quarta-feira, 31 de julho de 2013

Papa Francisco: novo discurso para velha doutrina

Jeferson Choma, da redação do PSTU


A visita do Papa Francisco ao Brasil foi seguida por uma enorme exaltação da mídia e dos governantes ao “papa dos pobres”. Adulações de todo tipo foram repetidas exaustivamente a todo o momento em que o “santo padre” aparecia na TV. “Revelações” sobre sua “simplicidade, simpatia, humanidade e despojamento” alimentaram enorme fervor religioso. Algo que não causou nenhum constrangimento ao esquecido princípio da laicidade que deve vigorar na relação entre o Estado com qualquer religião.
 
Não menos importante foi a tentativa dos políticos em “colar” na imagem do Papa Francisco. A mais óbvia movimentação nesse sentido foi o discurso de recepção da presidente Dilma, que relacionou as supostas realizações do seu governo e o de Lula com o discurso de defesa dos pobres realizado pelo pontífice.  
 
Recuperar terreno perdido
A principal missão do papa Francisco em sua visita foi a de recuperar o terreno perdido da Igreja Católica em dois campos: na periferia das grandes cidades e entre a juventude.
 
Apesar do Brasil ainda ser a maior nação católica do mundo, na última década, a Igreja teve uma redução de 1,7 milhão de fiéis, um encolhimento de 12,2%, segundo o IBGE. Se, em 1970, havia 91,8% de brasileiros católicos, em 2010 essa fatia passou para 64,6%, segundo o censo de 2010. Ao mesmo tempo, as mais diversas igrejas evangélicas saltaram de 5,2% da população para 22,2%. 
 
A perda de fiéis da Igreja Católica aconteceu, sobretudo, nas periferias das grandes cidades. Foi nelas que os pentecostais atuaram como guias espirituais e como figuras centrais do assistencialismo, diante da completa ausência do Estado e de serviços públicos.  É importante ressaltar que a década de 1990, período em que houve o maior declínio da Igreja, também foi a época de expansão da favelização, do desemprego estrutural causado pela globalização capitalista e o neoliberalismo. Isso resultou em maior degradação social, resultando no aumento da violência urbana, do alcoolismo, desagregação familiar etc. Do ponto de vista religioso, os pentecostais foram mais bem sucedidos em sua estratégia de oferecer uma resposta à crise social provocada pelo neoliberalismo. Foi nessa década que eles também entraram maciçamente na política.
 
Nesse sentido, não causa espanto o discurso do Papa, que reorienta a Igreja a ir à periferia. Em plena Favela da Varginha, no Rio, ele fez um dos discursos de cunho social mais importante de seu pontificado, atacando as desigualdades que existem no mundo e chamando a igreja a “abraçar” os marginalizados.
 
Contudo, é um engano pensar que esse discurso representa uma “virada à esquerda da Igreja”, como alentam diversos integrantes da Teologia da Libertação. Em um dos seus últimos pronunciamento no Brasil, o papa atacou às propostas “ideológicas” que trazem o risco de "fazer fracassar" o trabalho da Igreja. E chamou de "reducionismo socializante" a prática da Teologia da Libertação.
 
Juventude e a Igreja
Já na 26° Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a vinda do Papa Francisco procurou recuperar o prestígio junto à população mais jovem. Nessa parcela da população, o catolicismo perdeu terreno não só para as igrejas evangélicas, mas também para um numero cada vez maior daqueles que dizem “não ter religião” - mais de 15 milhões, segundo o IBGE.
 
Os elementos da crise econômica mundial, já presentes no país, atinge em cheio a juventude. Segundo o IBGE, a taxa de desemprego do Brasil entre os jovens de 18 a 24 anos é de 12,4%, em 2012. Também é a juventude pobre que sofre mais com o caos dos serviços públicos e com a violência das grandes periferias. 
 
Foi essa situação que produziu as grandes manifestações realizadas em junho. Com muita habilidade, o Papa Francisco pronunciou discursos em apoio aos protestos. Exaltou a luta “contra a corrupção” e chegou a pedir para que os jovens “saiam às ruas como fez Jesus".
 
Naturalmente, este apoio do Papa aos protestos é visto com muita simpatia por setores da juventude. Afinal, muitos destes jovens que protagonizaram as “jornadas de junho” estavam presentes na JMJ. Contudo, isso não pode esconder o enorme fosso que separa as aspirações da juventude e a velha doutrina conservadora da Igreja Católica. 
 
Doutrina conservadora
A juventude deve ter total liberdade para professar sua fé. Do mesmo modo que outros jovens devem poder escolher a religião que quiserem ou simplesmente não optar por nenhuma crença religiosa.  Mas não se pode ignorar que a conservadora doutrina da Igreja Católica – apesar de ser apresentada com uma nova roupagem - não vai ao encontro das bandeiras levantadas em junho. Tampouco é compatível com as aspirações daqueles que lutam contra a opressão machista e aos LGBTs.
 
A Igreja tem posição clara sobre estes temas. Segue em sua campanha contra o sexo antes do casamento e contra o aborto. Na JMJ distribuiu uma cartilha que veicula informações equivocadas de que zigoto, embrião e feto são crianças e que, portanto, o aborto seria um assassinato. Também atua em favor do Estatuto do Nascituro que prevê, por exemplo, a bolsa estupro e uma restrição ainda maior aos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.
 
Para a Igreja, o matrimônio é a “sagrada e indissolúvel” união entre um homem e uma mulher. Quando ainda era o Cardeal de Buenos Aires, o Papa Francisco assumiu uma luta encarniçada contra a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Argentina. Liderou passeatas contra essa proposta, que terminou sendo aprovada.
 
O problema é que a Igreja Católica tenta impor suas crenças para o conjunto da sociedade. Tenta impor a todo o mundo o seu modo de vida prescrito pela sua fé, desrespeitando a crença e as convicções daqueles que pensam diferente, algo absolutamente inaceitável.
 
Por isso, o PSTU apoiou e participou das manifestações que denunciam a política reacionária defendida pela Igreja. Denunciamos os recursos públicos gastos pelo Estado com a visita do Papa Francisco, bem como as inúmeras isenções fiscais que a Igreja Católica recebe do Estado supostamente laico. O novo discurso apresentado pelo Papa à juventude e ao povo pobre não esconde o velho conservadorismo da Igreja que sempre defendeu os ricos e poderosos.    
 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Seis conclusões sobre o caráter da mobilização popular após o 11 de julho

Ozzi, de Jacareí (SP) do Site Oficial do PSTU
Dutra é fechada por manifestantes no dia 11 de julho
Foto: Sindmetal/SJC
Classe trabalhadora entra em cena
É preciso tirar conclusões sobre o que está acontecendo. A primeira delas é que a classe trabalhadora entrou com muita força no movimento puxado pela juventude. Essa foi uma das maiores greves gerais de nossa história, semelhante às greves da década de 1980.
A segunda conclusão é que as manifestações de rua ganham “novas” ferramentas de apoio, tradicionais do movimento operário: as greves e paralisações. Foi a classe operária em cena, com seus métodos, dando prejuízo de bilhões à burguesia, quem deu o recado no dia 11, contra tudo o que está aí.
A terceira conclusão é que não é só por 20 centavos que os trabalhadores fizeram greve. Aliás, a maioria dos que fizeram greve vai de ônibus fretado ao trabalho, são trabalhadores de empresas multinacionais como as montadoras, tem carteira assinada. A greve foi claramente política. Foi um grito contra todo o sistema político. Foi muito mais uma greve contra a política dos governos, contra os próprios governantes e seus partidos tradicionais, sua corrupção, seu mau-caratismo. Mudou de vez o foco do protesto. Começou com o transporte há um mês atrás, agora é todo o sistema, e quem achar que o movimento reivindica só transporte precisa se convencer do caráter mais geral das reivindicações.
A quarta conclusão que podemos tirar é que o movimento é de esquerda, por suas reivindicações e seus métodos. Greve geral contra o sistema político, contra os governos, por direitos básicos como transporte, saúde e educação, é movimento de esquerda. Não precisa ter um partido de esquerda à frente do movimento para definir seu caráter. A direita está com medo, basta ler os jornais.
A quinta conclusão é que é preciso fortalecer uma alternativa real de mudança. O movimento precisa de estratégia. O Brasil precisa de uma revolução social, precisa acabar com a divisão do povo em classes sociais. Só assim poderemos conquistar e, principalmente, manter as conquistas que arrancamos dos senhores do poder. O movimento tem que lutar pelo socialismo.
Alternativa
No dia da greve assistimos a CUT, a Força Sindical e políticos da burguesia disputando os rumos do movimento. Estas centrais e estes políticos, em sua maioria, foram a sustentação deste governo que enfrentamos. São as bases das categorias que pressionam a CUT e a Força Sindical para fazerem greve mas, contraditoriamente, são justamente estas centrais que elegeram Lula e Dilma. A greve acontece apesar destas centrais e não devido a elas. Estas direções não querem mudar radicalmente a política no país, querem apenas manter o controle dos sindicatos e barganhar privilégios políticos. Sua estratégia é capitalista. Temos que nos aproveitar desta contradição para dialogar com as bases, apesar de suas direções. Por isso devemos fortalecer a CSP-Conlutas, que é a única central independente deste país.
É preciso ter claro que os ricos deste país não vão entregar seus privilégios facilmente. A democracia das ruas já está enfrentando a ditadura das armas. O século XX é o século das grandes revoltas populares que sacudiram a humanidade e mesmo assim o mundo continua capitalista. O socialismo é atual e única saída. O socialismo é poder econômico na mão do trabalhador, é a democracia da maioria. O socialismo é a educação pública que o povo pede hoje nas ruas, é a saúde de qualidade que nós pintamos nos cartazes, é o transporte gratuito que tanto que queremos, é a política honesta porque seu interesse não é o dinheiro, é o fim da inflação, da fome e concentração da riqueza nas mãos de poucos. Temos que ir até o final na tarefa de construir o socialismo, temos que expropriar, coletivizar e socializar a riqueza.
Nós temos que construir uma ferramenta de luta que reúna o que existe de mais necessário ao nosso movimento hoje: uma estratégia socialista e uma organização adequada à necessidade de combater a burguesia. Só com estratégia clara e disciplina férrea vamos conseguir isso. Só com um partido político revolucionário, que agrupe operários, camponeses e estudantes vamos fazer o socialismo. Esse partido que precisamos não é igual aos outros e esta é a sexta conclusão. Os partidos não são todos iguais. O PSTU é diferente. Enfrentou a polícia nos atos de rua lado a lado com o povo, por isso é diferente. Propôs e organizou a greve geral do dia 11 de julho, por isso é diferente. Enfrentou a desconfiança do povo com os partidos para provar que nem todo partido é corrupto e inimigo do povo, por isso é diferente.
O PT, por meio da CUT, quis boicotar ou desviar os motivos da greve para apoiar Dilma. O PSDB não se moveu neste dia, assim como os demais partidos burgueses. O PSOL não acreditou na força do movimento e se absteve na votação da greve do metrô de São Paulo, o que impediu a paralisação do principal meio de transporte da capital econômica do país. A organização política LER-QI, de maneira lamentável, foi além do peleguismo e seus militantes defenderam contra a greve do metrô. Trabalharam orgulhosamente neste dia para trair o movimento nacional dos trabalhadores.
Na greve geral os trabalhadores do PSTU organizaram por dentro das empresas as paralisações. Nossa juventude foi para a porta das fábricas apoiar os trabalhadores e fez um chamado a todos os ativistas para organizarem a paralisação. Mais do que nunca, é preciso saber diferenciar os partidos políticos e reafirmar o formato de organização do nosso partido. Todas as nossas atividades foram discutidas e decididas em reuniões, coletivamente. E depois atuamos juntos nas mesmas atividades, golpeando a burguesia com um punho só, sem divisões. Nenhum parlamentar ou figurão falou em nome de nosso partido sem antes ter se submetido ao coletivo partidário. Isso é democracia. Só com um partido com a mais férrea disciplina e democracia interna a serviço de uma estratégia socialista podemos fazer uma revolução social. Está na hora de fortalecer esta alternativa.

terça-feira, 16 de julho de 2013

SINDSALEM TEM NOVA DIREÇÃO

Do Blog do SINDSALEM




Quase trinta dias depois da eleição, tomou posse hoje (15 de julho de 2013) a nova Diretoria do SINDICATO DOS SERVIDORES DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO MARANHÃO – SINDSALEM. A solenidade de posse foi realizada pelo Presidente da Comissão Eleitoral Aristides Lobão. Recebeu o ato de posse, em nome dos demais membros eleitos, a Vice-presidenta Teonilia. A posse foi acompanhada pelos associados e convidados.

Estiveram  presente representantes de várias entidades sindicais. Em nome da APRUMA (Associação dos professores da UFMA) falou o Professor e Presidente da entidade Vilemar Gomes; pela Associação dos Servidores do Tribunal de Contas do Estado do Maranhão, companheiro Miguel; o Diretor do SINTRAJUFE (Servidores da Justiça Federal) Saulo Arcangeli saudou a nova Diretoria; em nome da Direção do Sindicato dos Bancários falou o companheiro Costa que estava acompanhado da companheira Regina, também membro da mesma diretoria; o Diretório Central dos Estudantes  da UFMA saudou  a nova Direção na voz da Estudante Gissele; Fagner Damasceno, Vice-Presidente do SINDJUS-MA (Servidores do Judiciário Maranhense) também fez uso da palavra saudando a nova Diretoria; o companheiro  Eduardo Rangel,  Secretário-Geral da FENALE, e também membro da Direção do Sindicato dos Servidores  da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro também fez a sua saudação.

 Todos os sindicalistas citados desejaram que a nova gestão do SINDSALEM tenha êxitos e consiga conquistar melhorias para essa categoria e, o mais importante, se colocaram a disposição para contribuir com a luta dos servidores quando forem acionados.

Além dos dirigentes de entidades fizeram saudação o Diretor de Recursos Humanos Eduardo Pinheiro, representando a Mesa Diretora da ALEMA; a Deputada Vianey Bringel também se fez presente e externou sua posição sobre aquele momento; falou o ex-presidente do Sindicato dos Bancários e agora Deputado Estadual, Bira do Pindaré, que, assim como a sua colega de parlamento, colocou-se a disposição da categoria para contribuir com a luta dos servidores do Legislativo.
Antes de concluir a solenidade falou Joana de Jesus Presidente do SINDSALEM até aquele momento. Ela fez um breve relato de sua atuação e se colocou a disposição para contribuir com a luta dos servidores, agora na condição de filiada.



Por último, falou o novo Presidente do SINDSALEM, Luiz Noleto, que fez um histórico da fundação do sindicato e reafirmou o compromisso da nova Direção, denominada AUTONOMIA, DEMOCRACIA E LUTA, de lutar incansavelmente pela categoria que votou massivamente na Chapa 1 e também pelos que democraticamente votaram na chapa derrotada.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Somos brasileiros contra os governos e o imperialismo

Ozzi, de Jacareí (SP) - Publicado no SITE DO PSTU

Manifestação na Avenida Paulista
Foto: Sérgio Koei
Esse sentimento de identidade e unidade, de um povo que sofre junto à roubalheira dos políticos, o aumento das passagens de ônibus, a inflação, a educação e a saúde precárias, que está endividado e não aguenta mais a demagogia do governo. É a expressão de que estamos unidos, que esse governo não representa nossos valores porque somos trabalhadores honestos e ganhamos a vida com suor, que defendemos nosso país contra tudo que está aí: os governos, a corrupção, a polícia, a inflação, a pobreza e a Copa. 
O governo do PT, a direita e seus partidos tradicionais como o PSDB e o PMDB, por meio da Rede Globo e outros canais de comunicação, querem transformar o verde-amarelo da indignação numa festa do futebol e da paz, dissolvendo a unidade dos protestos na unidade da torcida pela seleção de futebol, encobrindo a repressão da polícia e chamando os manifestantes de “vândalos”.
Para isso, utilizam o patriotismo como ideologia a serviço de seus interesses, aproveitando o repúdio do povo aos políticos e às instituições, obra da qual eles são os verdadeiros responsáveis. Fazem isso defendendo que o povo deve levantar apenas a bandeira do Brasil e cantar o Hino Nacional, apregoando um nacionalismo difuso e sem objetivos claros. Assim, esvaziam o conteúdo e as reivindicações do povo para depois afirmarem que as manifestações não tem objetividade.
Mas afinal, o que é ser nacionalista ou patriota hoje?
Levantar a bandeira do Brasil nas passeatas e cantar o Hino Nacional pode ser uma demonstração de indignação, mas também pode fazer o jogo dos políticos corruptos e da mídia corrompida.  A pergunta crucial é: defender a pátria contra quem? Nós temos a opinião que os principais inimigos do país são os governos e as empresas imperialistas que financiam suas campanhas eleitorais e mandam na política do Brasil. São os banqueiros e empresários, principalmente das multinacionais estrangeiras, os governos europeus, japonês e norte-americano e uma parcela menor de burgueses brasileiros, como Eike Batista, quem são os reais inimigos da nação.
Devemos levantar faixas e bandeiras contra os "yankees", contra Obama e a chanceler alemã Angela Merkel, contra o McDonald's e a Coca-Cola, contra os leilões da Petrobrás e a privatização dos aeroportos, pela reestatização da Vale, da Embraer e de outras empresas privatizadas a preço de banana na época do governo de FHC.
Federação das Indústrias de São Paulo estilizada com bandeira do Brasil durante os protestos na Avenida Paulista
O patriotismo pode ser perigoso se cair nas mãos da direita
Sem levantar as bandeiras de soberania nacional, o patriotismo só pode servir à direita política e seus partidos tradicionais. Se o povo brasileiro marcha nas ruas contra o imperialismo e por direitos, consegue atingir todos os governos e partidos que defendem o sistema, pois todos são financiados por este mesmo imperialismo. Mesmo o PT, que durante muitos anos se posicionou contra ele. Obama disse recentemente, num encontro entre os dois presidentes, que Lula é “O cara” e temos certeza que diria que Dilma é “A” mulher.  
Agora, se os protestos vão perdendo seu caráter contestatório e plural, e o verde-amarelo engole as reivindicações, só serve para desgastar este governo e substituí-lo por outro semelhante, além de fazer o jogo da Globo com a Copa. Isso só serviria à direita, que quer retomar a presidência nas próximas eleições com Aécio Neves, Marina Silva, Joaquim Barbosa ou Eduardo Campos. Na verdade, o que temos assistido nas últimas passeatas é essa mesma direita insuflando o nacionalismo do povo para esconder as reivindicações reais da luta. Como sempre, buscam aproveitar-se dos brasileiros para seus objetivos sujos.
Na onda do nacionalismo e por meio de um movimento que somente nega o governo do PT, a direita se aproveita indiretamente dos protestos porque acredita que, nas próximas eleições, vai usar deste desgaste para voltar ao poder. Deste modo, a direita não levanta suas bandeiras nos protestos, de maneira oportunista, porque sabe que serão rasgadas pelo ódio da população. Ela está aguardando para levantá-la nas próximas eleições, esperando que o povo desista das ruas e volte para a televisão. É quando o patriotismo ou nacionalismo servem a seu interesse.
A saída é verde, amarela e vermelha
O PT confundiu a cabeça do povo difundindo a imagem de que a esquerda é corrupta e capitalista. Por isso é comum ouvir nos protestos que esquerda e direita é tudo igual, que temos que levantar a bandeira do Brasil e esquecer a dos partidos. 
É um passo importante do povo a conclusão de que o PT e a direita (PSDB, PMDB, DEM, etc) sejam farinha do mesmo saco. Nós, do PSTU, passamos os dez anos do governo petista dizendo isso, mas alijados dos grandes meios de comunicação, enfrentando um boicote consciente da mídia e uma legislação eleitoral injusta, só conseguimos atingir uma pequena parcela da população.
Essa confusão de achar que todo partido, ou mesmo que todo político é igual, mesmo que seja de esquerda, acontece porque o povo não conhece a esquerda revolucionária. O PSTU é desse tipo de esquerda que defende uma revolução social do povo, diferente do PT, que defende os banqueiros e empresários contra o povo. 
Defendemos o verde-amarelo sim, mas achamos que, por trás dessas cores, devem estar as reivindicações da classe trabalhadora do país, e estas reivindicações somente a esquerda revolucionária defende bem. Nós não somos o PT, somos da esquerda revolucionária, dos mais radicais defensores dos direitos da população. Queremos o fim do sistema capitalista e sua substituição pelo socialismo.
Achamos que a bandeira do Brasil sendo hasteada sozinha, sem outras bandeiras, representa apenas a frase que os políticos corruptos sempre repetiram desde o período da escravidão: "Ordem e Progresso". Isso sempre significou ordem para os pobres e progresso para os ricos. 
Para que essa bandeira signifique transporte, educação e saúde gratuitos e de qualidade, fim da roubalheira, fim da repressão policial e soberania nacional, precisamos acrescentar o vermelho revolucionário ao verde-amarelo. O Brasil precisa de uma saída e ela está à esquerda, com reivindicações objetivas que comecem na revogação do aumento das passagens de ônibus até a soberania do nosso país, com os trabalhadores nas ruas junto aos estudantes e rumo ao socialismo.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Um plebiscito para fortalecer o governo e não mudar nada

 Diego Cruz, da redação do site PSTU

Se o governo não se dispõe a mudar a política econômica e sabe que, assim, nada vai mudar, e ao mesmo tempo a população insiste em continuar indo às ruas, o que fazer? O marqueteiro de Dilma, João Santana, tem a resposta. Por que não fazer um plebiscito sobre reforma política? Assim, a população sente que está sendo ouvida e, mais que isso, decidindo os rumos do sistema político do país. Uma das principais reivindicações nas ruas não é o fim da corrupção e o rechaço à classe política? Seria a resposta perfeita.
Truque
A proposta de plebiscito, porém, não passa disso: um truque de marqueteiro para distrair a atenção das verdadeiras demandas colocadas nas ruas. Se a disposição é o de “ouvir as ruas”, por que não uma consulta popular sobre os 10% do PIB para a educação? Ou sobre o leilão do petróleo, ou ainda a reestatização das empresas privatizadas? Porque o governo Dilma não quer que a população decida sobre as questões fundamentais que possam significar alguma alteração da atual política econômica.
Um argumento ainda é o de que a reforma política seria a base para todas as outras, já que constituiria uma pré-condição para termos “melhores políticos” e, em consequência, melhores governantes. O dirigente da Consulta Popular, Ricardo Gebrim, é capaz de ir até mais longe ao afirmar que Dilma “audaciosamente lança uma proposta política a um movimento de reivindicações econômicas!
Gebrim fala como se as bandeiras colocadas pelas ruas exigindo saúde, educação, transportes e demais serviços públicos de qualidade, ao mesmo tempo em que atacam os gastos da Copa, fossem meramente “econômicas”.  E aí viria Dilma e “politizaria” o debate, propondo algo superior. Mas qual o conteúdo dessa proposta? É colocar em votação questões como lista fechada para as eleições ou o voto distrital, que aliás sempre foi programa de partidos da direita, como o PSDB.
Num momento em que algo como dois milhões foram às ruas questionando diretamente, ainda que não conscientemente, os efeitos da política econômica imposta ao país nas últimas duas décadas, o governo quer fazer um plebiscito para decidir se a população vai votar para deputado através de lista ou nominalmente. Se vai eleger deputado por distrito ou se vai continuar sendo por estado. Isso seria “politizar”?
A reforma política colocada nos termos do Governo Dilma nem ao menos serviria para melhorar a “qualidade” dos políticos. Ou alguém acreditaria que, caso estivessem em vigor as medidas colocadas no plebiscito, não estaria ocorrendo hoje o escândalo da farra dos aviões da FAB (Força Aérea Brasileia)?
Houvesse um real esforço para tornar o sistema político mais democrático, as perguntas que estariam no plebiscito seriam: “Você concorda que um parlamentar deveria ganhar o mesmo que um professor da rede pública?” Ou  então: “Você concorda  que a população tem o direito de revogar qualquer mandato, a qualquer momento?”. Questões que, claro, não vão estar lá.
Sem apoio, Dilma recorre às centrais
Dilma foi obrigada a recuar da proposta de constituinte em menos de 24 horas, mas a questão do plebiscito também  não está sendo fácil. A oposição de direita, evidentemente, é contra a medida mesmo que ela tenha muitos pontos em comum com seu programa. A prioridade é desgastar o governo para capitalizar em 2014.
Já a base aliada do governo, porém, também não recebeu a medida de braços abertos. Sabem que o plebiscito é uma tentativa de jogar a crise política no colo do Congresso. O PMDB , maior partido da base, chegou a propor que o plebiscito incluísse questões como a redução do número de ministérios e o fim da reeleição, numa clara retaliação a Dilma.
A presidente, por sua vez, resolveu buscar nas ruas o apoio que lhe falta no parlamento. E recorreu aos aliados de sempre do Planalto. Entidades como a CUT, UNE e, lamentavelmente, o MST, se comprometeram a defender nas mobilizações, incluindo a jornada de lutas do dia 11, a bandeira do “Plebiscito Já”.
Apoiar o governo ou se enfrentar com ele?
As manifestações multitudinárias que tomaram conta do país em junho colocaram os governos contra a parede e conquistaram a revogação do aumento das tarifas em pelo menos 59 cidades do país. Segundo a Folha de S. Paulo, 70% da população das grandes cidades se beneficiaram da redução das passagens. Além disso, o Congresso Nacional rejeitou a PEC 37 e arquivou o projeto de “cura gay”, além de estabelecer a corrupção como “crime hediondo”.
Essas conquistas se deram por um motivo: os protestos se enfrentaram com os governos, que foram obrigados a recuar. Não foi por acaso que a popularidade de Dilma tenha despencado no mês passado. A política da direção da UNE, CUT e MST, pressupõe, em essência,  fortalecer o governo Dilma. É uma marcha inversa do que faz o povo nas ruas.
Só haverá de fato conquistas se houver uma derrota do governo. O ministro Guido Mantega, por exemplo, acaba de anunciar um corte de R$ 15 bi do Orçamento para cumprir a meta de Superávit Primário (economia para pagar juros da dívida), ao mesmo tempo em que se anuncia novo aumento dos juros. A economia, por sua vez, ameaça uma nova recessão já para este ano.
As ruas apontam um sentido. O de mais verbas para a educação pública, saúde e transportes. Melhores salários, menos inflação e mais empregos. O Planalto aponta outro. O de mais cortes, recessão, precarização dos serviços públicos. O plebiscito de Dilma é a encruzilhada. Qual o caminho que CUT, UNE, MST tomarão? 

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Morsi caiu! Grande vitória da mobilização do povo egípcio!


               Declaração da LIT - QI
 O povo egípcio, protagonizando uma mobilização colossal, escreve uma nova página na história de seu país e de sua revolução. A força irresistível de 17 milhões de pessoas nas ruas foi o fato determinante para a queda do governo de Mohamed Morsi.
Esta mobilização, provavelmente a maior na história da humanidade, foi um terremoto político que sacudiu os alicerces do regime militar que impera no país e que sobreviveu à derrubada do ditador Mubarak em fevereiro de 2011.
 
As massas egípcias comprovaram sua força na queda de Mubarak e fizeram uma acelerada experiência com Morsi, que chegou à presidência do país por um pacto entre a Irmandade Muçulmana e a alta cúpula das Forças Armadas para preservar o regime militar.
 
Um ano de mandato foi suficiente para que Morsi, que não respondeu a nenhuma das aspirações populares depois da queda de Mubarak, se transformasse em um cadáver político. O povo, farto, levantou-se com muito mais força que há dois anos e o derrubou.
 
 
Estamos diante de uma imensa vitória das massas, que a entendem e a festejam como tal nas ruas e praças de todo o país.
 
É uma vitória porque o elemento determinante da derrota de Morsi foi a colossal mobilização das massas. Com este fato, o regime militar, embora não destruído, sai claramente debilitado, à medida que os militares viram-se obrigados a sacrificar outro governo servil a seus interesses, primeiro o de Mubarak e agora o de Morsi. Tiveram que fazer isso não por livre opção, mas para tentar aplacar uma mobilização popular a nível nacional, superior à que derrubou Mubarak, e assim salvar seu regime.
 
É este o conteúdo essencial do fato e do processo. Por isso, não podemos nos enganar ante a forma em que se deu a deposição final de Morsi: uma intervenção direta ou golpe político do Exército.
 
Foram obrigados a queimar outro “fusível” e a situação do regime, a cada golpe do movimento de massas, é mais precária, por mais que ainda consigam manobrar. Primeiro Mubarak, agora Morsi que, além disso, era representante da Irmandade Muçulmana, uma organização que mantém um peso importante no país. Quantos fusíveis restam aos generais egípcios e ao imperialismo?

quinta-feira, 4 de julho de 2013

A FORÇA DAS RUAS TRANSFORMADAS EM ORGANIZAÇÃO

Jeferson Choma, da redação DO SITE OFICIAL DO PSTU

Ativistas apostam na auto-organização para avançar nas mobilizações

Os exemplos mais concretos são as assembleias populares de Belo Horizonte e o Fórum de Lutas do Rio de Janeiro.  Há também iniciativas semelhantes em Fortaleza, Maceió e Campinas. Todas têm em comum uma crítica progressiva sobre as limitações estruturais do sistema de representação da democracia eleitoral burguesa, seus partidos corruptos e eleições viciadas que são bancadas pelo grande capital. Todos buscam construir, a partir da luta, outra esfera de representação e de unidade de ação, transformando a força política espontânea que vem das ruas em organização. 
Em Belo Horizonte, a Assembleia Popular Horizontal (APH) começou a se organizar durante a luta contra os gastos da Copa do Mundo. A primeira sessão ordinária da assembleia foi realizada no dia 19 de junho e reuniu cerca de mil pessoas, segundo Matheus Cheren, cientista social e integrante da Comissão de Comunicação da APH. Desde então, a assembleia já organizou cinco sessões ordinárias. Em uma delas, organizou a grande manifestação que reuniu 100 mil pessoas nas ruas de Belo Horizonte, realizada no último dia 27. As reuniões e divulgação do que foi aprovado é realizada geralmente por uma página no Facebook.
Mas como se organiza a assembleia de Belo Horizonte? “O foco nosso é a horizontalidade. Independente do seu vínculo ou não com partido, sindicato, ONG’s, todos tem o mesmo tempo de fala, todos podem participar”, explica Matheus.
A nossa assembleia tem 11 Grupos Referência em diversos temas para melhor organizar reivindicações, pautar bandeiras e propor saídas por pauta”, afirma.  Os grupos são temáticos e discutem desde saúde, transporte, educação até democratização da mídia.  Matheus ainda destaca que essa é melhor forma de integrar aqueles que, pela primeira vez em suas vidas, estão participando da vida política. Além disso, é um espaço para “unificar a esquerda, apesar das diferentes práticas e teses”, afirma.
As reuniões da assembleia eram geralmente realizadas embaixo de um viaduto, no centro da capital mineira. No entanto, com a ocupação da Câmara de Vereadores, o local começou abrigar algumas sessões da assembleia. No último dia 1° ocorreu a 5° sessão ordinária, que foi transmitida pela Internet. Ela votou os nomes que participariam de uma comissão de negociação com o prefeito Marcio Lacerda (PSB). Não se sabe qual será o desfecho da ocupação da Câmara, até porque no dia 2 de junho o prefeito Lacerda se manteve intransigente e disse que não vai negociar enquanto existir a ocupação. No entanto, Matheus explica que um dos objetivos é realizar assembleias por região, bairro e categoria. “O objetivo é ampliar vozes”, explica.
No Rio de Janeiro, uma articulação semelhante ocorre pelo Fórum de Lutas Contra o Aumento da Passagem. A primeira reunião Fórum foi no dia 25. Mais de três mil pessoas participaram de uma plenária em frente ao prédio do IFCS (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais). O local foi sitiado durante a repressão da PM no ato do dia 20 de junho.  Quase três mil pessoas participaram da reunião do fórum, o que demonstra sua viabilidade de ser um espaço no qual se compartilha as análises e organiza as reivindicações dos mais diversos movimentos.
O Fórum é um espaço de unidade de ação que tinha uma pauta específica. Nosso objetivo agora é torná-los mais abrangente”, explica Julio Anselmo, diretor do DEC da UFRJ e membro da ANEL.  Segundo ele, o desafio agora é fortalecer a organização do fórum, aprofundar sua democracia e ampliar suas pautas de reivindicação e de luta. “Queremos fortalecer o fórum como uma coordenação de lutas e aprofundar o debate democrático”, explica.  Assim como em Belo Horizonte, as reuniões são geralmente chamadas pelo Facebook.
A experiência argentina
Guardada todas as proporções, a experiência realizada em Belo Horizonte e no Rio já teve seu equivalente na Argentina, durante a rebelião de 2001 que derrubou o então presidente Fernando de la Rua.  Naquela época, o país vivia uma intensa crise devido aos inúmeros planos neoliberais que privatizaram estatais e os serviços públicos.  Para piorar, o governo ainda promoveu o chamado “curralito”, o confisco da poupança da população.
As Assembleias Populares surgiram centralmente na capital argentina e aglutinam vizinhos em todos os bairros. Suas reuniões eram feitas nas esquinas e  praças. Nestas assembleias, que cada vez adquirem um caráter mais popular, se discutia tudo. Algumas tomam tarefas que têm a ver com a luta contra a impunidade, outras instalam restaurantes e instrumentam medidas de economia solidária, articulando com organizações piqueteiras. Também assumiram tarefas em defesa dos hospitais e mobilizações contra os aumentos das tarifas, contra os cortes de luz, pela recuperação das empresas privatizadas etc.
Ao mesmo tempo, se avançou na sua centralização com a Coordenação do Parque Centenario, um bairro de Buenos Aires. Era lá que se reunia semanalmente uma plenária geral e se discutia temas que apontavam uma saída para o país, como a nacionalização dos bancos, o controle do comércio exterior, a expropriação com controle operário, o não pagamento da dívida. Debates políticos importantes foram travados nestes espaços, a favor e contra o poder dos trabalhadores, do horizontalismo, da Assembleia Constituinte, etc.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A armadilha da “onda conservadora”

 Do site oficial do PSTU.

O governo Dilma não teme um golpe da direita, mas sim que as mobilizações revelem o verdadeiro caráter desse governo

 
 O fantasma da “onda conservadora” ronda os pensamentos de uma parcela da esquerda brasileira. Estamos falando de alguns intelectuais, jornalistas e dirigentes, a maioria vinculado ao PT e PCdoB que, diante do grito “sem partido” e do risco das mobilizações atuais serem “dirigidas pela direita”, apontam até para a possibilidade de um “golpe” contra o governo Dilma. O alerta foi dado após a grave expulsão da coluna dos partidos e movimentos sociais nas manifestações do último dia 20 por grupos de extrema direita.
 
Os argumentos esgrimidos por aqueles que sustentam a ameaça da “onda conservadora” são os mais variados. O principal deles é o forte sentimento antipartido presente nas manifestações. De fato, partidos de direita, como PSDB e DEM, tentam surfar no sentimento antipartido nas manifestações, mas não para promover um “golpe” e sim para capitalizar o desgaste do governo nas eleições de 2014. Aproveitando-se do repúdio generalizado a todos os políticos marcam presença nas ruas, escondem suas siglas sob a bandeira nacional, e disputam a direção política dos protestos. São aproveitadores da confusão generalizada e recebem um auxilio generoso da grande imprensa, como a Rede Globo. Apostam na despolitização para semear a ideia de que todos os partidos de esquerda são iguais e tentam colocar no mesmo saco de gatos o PT, PSTU, PSOL...
 
Sua tropa de choque é a extrema-direita que realiza o trabalho sujo, atacando brutalmente os ativistas dos movimentos sociais e os militantes da esquerda socialista, arrancam nossas bandeiras vermelhas e tentam nos expulsar dos atos. Seu objetivo é claro. Querem impedir que um campo de oposição de esquerda se afirme enquanto direção do atual processo de lutas.
 
O fato é que o sentimento antipartido presente nas mobilizações expressa um repúdio ao corrupto sistema político da “democracia dos ricos”. Boa parte disso tem a ver com a enorme frustração da população, sobretudo da juventude, com os governos do PT. As pessoas votaram no partido buscando justiça social e o fim da corrupção. Mas em 10 anos de governo de Lula e Dilma, o PT manteve a essência do projeto econômico tucano, se afundou no mar de lama da corrupção e ainda governou ao lado de Renan Calheiros, Collor, Sarney... A traição do PT foi uma tragédia para a esquerda. Produziu uma espécie de terra arrasada, em que nada pode crescer porque impera o ceticismo. Mas nem todos os gatos são pardos. O PSTU se afirmou como oposição de esquerda ao PT desde o primeiro dia de mandato de Lula. Já dizíamos na campanha eleitoral do PT, em 2002, que nada mudaria se não houvesse ruptura com as multinacionais e com o imperialismo. Nosso partido não se guia por interesses eleitorais ou cargos no aparelho de Estado. Somos um partido revolucionário que tem uma estratégia socialista para o Brasil.
A classe média e o PT
Os defensores da tese da “onda conservadora” dizem que as manifestações são realizadas por uma classe média que sempre foi hostil ao governo do PT.
 
Sempre é bom lembrar que a tese de que 40 milhões de pessoas acenderam à classe média foi inventada pelo próprio PT. Segundo o governo, está na classe média quem dispuser de renda per capita entre R$ 291 a R$ 1.019 reais por mês. Essa tese é um verdadeiro absurdo. Ao invés de nova classe média, estamos vivendo um processo complexo de ampliação da classe trabalhadora assalariada, que passou a ter acesso ao consumo pela expansão do crédito. Uma ampliação marcada pela precariedade do trabalho e pelo crescente endividamento.
 
Quem foi para as ruas é a juventude que é parte destes trabalhadores assalariados que surgiram sob o governo do PT. Uma juventude que acreditou na propaganda oficial de “um país mais justo”, mas foi frustrada pela realidade. Nestes 10 anos, os mais jovens entraram no mercado de trabalho e nas universidades. Mas 59% destes empregos são ocupados por quem recebe até 1,5 salário mínimo. São os jovens que recebem os piores salários e os empregos mais precários. A vida para eles é muito dura. São obrigados a enfrentar o caos urbano, dos serviços públicos e a comprometer boa parte de sua renda para pagar mensalidades nas universidades privadas. Estão lá porque, nesses 10 anos de governo, o PT tratou a educação como mercadoria e não como direito. Privilegiou os tubarões do ensino privado em detrimento da expansão do ensino público superior.
 
Estamos diante de um momento extraordinário da vida política do país. O debate político saiu dos tradicionais corredores do poder e tomou as ruas, escolas, universidades, fábricas e locais de moradia e trabalho. As mobilizações dos últimos dias arrancaram conquistas numa velocidade espantosa. Os governos foram obrigados a recuar e revogaram o aumento das tarifas. Muitas outras tarifas públicas foram congeladas, como os pedágios nas estradas de São Paulo. Apavorado com o poder das massas, deputados no Congresso Nacional aprovaram apressadamente a rejeição à PEC 37 e até classificaram a corrupção como crime hediondo. Ironicamente, o projeto foi apresentado pelas mãos de Renan Calheiros, aliado do governo Dilma e símbolo da corrupção nacional.
 
A verdade é que Dilma, a direita, os governos estaduais, municipais e o Congresso Nacional tremem diante da força das ruas. Neste sentido, temer uma “onda conservadora” significa fazer o jogo do governo do PT que anseia pôr um ponto final em todo esse processo de lutas. Dilma não teme uma “onda conservadora”. Teme sim que um tsunami de mobilização abra os olhos de milhões de trabalhadores para o verdadeiro caráter do seu governo.
 
Nada será com antes. O movimento é vitorioso e as massas estão confiantes. Mas é preciso tomar cuidados com as armadilhas e romper algumas limitações. Não podemos aceitar a farsa do plebiscito da reforma política. Essa pauta não surgiu das ruas. Trata-se de uma armadilha de Dilma para canalizar a força das ruas para via morta da institucionalidade. O governo também deseja impor uma agenda que tenta limitar ainda mais a ação dos partidos da esquerda socialista nas eleições burguesas.
 
É preciso avançar na unidade com a classe trabalhadora organizada. A aliança entre operários e estudantes acuaria a burguesia e os governos, proporcionando um novo salto do movimento. Também é preciso avançar na organização coletiva. Em várias cidades, como Rio de Janeiro, Fortaleza, Porto Alegre e Belo Horizonte, já existem comitês ou assembleias de lutas. São elas que transformam a força espontânea das ruas em organização. São espaços democráticos de unidade de ação que possibilitam o movimento sindical, popular e estudantil dirigir as manifestações.
 
Nem direita, nem PT, trabalhadores no poder!
Nas últimas décadas, o PT e o PSDB aplicaram o mesmo plano econômico, mantiveram as privatizações, destinaram o dinheiro da saúde e educação para o pagamento da dívida pública, engordando o bolso dos banqueiros. Precisamos apontar para outro rumo. Precisamos de um governo dos trabalhadores que rompa com as multinacionais e com os banqueiros. Destine o dinheiro do pagamento da dívida pública para saúde, educação, reforma agrária e transporte público de qualidade.
 
O PSTU está nas ruas lutando por um país justo e soberano. No dia 11 de julho, vamos parar o Brasil, em um dia nacional de paralisações chamado pelas centrais sindicais. Vamos levantar nossa bandeira vermelha, a bandeira do socialismo.