sábado, 19 de novembro de 2016

Morte de Mariana Costa e o machismo que mata diariamente



O assassinato de Mariana Costa (sobrinha neta do ex presidente da república, José Sarney), ocorrido nesta semana, tem comovido a população maranhense. A vítima foi estuprada e morta por asfixia dentro de sua própria casa pelo cunhado Lucas Porto, réu confesso do crime. Um caso de feminicídio, motivado pelo inconformismo com o desprezo que recebia da vítima, em suas investidas “amorosas” – sentimentos de contrariedade como raiva e ódio que resultou na concretização da máxima repetida por agressores às mulheres em situação de violência: “Se ela não ficar comigo, não fica com mais ninguém”.

Os veículos de informação mostram que um dia antes, Lucas Porto postou em uma rede social uma foto com a cunhada, em um evento que participaram na igreja em que congregavam. O corpo de Mariana foi encontrado sem roupas, apenas com um travesseiro em cima de seu rosto, enquanto Lucas foi preso em flagrante com marcas de ferimentos no corpo e no rosto, o que indica que houve um confronto na luta contra o estupro. O assassino ainda voltou à casa da vítima com tamanha frieza para prestar condolências à família.

Um indivíduo, que aparentemente era tido como alguém confiável, que não cometera outros crimes violentos, e exercia sua religiosidade em uma igreja evangélica de São Luís. Sabe-se que a quase totalidade dos homens que praticam agressões (e até assassinatos) contra mulheres por razões de gênero, não são “maníacos” e nem estavam acometidos por algum surto psicótico, pelo contrário, são indivíduos que nunca cometeram outros tipos de crime e que em público costumam se portar de forma agradável para a sociedade. Estes homens são frutos bem acabados de uma sociedade capitalista patriarcal, que encoraja o homem a ter comportamentos agressivos com as mulheres, como se estas fossem suas subordinadas, e submissas a todas as suas vontades.

Segundo o Jornal O Imparcial, na ultima semana foram registrados 06 homicídios de mulheres no estado do Maranhão. É importante sinalizar que no Brasil, a maioria dos homicídios praticados contra mulheres, diferentemente dos praticados contra homens, possui como assassinos familiares da vítima, como indica a pesquisa do Mapa da Violência 2015. Em 2013, 4.762 mulheres foram assassinadas no país, destas, 50,3% foram mortas por familiares, e em 33,2% desses casos, os assassinos eram seus parceiros ou ex.

A maioria desses casos é consequente da recorrência da violência intrafamiliar (sob a forma de violência física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral). Nestes casos há o agravante do agressor ter conhecimento dos hábitos das mulheres com as quais já convive, e o incentivo de acreditar que ficam impunes aos crimes cometidos, visto que para as mulheres em situação de violência, é muito mais difícil denunciar um agressor familiar, e também diante da não aplicabilidade das leis de proteção à mulher.

Outro dado revela ainda que neste mesmo ano, foram registrados 13 homicídios contra mulheres por dia. Nesse sentido, apesar da grande repercussão deste caso, é sabido que todos os dias mulheres são mortas, estupradas e agredidas por motivos ligados à sua condição de gênero, que na ampla maioria das vezes é agudizado pelo racismo, pela lgbtfobia e pela condição de classe dessas mulheres. E todos estes casos devem e precisam obter a comoção da sociedade. O caso de Mariana revela que todas as mulheres estão suscetíveis a este tipo de crime, nenhuma de nós está imune. Mas junto a isso precisamos refletir, na totalidade, sobre quem são estas mulheres.

Logo, há importantes aspectos a serem observados, como a cor das mulheres que estão morrendo. O mapa da violência 2015 aponta ainda que o homicídio de mulheres negras aumentou 54% em 10 anos, em contraposição, no mesmo intervalo de tempo, o número de homicídios contra mulheres brancas caiu 9,8%. No Maranhão, no ano de 2013, 22 mulheres brancas sofreram homicídio, já entre mulheres negras, esse número chegou a 107. O que demonstra que as mulheres pretas são as principais vítimas de feminicídios no país.

Estes números alarmantes também refletem a falta de políticas públicas eficazes para o combate a violência contra a mulher no país. Muitas mortes poderiam ter sido evitadas, se as políticas públicas voltadas para o enfrentamento à violência de gênero funcionassem, com mais delegacias da mulher, casas abrigos, centros de referência, juizados especiais da mulher, bem com políticas eficazes de prevenção a violência machista. Equipamentos importantes, em que sua inexistência penaliza ainda mais as mulheres pobres, que são aquelas que dependem de serviços públicos.

Não podemos nos calar diante de nenhum caso de feminicídio. Assim como na Argentina, gritamos: #NiUnaMenos! Que nós mulheres, possamos viver sem temer nossas vidas! Devemos lutar contra a impunidade aos agressores e assassinos de mulheres, e exigir dos governos mais investimentos em políticas de combate a violência machista.
 MULHERES DO MAIS SÃO LUÍS-MA.

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