quinta-feira, 25 de setembro de 2014

DO MARANHÃO: UM MANIFESTO AO POVO BRASILEIRO

Do Jornal Vias de Fato

 Fome, violência, desemprego, tráfico de drogas, analfabetismo, despejo, pistolagem, insegurança, racismo estatal, mortalidade infantil, sucateamento das escolas públicas, hospitais que mais parecem praças de guerra, trabalho escravo e precarizado, corrupção, desastre ecológico!  Tudo isto faz parte da rotina do Maranhão, que vive hoje várias situações de barbárie e de absoluto desrespeito aos direitos fundamentais das pessoas.

Entre os anos de 2000 e 2012, o Maranhão foi o estado brasileiro onde mais cresceu o número de assassinatos. Neste período, o aumento foi de alarmantes 408%! Desse total de mortos, 85% foram de negros. Entre 2003 e 2013, para cada quatro bolsas família distribuídas aqui, foi gerado apenas um novo emprego! Esta relação entre geração de emprego e bolsa representa apenas 20% da média nacional.  Além disso, somos o estado que mais recebe estas bolsas, com quase 60% das famílias que vivem no Maranhão sendo atendidas pelo Programa. Não é por acaso que hoje temos um milhão e meio de maranhenses vivendo fora, num exílio, em busca de trabalho. No Brasil, ninguém migra mais de sua terra que os maranhenses.

Toda esta situação de miséria, sofrimento e dependência faz parte de uma crise que passa pela profunda desigualdade social, concentração de renda e de terras e depravação do poder público em conluio com grandes corporações. Faz parte do cotidiano de um estado que há décadas vive submetido ao domínio de uma estrutura oligárquica e de uma economia predadora. Por isso, o Maranhão é vítima desses mais diferentes flagelos, tendo os piores indicadores sociais do Brasil.

No início deste ano, o mundo inteiro ficou chocado com os problemas oriundos da Penitenciária de Pedrinhas, em São Luís. Esta é uma das consequências do que estamos falando. Pedrinhas, a catástrofe, é um reflexo dessa crise maior! Sendo assim, é lógico que o Maranhão precisa de mudanças! Porém, é impossível falar em mudar esta trágica realidade, sem tratar de duas questões:

1º - O modelo de desenvolvimento econômico.
2º - A democratização do Estado.

                                                            Economia assassina

Um dos principais problemas do Maranhão, responsável por várias de nossas misérias, são os grandes empreendimentos empresariais (os chamados grandes projetos) implantados em nossa terra, ganhando bilhões, explorando trabalhadores, destruindo riquezas naturais e produzindo inúmeros impactos negativos.

O maior exemplo é o Programa Grande Carajás, que há mais de 30 anos tem como principal agente a empresa Vale, ligada à exploração de minério na serra de Carajás. Dona do Porto de Ponta da Madeira, na ilha de São Luís, e da Estrada de Ferro Carajás, essa empresa passa com o seu gigantesco trem pelo Maranhão, carregando “ouro em pó”, gerando uma quantidade insignificante de empregos (se comparado aos lucros obtidos), atuando com isenção fiscal, matando pessoas e animais, provocando devastação ambiental e todo tipo de poluição, agredindo culturas tradicionais e agindo em sintonia com a expansão do latifúndio, da grilagem, do trabalho escravo e da extração ilegal de madeira, com destaque para terras indígenas e unidades de conservação.

Um exemplo específico de desastre social provocado pela Vale e por empresas a ela ligadas é o povoado de Piquiá de Baixo, em Açailândia. Sufocados pela poluição de usinas de produção de ferro gusa, os moradores, há mais de uma década, cobram das empresas e do poder público sua remoção para outro lugar. A solução do problema é sempre adiada, constituindo-se em caso emblemático no Brasil de racismo ambiental e de violência absurda e silenciada, resultante de décadas de conivência dos agentes públicos com o modelo econômico.

Empresas como Alumar, Suzano Papel e Celulose, Eneva (Termelétrica Porto do Itaqui), além de grandes projetos de monocultivos, pecuária extensiva, carvoaria, turismo, pesca predatória, exploração de gás natural e petróleo, são outros exemplos desses enormes empreendimentos que, no geral, prejudicam os maranhenses, na medida em que intensificam o histórico desrespeito a direitos trabalhistas, estão vinculadas ao poder descontrolado do capital e aproveitam-se da fragilidade e cumplicidade dos órgãos de fiscalização.

Outra calamidade, fruto deste modelo econômico, é a questão fundiária. Entre todos os estados brasileiros, o Maranhão é um dos que tem a maior concentração de terras e o maior número de conflitos e assassinatos no campo. O latifúndio avança a partir de fraudes de documentos, feitas com a conivência de cartórios e autoridades públicas. Tudo para legalizar a grilagem, o roubo das terras, feito por empresas e fazendeiros.

E hoje, quando se trata deste problema, estamos falando também de soja, cana de açúcar, eucalipto, enfim, do agronegócio, que entre várias consequências, além de mortes e conflitos, provoca êxodo rural, aumento do custo da terra, inchaço das cidades, violência urbana e a ausência de uma produção agrícola voltada para a produção de alimentos mais baratos e saudáveis, através da agricultura familiar. Como resultado, hoje o Maranhão importa arroz até do Vietnã, quando já foi, há algumas décadas, um dos maiores produtores do Brasil!

A solução passa pela reforma agrária, pela titulação de territórios quilombolas e de comunidades tradicionais e demarcação de terras indígenas, bem como pelo reconhecimento da legitimidade da existência destes grupos sociais com organização cultural diferenciada, com proteção dos seus territórios. No caso dos municípios próximos a terras indígenas, é preciso repensar a economia destas regiões, que vivem submetidas a madeireiros (que em alguns casos são deputados, prefeitos e secretários de estado) e outros criminosos que exploram a floresta e seus povos. Isso faz parte de uma mudança maior, que implica, também, em repensar de forma mais ampla e profunda todo o modelo econômico implementado hoje no Maranhão.

                                        Um Estado que age contra a sociedade

O Brasil inteiro sabe que o Maranhão vem sendo dominado por uma estrutura oligárquica. Uma estrutura herdada, reestruturada e comandada pelo hoje decadente senador José Sarney (PMDB-AP), sendo avalista do nefasto modelo de desenvolvimento econômico, especialmente dos exploradores do minério e dos latifundiários-grileiros. Além disso, na prática, esta oligarquia também degenera e inviabiliza, consideravelmente, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, além de setores do Ministério Público. Hoje, além do velho patrimonialismo, nossas instituições estão submetidas ao crime organizado, máfias, gangues de agiotas.

O modelo de desenvolvimento e o Estado oligárquico, unidos, geram mazelas como, por exemplo, as liminares de despejo contra camponeses. Trata-se de uma rotina no Maranhão! Iniciativas de membros do Judiciário, associados ao Poder Executivo estadual, com conivência e/ou omissão do Legislativo, permitem que pistoleiros e policiais militares destruam moradias e plantações, matem, prendam, deixem famílias desabrigadas e, em grande parte dos casos, sem ao menos o direito de registrar ocorrências em delegacias de polícia. Essas iniciativas favorecem os mesmos que cometem as fraudes nos cartórios.

Outra forma de violência é o abandono da educação escolar, pois esse mesmo Estado oferece um serviço público que vai além da inoperância, prevalecendo um ambiente brutal. Hoje, quando se lança este manifesto, várias escolas estão simplesmente fechadas, entregues a “reformas”, em pleno ano letivo. E quando têm aulas, professores e alunos ficam vulneráveis a ação do tráfico de drogas, a ponto de estudantes adolescentes - as maiores vítimas deste processo - entrarem com armas de fogo nos colégios!  Os índices oficiais revelam os resultados do abandono.

Além disso, faltam políticas específicas voltadas para a educação no campo. Já as escolas indígenas padecem de precariedades ainda maiores, pois, desde 1999, o governo estadual não reconheceu a legislação federal e não criou as categorias de escola e professor indígenas, dessa forma, as escolas não existem de direito e muitas não têm condições de funcionar.

Nos municípios e regiões do interior do Maranhão, os serviços públicos são precários e sem qualidade, a fiscalização é ineficiente e o cidadão desprotegido. Faltam núcleos da Defensoria Pública, promotores públicos, varas judiciárias que possam lidar minimamente com os diferentes conflitos. Uma das consequências é a impunidade de latifundiários, pistoleiros e grileiros, ao mesmo tempo em que ocorre a criminalização de lideranças e da própria sociedade civil organizada como um todo, quando essa critica o papel do Estado, sua presença seletiva ou sua cumplicidade com poderes escusos. Também podemos destacar a permanente vulnerabilidade de mulheres, crianças e idosos, sujeitos às mais variadas formas de violência.

A dívida pública do Maranhão é de 7,9 bilhões, o que corresponde a mais de 55% do orçamento anual do Estado, que é de 14 bilhões. Essa dívida, que em tese foi feita para que houvesse mais investimentos junto à população, passa na verdade pelo financiamento de campanhas eleitorais, inclusive de muitos dos que hoje se colocam no papel de dissidentes da oligarquia. Sendo assim, seria fundamental uma auditoria sobre este débito. Temos o direito de saber a origem desse rombo e de como todo este dinheiro foi gasto.

 Diante destes antigos problemas, o debate público é prejudicado, pois a concentração dos meios de comunicação, no Maranhão, também é a maior do Brasil. Os tradicionais veículos estão nas mãos da oligarquia e/ou são sustentados com dinheiro público, em mais uma atividade marcada pela ilegalidade, envolvendo agências de publicidade que transitam pelos grupos políticos mais fortes, num ambiente onde não existe qualquer transparência.

Este ano, o senador José Sarney está encerrando a sua carreira parlamentar, derrotado pela opinião pública e por seus próprios erros. Porém, esta estrutura ficará intacta. Até um museu, montado a partir de sucessivas ilegalidades e sustentado pelo Estado, estará mantido no Centro Histórico de São Luís, dentro do antigo Convento das Mercês, como um culto à personalidade do oligarca.

Desmontar e superar toda esta estrutura, continuará sendo um dos desafios da sociedade maranhense, para os anos vindouros. A mudança que precisamos não pode se restringir a nomes, discursos ou grupos políticos. A estrutura oligárquica somente deixará de se reproduzir se outras práticas, compromissos, prioridades forem implementados e se o modelo de desenvolvimento for confrontado.

A nossa agenda

 Estes são alguns pontos que estamos levantando, sem a mínima pretensão de esgotar esta discussão e com o desejo de ampliá-la. Queremos também - num ano de eleições gerais - colocar na agenda pública questões que normalmente, salve honrosas exceções, têm ficado fora dos assuntos tratados nas sucessivas disputas político/partidárias, ocorridas em nosso estado.

A partir da conjuntura brasileira do biênio 2013/2014, marcada pelas manifestações de rua em todas as regiões do país e por movimentos locais de resistência e luta, queremos agir e refletir, mais profundamente, sobre estas questões maranhenses, sem estar submetidos a interesses meramente eleitorais.

Para mudar esta nossa realidade é fundamental organização social, formação, articulação de diferentes lutas, mobilização e ampla participação popular. Se, no Brasil, muitos falam em uma crise de representação, no Maranhão, esta representação praticamente faliu. A “nossa” classe política, com raras exceções, não é servidora pública, mas sim um bando, atuando para saquear o Estado.

Neste cenário, o nosso papel, o papel da sociedade, é de exigir que o Estado seja orientado pelos interesses na maioria da população, que coincide com aquela parcela majoritária e mais vulnerável em todos os aspectos. Além disso, temos que ampliar e continuar a fazer o enfrentamento a esse modelo de desenvolvimento predador, imposto pelo poder econômico e político. Um modelo que enxerga tradicionais modos de vida, ambientes, territórios, grupos sociais e modos de produção como obstáculos ao desenvolvimento. Seguiremos na resistência! Continuaremos a nos opor a esta noção de progresso e modernidade.

Para tanto, nossa agenda se pauta por:

1) Reforma agrária e urbana; regularização fundiária de terras indígenas, quilombolas, de comunidades tradicionais e de comunidades urbanas; combate à especulação imobiliária; fim dos despejos no campo e na cidade.

2) Priorização da agricultura familiar e camponesa, da economia de extrativismo de povos e populações tradicionais, da economia solidária e da pequena produção; respeito, proteção e reconhecimento dos povos e populações tradicionais e de seus modos de vida por parte do Estado, com políticas que imponham limites para que as grandes corporações e o agronegócio não avance de forma predadora como tem ocorrido sob a proteção do aparto estatal em suas mais variadas formas de atuação (isenções fiscais, aparato repressivo etc.); regularização das áreas de proteção ambiental já criadas no Estado, com proteção às populações nela inseridas de acordo com a Legislação específica, como é o caso das reservas extrativistas criadas; remoção imediata dos empecilhos colocados pelo Governo do Estado para criação de novas áreas, que apenas aguardam o assentimento do Governo do Estado, como é o caso da Reserva Extrativista do Tauá-Mirim.

3) Efetiva fiscalização trabalhista e ambiental; geração de emprego e renda;  combate efetivo ao trabalho escravo em suas várias modalidades.

4) Efetivação de sistema de saúde público e de qualidade; ampliação do atendimento; respeito às tradições e formas populares de enfretamento a problemas de saúde; combate à monetarização e privatização da saúde, que não deve ser objeto de favorecimentos de máfias, aparelhamentos e barganhas políticas.

5) Melhoria da qualidade de ensino; combate ao favorecimento, aparelhamento e barganhas políticas das escolas; reforma e democratização do ensino público, com eleições diretas para cargos de direção nas escolas; construção e melhoria de escolas no campo e na cidade; respeito às especificidades de comunidades tradicionais, povos indígenas e camponeses, garantindo sua participação na elaboração de políticas educacionais. Efetiva priorização da Educação, abrangendo, ainda, a valorização do trabalhador da Educação (técnicos, docentes e todos os profissionais que trabalham na área).

6) Combate à violência urbana e rural; humanização e não privatização do sistema penitenciário; controle social da estrutura de repressão do estado; fim do extermínio de jovens negros e pobres; combate à impunidade; respeito ao direito de culto, em especial com relação às religiões de matriz afrobrasileira; combate à violência contra a mulher, crianças, idosos, homoafetivos; fim do racismo institucional.

7) Implementação de instrumentos de transparência dos serviços públicos; combate à corrupção; controle social das várias instâncias do Estado.

8) Democratização ao acesso de bens culturais; transparência na destinação de recursos para as manifestações culturais, fim da privatização de festas tradicionais e populares, fim do aparelhamento político das manifestações lúdicas.

9) Combate ao desmatamento e às práticas de madeireiros; regularização e fiscalização de unidade de conservação, respeitando os direitos de povos e populações tradicionais; combate à poluição; conservação dos biomas maranhenses (cerrado, campos alagados, floresta amazônica, florestas de babaçuais, caatinga, manguezais); preservação dos rios e da qualidade da água; fim da corrupção na liberação de licenças, alvarás e permissões nos órgãos ambientais; construção de instrumentos efetivos de participação nos processos decisórios relativos ao meio ambiente; efetiva estruturação econômica e técnica dos órgãos estatais de regulação e fiscalização ambiental.

10) Apuração rigorosa e punição aos mandantes e executores de assassinatos dos camponeses, indígenas e quilombolas, como foram os assassinatos emblemáticos das lideranças do campo Flaviano, Brechó, Cabeça, dentre outros, que seguem sem qualquer resposta dos órgãos do estado que, em tese, deveriam tratar com igualdade todos os casos de violência contra cidadãos maranhenses.

Por fim, queremos reafirmar a nossa convicção de que a rua, a praça pública, os protestos e as diferentes formas de ocupação, estão entre os melhores espaços e iniciativas para exigir, reivindicar e travar a luta política. Assim como em todo o Brasil, passa por aí o caminho para as nossas futuras conquistas sociais.



São Luís (MA), setembro de 2014.

Comissão Pastoral da Terra (CPT-MA)

Cáritas Brasileira Regional Maranhão

Conselho Indigenista Missionário (CIMI-MA)

Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

Jornal Vias de Fato

Movimento Quilombola do Maranhão (MOQUIBOM)

Fóruns e Redes de Defesa dos Direitos da Cidadania

CSP Conlutas - Central Sindical Popular

Comissão Nacional para o Fortalecimento das Reservas Costeiras Marinhas (CONFREM)

Centro de Apoio e Pesquisa a Pescadores Artesanais do Maranhão (CAPPAM).

Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal e MPU do Maranhão (SINTRAJUFE/MA).

Grupo de estudos Lida/UEMA – Luta Sociais Igualde e Diversidades

Coordenação Regional da Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO) - Região 1

RUA – Juventude Anticapitalista (Imperatriz)

UC - Unidade Classista - Imperatriz-MA

Centro Acadêmico de Serviço Social - UFMA

Centro Acadêmico de Geografia da UFMA Gestão "Refazendo Caminhos"

Assentamento Viva Deus - Estrada do Arroz - Imperatriz-MA

Movimento de Resgate do Grande Santa Rita - Imperatriz-MA

Sindicato de Pescadores e Pescadoras do município de Icatu

Cooperativa de pescadores artesanais do município de Carutapera

Sindicato de Pescadores de Cururupu

Associação das comunidades da reserva extrativista de Cururupu




terça-feira, 23 de setembro de 2014

Não está na hora de garantir a eleição de um deputado do PSTU?



Fotos: Romerito Pontes
 Não há pior inimigo que um falso amigo
Sabedoria popular inglesa
Escrevo estas linhas, especialmente, para aqueles que nunca votaram no PSTU. Quero lhe pedir que considere o voto em um candidato a deputado do PSTU nestas eleições. Peço que me dê uma oportunidade de explicar porque a eleição de um deputado do PSTU vai fazer diferença. Sei que não é uma escolha fácil. É preciso, em primeiro lugar, definir alguns critérios. Tem que peneirar. Sem alguns filtros, é impossível decidir em quem votar.
Sei que você teve suas razões. Alguns entre vocês nunca votaram no PSTU porque achavam nossas propostas demasiado radicais. Outros consideravam o PSTU um partido, eleitoralmente, ainda muito minoritário. Sei que, também, deve ter pesado o fato de que o candidato do PSTU era menos conhecido, não tinha alcançado visibilidade, acesso à TV. E pensava que não valia a pena correr o risco de perder o voto, já que nossas candidaturas tinham poucas chances de conseguir um mandato. Até porque você já tinha um candidato em quem votava desde outras eleições.
 Bom, chegou o momento em que é possível eleger um candidato do PSTU. Sim, é possível. Mas, mais importante, mais do que nunca é indispensável a presença do PSTU no Congresso Nacional.
É indispensável, em primeiro lugar, porque você quer votar em alguém honesto, honrado, íntegro. Mas como ter a certeza? Afinal, é dominante a ideia de que aqueles que se candidatam estão somente à procura de alguma vantagem pessoal.  Não é verdade que são todos iguais. Nas eleições, como na vida, há um pouco de tudo.
Votar na candidatura do PSTU é depositar um voto em quem podemos ter confiança. Quem entra no PSTU faz um compromisso. O PSTU é um partido independente. Sem independência não há liberdade. Independência tem que ser econômica, política e ideológica. A classe dominante tenta aliciar, atrair, seduzir, permanentemente, os representantes da classe trabalhadora. O candidato do PSTU merece a sua confiança porque tem uma trajetória, e foi escolhido para ser o porta-voz de milhares de militantes abnegados porque já passou por muitas provas. A primeira delas, é que vai continuar a viver como sempre viveu, possivelmente, pior. Tem que estar disposto a fazer uma doação. Nós temos critérios de seleção. Tem que ter desprendimento. Porque o mandato não será do eleito, será do coletivo, da fraternidade de ativistas que o elegeu. Tem que ter altruísmo, disposição de luta e espírito de sacrifício. A militância é uma entrega, uma atitude diante da luta dos trabalhadores e da juventude. Nossos candidatos são assim.
Tem também que ter confiança de que será alguém comprometido com as lutas e um projeto socialista. Nossos candidatos nasceram na militância junto às lutas populares. São ativistas corajosos, que já demonstraram sua devoção. Mas são mais do que ativistas. São socialistas sérios que estudaram marxismo. São revolucionários pra valer. Não serão manipulados.
Os candidatos para quem pedimos o seu voto merecem a sua confiança porque são internacionalistas. Nenhum partido da esquerda brasileira tem uma prática internacionalista maior do que o PSTU.  Podem ter feito, em alguma campanha, tanto quanto nós. Mais não. Estivemos no Haiti ao lado da resistência, fomos à Palestina levar nossa solidariedade, nos engajamos na Síria, lutamos contra a guerra no Iraque, fizemos do levante na Argentina nossa bandeira, organizamos caravanas à Bósnia.
 Eleger um candidato do PSTU é ter a confiança de que será alguém lúcido e ousado, que estará sempre do lado das causas justas. Porque aqueles que estamos hoje no PSTU, temos uma história na esquerda brasileira. Queremos que considere o papel que tivemos no passado para decidir em quem confiar no futuro.
 Em 1978/79, estávamos na primeira linha da defesa da formação do PT, quando a maioria da esquerda aceitava que a liderança da luta para derrubar a ditadura devia ser depositada nas mãos do MDB de Tancredo Neves. Em 1983 estávamos na vanguarda dos que defendiam a fundação da CUT, quando a maioria da esquerda era contra a formação de uma Central sindical independente para unificar as lutas, porque defendiam um acordo com os pelegos. Em 1984, quando das Diretas, já, defendemos um dia de greve geral, sem pedir permissão a Montoro, Tancredo e Brizola. Em 1986, fizemos a denúncia do plano cruzado contra Sarney. Em 1987/89, estávamos à frente da organização das greves gerais que fizeram história. Em 1992, assumimos a defesa do Fora Collor contra a maioria da direção do PT, e fomos aqueles que fizeram a campanha por antecipação das eleições gerais, contra a posse de Itamar. Em 1994, realizamos a unificação que criou o PSTU, provando nossa disposição unitária com a dissolução da Convergência Socialista dentro do novo partido.
 Em 1999, combatemos pela defesa da campanha do Fora FHC, quando a direção do PT decidiu esperar as eleições. Em 2002, apresentamos candidatura própria, alertando para os imensos limites da candidatura Lula. Mas como a maioria da classe trabalhadora alimentava ilusões em um governo do PT e Lula, declaramos que não seríamos um obstáculo a essa vontade, e indicamos o voto Lula no segundo turno. Entre 2003/04, abraçamos a luta por uma Central Sindical Independente, o processo de desfiliação da CUT e construção do que veio a ser a CSP/Conlutas.
Em 2005, denunciamos como de máxima gravidade o escândalo do mensalão, mas, também, denunciamos, energicamente, o perigo que seria uma unidade da oposição socialista de esquerda com a oposição burguesa de direita. Dissemos não ao impeachment de Lula, porque a tentativa ensaiada de derrubar Lula pelo Congresso Nacional seria uma saída reacionária para a crise.
Em 2006, nos comprometemos com a luta por uma Frente de Esquerda, mas com um programa anticapitalista. Mesmo quando o programa acentuou uma proposta nacional desenvolvimentista, e ainda depois que a legítima defesa da indicação de Zé Maria como vice-presidente na chapa nos foi negada, mantivemos nosso compromisso. Finalmente, em 2013, estivemos nas ruas de Junho, em uma luta par unir a rebelião da juventude com os batalhões mais maduros da classe trabalhadora, sem capitular às pressões do governo ou às pressões dos blackblocs.
 Nossa participação eleitoral obedece a uma estratégia. Somos o partido dos que recusam a capitulação a esta institucionalidade. Assim como participamos dos sindicatos, sem capitular ao burocratismo dinástico. Assim como participamos nos movimentos populares, mas sem capitular ao apoliticismo, ou movimentismo. Assim como participamos da luta teórica, sem capitular ao academicismo.
Merecemos a sua confiança. Seja quem for eleito para a presidência. Nós somos os marxistas do século XXI. Somos os internacionalistas revolucionários. Somos os comunistas de Lenin, Trotsky, e Rosa Luxemburgo. Somos os trotskistas. Ajude um dos nossos a ser eleito. Você não vai se arrepender. 

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Ato em homenagem a Dirceu Travesso emociona a todos em São Paulo

Dirceu Travesso, o ‘Didi’, faleceu na manhã desse 16 de setembro após cinco anos de luta contra o câncer
Cerimônia lembrou o legado de luta e esperança deixado pelo histórico dirigente socialista
Na noite desta terça-feira, 16, foi realizado o ato de despedida do companheiro Dirceu Travesso, ou simplesmente “Didi”, que morreu na manhã do mesmo dia.  O ato foi realizado na quadra do Sindicato dos Bancários, palco das muitas lutas travadas por Dirceu ao longo dos 37 anos de sua atuação política.
A emoção tomou conta de todos os presentes. Para a maioria, as lágrimas foram inevitáveis. Mais de mil pessoas estiveram presentes, entre amigos e familiares de Dirceu, militantes do PSTU e da Liga Internacional dos Trabalhadores, vindos de várias regiões do país, dirigentes sindicais, do movimento estudantil e popular, além de representantes do PT, PCdoB, PSOL, PCB e da Consulta Popular. Centrais sindicais como CUT, Intersindical e CGTB também fizeram questão de enviar representantes.
“A maior demonstração do significado do Didi é isso aqui que está acontecendo agora. Temos aqui gente de vários lugares do país. Recebemos mensagens de vários países. Essa é a maior demonstração de que o Didi foi um cara que lutou a vida inteira por aquilo que acreditava. Mesmo depois de doente o Didi nunca deixou de militar. Ele vai continuar aqui dentro de cada um de nós", disse com a voz embargada Cyro Garcia, presidente do PSTU-RJ que, ao lado de Ana Luiza, candidata ao Senado pelo PSTU em São Paulo, coordenou as falas durante o ato.  “Pra mim (Dirceu) era um irmão, um amigo, um camarada. Era aquela pessoa que eu procurava para sorrir e quando eu precisava chorar", desabafou Ana.
Inúmeras mensagens de condolências foram recebidas. De sindicatos e organizações dos movimentos sociais de todo o país até de organizações políticas e sociais de todo o mundo. A homenagem destaca uma das facetas da militância de Dirceu: seu internacionalismo.
“O Didi era uma camarada imprescindível, daqueles que lutam a vida toda. Foi um construtor da CSP-Conlutas, do PSTU e da Liga Internacional dos Trabalhadores. Ele foi um baluarte daquilo que já está esquecido na memória da esquerda, que é o internacionalismo", destacou Eduardo Almeida, que falou em nome da LIT no ato (assista à fala de Eduardo Almeida aqui).
Em seus últimos anos, Didi se dedicou quase que integralmente à construção da Rede Internacional Sindical de Solidariedade e Lutas, cujo objetivo é apoiar e organizar a luta dos trabalhadores pela sua emancipação nos quatro cantos do planeta.  Por isso, mesmo doente, não hesitava em cruzar continentes e oceanos para participar de reuniões e congressos. Foram lembradas muitas histórias nas quais Dirceu, mesmo hospitalizado, não deixou de se preocupar com a organização de viagens, encontros e debates políticos.  
Muito emocionados, os familiares de Didi acompanharam toda a homenagem. “Vocês trazem aqui que a passagem dele não foi uma passagem. Foi uma existência. E por aquilo que ele lutou e defendeu tá com vocês como bandeira", disse Davi Travesso, irmão de Didi.

O histórico de lutas junto à classe operária também foi lembrado. “Conhecemos o Didi nas lutas operárias, sobretudo na época da ditadura contra o peleguismo. e nessa caminhada junto tínhamos uma luta conjunta muito maior, que era a superação do capitalismo e a construção do socialismo", destacou Waldemar Rossi, da Pastoral Operária.
Já Oswaldo Coggioola, professor da USP, que falou em nome da Andes-SN, lembrou que Didi lutou até seu último minuto, como na greve da universidade travada por mais de 100, e que está terminando vitoriosa. “No início dessa greve, organizamos um ato da Praça da Sé e ele falou neste ato. Ou seja, ele é parte dessa vitória também”, disse. Já Magno, dirigente do sindicato dos funcionários da USP, ofereceu a vitória da greve “ao companheiro Didi”.
Bastante emocionado, Luiz Carlos Prates, o “Mancha”, dirigente metalúrgico de São José dos Campos, relatou os momentos mais pessoais vividos ao lado do amigo  Dirceu em mais de 30 anos de convívio. “O Didi enfrentou a doença, o câncer, se entregando 100% a um sonho, a militância, a transformação. Não tinha tempo ruim com Didi”, disse Mancha que ainda completou: “Se era tão inevitável, se todos sabiam que ia acontecer...por que tamanha dor? É que nesses anos de luta ele nos fez crer que era imortal. E, sim, o Didi é imortal".
Gilberto Maringoni, candidato ao governo de São Paulo pela Frente de Esquerda, também recordou momentos pessoais vividos com Dirceu e que, apesar dos momentos duros da luta política, sempre cultivou amizade com ele. “Este foi um ano duro que nos levou o camarada Plínio (de Arruda Sampaio) e o Didi. Mas o Didi continua nessas histórias marcantes, nessa disputa e nesse exemplo que ele nos deu pra cada um”, falou em nome do PSOL.
Ao longo da homenagem também falaram representantes do PT, PCdoB, PCB e da Consulta Popular. Em todas as falas sempre uma boa recordação pessoal sobre Didi, ou o reconhecimento de sua luta ao lado dos trabalhadores.
Valério Arcary, em nome do PSTU, destacou a imensa coragem e força que marcavam o caráter de Dirceu. “O Didi era intenso, avassalador, homem de uma coragem inesgotável. Vocês ouviram os testemunhos. Homens assim são insubstituíveis. Essa é a dimensão da perda aqui. De onde vinha essa força, essa confiança e essa integridade. Vinha de dentro dele. Ele foi formado no interior de uma geração, mas a maior parte dessa geração se perdeu. Mas quase todos ficaram para trás. Choremos todas as nossas lágrimas, mas tenham certeza que a força do Didi repousava em algo imenso que maior do que o mundo. De que a nossa luta é legitima diante da história e de que a classe trabalhadora vencerá”.

O encerramento das homenagens ficou a cargo de Zé Maria, candidato à presidência pelo PSTU.  “Não há nada melhor que um ser humano possa fazer com a sua vida, aquilo que o Didi fez. Por isso ele é imprescindível. A tristeza pela perda é grande, mas a alegria por termos tido o privilégio de acompanhar parte de sua vida também é grande", afirmou Zé Maria.
“O Didi morreu como viveu: lutando. E não foi só lutando contra a doença, mas contra o capitalismo, como um bom marxista que era. Vamos ter que cerrar os punhos, chorar nossa dor, mas a partir de amanha vamos continuar a nossa luta com mais força do que antes, porque essa a luta é a luta do Didi”, finalizou.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Quem é a esquerda que a direita gosta?




'Não importa o tamanho da montanha, ela não pode tapar o sol'
Sabedoria popular portuguesa
 A campanha eleitoral de 2014 é a mais imprevisível desde 1989. É natural, por isso, que seja a mais ríspida. A aspereza das reações polêmicas é proporcional à incerteza de quem vencerá as eleições presidenciais. A insegurança é inimiga da serenidade. Não foram poucos os artigos dedicados a diminuir e desqualificar a oposição de esquerda e, em especial, o PSTU, durante o último mês.
Valter Pomar afirmou, por exemplo, concluindo um texto recente: "no atual período histórico, quem acha possível derrotar ao mesmo tempo a direita e o PT, acaba geralmente virando linha auxiliar da direita”. [1] Outros militantes da esquerda petista têm asseverado que o PSTU seria um partido irrelevante porque Zé Maria não superou 1% das preferências de voto nas pesquisas de opinião. Breno Altman, por exemplo:
Mas não é apenas a influência eleitoral desses partidos que é pífia. Também são forças de pouca envergadura no movimento sindical, estudantil e camponês. Não passam de franjas isoladas na intelectualidade (...)Ainda que se possa criticar os governos de Lula e Dilma pela eventual opção por um reformismo fraco, no dizer de André Singer, o fato é que se constituíram em ferramentas de resistência ao neoliberalismo em todos os terrenos.  (...) a insistência nessa política sectária faz da ultra-esquerda um aliado objetivo das forças reacionárias nos momentos de grande polarização e disputa. [2]
Os quatro argumentos podem impressionar, mas são falsos. Primeiro, a acusação de que a oposição de esquerda cumpre o papel de uma linha auxiliar da oposição de direita é indigna. Não vale tudo na luta política. Linha auxiliar da oposição burguesa é uma  denúncia pesada. Qualquer pessoa pode compreender que na luta política existem mais do que dois campos, situação e oposição. Existem as classes sociais, e elas se expressam através de vários partidos.
Com esta insinuação absurda- “aliados objetivos de forças reacionárias”- os dirigentes da esquerda petista não estão ofendendo somente  a oposição de esquerda. Estão, também, desafiando a inteligência da sua própria militância, porque estão agredindo a historia do PT.
O amálgama da oposição de esquerda com a de direita, pode parecer, politicamente, eficaz, mas é desonesto. Um mínimo de decência na polêmica de ideias exige reconhecer que os partidos da oposição de esquerda tem atacado, implacavelmente, a oposição de direita, seja Marina ou Aécio. Tanto, ou até mais do que a candidatura do governo. Zé Maria deu a palavra a Osmarino Amâncio para denunciar que Marina Silva não era herdeira dos ideais de Chico Mendes.
Se este critério fosse para ser levado a sério, o PT não poderia ter nascido. Porque o PT surgiu desfiando a liderança do MDB e, portanto, dividindo a unidade das oposições à ditadura. Por este critério, a candidatura de Lula em 1982 contra Montoro e Reynaldo de Barros, homem de Maluf, era ilegítima, porque favorecia a vitória do partido da ditadura. Foi essa a acusação que o PCdB e o MR-8 fizeram durante quase uma década, nos anos oitenta, ao PT.
A premissa de que, quem não está conosco, objetivamente, é aliado dos nossos inimigos é falsa. Mas o pior é que este raciocínio binário vem associado a outro mais perigoso. Realmente, ainda há quem pense que só o PT representa os trabalhadores e seus interesses? Não parece bizarra esta conclusão, se a esquerda petista não pode deixar de admitir que, durante doze anos, os grandes grupos capitalistas não pararam de ver os seus lucros crescerem? Alguém poderia explicar, por exemplo, se o PT é o único partido que defende os trabalhadores, por que o Ministro da Justiça do governo Dilma e dirigente do PT, José Eduardo Cardoso, quando da greve dos metroviários contra Alckmin em São Paulo declarou: “Seja para o que for, o governo do Estado pode contar com o apoio instrumental do governo federal”.[3]
Em segundo lugar, ser maioria não é o bastante para demonstrar quem tem razão em uma polêmica política. Apenas evidencia qual é a proposta, ou o partido, ou a candidatura que tem maior apoio, em determinada circunstância. O apoio que uma proposta, um projeto, uma candidatura pode ter não prova nada, absolutamente nada, sobre a correção da política defendida.
Os bolcheviques, uma referência que compartilhamos, foram ínfima minoria na Segunda Internacional em 1914. Foram, também, minoria na Rússia até agosto de 1917, portanto, durante mais de vinte anos. Parece até um pouco cruel ter que recordar para lideranças da esquerda petista que são minoria, há pelo menos duas décadas dentro do PT, que o fato de terem sido, sistematicamente, derrotados, não invalida as propostas que defenderam.
Um partido pode sair derrotado, eleitoralmente, e ainda assim obter uma vitória política. Ou o contrário, sair derrotado, politicamente, apesar de uma vitória eleitoral. O PT saiu derrotado das urnas, em 1989, mas fortalecido. Um partido que renuncia ao seu programa para surfar uma onda eleitoral, absorvendo as ideias de outros partidos, pode ter uma excelente votação, mas sairá das eleições, derrotado. Em outras palavras, uma avaliação séria com o objetivo de compreender se um partido foi ou não, politicamente, vitorioso deve ter como critério um exame da defesa ou não do seu programa. Não somente o sucesso eleitoral.
A audiência do PSTU não é tão residual quanto pensa a esquerda do PT. Os trotskistas estiveram presentes e com um papel destacado em grande parte das lutas recentes mais importantes: construção pesada em Belo Monte no Pará, Comperj no Rio de Janeiro, petroleiros em mais de uma dezena de Estados, professores por todo o país, rodoviários de Porto alegre e Pernambuco, garis e bombeiros no Rio, metroviários e USP em São Paulo, etc. Ao defender uma saída socialista para o Brasil, ainda que tenha poucos votos, o PSTU será politicamente vitorioso, porque esta proposta corresponde às necessidades da revolução brasileira. Derrotados serão os socialistas cujos partidos não estiveram nas lutas, e nas eleições não defenderam o socialismo.
É fácil compreender porque deve ser aconchegante para dirigentes da esquerda do PT saborearem a perspectiva de uma derrota eleitoral do PSTU como uma confirmação de sua estratégia de hibernação secular. Só que não é. Trata-se de mais um caso clássico de autoengano: uma alegria ilusória. A possível vitória de Dilma, que permanece incerta, se acontecer, significará uma derrota, não uma vitória da esquerda petista. Porque será para a esquerda petista uma vitória de Pirro.[4] Pomar, que é um observador mais lúcido já sentiu o cheiro do perigo.[5]
Os primeiros cem dias de um possível segundo mandato de Dilma serão suficientes para que fique claro o tamanho do ajuste fiscal que vem por aí, entre outras medidas reacionárias. Claro que uma derrota de Dilma será uma irrevogável derrota da esquerda petista. Mas a dialética do processo é que uma possível vitória de Marina será, também, uma derrota dos trabalhadores, porque Marina fará um ajuste tão grande, senão maior, do que o de Dilma, com as trágicas consequências de aumento do desemprego e queda do salário médio. Em resumo, 2015 não parece nada prometedor.
Em terceiro lugar, a explicação da provável pequena votação das candidaturas presidenciais do PSTU, PSOL e PCB não reside no seu posicionamento como oposição de esquerda. Aliás, é surpreendente que, um ano depois de Junho de 2013, ainda exista tanta teimosia em admitir que uma parcela majoritária da juventude assalariada urbana com escolaridade mais elevada tenha se deslocado para a oposição.
Como ficou evidente em sucessivas pesquisas, é na faixa etária até 35 anos, nos setores sociais com renda entre dois e cinco salários mínimos, e entre aqueles com ensino médio completo e superior incompleto que a candidatura Marina Silva tem maior vantagem em relação a Dilma. Imaginar que essa votação corresponde à velha classe média reacionária é, simplesmente, cegueira indefensável. É obtuso. Não foi, portanto, pelo seu posicionamento como oposição ao governo de coalizão com o PMDB de Renan Calheiros, dirigido por Dilma, em nome do PT, que a oposição de esquerda tem poucos votos.
A baixa votação remete a temas muito mais complexos, e que exigem diferentes níveis de análise para serem compreendidos, mas que o marxismo inspirado em Leon Trotsky caracterizou com a crise de direção do proletariado. Mas como este conceito é muito mal interpretado, para resumir, portanto, simplificando, repousam ainda, entre outros fatores: (a) na avalanche de votos que se dirigiram para Marina como uma mediação que, embora esteja em uma aliança com a oposição de direita, não é assim percebida por esta parcela da juventude trabalhadora que a vê como uma alternativa e, para não poucos, até à esquerda de Marina; (b) no estágio de imaturidade política desta geração de trabalhadores jovens, um processo no qual o PT, depois de 12 anos no poder, tem responsabilidades, como ficou mais uma vez escancarado com o novo escândalo da Petrobras e as “relações perigosas” com o PP de Maluf, o PMDB de Sarney, etc.; (c) na falta de confiança dos batalhões mais maduros dos trabalhadores em suas próprias forças, que leva a que as propostas da oposição de esquerda, ainda que indispensáveis, pareçam demasiado radicais, e o voto no PT, apesar do reformismo quase sem reformas, um mal menor; (d) no fenômeno mais amplo das ilusões no próprio processo eleitoral como via indolor para a transformação econômico-social do país, o que, evidentemente, não é possível. 
Por último, em quarto lugar, o argumento de que os governos do PT foram um período de resistência ao neoliberalismo é uma fantasia exagerada, portanto, insustentável, em um debate sério. Em outras palavras, pensamento mágico. Expressão pura da força do desejo.
Resistência ao neoliberalismo? O eixo central da estratégia neoliberal foi o tripé macroeconômico que Lula preservou dos governos de Fernando Henrique. Até as pedras das calçadas da Avenida Paulista sabem que a política de Palocci foi um sonho de consumo da burguesia brasileira. Que a preservação das metas inflacionárias, do superávit fiscal, e do câmbio flutuante, para garantir a segurança da rolagem da dívida pública na mão dos rentistas, foi a estratégia central para blindar a governabilidade dos governos de coalizão dirigidos pelo PT. Não por acaso o governo manteve relações amigáveis com o agronegócio, com as montadoras e a FIESP, com os banqueiros, etc.
A tentativa de redução da taxa de juros, durante dois anos dos quatro do mandato de Dilma, foi o bastante para levar a esquerda petista, e até o MST, a sonhar com um novo curso desenvolvimentista. Foi, como o último ano demonstrou, só um ensaio, rapidamente, interrompido.
É verdade que o crescimento entre 2004 e 2008, com uma retomada em 2010, no contexto de uma recuperação do capitalismo mundial depois da crise de 2000/01, favoreceu uma redução do desemprego, e esta pressão permitiu uma recuperação do salário médio para os níveis de 1990, antes da posse de Collor. Não houve reformas progressivas durante os últimos doze anos? Sim, houve. Mas muito poucas. Reformismo fraco é uma conceituação muito benigna da parte de André Singer. O aumento do salário mínimo acima da inflação, a elevação do crédito popular com os empréstimos consignados, a expansão do Bolsa Família como política de emergência assistencial, explicam a sensação de alívio depois da degradação das condições de vida pela superinflação dos anos oitenta, e estagnação dos anos noventa. Mas não são o bastante para definir os governos do PT como reformistas. Porque foram muito mais numerosas as contra-reformas.
Como dizem os portugueses, não importa o tamanho da montanha, ela não pode tapar o sol.
    
[1] POMAR, Valter. Ser de esquerda não é profissão de fé, nem serviços prestados. 10/09/2014, In http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/09/ser-de-esquerda-nao-e-profissao-de-fe.html
[2] ALTMAN, Breno. Por que a ultra-esquerda brasileira é residual? 11/09/2014. In https://www.facebook.com/breno.altman
[3] Fonte: CBN (09/06/2014)
[4] Trata-se de uma expressão que explica como há vitórias que se transformam em derrotas. Por exemplo, quando uma vitória é conquistada ao custo de prejuízos irreparáveis.
[5] POMAR, Valter. Eles têm um plano C. 12/09/2014. In  http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/09/eles-tem-um-plano-c.html

domingo, 14 de setembro de 2014

É POSSÍVEL ELEGER UM SENADOR DE LUTA, SÓ DEPENDE VOCÊ.



A eleição para o senado é considerada MAJORITÁRIA e sem segundo turno, isto implica dizer que ganha quem tiver mais votos NO DIA 5 DE OUTUBRO. .Os dois candidatos de Sarney nestas eleições, conforme pesquisa da GUARÁ, somam 62% dos votos.

Nas últimas eleições  para o SENADO em 2006, de apenas uma vaga, a disputa ficou entre Cafeteira e Castelo onde  os dois tiveram juntos 73% dos votos. Naquele ano Lula pedia voto para Cafeteira mesmo o PT tendo Bira do Pindaré como candidato e este obteve mais de 25% dos votos.

Nestas eleições temos chances reais de repetir este fenômeno com o companheiro Marcos Silva 163 do PSTU.As pesquisas apontam Marcos Silva com 5%, a  frente do candidato do PSOL Temos mais de 17¨% que não escolheram seu candidato.

Você que sempre disse que votaria para nosso candidato lutador em outro cargo, que não o de governador ou prefeito, se quiser de fato mudar de vez chegou a hora. VOTE MARCOS SILVA 163 E VAMOS FAZER A NOSSA HISTÓRIA E NÃO A DELES.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A CORRUPÇÃO ENVOLVENDO A PETROBRÁS E O FINANCIAMENTO DAS CAMPANHAS E PARTIDOS PELAS GRANDES EMPRESAS



Com as denuncias feitas pelo ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, que está preso e negocia um acordo de delação premiada com a procuradoria, temos mais um escândalo de corrupção de grande dimensões aflorando na cena política brasileira.
Ao que indicam as informações tornadas publicas até agora, há dezenas de políticos, de vários partidos (PT, PMDB, PP e talvez outros) envolvidos nas denuncias. Dinheiro publico foi desviado, através de contratos superfaturados, para financiar partidos e campanhas eleitorais de políticos destas partidos.
Tudo a ver com a discussão que o PSTU tem insistido em levantar nesta campanha eleitoral: o financiamento das campanhas eleitorais, dos políticos e partidos por grandes empresas é uma das fontes mais importantes da corrupção generalizada que marca a política em nosso país. Ao aceitar o financiamento de uma empresa, o partido e o político estabelece com ela a relação de fidelidade que deveria ser com o eleitor. E a empresa, quando financia um partido e um político faz um investimento, que garante um enorme retorno, depois, na forma de obras desnecessárias, contratos superfaturados, decisões de governo que favorecem seus interesses, etc, etc.
Aécio esbraveja na TV contra isso, “esquecendo-se” de que a sua candidatura e o seu partido também são financiados por estas empresas e que, quando no governo, também as favorecia em troca do financiamento. Ou não é isso que acontece em São Paulo, com os contratos superfaturados do governo paulista, do PSDB, com a multinacionais que prestam serviços de manutenção no Metrô?
Dilma fala que vai tomar todas as providencias “cabíveis”. Deveria começar por pedir demissão do cargo que ocupa. É responsabilidade dela a permanência deste ex-diretor à frente do setor de suprimentos da Petrobras de 2004 até 2012, quando foram feitas as negociatas agora denunciadas. E até agora a única providencia “cabível” que se viu por parte do governo foi a de tentar abafar as investigações sobre a Petrobras.
Marina sai em defesa do ex-governador Eduardo Campos, mostrando que a defesa da ética que faz é da mesma natureza da defesa que faz o PT e o PSDB. Aliás, é preciso registrar que, depois que se tornou a candidata oficial do PSB este partido e sua candidatura está recebendo mais “contribuições” das empresas do que seu antecessor na tarefa.
O financiamento das empresas aos partidos e políticos é um dos principais meios através do qual, o poder econômico controla a política e as eleições em nosso país. E quase todos os partidos entram na farra. Até o PSOL, lamentavelmente, já entrou nesta lógica. Já havia recebido recursos de grandes empresas em eleições anteriores e agora, mais uma vez está recebendo recursos de grandes empresas para financiar a candidatura de Luciana Genro e candidatos a governador do partido.
É preciso proibir o financiamento de campanhas eleitorais e de partidos pelas empresas!
É preciso punir corruptos com a prisão e confisco dos bens!
E é preciso fazer o mesmo com os responsáveis pelas empresas corruptoras: prisão e confisco dos bens!
Chega de bandalheira!

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Terceira via, só se for dos trabalhadores



Aécio, Dilma e Marina representam essa mesma política que privilegia banqueiros e empreiteiras

Nesta terça, 19, começa o horário eleitoral gratuito no rádio e televisão. É quando, para muitos, começa de fato a campanha eleitoral. Mostrando o caráter profundamente antidemocrático desse processo, a candidata à reeleição, Dilma Rousseff, terá mais de 11 minutos, seguido por Aécio Neves, com quatro minutos e meio. O candidato do PSTU, Zé Maria, terá, por sua vez, apenas 45 segundos para apresentar sua candidatura e o programa do partido.
O início da campanha na TV começa a menos de uma semana do trágico acidente que tirou a vida do candidato do PSB à presidência, Eduardo Campos. A morte do ex-governador de Pernambuco embaralhou completamente o cenário eleitoral, que caminhava para uma disputa polarizada entre o PT e o PSDB, se as eleições fossem para o segundo turno.
Com a entrada de Marina Silva em cena, tudo indica que a disputa irá para o segundo turno. A candidata filiada ao PSB para concorrer nessas eleições, já que o seu Rede não conseguiu legalização em tempo hábil, está sendo apontada como uma terceira via à polarização entre o PT e o PSDB. Marina Silva seria, assim, a expressão do 'novo' na política, a cara das manifestações de junho. Mas seria mesmo assim?
Que PT e PSDB representam essencialmente a mesma política é uma compreensão cada vez mais comum. Foi um dos aspectos das Jornadas de Junho, que expressou a repulsa aos políticos e às instituições de forma generalizada. Foi por isso ainda que Dilma sofreu, nesse período, um severo desgaste que, ao mesmo tempo, não se refletiu em transferência de intenção de votos para o PSDB. Ou seja, as pessoas não aprovam a candidata do PT, mas muito menos querem a volta da direita tradicional ao poder.
Quem é Marina?
Marina Silva, nesse contexto, aparece como uma cara nova, distante dos políticos tradicionais. Seu prestígio parte de sua trajetória política e pessoal, que guarda muita semelhança com a de Lula, e o seu discurso ambiental. Nas próprias manifestações que sacudiram o país em junho passado, Marina aparecia com destaque nas pesquisas para presidente.
Mas Marina representa as reivindicações colocadas pelas ruas? Apesar de a candidata estar sendo insuflada como a novidade nessas eleições, atraindo boa parte das pessoas descontentes com a política, ela representa o mesmo programa colocado aí pelas duas outras candidaturas.
Nem mesmo um programa ambiental coerente a candidata representa. Como ministra do meio ambiente do governo Lula, cargo que ocupou de 2003 a 2008, foi liberado o cultivo de sementes transgênicas no país. Sua gestão também atacou órgãos federais como o Ibama, que foi desmembrada e esvaziado para facilitar a concessão de licenças ambientais às grandes obras.
Um dos maiores ataques do período que esteve à frente do meio ambiente, contudo, foi a Lei de Gestão de Florestas Públicas que, na prática, aluga as florestas para a exploração privada. É a privatização de florestas inteiras para os lucros do setor privado. Esse é o significado da 'ecologia sustentável' que Marina defende, uma forma de colocar os recursos naturais à disposição do capitalismo.
Já o programa de governo encabeçado pela candidata segue a linha neoliberal que ela já apresentou nas eleições em 2010. Na época, Marina se cercou de economistas de mercado para defender medidas como a autonomia do Banco Central. Agora não é diferente. O principal elaborador do atual programa de governo do PSB, o economista Eduardo Giannetti, afirmou que "há uma forte convergência" entre o PSDB e o PSB. Sem meias palavras, ele defende "ajustes duros que restabeleçam a confiança", referindo-se a cortes no Orçamento e aumento nas tarifas de energia elétrica e gasolina.
Não é por menos que Marina tem por trás o apoio da Natura e do Itaú. Seu programa de governo não só não vai dar conta das necessidades e reivindicações colocadas nas ruas em junho, como aprofundar os problemas que levaram milhões às ruas. Com o ajuste fiscal, vai piorar a situação dos serviços públicos, e com o reajuste da gasolina o transporte público vai aumentar, assim como a inflação em geral.
Terceira via só operária e socialista
Tanto Aécio quanto Dilma e Marina representam, com poucas nuances, a mesma política que vem sendo levada a cabo há anos nesse país. Todos representam uma política econômica que privilegia banqueiros, empresas e empreiteiras e, por isso, não vão trazer qualquer tipo de mudança. Pelo contrário, esses candidatos já tem programado uma lista de ataques para 2015, tão logo sentem na cadeira de presente.
A única forma de mudar de fato e atender as reivindicações de junho, e também das greves que se sucederam após as mobilizações de rua, é através de uma outra política econômica, que rompa os bancos e empresas. Ou seja, que pare de pagar a dívida interna e externa aos agiotas internacionais (que representa hoje quase metade do Orçamento Federal), e invista maciçamente em saúde, educação e transporte públicos. Que reestatize as empresas privatizadas, anule os leilões do petróleo e se comprometa com uma Petrobras 100% estatal.
Uma terceira via à falsa polarização entre PT e PSDB teria que ser necessariamente uma alternativa dos trabalhadores, sem banqueiros ou patrões. É isso que a candidatura Zé Maria e Cláudia Durans apresenta.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

ZÉ MARIA RESPONDE A MAIS UM JORNALISTA DESONESTO E VENDIDO DA CLASSE DOMINANTE.


O jornalista Demétrio Magnoli publicou, na Folha de São Paulo deste sábado (23), o artigo “Zé Maria na telinha” onde se esmera em tentar desqualificar as ideias e práticas minhas e do partido em que milito, o PSTU (Veja texto neste link http://www.pstu.org.br/node/20942).

Conheci Demétrio há muito tempo, nos anos finais da década de 70 e início dos 80. Neste período eu militava na Convergência Socialista (que juntamente com outras organizações deu origem ao PSTU em 1994), e ele na OSI - Organização Socialista Internacionalista (que editava o jornal O Trabalho), organizações de bases ideológicas próximas naquele momento. Lutávamos contra a Ditadura Militar e, para além disso, contra o sistema capitalista que concentrava toda a renda e a riqueza do país nas mãos do grande empresariado, condenando a maioria da população a uma vida cada vez mais precária.
Defendíamos um programa operário e socialista que apontava para mudanças na estrutura econômica, social e política do país. Queríamos que, tanto os recursos naturais do Brasil como a riqueza produzida pelo trabalho do povo pudessem ser utilizados para assegurar vida digna aos que trabalham, ao invés de engordar os cofres dos bancos, multinacionais e grandes empresas que controlam a política e os governos em nosso país. Bem, a Ditadura acabou, mas o capitalismo segue de vento em popa. O país está cada vez mais rico, mas o povo trabalhador vive cada vez pior. Desculpe Demétrio, espero que não se ofenda por te fazer lembrar estas coisas, mas eu e o PSTU seguimos na luta contra este sistema.

Em seu artigo, de uma forma jocosa e desrespeitosa, Demétrio diz que estas ideias (que defendíamos juntos antes e sigo defendendo agora), não constituem um programa de governo e sim um convite a um “assalto ao céu”. Pois é, meu caro, naquela época eu e você defendíamos isso porque o programa aplicado pelos governos controlados pelos banqueiros e grandes empresários era de “assalto ao povo”. Isso não mudou e, apesar de não me surpreender, lamento que você tenha se somado aos que defendem este outro tipo de “assalto”.

Mas, indo ao problema mais sério do artigo, acho que os ataques (não são críticas porque não são sérias) que ele faz ao PSTU depõem contra o bom jornalismo. Ao tratar do Fundo Partidário, ou da necessidade da “desestatização dos partidos políticos”, Demétrio falta com a verdade aos seus leitores, afirmando que nenhum partido propõe acabar com o referido Fundo. O PSTU, desde que foi fundado, defende o fim do Fundo Partidário. Consideramos errado financiar partidos com dinheiro público, achamos que devem ser financiados pelas pessoas que os apoiam. E é assim que deve ser, pois é a única forma dos partidos terem independência política frente ao Estado que, para nós, é um princípio fundamental.

O PSTU é um partido socialista que organiza trabalhadores, trabalhadoras e jovens que querem lutar para mudar nosso país, para acabar com toda forma de exploração e opressão. É um partido ideológico. Por que Demétrio nos mistura às dezenas de partidos (pequenos e grandes) que se organizam para defender e fazer negócios escusos, alugar sua legenda e tempo de TV?

Apesar da distância ideológica que hoje nos separa, tenho dificuldade de acreditar que isso tenha sido feito por má-fé do jornalista. Então fico dividido entre duas alternativas: mau jornalismo ou falta de memória. O mau jornalista escreve sobre um assunto sem ter conhecimento sobre ele, conspirando contra o direito do leitor a uma informação minimamente fiel aos fatos. Ou falta de memória, porque Demétrio conhece nossa organização desde muitos anos, sabe como funcionamos e sabe muito bem que não dependemos de dinheiro do Estado para existirmos.

O que sim defendemos é o financiamento público das campanhas eleitorais. Somos contra o financiamento dos partidos e de suas campanhas pelas grandes empresas e bancos. Não só pela corrupção que se origina aí, mas também porque é assim que se estabelece a relação de lealdade do político eleito com as empresas que o financiaram e não com os eleitores que votaram nele.  Achamos que o Estado tem de definir uma quantia de recursos – igual para todos os partidos que inscreverem candidatos – para o financiamento de suas campanhas. Uma quantia pequena, pois tem de acabar com essa verdadeira indústria em que se transformaram as campanhas eleitorais, com agências publicitárias contratadas a peso de ouro para vender mentiras à população. E deve definir tempo igual nas redes de TV para cada candidato expressar suas opiniões. Só assim haverá um mínimo de democracia nas eleições.

Demétrio não diz, em seu artigo, o que defende. Por acaso defende o sistema atual? Onde os bancos, empreiteiras e multinacionais, em conluio com as grandes redes de mídia definem, de fato, quem é que vai ganhar as eleições? Será que é isso que ele chama de democracia?

Bem, talvez Demétrio preferisse mesmo que, ao respondê-lo, o chamasse de agente da CIA, da Santa Sé ou da Mossad. Não vou fazê-lo, porque não acho que ele seja isso. Demétrio é só mais um cara que mudou de lado, que se cansou de lutar contra a desigualdade e a injustiça, de lutar para melhorar a vida do povo. Resolveu cuidar apenas de si próprio, de melhorar a sua própria vida. Para isso mudou de trincheira e passou a servir àqueles que antes combatia, e o faz defendendo na mídia as ideias de seus patrões. Infelizmente, ele não está só nesta escolha, há vários outros por aí... Precisam provar lealdade aos novos senhores. Por isso precisam bater duro nos que continuam a defender as ideias que antes também defendiam. Fazer o que?
Como Demétrio sabe, eu não tenho espaço para defender minhas ideias no jornal onde ele escreve, por isso respondo pelas redes sociais (compartilhe, ajude a fazer esta resposta chegar até ele). Peço desculpas pela demora em responder, mas estava em uma tarefa militante muito importante todo este final de semana. Pois é, meu caro, eu não mudei. Continuo o mesmo sonhador e revolucionário que você conheceu quarenta anos atrás. Felizmente há cada vez mais gente como eu. E não desconfie, tenha certeza, serei um “ardoroso revolucionário” até o fim dos meus dias. Não vou abandonar o sonho de ver um dia este país livre de toda forma de exploração e de opressão e onde todos possamos viver plenamente como seres humanos e não como escravos dos bancos, das multinacionais e grandes empresas. Pena não poder dizer o mesmo de você.