domingo, 30 de setembro de 2012

NAS ELEIÇÕES VOCÊ VOTA É EM PARTIDO E NÃO EM NOMES.

Em 2008 nas eleições para Prefeitura de São Luís havia dez concorrentes. João Castelo (PSDB) Flávio Dino (PC do B) Clodomir Paz (PDT) Raimundo Cutrim (DEM) Cleber Verde (PRB) Gastão Vieira (PMDB) Pedro Fernandes (PTB) Waldir Maranhão (PP) Paulo Rios (PSOL) e Welbson Madeira (PSTU). Se você atentar bem perceberá que na verdade quem disputava as eleições não eram dez indivíduos, mas sim dez partidos.

Os partidos são organizações sociais que expressam uma visão de mundo e tem análises diferenciadas sobre como a sociedade deve se organizar para produzir e reproduzir a vida. Poderíamos dizer grosso modo que dos dez partidos acima citados oito tem como base a defesa da manutenção da ordem e defendem a forma republicana de governar. São eles: PSDB, PC do B, DEM, PRB, PMDB, PTB, e PP. Dos dois partidos restantes (PSTU e PSOL) somente o PSTU é totalmente contra a manutenção da ordem e contrário a forma republicana de governar. Lembro ainda que os demais partidos não citados e que estavam aliados as uma das oito candidaturas da manutenção da ordem, incluindo o PT, também têm acordo e programas, no seu conteúdo, idênticos aos oito já citados.

Agora vejamos como estavam aliados os partidos nas últimas eleições de 2008. Para facilitar a compreensão serão utilizados os nomes dos candidatos. Castelo do PSDB estava junto com Edvaldo Holanda do PTC. Este pedia voto contra Flávio Dino do PC do B que era aliado do PT e tinha como Vice um dos principais coordenadores da atual campanha do WO, hoje Vice-Governador de Roseana Sarney. Clodomir Paz do PDT era apoiado por Tadeu Palácio e Haroldo Saboia (naquele ano este não era do PSOL). Cleber Verde que hoje estar com o WO no primeiro turno estava só e no segundo foi para o lado de Castelo. Waldir Maranhão do PP estava só no primeiro turno, hoje estar com Tadeu Palácio. O grupo Sarney no Primeiro turno concorria com dois candidatos Raimundo Cutrim do DEM e Gastão Vieira do PMDB. No segundo turno o grupo Sarney se dividiu, a maior parte foi com Flávio Dino e a outra com Castelo. Welbson Madeira do PSTU e Paulo Rios do PSOL chamaram voto nulo no segundo turno.

Vejamos agora como estão esses partidos nas eleições de 2012. Castelo do PSDB agora tem apoio de Clodomir Paz do PDT, apesar do PDT estar oficialmente com Evaldo Holanda do PTC que é apoiado por Flávio Dino do PC do B e oficialmente pelo PSB através de seu Vice Roberto Rocha apesar de José Reinaldo outra “liderança” do PSB estar com João Castelo. Tadeu Palácio hoje é do PP, de Waldir Maranhão, e até meses antes das convenções estava com Roseana Sarney. Os candidatos do grupo Sarney hoje estão com WO do PT. Haroldo Sabóia, hoje no PSOL, que no passado estava com Tadeu Palácio e Clodomir Paz estar aliado com o PCB que durante muito tempo foi aliado do PDT. Welbson Madeira continua no PSTU e defendendo a candidatura do companheiro Marcos Silva que nunca esteve aliado com nenhum deles.

Conclusão, nas eleições você estará votando em visões de mundo diferenciadas apesar de digitar números que representam nomes. Se você concorda com a ordem vote nos candidatos da burguesia, mas se quer expressar seu sentimento contra esta forma de dominação e exploração da sociedade, vote 16, vote PSTU.


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

PELEGADA DO SINDEDUCAÇÃO TENTA GOLPE CONTRA A CHAPA VITORIOSA NO PROCESSO ELEITORAL

Do Blogue do Jornalista Ed Wilson

Algo de muito grave pode ocorrer no Sindicato dos Professores da Rede Municipal de São Luís (SINDEDUCAÇÃO). A atual direção da entidade, que perdeu a eleição, tenta aplicar um golpe nos professores.

Sob o comando de Lindalva Batista, atual presidente do sindicato, arma-se um esquema para anular a eleição.

No processo eleitoral limpo, realizado dia 14 de setembro, saiu vitoriosa a CHAPA 1, encabeçada pelo professor Antonísio Furtado.

A situação dividiu-se em dois grupos e perdeu a eleição. Agora pretende tomar no tapetão.

Lindalva Batista, atual presidente, apoiou Lindalva Lopes, integrante da direção pelega. A outra chapa ligada à diretoria foi liderada por Cesar Augusto, atual vice-presidente do sindicato e castelista roxo.

Sob a longa gestão de Batista, Lopes e Augusto, o sindicato traiu a os professores diversas vezes e virou uma entidade privatizada pelos interesses familiares da atual direção.

Vamos ficar vigilantes e assegurar que a CHAPA 1, eleita democraticamente, seja empossada e possa dirigir o SINDEDUCAÇÃO livre do atraso.

Veja abaixo a carta-denúncia da CHAPA 1:

VITÓRIA DA CHAPA 1
SINDICATO NAS MÃOS DA CATEGORIA


No dia 14 de setembro de 2012 houve a eleição para escolha da nova direção do SINDEDUCAÇÃO, na qual foi vitoriosa a Chapa 1 – Unidade para mudar, formada pelas oposições (CSP Conlutas, MOPE e MRP), que trouxe para a disputa um programa democrático, pautado na defesa da educação pública, gratuita, de qualidade e dos direitos dos educadores.

Nossas principais bandeiras de campanha foram o aumento do investimento na manutenção e desenvolvimento do ensino de 25% para 35% dos recursos municipais, a defesa de 1/3 hora atividade, colegiar a diretoria do sindicato, a reformulação do estatuto e eleição direta para diretores de escola.

O resultado do pleito confirma que a categoria, cansada de ter seus direitos negados e usurpados, mostra elevação da consciência política e volta a acreditar no sindicato como instrumento de luta. Neste sentido, queremos agradecer o voto de confiança de cada educador e de tod@s aqueles que contribuíram decisivamente para a vitória da oposição.

Apesar da vitoria da chapa 1 com 49,2% dos votos, a chapa 3 insiste em não reconhecer a decisão da maioria dos votantes e ingressou com um pedido de anulação do resultado da eleição junto à Comissão Eleitoral, alegando entre outras questões: o abuso do poder político-econômico por parte da Chapa 1; desrespeito ao estatuto do SINDEDUCAÇÃO e abstenção dos aposentados por conta de tumulto na entrada do sindicato e do grande calor que fazia no dia.

A respeito de tais colocações esclarecemos:

Com relação à acusação de abuso de poder econômico, afirmamos que um dos princípios que nortearam a campanha da Chapa 1 foi a independência político-financeira perante a prefeitura e quaisquer partidos políticos, de maneira que todas as atividades e materiais de campanha foram fruto de uma política de finanças baseada nas contribuições dos componentes da chapa e dos apoiadores, sobretudo a CSP-Conlutas-PI, CSP-Conlutas-RJ, CSP-Conlutas-MA, Sindicato dos Bancários, Sintrajufe, Sintrap-Caxias, APRUMA e ANEL.

Não procede a alegação de que o estatuto não foi respeitado no tocante ao horário de votação, tendo em vista que o alargamento deste período para as 20 horas constitui-se em acordo firmado pelas chapas 1 e 2, tendo a chapa 3 delegado seu voto à Comissão Eleitoral e acatando o que a mesma decidisse. Destacamos que essa mudança objetivou a maior participação dos associados no pleito.

Entendemos que o estatuto vigente é, em vários aspectos, antidemocrático e restringe a participação da categoria nos rumos do sindicato. Lembremos que a Profª Lindalva Lopes, candidata a presidente da Chapa 3, é secretária de assuntos educacionais da atual Direção do Sindicato e aprovou esse mesmo estatuto, que serviu para legitimar seu grupo nas eleições de 2008.

No que se refere ao tumulto citado, na ata redigida e assinada pela Comissão Eleitoral que, diga-se de passagem, foi minuciosamente escolhida pela atual Direção, o único incidente registrado foi a agressão praticada pelo professor César Augusto, atual vice-presidente e candidato a presidente na Chapa 2, contra o professor Antonísio Furtado, candidato a presidente pela Chapa 1.

Essa agressão ocorreu minutos antes do encerramento da votação, não tendo qualquer influencia em seu resultado. A verdade é que os aposentados resolveram dizer NÃO ao continuísmo da pelegada que alugou em torno de 100 carros para tentar ludibriá-los.
A atual gestão do SINDEDUCAÇÃO, o prefeito João Castelo, vereadores aliados e os diretores do SINPROESEMMA não querem que este sindicato seja dirigido por um grupo de professores que ganhou a confiança da categoria na luta e que pretende fazer deste sindicato uma ferramenta a serviço das conquistas da classe trabalhadora. Por isso, reafirmamos a vitoria da Chapa 1 e convidamos a todos e todas para a posse da nova direção no dia 31 de outubro de 2012 (quarta-feira), na sede do sindicato.

ELES SE APOIAM NO APARATO POLÍTICO E FINANCEIRO DOS PODEROSOS. NÓS APOSTAMOS NO APOIO DA CATEGORIA PARA REPUDIAR ESSA TENTATIVA GOLPE.

RESULTADO DA ELEIÇÃO DO SINDEDUCAÇÃO

A Chapa 1 obteve 591, Chapa 2 somente 170 e a Chapa 3 da atual Diretoria 440, sendo ainda 4 Brancos e 23 nulos

Cordialmente: CHAPA 1: UNIDADE PARA MUDAR!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Termina greve da Construção Civil em Belém: uma vitória da peãozada Luta dos operários da capital do Pará dobra intransigência dos patrões

Eduardo Almeida, direto de Belém


• Belém, 5:40 da manhã. Piquete de greve da construção civil em frente a uma obra da Quadra Residence. Estamos no 17º dia de greve. Os operários e operárias vão chegando, quase todos de bermuda e sandálias. Estão muito revoltados, pois a patronal não pagou o salário da quinzena.


A Justiça deu ganho de causa ao sindicato e determinou o pagamento dos dias parados. A patronal, porém, decidiu passar por cima do tribunal. Um dos empresários chegou a afirmar que preferia pagar a multa de cem mil reais ao dia que a quinzena aos trabalhadores.

Um dos operários pega um galho de uma árvore e começa a bater na porta da obra, ameaçando invadi-la. O diretor do sindicato convence o jovem a não fazer o que queria. A patronal iria usar isso contra a greve.

O carro de som do sindicato passa e vai levando os piquetes para a manifestação. Hoje (dia 20) vai haver negociação com a juíza do trabalho e o sindicato faz uma concentração em frente ao tribunal. Passamos em frente a prédios luxuosos. Belém tem o quinto metro quadrado mais caro do país. Esses apartamentos custam um, dois, três milhões. Enquanto andam nas ruas, homens e mulheres, negros, negras e pobres, olham os prédios que construíram e que agora só podem ver de longe.

Os serventes aqui ganham R$ 650, pouco mais que um salário mínimo. Um deles fala como deixou a família sem dinheiro para comida, pelo não pagamento da quinzena. As condições de trabalho são péssimas. Doze morreram em acidentes de trabalho, só nesse ano. A bronca cresce.

O sol é forte. Felizmente o tribunal é pertinho. Uma fila se forma logo ao redor da barraca de lanches do sindicato, que oferece suco e pão. Chega um grande carro de som, com Atnágoras, Ailson, diretores do sindicato. Outros conversam com os operários: Zé Gotinha, Abelha, Deusinha. Quase dois mil operários esperam, conversam, gritam. Há um ambiente forte de tensão, pelo cansaço dos 17 dias de greve, pela revolta com o não pagamento.

Cléber é um diretor licenciado do sindicato e candidato a vereador pelo PSTU. O adesivo com seu nome está no peito de boa parte dos operários. Vai de grupo em grupo, falando sobre as negociações com a patronal, sobre a campanha eleitoral. Desde o início da greve, os operários assumiram duas batalhas: dobrar a patronal conseguindo uma vitória, e eleger Cleber. Ele é servente de ferreiro.

Atnágoras começa a falar e os operários se calam. Poucos sabem, mas ele é também um poeta. Faz um discurso emocionado, falando de dor, de raiva e de luta. Conta como a justiça não fez nada para punir os patrões que não pagaram, e agora aceitou o "interdito proibitorium", proibindo os piquetes do sindicato. Fala de como uma juíza fez uma proposta que era um pequeno avanço, mas os patrões recusaram. Propõe aceitar a proposta da juíza para isolar a patronal. A assembléia aplaude e vota, quase por unanimidade. A comissão entra no tribunal.


Duas longas horas se passam. Oradores se revezam no carro de som, sob o sol forte. Um ativista, mudo, pega o microfone e "fala" com gestos e sons guturais apoiando a greve, para delírio de todos. Os operários conversam em grupos. Sentam nas áreas de sombra da praça. Comem tapioca em pequenas barracas. Conversam ansiosos. Não existe muita expectativa de uma negociação real. A patronal já anunciou que não aceita a proposta da juíza.

De repente, voltam os diretores. Descem acompanhados por uma pequena multidão. Vem alegres, com os braços para cima, sinalizando vitória. A assembléia se recompõe de imediato. Atnágoras volta a falar, anuncia a vitória. A patronal recuou. Os operários conseguiram um reajuste de 9,23% ( a patronal queria dar no início da campanha só 5%), e a quinzena vai ser paga amanhã. Além disso, pela primeira vez, a categoria consegue a qualificação das mulheres, um passo importante para a progressão profissional das operárias.

Os operários se abraçam, alguns choram. Ailson, diretor do sindicato, vai falar e não consegue, emocionado. Os operários aplaudem e esperam até que ele se recompõe. A proposta é explicada mais uma vez. A assembléia vota a proposta por unanimidade.

Cleber fala no final da assembléia. Mostra como não existe nenhum parlamentar apoiando a greve. Chama todos para uma segunda batalha, agora política, nas eleições, para colocar um peão de obra na Câmara dos Vereadores. A assembleía termina em clima de festa.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Lições da greve dos servidores federais


*José Maria de Almeida é metalúrgico, participa da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas e é presidente nacional do PSTU

Estamos chegando ao final da maior greve no serviço público federal, pelo menos desde 2003. Foram mais de três meses de paralisação que, tendo como núcleo central os professores federais, estendeu-se para dezenas de outros segmentos, criando um ar de greve geral do funcionalismo. Registre-se a atitude aguerrida dos estudantes das universidades que também paralisaram suas atividades, apoiando os trabalhadores e apresentando suas próprias reivindicações. No momento em que escrevo este artigo a maioria dos setores já voltou ao trabalho e os comandos de greve dos professores das universidades e institutos federais discutem com a categoria o retorno ao trabalho ou a continuidade da greve no setor.

As concessões feitas pelo governo ficaram muito aquém do que era a reivindicação dos grevistas. Os mais de 10 bilhões de reais ao ano, conquistados no orçamento dos próximos três anos para melhorar o salário dos servidores são uma conquista, sem dúvida. Mas é preciso registrar que, para muitos setores, o reajuste conquistado nem sequer repõe a perda inflacionária do período considerado – 2011 a 2015. No caso dos professores federais a situação é ainda mais grave. O governo quer promover um verdadeiro desmonte do plano de carreira dos docentes, impondo critérios que reforçam o conceito produtivista na educação, como se educar fosse uma mercadoria qualquer. Um verdadeiro crime contra a educação pública, que levou o setor a não assinar acordo com o governo e seguir a luta para impedir que este descalabro venha a se concretizar.

Assim vemos que o movimento no seu conjunto, por muito forte que tenha sido – e o foi - não teve forças para impor ao governo o atendimento pleno de suas reivindicações. O que sim, valoriza a conquista alcançada é o contexto em que ela se deu: a situação em que ocorreu a greve estava marcada pela ofensiva do governo no Congresso Nacional para aprovar um projeto de lei que congelaria o salário dos servidores por dez anos.

O resultado da greve, visto por esta ótica, expressa o profundo descompromisso do governo Dilma com o serviço público e com a valorização dos servidores. O argumento da falta de recursos não resiste a cinco minutos de leitura de qualquer órgão da grande imprensa. Encontram-se ali profusões de notícias sobre o repasse de recursos públicos para grandes grupos industriais, que já ultrapassou em muito a marca dos 100 bilhões de reais (redução do IPI, desoneração da folha de salários, financiamento com juros de “pai para filho” do BNDES, etc). Só para os bancos e grandes especuladores está previsto, no orçamento deste ano, o repasse de cerca de um trilhão de reais como pagamento da dívida pública.

E nada disso se destina a garantir o emprego dos trabalhadores do setor privado, como reza a cantilena oficial. Fosse o caso de garantir o emprego neste setor – que, aliás, segue demitindo e muito – o que deveria ser feito é a adoção pelo governo de uma medida legal que impedisse as demissões, por um período determinado que seja. O governo dispõe de condições políticas e de instrumentos jurídicos para fazê-lo. Falta vontade política. Como faltou vontade política também para dialogar com os servidores, para ouvir as reivindicações da categoria. Sobrou arrogância e truculência com determinação de desconto dos dias parados, medidas autorizando a substituição de grevistas, etc.

Mas seria um equivoco muito grande se a análise desta greve e suas consequências ficassem nesta primeira leitura superficial da questão.

A greve impôs uma derrota política importante ao governo. Afrontou a propaganda oficial - que reza que a prioridade do governo é o povo - e conseguiu estabelecer um diálogo com amplos setores da população. Mostrou que, na verdade, é o descaso que caracteriza a atitude deste governo para com a educação, a saúde, e os serviços públicos que são tão necessários ao povo brasileiro. Que sua rapidez e determinação expressas no socorro às empresas e na garantia do lucro dos bancos é tudo que falta quando o caso é de dialogar com os trabalhadores e atender suas reivindicações. Esse feito político gerou um desgaste grande no governo – vide pesquisas de opinião sobre o governo Dilma publicadas semana passada - e foi o que o obrigou a negociar com os grevistas e atender, ainda que muito parcialmente, suas reivindicações. É certo que o que foi concedido não era o que os servidores queriam. Mas tampouco era o que o governo queria dar.

Assim, a greve dos servidores obteve uma vitória política importante. Contribuiu para desgastar, desmistificar a propaganda oficial com que o governo busca sistematicamente enganar o povo brasileiro. Enfraquece o governo para os próximos embates.

Mas, para dentro do movimento é que vamos encontrar conseqüências ainda mais importantes. Qualquer trabalhador com mediana experiência de vida sabe que o recurso à greve, é importante para pressionar seu empregador a atender suas reivindicações. Esta convicção vinha se enfraquecendo em setores da categoria. Foram muitas derrotas sofridas frente aos governos do PT nos últimos anos, em muitos momentos nem negociação houve. Esta greve muda radicalmente este cenário. O governo começou, em maio, dizendo que não haveria negociação nem concessão a nenhum setor, que cortaria o ponto dos grevistas. Depois foi obrigado a anunciar que daria aumento aos professores federais e aos militares. Terminou como vimos. Grande parte do segredo desse resultado – alem da forte disposição de luta dos servidores - foi a unidade construída entre as várias organizações que possibilitou a unificação da greve no tempo, em que pese as diferentes pautas de cada setor.

Esta conclusão é muito importante. Primeiro porque vai ser referência e vai animar a construção das lutas futuras do funcionalismo federal. Em segundo lugar, porque mostra o enfraquecimento, entre as organizações dos servidores federais, da influencia da central sindical que, antes, era quase que completamente hegemônica no setor – a CUT. Esta central, durante todos estes anos, desde a posse de Lula em 2003, foi e segue sendo um instrumento do governo para desarticular e fragmentar a luta do funcionalismo, tornando-o presa fácil das políticas do governo do PT. Não há como olhar para esta greve sem ver que isto está mudando.

Tudo isso deve alentar a continuidade do esforço para a construção da unidade para a luta, que tem contado inclusive com entidades cutistas, pois mostra que é possível vencer obstáculos que antes pareciam intransponíveis. E deve levar ao fortalecimento da perspectiva de construção de uma alternativa de organização de todos os trabalhadores brasileiros, que preserve sua independência frente aos governos e aos patrões.

E há ainda um terceiro fator a reforçar a importância das lições da greve do funcionalismo. O exemplo dado necessariamente se incorpora ao imaginário dos demais trabalhadores brasileiros. E muitos deles estão vindo aí. Está começando a campanha salarial dos metalúrgicos de alguns estados, como São Paulo e Minas Gerais, dos bancários em todo o país, dos petroleiros, dos trabalhadores dos Correios, a luta contra as demissões nas montadoras de veículos, as lutas dos movimentos populares por moradia, contra os despejos... O segundo semestre, para alem das eleições, promete.

*José Maria de Almeida é metalúrgico, participa da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas e é presidente nacional do PSTU

terça-feira, 4 de setembro de 2012

A “CAMINHADA DO POVO NEGRO”: capitães do mato ou mercadores de escravos?

Rosenverck E. Santos Professor da UFMA e militante do Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe


Em agosto de 2012 , em São Luís do Maranhão, ocorreu a "Caminhada Povo Negro” como parte da campanha eleitoral para prefeitura da capital maranhense do vice-governador Washington Luiz.

Tal caminhada demonstra o grau de degeneração que parte do movimento negro do Maranhão chegou apoiando um candidato que representa uma das mais brutais oligarquias coronelista, latifundiária e destrutiva do Brasil: que é a oligarquia Sarney e toda a sua camarilha de apoio.

Poderiam dizer que estas palavras surgem de um militante de esquerda, sectário e, portanto, com a desqualificação necessária das reflexões. Se esse é o caso não vou fazer uso de meus juízos de valores e convicções políticas e ideológicas de forma incisiva – como até acredito que deveria ser – mas, de uma série de outros interlocutores que não compartilhando necessariamente de minhas convicções caracterizam de forma sintomática o Maranhão oligárquico dos Sarney e do PT.

Inicio, porém, não com o Maranhão, mas com o Haiti. Como o “povo negro” pode marchar com um candidato que apoia um governo Federal que até tem tropas militantes no Haiti sob um regime de terrorismo de Estado, utilizando-se de força militar para favorecer os interesses mercadológicos do Imperialismo americano e das empresas brasileira. Para tanto, fazem uso da violência física, da aniquilação da liberdade de expressão, da violência simbólica e da super- exploração dos trabalhadores haitianos que recebem os salários mais baixos de toda a América. Isso num país que fez a primeira Revolução negra do continente americano e durante século foi exemplo de resistência e símbolo de medo para as elites escravocratas. Um país que mostrou para o mundo a capacidade organizativa e combativa da população negra, num contexto em que o povo negro era visto como bárbaro e incivilizado. “O povo negro” que caminhou com Washington faz coro com essa chacina que está ocorrendo no Haiti?

Como estar ao lado de um governo que tem expulsado centenas de famílias negras de seus lares, em virtude da Copa do Mundo de futebol e das Olimpíadas. Basta entrar no Google e olhar os dados. Recuso-me a fazer esse trabalho simples. Ou não é possível que o “povo negro” veja na internet num Estado como o Maranhão dos Sarneys e do PT que tem a menor rede de energia elétrica e, também, de internet do país?

Como “caminhar” com um candidato que está ao lado da Governadora Roseana Sarney, símbolo da miséria e da violência construída no Estado com bem aponta o historiador Wagner Cabral, pois desde a década de 1990 que o panorama socioeconômico do Estado do Maranhão é caracterizado pelos piores índices de desenvolvimento social e humano. Sob o governo de Roseana Sarney, iniciado sob o slogan de um “Novo Tempo”, as medidas ditas de modernização do Estado com investimento industrial, privatizações, reforma administrativa, apoio aos grandes projetos agropecuários trouxeram, ao contrário do propagandeado, aumento e intensificação dos problemas sociais. Como afirma Wagner Cabral (2002, p. 16, grifo do autor) “[...] ao contrário do que os meios de comunicação oficiais afirmam, o desenvolvimento econômico nesse período foi acompanhado pelo crescimento da desigualdade e da injustiça social [...]”.

Ainda segundo Wagner (2002) , respaldado em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Fundação Getúlio Vargas, o Maranhão possuía durante a década de 1990 o maior contingente de miseráveis do Brasil. Dados da saúde, educação, saneamento básico alocavam sempre os últimos lugares ao Estado. Reforçando esta assertiva, Rios (2005, p.101) destaca que:
Na década de 90, o Maranhão experimentou ao longo de sua história, o maior processo de exclusão social, iniciando o século XXI na incômoda posição de último lugar do ranking nacional em diversos setores, entre os quais: falta de água tratada, de rede de esgotos, de coleta sistemática de lixos, renda inferior a dois salários mínimos, analfabetismo, etc., tudo isso associado à falta de investimento na agricultura familiar [...].

Essa realidade mudou? Vai de novo ao Google, por favor, e veja os dados mais recentes!

Como caminhar com um responsável direto pela matança da juventude negra no Maranhão como atestam os Mapas da Violência 2011 e 2012 sobre os Jovens do Brasil coordenados por sociólogos de renome nacional que demonstram o grau de extermínio que passa a juventude negra e pobre, moradora das periferias dos centros urbanos, neste país.
No Maranhão, por exemplo, em 2011, o salto do extermínio da juventude pobre e negra foi brutal – mais de 300% de aumento da violência. O que fica explicito no próprio Mapa da Juventude:

“Observando mais atentamente as Unidades Federadas, ficam evidentes modos de evolução altamente diferenciados, com extremos que vão do Maranhão, Pará ou Ceará, onde os índices decenais se elevam drasticamente” Nesse sentido, a capital do Maranhão, São Luís, sai do 23º lugar em 1998 para o 11º em 2008.

O Número de Homicídios na População de 15 a 24 anos por UF e Região no Brasil de 1998/2008 demonstra que o Maranhão saiu de 1998 de 74 homicídios para 455 homicídios em 2008, ou seja, um aumento alarmante e assustador, principalmente em se tratando da população negra. Em 2012 o quadro ainda é pior!
Além disso, como demonstra também, o professor Hertz Dias em sua dissertação de Mestrado na Universidade Federal do Maranhão , a juventude negra de São Luís tem sido vitimada por um bem elaborado projeto de extermínio que passa pela intensificação da guerra interna na periferia, com inúmeros métodos de potencialização por parte do Estado da violência nos bairros pobre e de maioria negra em São Luís. É com este governo que o “povo negro” está caminhando?

Como justificar as denúncias e provas apresentadas pelo advogado Diogo Cabral da Comissão Pastoral da Terra e da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MA sobre a condição de “barbárie” na qual se encontra o campo maranhense com o extermínio de quilombolas e expulsão de suas terras por comparsas da família Sarney e com a conivência do Estado e do INCRA. Os dados para quem quiser ver estão nos Jornais “Vias de Fato”, mas também estão no Google. Por que será que esses que pertencem ao “povo negro” não conseguem olhar esses dados. Ou será que olham?

Mas podem acusar que Diogo Cabral é um potencial esquerdista ou que o “Vias de Fato” não é isento. Tudo bem? Então o que dizer do protesto na Baía de São Marco do grupo ecologista internacional Green Peace no qual militantes seus se acorrentaram em navios que atracariam no Porto do Itaqui para transportar materiais de empresas situadas no Maranhão que utilizam trabalho escravo, invadem terras indígenas, exterminam esses índios e destroem a natureza. Tudo isso, de novo! Com a conivência do Governo do PT e dos órgãos federais. Mas podem acusar o Green Peace de um grupo militante racial.

Então o que falar da ONG “REPÓRTER BRASIL” que atesta para quem quiser ser honesto que o Maranhão dos Sarneys e do PT é um dos Estados que mais exporta trabalho escravizado no Brasil. Tanto é quem em 2007 diz assim a publicação dessa ONG :
Os dados apresentados [...] indicam os estados com maior número de libertações: Pará, Mato Grosso, Bahia, Maranhão e Tocantins. Podemos considerar que esses estados, por terem grande número de escravos libertados, são os locais onde a exploração acontece com mais frequência. (p. 26)


Invasão do Haiti, desocupação de comunidades negras e quilombolas no Brasil, extermínio da juventude negra, potencialização da guerra interna na periferia pelo Estado, trabalho escravo e assassinatos de quilombolas e indígenas no Maranhão, destruição do meio ambiente... miséria... pobreza...desigualdade...racismo! Esse é o saldo de décadas de dominação da família Sarney agora apoiada e consolidada pelo Partido dos “Trabalhadores”- PT. É esse saldo que o chamado “povo negro” apoia e quer que continue a existir no Estado. Será que esse “povo negro” está preocupado com o povo negro, ou com seus salários comissionados nos gabinetes de parlamentares e do governo?

Será que esse “povo negro” está preocupado com o povo negro, ou com seus privilégios das Secretarias sem orçamento e poder de decisão?

Será que todos os “negros” foram aliados sempre do povo negro? Quem foram os capitães do mato? Será que os mercadores de escravizados eram todos brancos ou havia também “o povo negro” entre esses mercadores? Capitães do Mato e Traficantes negros de escravos, a história se repetindo como tragédia.

É hora de mudar! Quilombo Raça e Classe do Maranhão, nós somos – também – o povo negro e não estávamos naquela fatídica caminhada!

domingo, 2 de setembro de 2012

Virada Cultural de apoio a uma candidatura socialista


Neto Myller,Patatitva, Noleto e Fabiana Rasta

A Virada Cultural que aconteceu na última quarta-feira, dia 29, no bar Odeon Sabor e Arte, na Praia Grande foi um sucesso: grandes artistas, dj’s conhecidos e um público que compareceu e lotou a casa. A noite começou com a o tambor de crioula do mestre Amaral, seguidos da discotecagem da Radio Ganjaman, Lairo Mendes, Josy de Jah, Spiderman e Neto Myller. O primeiro cantor da noite foi Heriverton que já fez a galera dançar, depois adentraram o palco Luiz Lima, Célia Leite, Patativa. A noite contou ainda com rap feito pelo grupo Gíria Vermelha, a música irreverente do cantor e compositor Erivaldo Gomes, apresentação dos rappers Mano Magrão e Costelo, Dicy Rocha, Elizeu Cardoso, Wilson Zara, Omar Cutrim, Beto Ehongue, vozeirão de Fabiana Rasta e Fernando Naza, e participações especiais de Carlos Berg e Alemão. Todos eles, com exceção do Mestre Amaral, declararam apoio ao candidato a vereador Luiz Noleto, do PSTU, um dos idealizadores e organizadores da festa juntamente com Mano Magrão, Cotelo e Raimundo Sodré.

A virada cultural aconteceu dias antes da semana de comemoração dos 400 anos de São Luis. Segundo os organizadores do projeto, o objetivo é pensar esse momento cultural de forma crítica ao som de uma boa música. “Este será o primeiro passo para fomentarmos uma articulação entre os artistas para que possamos debater que tipo de políticas culturais podem ser realizadas para movimentar a cena cultural de São Luís para os próximos anos" explicou Mano Magrão.
Luiz Lima e Célia Leite

Luiz Lima, Noleto e Célia Leite

Os artistas presentes e convidados declararam apoio a Luiz Noleto candidato a vereador pelo PSTU, manifestando acordo com as propostas defendidas pelo partido na área da cultura como:

Fomento à produção cultural no município, tendo como eixo central o aporte financeiro público com a definição de leis de fomento setorial para Cinema, Teatro, Dança e expressões culturais emergentes.

Criação da Secretaria Municipal de Cultura, com verba de 2% do Orçamento Municipal

Aumento do número de funcionários por concurso público e qualificá-los para a ação pública no campo da cultura.

“Revitalização” urbanística do centro histórico de São Luís, considerando centralmente os modos de vida da população trabalhadora local que mora e trabalha nas regiões centrais da cidade, as formas de ocupação e aproveitamento dos prédios e espaços públicos abandonados na região. Repensar o patrimônio público local, revitalização do centro de São Luís não é “higienização” e sim uma questão social e cultural! Combater os interesses especulativos imobiliários e comerciais envolvidos na configuração desses espaços e incentivar a expropriados, pelo Estado, dos prédios que há décadas não pagam IPTU.

Organizar o Festival Internacional de Música para que possamos vivenciar manifestações culturais de outros povos.

Constituição do Conselho Municipal de Cultura, estruturado por representantes de Conselhos Locais de Cultura, com a participação de grupos organizados da população, produtores culturais e representações de trabalhadores, com a tarefa de manter a execução e acompanhamento do Plano Municipal de Cultura. Criação do Congresso Municipal de Cultura como instância deliberativa, reunindo os vários setores e movimentos culturais para elaborar uma proposta de política cultural municipal com diretrizes, orçamento destinados para as áreas e regiões, equipamentos culturais, possibilitando a constituição de polos culturais nas diversas regiões da cidade. Esse congresso deve resultar de amplo debate nas regiões por meio de Assembleias de Conselhos Populares Locais de Cultura e Conselho Municipal de Cultura.