora, as falsas políticas dos governos e a violência e criminalização da pobreza e dos movimentos, além de fazer exigências aos governos de plantão

A luta pela igualdade racial!

A presidente Dilma deve participar do encerramento do Ano Internacional dos Afro-descendentes que acontecerá em Salvador, entre os dias 16 e 19 de novembro. Durante o evento, organizado pelo ONU, Salvador será escolhida capital afro-descendente ibero-americana por ser a cidade com a maior população de origem negra fora da África.

A Declaração e o Programa de Ação de Durban foram resultados da 3ª Conferência Mundial Contra o Racismo, a Discriminação, a Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, realizada em 2001, em Durban, África do Sul. Os documentos contribuem para o enfrentamento do racismo que ainda viola os direitos humanos de milhões de mulheres, crianças, jovens e homens afro-descendentes no mundo inteiro. O tratamento nessa questão era, portanto, eliminar a discriminação racial contra os afro-descendentes no país. Mas o que vimos foi à tentativa de alguns setores de pintar um quadro muito mais “róseo” da situação da desigualdade. Algo flagrante nos índices de desenvolvimento humano de negros e brancos no Brasil e em outros países.

A ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, ressaltou que esse é o momento de avaliar os documentos produzidos em Durban. Porém, todos eles não tiveram impactos sociais e raciais na comunidade negra. Pelo contrário. Nossas conquistas foram atacadas pelo governo, como foi o caso das cotas raciais nas universidades públicas e as terras de quilombos.

Além disso, Dilma foi à África para renovar acordos comerciais com empreiteiras e realizar negócios da Vale que aprofundam a superexploração do continente através de acordos que permitem a exploração de petróleo e a expansão do agronegócio.

Passados 20 anos do Congresso de Durban a vida dos afro-descendentes em todo o mundo piorou. No Brasil não é diferente, apesar de Dilma e de sua ministra tentarem enganar os chefes de Estado dizendo que aqui é um paraíso racial.

A população negra precisa fortalecer organizações classistas e socialistas, como a CSP-Conlutas e o Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe no Brasil. Só assim, poderemos travar um combate contra o racismo, independente de governos e patrões e na defesa da construção de uma sociedade realmente socialista com democracia operária.

Venha conosco participar da Marcha da Periferia Contra a Violência e a Criminalização da Pobreza. Nesse grande ato realizado durante a Semana do dia 20 de Novembro (Semana da Consciência Negra) estarão juntos moradores da periferia, operários, estudantes, professores, movimentos negros e quilombolas, grupos de Hip-Hop, sem tetos, sem-terras, partidos de esquerdas e todos aqueles que desejam construir um Brasil sem desigualdade social, sem violência, sem discriminação de qualquer espécie, em fim, sem capitalismo.

sábado, 12 de novembro de 2011

O QUE É BURGUESIA


Retiro do site do PSTU um texto do jornal Opinião Socialista sobre a série “O que é?”. O tema é “burguesia”, o objetivo será a publicação de artigos que respondam as dúvidas mais elementares que muitos ativistas apresentam no seu dia a dia. Ao longo do ano os artigos vão explicar temas ideológicos e políticos de forma fácil e acessível a todos


• Há três ou quatro edições atrás, a revista Veja estampava em sua capa: “O milionário mora ao lado: seis brasileiros de classe média se tornam milionários a cada hora”. A manchete vinha acompanhada de um subtítulo: “onze mulheres e homens que enriqueceram dão a receita de como aproveitar a maré alta da economia”.

O fantástico mundo de Veja




Essa é de doer. Se as contas de Veja estiverem certas, a “maré alta” da economia brasileira vai transformar, em alguns anos, toda a classe média em milionários e toda a população pobre em classe média, acabando assim com a miséria no país. Mas Veja “esquece” alguns detalhes. Por exemplo, que apenas em São Paulo, o número de moradores de rua subiu 56% de 2000 a 2009, ou seja, praticamente no mesmo período em que “nunca antes na história desse país”, segundo Lula, os empresários ganharam tanto dinheiro. Assim, nada mais falso do que a ideia de um Brasil que marcha firmemente rumo ao primeiro mundo. Sim, marchamos firmemente, mas é para o topo da lista dos países com maior desigualdade social do planeta, onde já ocupamos a 10ª posição.

A manchete de Veja tem uma única utilidade: nos faz refletir sobre uma questão aparentemente simples, mas na prática bastante complexa: a definição de burguesia.

O que é a burguesia?

A burguesia é a classe social que detém a propriedade privada dos meios de produção, ou seja, que é dona das fábricas, terras, bancos etc., isto é, de tudo que é necessário para produzir a riqueza social. Mas essa definição só pode ser entendida a fundo se entendermos também o conceito oposto: o de proletariado. O proletariado é a classe de trabalhadores assalariados que não possuem propriedade privada e por isso são obrigados a vender sua força de trabalho para sobreviver. Assim, a sociedade está dividida em duas grandes classes sociais: a burguesia e o proletariado. Há muitos outros grupos sociais, mas esses dois são os principais.

É bom esclarecer que propriedade privada é diferente de propriedade pessoal. Propriedade privada é aquela que permite ao seu possuidor obter vantagens, lucro, renda e o mais importante: explorar a força de trabalho alheia. Assim, se possuo um carro e o utilizo para ir ao trabalho, ele é minha propriedade pessoal. Mas se ao invés de utilizá-lo, eu o alugo a um taxista, obtendo assim uma renda, nesse caso, trata-se de propriedade privada.

Portanto, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, “ser burguês” e “ter dinheiro” não são exatamente a mesma coisa. Se sou auxiliar de produção, provavelmente não tenho dinheiro para comprar um carro 0km, mas talvez meu colega ferramenteiro tenha porque seu salário é bem maior que o meu. Isso não faz dele um burguês, uma vez que ele comprou o carro com seu salário, ou seja, através de seu próprio trabalho.

Desta forma, o que define a burguesia não é “ter dinheiro”, mas sim o fato dela viver do trabalho alheio: por possuir propriedade privada, a burguesia explora o trabalho dos outros. O trabalho dos outros é seu meio de vida, sua fonte de riquezas. Essa é sua primeira característica.

Uma classe-parasita cada vez mais inútil

A segunda característica da burguesia é que ela, ao contrário do que tentam nos convencer, é uma classe-parasita, que não trabalha, que não realiza nenhuma atividade produtiva, que não contribui em nada para o aumento da riqueza social. Vejamos.

Quem é o dono da GM? Da Embraer? Da Vale? Podemos conhecer no máximo o presidente destas empresas. Em alguns casos, sabemos quem é o acionista majoritário. Mas quem são os outros donos? Não os conhecemos porque essas empresas são sociedades anônimas, cujas ações trocam constantemente de mãos nas mega-operações das bolsas de valores, criando um emaranhado de ligações praticamente impossível de ser entendido.
Encontramos assim os verdadeiros donos das empresas: os acionistas. Mas esses acionistas nunca possuem ações de uma única empresa. Sempre são acionistas de dezenas, às vezes centenas de empresas. Nem mesmo sabem que empresas são, onde ficam e o que produzem. Isso não lhes interessa. O que lhes interessa é a renda proveniente da compra e venda de ações. Seu local de “trabalho” é a bolsa de valores. Sua única atividade é a especulação. Por isso dizemos que a burguesia é uma classe-parasita, que quebra, fecha ou desmonta suas próprias empresas se isso lhe garantir um rendimento maior numa determinada operação na bolsa.

O olho do dono engorda o gado?

Esqueça a velha imagem do industrial dedicado que observa atentamente o trabalho dos operários desde seu escritório no andar superior da fábrica. Esse burguês que é ao mesmo tempo dono e gerente de sua própria empresa é uma figura cada vez mais rara. Ele há muito tempo cedeu suas funções aos administradores, engenheiros e técnicos, que tocam os negócios muito bem sem ele. O “olho do dono” não engorda mais ninguém, pois só enxerga agora os balancetes trimestrais...

Assim, cada vez mais recai sobre os ombros dos trabalhadores não apenas o desgaste do trabalho físico, mas também a responsabilidade pelo planejamento de todo o processo produtivo. Isso se dá tanto dentro da fábrica, com as células de produção e equipes de trabalho, quanto nos escritórios de contabilidade e logística. Não há função produtiva, organizativa ou comercial que não seja exercida por trabalhadores assalariados. Esse simples fato joga por terra toda a lenda de que os trabalhadores não podem se auto-governar, de que sem o burguês a economia desmoronaria e o caos se instalaria na sociedade. Os trabalhadores já conduzem a produção. Mas o fazem de maneira isolada, inconsciente, sob as ordens de mercenários sem escrúpulos a mando da burguesia: os diretores, gerentes e chefes.

“Trabalho duro” de burguês?

Mas a sobrevivência da burguesia como classe-parasita estaria ameaçada se sua completa inutilidade fosse evidente para todos. Por isso a burguesia tenta dar à sua atividade uma aparência de “trabalho”. Desta forma, é comum vermos grandes burgueses “trabalhando duramente” em seus escritórios, se envolvendo na administração das fábricas, chegando tarde em casa, estressados por causa do “trabalho” etc. Olhando assim, parecem verdadeiros trabalhadores! Na verdade, qualquer que seja a função exercida por um burguês, tudo o que ele faz pode ser feito (e muito melhor!) por um trabalhador técnico qualificado.

Além disso, a renda de um burguês nunca provém da atividade que ele exerce na fábrica. Sua renda sempre provém do simples fato de ele ser proprietário de uma certa quantidade de ações. Ele vive não do salário, mas do lucro. Seu único “trabalho” é garantir que se explore ao máximo o trabalho dos outros. A única classe que vive de seu próprio trabalho é o proletariado.

A pequena e a grande propriedade

Tudo o que dissemos até aqui vale para a grande propriedade, mas não para a pequena. Ser um grande acionista ou latifundiário é diferente de ser dono de um sítio, um taxi ou uma pequena padaria. Enquanto o grande proprietário vive do trabalho alheio e apenas finge que trabalha, o pequeno proprietário, ou “pequeno-burguês”, é obrigado a trabalhar de verdade para manter seu pequeno negócio.

O pequeno-burguês muitas vezes também explora o trabalho de um ou mais trabalhadores, mas o tamanho reduzido de sua propriedade, a instabilidade de sua situação econômica e a luta permanente contra a concorrência por parte do grande capital não lhe permitem parar de trabalhar. Assim, ao contrário da grande burguesia, a pequena-burguesia é uma classe produtiva, ou seja, que contribui com o aumento da riqueza social.

Teu dia está prestes, burguês!

O poeta russo Vladimir Maiakovsky escreveu certa vez: “Come ananás, mastiga perdiz; Teu dia está prestes, burguês!” E o poeta brasileiro Mario de Andrade não deixou por menos: “Eu insulto o burguês! O burguês-níquel, o burguês-burguês! A digestão bem-feita de São Paulo!”

Reconhecer imediatamente a burguesia e seus representantes; confiar única e exclusivamente em suas próprias forças; nas eleições, votar somente nos representantes legítimos dos trabalhadores; nutrir um verdadeiro ódio de classe contra toda opressão, exploração e injustiça: essas são as tarefas fundamentais de todo ativista ou dirigente do movimento operário, sindical e popular. Se o milionário mora ao lado, está mais do que na hora de acertar as contas com esse vizinho folgado.

Os governos burgueses



A burguesia não é apenas a classe economicamente dominante. Ela é também a classe politicamente dominante. Sem a ajuda das instituições do Estado (congresso, justiça, Exército, polícia, escolas) ela não poderia manter-se como classe-parasita. Assim, a burguesia forma para si um exército de especialistas em administração pública. São os políticos burgueses.

Para se elegerem, os políticos burgueses precisam do apoio político e financeiro da burguesia, mas também do voto popular. Por isso, os governos burgueses sempre adotam algumas medidas benéficas à população: constroem hospitais e escolas, criam programas sociais e de incentivo à renda etc. O que nunca um governo burguês vai fazer é dar aos trabalhadores mais do que dá à burguesia.

Um governo burguês pode desapropriar uma fazenda ou nacionalizar um banco falido. Mas ele jamais vai governar contra toda a burguesia, por exemplo, expropriando todos os latifúndios do país ou nacionalizando todo o sistema financeiro.

Um governo burguês pode ter uma política relativamente independente do imperialismo, incentivando, por exemplo, que a burguesia nacional expanda seus negócios no mundo e conquiste posições. O que ele nunca vai fazer é tornar o país verdadeiramente soberano, por exemplo, proibindo a remessa de lucros ao exterior ou deixando de pagar a dívida externa.

Assim, o caráter de classe de um governo é definido por suas ações práticas e não por suas palavras ou pela origem social do governante. Segundo esse critério, apesar de sua origem operária, o governo Lula é um governo burguês, ainda que seja um governo burguês diferente, “anormal” porque nele a burguesia não governa diretamente, mas através das lideranças da classe trabalhadora: o próprio Lula, o PT e a CUT. A acirrada disputa eleitoral entre PT e PSDB não deve nos confundir. Uma vez eleitos, tanto Dilma, quanto Serra, estarão a serviço do mesmo senhor: a burguesia nacional e internacional. Se alguém ainda duvidava disso, o recente veto de Lula ao fim do fator previdenciário simplesmente encerrou a questão, mostrando a incrível semelhança entre os governos do PT e PSDB.

Burgueses e proletários: a história das palavras

A burguesia é uma classe muito antiga. Nasceu por volta do século 12 na Europa medieval. Num continente coberto por enormes propriedades rurais, destacavam-se pequenas vilas comerciais, conhecidas como “burgos”. Seus habitantes eram os “burgueses”. Assim, a burguesia surgiu como uma classe de comerciantes pobres, que havia deixado o campo e se instalado nas cidades para viver do comércio. Somente mais tarde esses burgueses se ligaram à manufatura, ao comércio internacional e finalmente à indústria, dando origem à atual burguesia.




Já a nossa classe, o proletariado, é muito mais jovem. Surgiu por volta do século 16, também na Europa. “Proletário” quer dizer em latim “aquele que tem prole”, ou seja, filhos. Esse nome foi dado porque os camponeses que abandonavam o campo e se deslocavam para as cidades medievais nessa época não possuíam absolutamente nada.

Sua única “propriedade” eram seus filhos. Sem qualquer posse, “aqueles que tinham filhos” eram obrigados a vender sua força de trabalho nas oficinas de manufatura.
Mais tarde, no século 18, graças ao surgimento da grande indústria, o proletariado cresceu e se transformou, dando origem ao moderno proletariado industrial.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A tinta vermelha: discurso de Slavoj Žižek aos manifestantes do movimento Occupy Wall Street



Depois de publicar o excelente texto do camarada Hertz sobre o novembro vermelho, agora venho com o texto do filosofo Slavoj Žižek. Nascido na antiga Jugoslávia, em Liubliana, hoje capital da Eslovénia), doutorou-se em Filosofia na sua cidade natal e estudou Psicanálise na Universidade de Paris. Žižek é conhecido por seu uso de Jacques Lacan numa nova leitura da cultura popular, abordando temas como o cinema de Alfred Hitchcock e David Lynch, o leninismo e tópicos como fundamentalismo e tolerância, correcção política, subjectividade nos tempos pós-modernos e outros. Em 1990, candidatou-se à presidência da República da Eslovénia.

Em visita recente a Liberty Plaza, em Nova Iorque, ele dialogou com os manifestantes do movimento Occupy Wall Street (Ocupe Wall Street), que protestam contra a crise do capitalismo e o poder econômico norte-americano desde o início de setembro deste ano.

Republico um texto que este filósofo enviou na íntegra para publicação em blog nacionais, com tradução de Rogério Bettoni. Caso desejem ler a versão original em inglês, está disponível no site da Verso Books (assim como outros comentários de filósofos e cientistas sociais sobre o movimento Occupy Wall Street). A fonte da informação chegou até a mim através de Paulo Roberto Miranda.
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Não se apaixonem por si mesmos, nem pelo momento agradável que estamos tendo aqui. Carnavais custam muito pouco – o verdadeiro teste de seu valor é o que permanece no dia seguinte, ou a maneira como nossa vida normal e cotidiana será modificada. Apaixone-se pelo trabalho duro e paciente – somos o início, não o fim. Nossa mensagem básica é: o tabu já foi rompido, não vivemos no melhor mundo possível, temos a permissão e a obrigação de pensar em alternativas. Há um longo caminho pela frente, e em pouco tempo teremos de enfrentar questões realmente difíceis – questões não sobre aquilo que não queremos, mas sobre aquilo que QUEREMOS. Qual organização social pode substituir o capitalismo vigente? De quais tipos de líderes nós precisamos? As alternativas do século XX obviamente não servem.




Então não culpe o povo e suas atitudes: o problema não é a corrupção ou a ganância, mas o sistema que nos incita a sermos corruptos. A solução não é o lema “Main Street, not Wall Street”, mas sim mudar o sistema em que a Main Street não funciona sem o Wall Street. Tenham cuidado não só com os inimigos, mas também com falsos amigos que fingem nos apoiar e já fazem de tudo para diluir nosso protesto. Da mesma maneira que compramos café sem cafeína, cerveja sem álcool e sorvete sem gordura, eles tentarão transformar isto aqui em um protesto moral inofensivo. Mas a razão de estarmos reunidos é o fato de já termos tido o bastante de um mundo onde reciclar latas de Coca-Cola, dar alguns dólares para a caridade ou comprar um cappuccino da Starbucks que tem 1% da renda revertida para problemas do Terceiro Mundo é o suficiente para nos fazer sentir bem. Depois de terceirizar o trabalho, depois de terceirizar a tortura, depois que as agências matrimoniais começaram a terceirizar até nossos encontros, é que percebemos que, há muito tempo, também permitimos que nossos engajamentos políticos sejam terceirizados – mas agora nós os queremos de volta.
Dirão que somos “não americanos”. Mas quando fundamentalistas conservadores nos disserem que os Estados Unidos são uma nação cristã, lembrem-se do que é o Cristianismo: o Espírito Santo, a comunidade livre e igualitária de fiéis unidos pelo amor. Nós, aqui, somos o Espírito Santo, enquanto em Wall Street eles são pagãos que adoram falsos ídolos.

Dirão que somos violentos, que nossa linguagem é violenta, referindo-se à ocupação e assim por diante. Sim, somos violentos, mas somente no mesmo sentido em que Mahatma Gandhi foi violento. Somos violentos porque queremos dar um basta no modo como as coisas andam – mas o que significa essa violência puramente simbólica quando comparada à violência necessária para sustentar o funcionamento constante do sistema capitalista global?

Seremos chamados de perdedores – mas os verdadeiros perdedores não estariam lá em Wall Street, os que se safaram com a ajuda de centenas de bilhões do nosso dinheiro? Vocês são chamados de socialistas, mas nos Estados Unidos já existe o socialismo para os ricos. Eles dirão que vocês não respeitam a propriedade privada, mas as especulações de Wall Street que levaram à queda de 2008 foram mais responsáveis pela extinção de propriedades privadas obtidas a duras penas do que se estivéssemos destruindo-as agora, dia e noite – pense nas centenas de casas hipotecadas…
Nós não somos comunistas, se o comunismo significa o sistema que merecidamente entrou em colapso em 1990 – e lembrem-se de que os comunistas que ainda detêm o poder atualmente governam o mais implacável dos capitalismos (na China).

O sucesso do capitalismo chinês liderado pelo comunismo é um sinal abominável de que o casamento entre o capitalismo e a democracia está próximo do divórcio. Nós somos comunistas em um sentido apenas: nós nos importamos com os bens comuns – os da natureza, do conhecimento – que estão ameaçados pelo sistema.

Eles dirão que vocês estão sonhando, mas os verdadeiros sonhadores são os que pensam que as coisas podem continuar sendo o que são por um tempo indefinido, assim como ocorre com as mudanças cosméticas. Nós não estamos sonhando; nós acordamos de um sonho que está se transformando em pesadelo. Não estamos destruindo nada; somos apenas testemunhas de como o sistema está gradualmente destruindo a si próprio. Todos nós conhecemos a cena clássica dos desenhos animados: o gato chega à beira do precipício e continua caminhando, ignorando o fato de que não há chão sob suas patas; ele só começa a cair quando olha para baixo e vê o abismo. O que estamos fazendo é simplesmente levar os que estão no poder a olhar para baixo…




Então, a mudança é realmente possível? Hoje, o possível e o impossível são dispostos de maneira estranha. Nos domínios da liberdade pessoal e da tecnologia científica, o impossível está se tornando cada vez mais possível (ou pelo menos é o que nos dizem): “nada é impossível”, podemos ter sexo em suas mais perversas variações; arquivos inteiros de músicas, filmes e seriados de TV estão disponíveis para download; a viagem espacial está à venda para quem tiver dinheiro; podemos melhorar nossas habilidades físicas e psíquicas por meio de intervenções no genoma, e até mesmo realizar o sonho tecnognóstico de atingir a imortalidade transformando nossa identidade em um programa de computador.

Por outro lado, no domínio das relações econômicas e sociais, somos bombardeados o tempo todo por um discurso do “você não pode” se envolver em atos políticos coletivos (que necessariamente terminam no terror totalitário), ou aderir ao antigo Estado de bem-estar social (ele nos transforma em não competitivos e leva à crise econômica), ou se isolar do mercado global etc. Quando medidas de austeridade são impostas, dizem-nos repetidas vezes que se trata apenas do que tem de ser feito. Quem sabe não chegou a hora de inverter as coordenadas do que é possível e impossível? Quem sabe não podemos ter mais solidariedade e assistência médica, já que não somos imortais?



Em meados de abril de 2011, a mídia revelou que o governo chinês havia proibido a exibição, em cinemas e na TV, de filmes que falassem de viagens no tempo e histórias paralelas, argumentando que elas trazem frivolidade para questões históricas sérias – até mesmo a fuga fictícia para uma realidade alternativa é considerada perigosa demais.

Nós, do mundo Ocidental liberal, não precisamos de uma proibição tão explícita: a ideologia exerce poder material suficiente para evitar que narrativas históricas alternativas sejam interpretadas com o mínimo de seriedade. Para nós é fácil imaginar o fim do mundo – vide os inúmeros filmes apocalípticos –, mas não o fim do capitalismo.

Em uma velha piada da antiga República Democrática Alemã, um trabalhador alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que todas as suas correspondências serão lidas pelos censores, ele diz para os amigos: “Vamos combinar um código: se vocês receberem uma carta minha escrita com tinta azul, ela é verdadeira; se a tinta for vermelha, é falsa”. Depois de um mês, os amigos receberam a primeira carta, escrita em azul: “Tudo é uma maravilha por aqui: os estoques estão cheios, a comida é abundante, os apartamentos são amplos e aquecidos, os cinemas exibem filmes ocidentais, há mulheres lindas prontas para um romance – a única coisa que não temos é tinta vermelha.”

E essa situação, não é a mesma que vivemos até hoje? Temos toda a liberdade que desejamos – a única coisa que falta é a “tinta vermelha”: nós nos “sentimos livres” porque somos desprovidos da linguagem para articular nossa falta de liberdade. O que a falta de tinta vermelha significa é que, hoje, todos os principais termos que usamos para designar o conflito atual – “guerra ao terror”, “democracia e liberdade”, “direitos humanos” etc. etc. – são termos FALSOS que mistificam nossa percepção da situação em vez de permitir que pensemos nela. Você, que está aqui presente, está dando a todos nós tinta vermelha.