quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Nem todos os amigos são camaradas, nem todos os adversários são inimigos

Por Valerio Arcary, Colunista do Esquerda Online
Entretanto, não duvido apesar de tudo de que a minha morte hoje seja mais útil que do que a prolongação de minha vida. Caro Liev Davidovitch, estamos ligados por dez anos de trabalho comum e, ouso, esperá-lo de amizade pessoal, e isso me dá direito de lhe dizer no momento do adeus, o que em você me parece ser uma fraqueza. Nunca duvidei da justeza do caminho traçado por você, que sabe que durante mais de 20 anos marchei com você, desde a “revolução permanente”. Mas sempre pensei que faltavam a inflexibilidade, a intransigência de Lenin, sua resolução de ficar, sendo preciso, sozinho no caminho que reconheceu como certo, na previsão da maioria futura, no reconhecimento futuro, por parte de todos, da exatidão desse caminho. Você sempre teve razão politicamente, a começar por 1905, e muitas vezes lhe contei ter ouvido, com os meus próprios ouvidos, Lenin reconhecer que em 1905 não fora ele mas você que tivera razão. Defronte da morte não se mente e o repito, agora, de novo…
Bilhete suicida de Adolf Joffe a Trotsky
Reduzido por uma polinevrite a uma invalidez quase completa, impossibilitando-o de tomar parte ativa nas lutas políticas de então, Joffe não viu outro meio de ainda servir à causa da revolução – do que se matar, dando a sua morte uma significação precisa de protesto contra a exclusão de Trotsky do Partido e o regime de perseguição pessoal, adotado pela direção, na sua campanha contra a Oposição. A sua carta foi encontrada logo após sua morte sobre sua mesa. Não chegou, porém, às mãos de seu destinatário. Os seus funerais em Moscou, no dia 19 de Novembro, tiveram um caráter comovedor. Apesar de realizados nas horas de trabalho, compareceram milhares e milhares de operários, camaradas do Partido, delegações do Exército Vermelho. Foi a última vez que a oposição de esquerda saiu às ruas.
Procurei inspiração nestas linhas de Adolf Joffe para Leon Trotsky antes de escrever este texto. Trata-se de uma carta política dirigida a um amigo. Eles tinham sido camaradas e amigos por décadas. A intimidade e o afeto atravessa toda a carta. Diante da morte Joffe decide alertar Trotsky para aquilo que considera serem os seus defeitos. Os russos sempre me emocionaram porque são intensos.
Entre aqueles engajados na militância há muita confusão entre o que são as relações de amizade e as relações de camaradagem. Esta confusão gera muitas desilusões quando as diferenças políticas levam à perda das relações de amizade. Relações de amizade são um vínculo emocional poderoso. Lidar com perdas é sempre uma experiência dolorosa. Não é incomum que as decepções pessoais com camaradas se transformem em desalento ideológico no futuro da luta pelo socialismo. E o desânimo, a desesperança, o desengano são maus conselheiros, porque obscurecem a mente e diminuem a lucidez.
Tentar definir o que é a amizade foi sempre difícil. Em uma época em que confiar nos outros é percebido como credulidade ingênua é importante lembrar que uma vida sem amizade é muito triste. A solidão parece ser uma epidemia no mundo contemporâneo. Ela é sempre mencionada como um dos fatores de depressão. A desconfiança generalizada – contra tudo e todos – só pode alimentar, evidentemente, vidas solitárias.
Não há nenhuma dúvida de que somos seres sociais. Nossos ancestrais resistiram a todas as adversidades porque foram capazes de se unir em bandos, relativamente, numerosos, embora dificilmente maiores do que 150 membros, para garantir a sobrevivência. Seres sociais quer dizer que dependemos uns dos outros, da ajuda e solidariedade mútua, portanto, da cooperação. Somos aptos para viver em sociedade, não porque não existam conflitos, mas porque a busca de auxílio, socorro, ou assistência conviveram na história com a avidez, a rivalidade, a cobiça, a inveja e a soberba, mas prevaleceram.
Precisamos de amigos para ter uma vida mais plena e menos solitária. Amizade é uma relação afetiva, em princípio, não erotizada, entre pessoas que se conhecem e estabelecem laços de lealdade, portanto, de confiança. Todos podemos ter dezenas, ou até mesmo centenas de conhecidos com quem mantemos relações polidas ou cordiais: pessoas com quem nossas vidas se cruzaram, mas com as quais não estabelecemos laços emocionais. Ninguém, contudo, alimenta amizades nessa escala, porque não é possível. Porque a amizade exige dedicação e lealdade e pressupõe altruísmo, ou seja, a disposição generosa de agir em benefício dos outros, e não somente em função do próprio interesse.
Lealdade entre amigos não pode repousar somente em acordos políticos. Ela se constrói alicerçada na confiança pessoal, que vai além das ideias políticas. Existindo, inevitavelmente, diferenças de opinião, cultivar amizades exige uma disposição para a tolerância. Ninguém gosta de ser contrariado. Podemos ficar desgostosos ou até aborrecidos quando discordam de nossas opiniões. Mas romper amizades por diferenças de opinião é uma tolice infantil. Estar disposto a acolher ideias diferentes das nossas revela maturidade para aceitar graus de dissenso com que podemos conviver.
O que são camaradas? Camaradas são aqueles que, na tradição socialista, pertencem a uma mesma organização e ou compartilham uma visão do mundo comum, o igualitarismo, ou luta pela igualdade social. Esta visão do mundo socialista se fundamenta, em primeiro lugar, no reconhecimento de que todos os seres humanos têm em comum necessidades, intensamente, sentidas que são iguais. Ser socialista significa uma ruptura ideológica com o capitalismo, uma adesão ao movimento dos trabalhadores e dos oprimidos, uma aposta no projeto de luta pela revolução, e uma aspiração internacionalista por um mundo sem dominação imperialista. Nas sociedades em que vivemos ser socialista exige, portanto, uma escolha de classe. Não importa a classe social na qual nascemos. O que importa é a qual classe unimos nosso destino.
Acontece que nem todos os nossos amigos são camaradas, e nem todos os camaradas são amigos. Porque amigos podem ter visões do mundo diferentes. Amizades não devem ter como condição, necessariamente, uma mesma visão do mundo. Por outro lado e, talvez, mais importante, podemos ser camaradas de militantes que não conhecemos tão bem. Só em pequenas organizações, núcleos de pouco mais do que cem militantes, é que é possível conhecer todos os membros. Se a amizade pessoal for um critério de pertencimento, uma organização revolucionária estará condenada à estagnação, ou a rupturas recorrentes.
Acontece que as tarefas da revolução brasileira e mundial exigem que nos coloquemos o desafio de querer construir grandes organizações. Seria irrealista exigir de ativistas que compartilham a defesa do mesmo programa, mas não se conhecem o bastante, um grau de confiança pessoal, um afeto intransferível semelhante ao daqueles que convivem, regularmente, entre si. Portanto, confiança em um projeto não é o mesmo que lealdade pessoal a todos os membros da mesma organização. A confiança pessoal é diferente da confiança política. A primeira se constrói como intimidade pessoal. A segunda como a defesa de um programa comum. Quando além de camaradas somos amigos de alguém se estabelece um vínculo muito forte. Mas é perigoso não saber distinguir que são dois laços diferentes. Porque a perda da confiança política não deve, necessariamente, contaminar a relação pessoal.
O que são adversários? Adversários são aqueles contra os quais lutamos em uma disputa. Não é possível viver sem ter adversários. Porque a vida é uma sequência de lutas. Mas os conflitos têm diferentes naturezas e importância. Saber ponderar, calibrar, medir, avaliar a maior ou menor gravidade das diferenças, das polêmicas, dos debates, das rivalidades é indispensável. Porque nem todos os adversários são inimigos. Depende de qual é a natureza do conflito. Adversários podem ou não se tornar desafetos, ou seja, a disputa de ideias pode degenerar em antagonismo pessoal. Mas nem todos os nossos adversários são nossos inimigos.
O que são inimigos? Inimigos são os adversários que enfrentamos em lutas que são incontornáveis porque correspondem a interesses de classe irreconciliáveis. As hostilidades com os inimigos são inevitáveis, porque eles são nocivos aos interesses de classe que representamos.
Na história da esquerda ocorrem rachas, separações, divisões, em função de distintas percepções da situação política que, por sua vez, expressam diferentes pressões sociais e políticas. Diferenças sérias de projeto justificam rupturas políticas, mas não devem transformar, necessariamente, aqueles que eram camaradas em inimigos.
A violência verbal, seja na forma ou no conteúdo, é uma maneira desonesta, intelectualmente, de tentar ganhar um debate a qualquer preço. Acusações ad hominem são aquelas que são dirigidas às pessoas, e não às ideias que elas defendem. Coloca-se o caráter do adversário em dúvida, através de ataques pessoais, para desqualificar suas ideias. Trata-se de uma tática diversionista porque tenta desviar o tema da polêmica. Aqueles que recorrem a este método retórico confessam, involuntariamente, que não têm confiança nos seus argumentos. Precisam destruir o outro porque não conseguem refutar suas ideias. Violência verbal através de acusações ad hominem é um método inaceitável, porque diminui a importância das ideias, e só serve para a desmoralização dos adversários.
Na esquerda revolucionária para o século XXI que queremos construir devemos saber preservar amizades, apesar das diferenças políticas que nos separam em distintas organizações, e aprender a distinguir os adversários dos inimigos. Isso parece simples e elementar. Mas não é.

sábado, 19 de novembro de 2016

Morte de Mariana Costa e o machismo que mata diariamente



O assassinato de Mariana Costa (sobrinha neta do ex presidente da república, José Sarney), ocorrido nesta semana, tem comovido a população maranhense. A vítima foi estuprada e morta por asfixia dentro de sua própria casa pelo cunhado Lucas Porto, réu confesso do crime. Um caso de feminicídio, motivado pelo inconformismo com o desprezo que recebia da vítima, em suas investidas “amorosas” – sentimentos de contrariedade como raiva e ódio que resultou na concretização da máxima repetida por agressores às mulheres em situação de violência: “Se ela não ficar comigo, não fica com mais ninguém”.

Os veículos de informação mostram que um dia antes, Lucas Porto postou em uma rede social uma foto com a cunhada, em um evento que participaram na igreja em que congregavam. O corpo de Mariana foi encontrado sem roupas, apenas com um travesseiro em cima de seu rosto, enquanto Lucas foi preso em flagrante com marcas de ferimentos no corpo e no rosto, o que indica que houve um confronto na luta contra o estupro. O assassino ainda voltou à casa da vítima com tamanha frieza para prestar condolências à família.

Um indivíduo, que aparentemente era tido como alguém confiável, que não cometera outros crimes violentos, e exercia sua religiosidade em uma igreja evangélica de São Luís. Sabe-se que a quase totalidade dos homens que praticam agressões (e até assassinatos) contra mulheres por razões de gênero, não são “maníacos” e nem estavam acometidos por algum surto psicótico, pelo contrário, são indivíduos que nunca cometeram outros tipos de crime e que em público costumam se portar de forma agradável para a sociedade. Estes homens são frutos bem acabados de uma sociedade capitalista patriarcal, que encoraja o homem a ter comportamentos agressivos com as mulheres, como se estas fossem suas subordinadas, e submissas a todas as suas vontades.

Segundo o Jornal O Imparcial, na ultima semana foram registrados 06 homicídios de mulheres no estado do Maranhão. É importante sinalizar que no Brasil, a maioria dos homicídios praticados contra mulheres, diferentemente dos praticados contra homens, possui como assassinos familiares da vítima, como indica a pesquisa do Mapa da Violência 2015. Em 2013, 4.762 mulheres foram assassinadas no país, destas, 50,3% foram mortas por familiares, e em 33,2% desses casos, os assassinos eram seus parceiros ou ex.

A maioria desses casos é consequente da recorrência da violência intrafamiliar (sob a forma de violência física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral). Nestes casos há o agravante do agressor ter conhecimento dos hábitos das mulheres com as quais já convive, e o incentivo de acreditar que ficam impunes aos crimes cometidos, visto que para as mulheres em situação de violência, é muito mais difícil denunciar um agressor familiar, e também diante da não aplicabilidade das leis de proteção à mulher.

Outro dado revela ainda que neste mesmo ano, foram registrados 13 homicídios contra mulheres por dia. Nesse sentido, apesar da grande repercussão deste caso, é sabido que todos os dias mulheres são mortas, estupradas e agredidas por motivos ligados à sua condição de gênero, que na ampla maioria das vezes é agudizado pelo racismo, pela lgbtfobia e pela condição de classe dessas mulheres. E todos estes casos devem e precisam obter a comoção da sociedade. O caso de Mariana revela que todas as mulheres estão suscetíveis a este tipo de crime, nenhuma de nós está imune. Mas junto a isso precisamos refletir, na totalidade, sobre quem são estas mulheres.

Logo, há importantes aspectos a serem observados, como a cor das mulheres que estão morrendo. O mapa da violência 2015 aponta ainda que o homicídio de mulheres negras aumentou 54% em 10 anos, em contraposição, no mesmo intervalo de tempo, o número de homicídios contra mulheres brancas caiu 9,8%. No Maranhão, no ano de 2013, 22 mulheres brancas sofreram homicídio, já entre mulheres negras, esse número chegou a 107. O que demonstra que as mulheres pretas são as principais vítimas de feminicídios no país.

Estes números alarmantes também refletem a falta de políticas públicas eficazes para o combate a violência contra a mulher no país. Muitas mortes poderiam ter sido evitadas, se as políticas públicas voltadas para o enfrentamento à violência de gênero funcionassem, com mais delegacias da mulher, casas abrigos, centros de referência, juizados especiais da mulher, bem com políticas eficazes de prevenção a violência machista. Equipamentos importantes, em que sua inexistência penaliza ainda mais as mulheres pobres, que são aquelas que dependem de serviços públicos.

Não podemos nos calar diante de nenhum caso de feminicídio. Assim como na Argentina, gritamos: #NiUnaMenos! Que nós mulheres, possamos viver sem temer nossas vidas! Devemos lutar contra a impunidade aos agressores e assassinos de mulheres, e exigir dos governos mais investimentos em políticas de combate a violência machista.
 MULHERES DO MAIS SÃO LUÍS-MA.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Três medidas alternativas à PEC 241 / PEC 55

A PEC 55, antiga PEC 241, agora tramita no Senado Federal. Centenas de ocupações por todo país questionam a medida. Uma geração de jovens foi à luta para expressar que não aceitam o futuro que o Governo Temer pretende impor para o Brasil.
Mas todos sabem que a crise é grande. Muitos trabalhadores honestos se perguntam: afinal, qual é a saída? Existe mesmo outro caminho?
A PEC 241 ou PEC 55 é uma escolha política. Longe de ser “a única saída”, o congelamento do orçamento por 20 anos é uma medida que beneficia os de cima contra os de baixo. Ganham os banqueiros, ganham as grandes empresas, perdem os trabalhadores, o povo pobre, a juventude; a grande maioria da população.
A lógica da PEC 55 é irracional, mas é simples. Quem tem mais paga menos, quem tem menos paga mais. Neste editorial apresentamos três propostas concretas que vão no sentido oposto. Nosso objetivo não é neste pequeno texto apresentar um programa global para a crise brasileira, queremos apenas oferecer para todo jovem e todo trabalhador três argumentos simples para passar adiante:
Taxas as grandes fortunasPublicamos recentemente matéria que discutia a questão da taxação das grandes fortunas porque uma das maneiras de equilibrar as contas da união é aumentar a arrecadação. Mas como fazer isso sem aumentar a carga de impostos que já encarece tanto a vida dos brasileiros?
No Brasil temos uma tributação muito pesada sobre o consumo. Metade da arrecadação tributária no Brasil sai do bolso de quem ganha até três salários mínimos. Além disso, o Imposto de Renda é extremamente injusto. Uma parcela dos trabalhadores que tem emprego fixo e alguma estabilidade (uma parte da chamada classe média) paga valores altíssimos de Imposto de Renda.
Mas no Brasil não existe Imposto sobre as Grandes Fortunas e, pasmem, não existe imposto sobre o lucro. Se fosse aplicado o Imposto sobre as Grande Fortunas, que obviamente não afetaria nenhum trabalhador, estima-se que ele renderia R$ 100 bilhões por ano para os cofres públicos. Já a inclusão dos “dividendos” no imposto de renda, ou seja, se os empresários tivessem que pagar impostos sobre o que recebem de lucros de suas empresas geraria uma receita extra entre R$ 30 bilhões e R$ 63 bilhões ao ano.
Cobrar a dívida dos grandes devedores da UniãoA dívida ativa da União é o conjunto de débitos que pessoas físicas ou jurídicas contraíram com a União. Atualmente esta dívida é calculada em 1,58 trilhão. Pode parecer que neste montante estão milhares de pequenos devedores, ou muitos colegas que não tiveram dinheiro pra pagar o imposto de renda ou foram multados pelo fisco. Não, não é isso que ocorre.
O Ministério da Fazenda divulgou em outubro de 2015 a lista das 500 empresas que mais devem à União. Sabe quem está no topo desta lista? A Vale que deve quase 42 bilhões aos cofres públicos. Portanto uma medida simples para que os capitalistas paguem a conta da crise que eles criaram seria cobrar a dívida das empresas!
Suspender o pagamento e fazer uma auditoria da dívidaNo ponto anterior vimos que a União não cobra os seus devedores. Quer dizer, cobra as pessoas físicas que devem pequenos valores. Contra os de baixo o sistema funciona muito bem. Cancelam o CPF, bloqueiam os valores na conta corrente, etc. Mas as grandes empresas devedoras continuam funcionando normalmente.
A questão é que, apesar de não cobrar dos grandes devedores, o Estado Brasileiro paga regularmente as suas dívidas e remunera os seus credores com os juros mais altos do mundo. Mas não é certo pagar o que se deve?
Neste caso não. Esta dívida é totalmente ilegítima. A Constituição de 1988 (esta, mesma que eles estão mudando agora) estabeleceu no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias que o Estado deveria fazer uma auditoria da dívida. Esta auditoria nunca foi feita. Esta norma constitucional foi retirada durante o governo FHC. Os 13 anos de mandato do PT não se propuseram a cumprir esta medida básica que mudaria a história do Brasil.
Hoje o país gasta mais da metade do seu orçamento para pagar uma dívida ilegítima, oferece ao mercado financeiro juros altíssimos e justamente por isso, apesar de sempre pagarmos a dívida não para de crescer.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

A República de Curitiba chega ao MST

Por: Gloria Trogo, da Redação
Nesta manhã, dia 04 de novembro, começou a ‘Operação Castra’ comandada pela Política Civil de Curitiba. Esta operação vai atuar em todo país e seu alvo é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST.
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Ação da polícia na escola Florestan Fernandes Foto: Reprodução Mídia Ninja
A polícia invadiu a Escola Nacional Florestan Fernandes, sem mandado de busca e apreensão, com cerca de dez viaturas em Guararema, Interior de São Paulo.
Em Quedas do Iguaçu, Interior do Paraná, o vereador mais votado da cidade, Claudelei Torrente de Lima, do PT, foi preso como parte da mesma operação de criminalização do MST. Claudelei é morador do Assentamento Celso Furtado. Na cidade, existe um profundo conflito agrário entre a multinacional Araupeu e milhares de famílias que ocupam uma área grilada pela empresa. 
Ao todo, foram expedidos 14 mandados de prisão, dez de busca e apreensão e dois de condução coercitiva. Até as 10h30 desta manhã, oito pessoas já estavam presas.
Presos políticos acusados de crimes comunsAs acusações são de crimes comuns, como organização criminosa, furto e dano qualificado, roubo, invasão de propriedade, incêndio criminoso e cárcere privado.
É comum em todo o processo de criminalização que se utilize a acusação de crimes comuns contra os movimentos sociais. Para dar um exemplo extremo, a ditadura militar brasileira não reconhecia a existência de presos políticos. Foi uma luta para o reconhecimento da existência destes.
Agora, sob a democracia burguesa, o que temos visto é a utilização de tipos penais de combate ao crime organizado, especialmente o tráfico de drogas, para enquadrar os movimentos sociais.
Avança a criminalização dos Movimentos Sociais
Na prisão e indiciamento de figurões do PT pela Operação Lava Jato, o Esquerda Onlinepublicou diversas vezes o alerta de que este tipo de procedimento, como condução coercitiva, prisão prévia ao julgamento, preventiva ou temporária, grampos, delação premiada, entre outros, poderiam se voltar contra os movimentos sociais de conjunto. Hoje, ocorreu com o MST. Começou a utilização do prestígio que a política e o Poder Judiciário ganharam no combate à corrupção, para combater os movimentos socais organizados.
É hora de unidade e resistência. Todo apoio e solidariedade ao MST. Tirem as mãos de um dos principais movimentos sociais do Brasil. A República de Curitiba precisa ser desmascarada.
Foto: Mídia Ninja.
Assista à transmissão ao vivo feita pelo Mídia Ninja: