sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Após marcha, encontro reúne 1200 e aprova continuidade da mobilização

Encontro Nacional de Lutadores e Lutadoras define “outubro de lutas”

Fotos: Romerito Pontes

Um dia após a marcha nacional que reuniu 15 mil pessoas na Avenida Paulista contra o governo, o PMDB e a oposição burguesa, um encontro realizado no Sindicato dos Metroviários fez a avaliação do ato e definiu a continuidade da mobilização e do esforço de constituir um pólo de classe a essa crise. O Encontro Nacional de Lutadores e Lutadoras teve a presença de 1200 participantes de 140 sindicatos e movimentos sociais e populares.
Marcha vitoriosa
Na quadra do sindicato dos metroviários completamente tomada, o cansaço dos ativistas, muitos deles de delegações que atravessaram o país, só não era maior que a alegria de ter participado de uma marcha vitoriosa. "Foi uma demonstração de ousadia política desse campo dos trabalhadores que estamos tentando construir", avaliou Sebastião Carlos, o Cacau, da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas.
O ato contou com delegações de 24 estados e do Distrito Federal, foi organizado por 40 organizações e reuniu parte expressiva dos setores mais dinâmicos da classe, como os metalúrgicos em luta contra as demissões, o funcionalismo e os trabalhadores dos Correios em greve, além do movimento popular de várias ocupações urbanas. "Isso aqui é uma vitória, não do setor A ou B, mas da classe trabalhadora", disse Cacau.
A proposta de resolução apresentada pela CSP-Conlutas no encontro parte do acúmulo de todo o processo de organização da marcha e aponta a realização de encontros e seminários nos estados, com a deflagração de uma grande mobilização em outubro, com protestos nos estados.
"Para nós foi um orgulho muito grande estar com companheiros metalúrgicos, professores do Paraná, o funcionalismo, os companheiros dos movimentos populares", relatou o dirigente do MÊS (Movimento de Esquerda Socialista, corrente do PSOL), Maurício Costa. "A sinalização que damos é que sim é possível ter uma alternativa que se diferencie de cima a baixo do governismo e da direita, essa é uma necessidade da classe trabalhadora", disse.
O entusiasmo pela marcha do dia anterior vinha acompanhado por uma preocupação de se fortalecer um terceiro campo dos trabalhadores à falsa polarização entre governo Dilma e a oposição encabeçada por setores do PMDB e PSDB. "Se é verdade que a falência do governo está custando o sangue dos trabalhadores, também é verdade que precisamos construir uma alternativa de poder", resumiu Neida Oliveira, da oposição do CPERS e da corrente Construção Socialista.
"Temos que transformar essa energia e alegria aqui em luta nos estados", defendeu o Presidente Nacional do PSTU, Zé Maria, defendendo a unificação das lutas e greves que estão ocorrendo mas reforçando que "os desafios colocados são mais políticos que econômicos", ou seja, não basta unificar essas lutas, é preciso dar um caráter político contra o governo. "Sem derrubar esse governo não há como derrotar o ajuste fiscal", disse,
Resolução
Entre os dez pontos reafirmados no encontro está o rechaço ao governo e à direita: "Nem governo do PT, nem os picaretas do PMDB e PSDB", em seguida "abaixo o ajuste fiscal e a Agenda Brasil" e "Ajuste nos banqueiros, que os ricos paguem pela crise", acompanhado por uma série de reivindicações como o fim das demissões, estabilidade no emprego, fim das privatizações e o fim do massacre dos povos indígenas.
A resolução ainda reforça o chamado aos setores da esquerda que não se incorporaram a esse processo. "Dirigimos-nos em especial às organizações dirigidas pelos setores da esquerda, como a CCT-Intersindical, o MTST, a Intersindical-Instrumento de luta, e também aos partidos como o PCB, PSOL e PSTU para nos somarmos nessa frente para lutar", diz o texto, que ainda faz um chamado às direções da CUT, Força Sindical e CTB, que rompam com o governo e que venham lutar contra esses ataques, rumo a uma Greve Geral nesse país.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

STF decide pela proibição das doações das empresas às campanhas eleitorais

PSTU foi o único partido a participar da ação movida pela OAB

STF/Divulgação

Terminou finalmente, na tarde dessa quinta, 17, o julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre a constitucionalidade das doações eleitorais das empresas. Por 8 votos a 3, o tribunal decidiu pela proibição do financiamento das empresas aos candidatos e partidos. De acordo com o julgamento, as doações de empresas já serão proibidas a partir as eleições de 2016.

O julgamento partiu de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) apresentada pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em 2011 questionando esse tipo de doação. Apesar de o julgamento ter começado em 2013, foi interrompido duas vezes. A última, em abril do ano passado, quando o ministro Gilmar Mendes, ao perceber que o fim das doações das empresas passaria, "pediu vistas" do processo, ou seja, utilizou-se de um mecanismo regimental para paralisar a votação até a medida ser aprovada no Congresso Nacional. Quando a Câmara finalmente aprovou a medida, Gilmar Mendes liberou seu voto para a continuidade do julgamento, que foi retomado nesse dia 16.

Corrupção legalizada
 
"A Operação Lava Jato mostrou como as doações das empresas são utilizadas para lavar dinheiro de propinas em grandes esquemas de corrupção" afirmou o advogado Bruno Alves que, em 2013, defendeu a proibição das doações empresariais no plenário do STF representando o PSTU (assista aqui a defesa), único partido que tomou parte da ação como "amicus curiae" (amigo da causa). Ou seja, além de representar uma forma de os bancos e empresas imporem seus próprios candidatos, que uma vez eleitos defenderão seus interesses, as doações também são uma forma direta de corrupção. "Trata-se de uma vitória importante da OAB, do PSTU e de todos e todas que defendem o fim desta bandalheira que é o financiamento pelas empresas das campanha eleitorais em nosso país"  disse o Presidente Nacional do PSTU, Zé Maria.

"O resultado dessa votação é expressão das jornadas de junho que questionaram esse regime político que só representam os ricos", afirma ainda Alves. "A Operação Lava Jato também vem mostrando como, tanto o PT, quanto o PSDB, são financiados pelas mesmas grandes empreiteiras que mantém contratos públicos, como na Petrobras, e como isso é fonte de corrupção", completa, citando ainda o caso do escândalo do trensalão em São Paulo, cujas empresas financiaram as campanhas do tucano Geraldo Alckmin.

O PT afirma ser contra o financiamento empresarial, mas não se moveu pela medida. A campanha de Dilma à reeleição foi a que mais recebeu dinheiro dos bancos e grandes empresas, tendo custado nada menos que R$ 350 milhões, em valores declarados à Justiça, sendo que a de Aécio custou R$ 216 milhões.

Contrarreroforma política
A decisão desta quinta no STF deve atravancar os planos do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que fez aprovar no Congresso, através de um Projeto de Lei, o financiamento das empresas. Caso Dilma sancione isso, a lei pode sofrer uma ação de inconstitucionalidade.
É difícil de acreditar que os bancos e empresas deixarão de financiar os seus candidatos, e eles contam com muitos instrumentos para isso. Mas a decisão desta quinta não deixa de ser um vitória. Contudo, ainda tramita no Congresso uma contrarreforma política que, entre outras medidas, tira da TV partidos de esquerda como o PSTU, PCB e PCO, além de tirar o PSOL dos debates, tornando ainda mais antidemocráticas as eleições.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

PSTU realiza 4º Encontro de Negras e Negros: “A Revolução no Brasil será negra, ou não será!”

Com esse slogan, militantes do PSTU debateram um programa contra o racismo e todas as formas de opressão e exploração da classe


Entre os dias 4 e 7 de setembro, os negros e negras do PSTU deram um passo importantíssimo na batalha contra todas as opressões e o racismo, no 4º Encontro de Negras e Negros do partido. No início do encontro foi eleita uma “mesa de honra” presidida simbolicamente por Max Marreiro, militante negro do PSTU recém-falecido e imortalizado junto a Zumbi, Dandara, Luiza Mahin, João Candido, Amarildo, DG, Cláudia, Trotsky, entre tantos outros, pela luta incansável contra o racismo e pelo socialismo no Brasil e no mundo.
Foram longos e importantes debates sobre as tarefas dos revolucionários contra o mito da democracia racial, encarnada e sutilmente utilizada nas políticas do Estado, na exploração dos patrões e infelizmente também entre a esquerda e a própria classe. E que sustenta todo racismo contra os homens e mulheres todos os dias no Brasil.
Um programa marxista, classista e revolucionário contra todas as formas de racismo
 As elaborações provenientes do marxismo revolucionário constituíram a grande base teórica das discussões programáticas para revolução brasileira. Principalmente as discussões polêmicas de Trotsky e Cannon sobre o papel da luta negra nos países desenvolvidos e nas colônias e semi-colônias do imperialismo. Passando pelas teses de Moreno sobre a questão colonial na America Latina e a necessidade das tarefas democráticas aos povos originários e escravizados.
O encontro foi muito importante pela questão do rearme programático da nossa militância”, afirmou Wilson Silva, militante histórico contra o racismo, criticando o quanto o tema foi omitido pela esquerda durante um longo período. “Discutimos desde as contribuições de Marx, que dizia que o capitalismo deu origem ao racismo através da necessidade da exploração da escravidão, e ele dizia ainda que o trabalhador branco nunca vai ser livre enquanto o trabalhador negro não for livre”, relata.
As tarefas para o conjunto da classe nos dias de hoje também foram debatidas, como a reparação aos mais de 350 anos de escravidão, a luta pela posse das áreas quilombolas e indígenas, o genocídio da juventude negra, a identidade cultural da periferia, a intolerância religiosa para as religiões de matrizes africanas, redução da maioridade penal, as lutas da construção civil, metalúrgicos, na mineração, e entre os terceirizados das obras do PAC e da Petrobrás.
Também foi discutido o aumento da identidade de raça da classe trabalhadora e da juventude nos últimos anos, ainda mais na conjuntura de crise econômica e política atual, e os ataques a classe trabalhadora pelo governo Dilma (PT), que ainda cooptou boa parte das direções do movimento negro e as pautas negras do povo pobre da periferia.
A construção do programa de raça e classe, e uma direção revolucionária, são necessárias e urgentes para romper com as ideologias burguesas e de colaboração de classes, particularmente com teorias pós-modernas que apontam saídas individuais e puramente raciais, e combater toda exploração capitalista da classe e da juventude.
Esse encontro é um marco histórico, foi muito acertado a gente ter pegado o debate em torno do mito da democracia racial, o que evidentemente se reflete em nosso partido, não estamos imunes a isso, mas é pra gente convencer a nossa militância, negra e também não negra, de que é necessário que esse partido tenha uma política pra ganhar o melhor do proletariado negro, que é segundo maior proletariado negro do mundo”, afirma Hertz Dias, do Movimento Quilombo Urbano do Maranhão.
As mulheres negras e a luta contra o machismo e racismo
Outro ponto alto do encontro foi o debate sobre a opressão machista, homofóbica e racista às mulheres negras. Identificar as diferentes formas das expressões de racismo contra as mulheres é fundamental para entender que, para além da luta implacável contra o machismo, os revolucionários devem elaborar um programa específico para as mulheres negras que, perante a exploração capitalista, são ainda mais exploradas e agredidas pelo racismo.
“Vamos levar o combate pra fora contra esse mito da democracia racial e esse racismo que se expressa de diversas formas, e internamente também estamos dando uma batalha forte pra potencialização da mulher negra, tanto no partido quanto na sociedade”, afirma Cláudia Durans, professora da Universidade Federal do Maranhão e que compôs a chapa à presidência da República pelo PSTU como vice.
Para se ter uma ideia, segundo a PNAD/IBGE de 2012, entre as mulheres, as negras somam 52%, ou mais de 50 milhões de pessoas, e sofrem muito mais com o racismo.  Os salários são quase duas vezes menores que as mulheres brancas, estão nos empregos mais precarizados, no trabalho informal ou nas funções de empregadas domésticas. Sofrem com a falta de serviços públicos, como creche, uma vez que são muitas vezes mãe solteiras e a única fonte de renda da família.
E foi ainda resgatado o papel central que as mulheres negras tiveram nas lutas dos negros e da classe, na organização dos quilombos e revoltas negras. Tendo à frente mulheres como: Aqualture, Teresa de Quariterê e Dandara que chefiaram o Quilombo de Palmares, em pé de igualdade com Zumbi. Junto a Luiza Mahin na revolta dos Malês, são exemplos de mulheres que devemos reivindicar. Esses exemplos tem que orientar e dar centralidade das mulheres negras na direção dos avanços e das resistências contra todas as formas de opressão e exploração da classe.
Enegrecer nossas lutas contra todas as formas de opressão e exploração

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

“Vai ser uma manifestação contra o governo e a falsa alternativa do PSDB e PMDB”

O Opinião Socialista entrevistou Sebastião Carlos, o “Cacau”, da Secretaria Executiva Nacional da CSPConlutas, sobre a Marcha Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do dia 18 de setembro em São Paulo.No bate papo, Cacau fala sobre os objetivos, sobre como está o preparativo para a marcha nos estados e sobre o Encontro dos Lutadores e Lutadoras que ocorrerá em São Paulo no dia seguinte à marcha.

Opinião Socialista – Qual o objetivo do ato do dia 18 de setembro?
Cacau – A manifestação será contra o governo Dilma e sua política econômica e, também, contra as falsas alternativas do PSDB e do PMDB. Nesse sentido, é um contraponto aos atos dos dias 16 e 20 de agosto que defenderam a alternativa do PSDB de um lado, e o governo do PT de outro. Está sendo construída nos estados, nos locais de trabalho, nas escolas, em bairros populares e movimentos sociais. Nesse ato, vamos levantar as bandeiras mais sentidas pelo povo pobre e trabalhador: o desemprego, o ajuste fiscal, os serviços públicos, a moradia, as privatizações, a violência na periferia, o tema da dívida pú- blica, dos direitos da juventude, das mulheres, negros e negras e LGBTs, dentre outros.
Opinião Socialista – Como estão os preparativos no país para o dia 18?
Cacau –
 Estão acontecendo plenárias sindicais e populares em diversos estados. Muitas organizações locais e movimentos sociais estão se incorporando. São sindicatos da base da CUT,da Intersindical, de outras centrais, movimentos populares urbanos e coletivos da juventude. Milhares de jornais foram impressos. Só em São Paulo,foram cerca de 300 mil. Foi feito um cartaz nacional, e vamos colocar carros de som rodando para convocar a marcha, além de colar “lambe-lambes” nas ruas das cidades. Há uma campanha forte nas redes sociais, na internet, que deve ser intensificada nos próximos dias. Estão se confirmando caravanas de todas as regiões. Da região Norte, por exemplo, vamos ter, só de Belém, mais de 100 caravaneiros. Em Manaus, vai acontecer uma grande manifestação no dia, organizada pelo Luta Popular e outros movimentos de luta por moradia. Todo o Nordeste está se organizando. Só do Ceará, virão 100 caravaneiros. Mas de onde mais podemos trazer manifestantes é do Sudeste e do Paraná, pela proximidade. De Minas Gerais, pretendemos trazer 30 ônibus e, no Rio de Janeiro, foi feito um plano para trazer 23 ônibus. Os trabalhadores dos Correios devem estar em greve no período da marcha. Vamos trabalhar para ter uma grande representação da categoria.
Opinião Socialista – No dia seguinte ao ato, haverá um encontro dos lutadores e lutadoras. O que se pretende discutir neste encontro?
Cacau –
 São três os objetivos principais. O primeiro é fazer uma avaliação política inicial da marcha e definir a continuidade da mobilização. Vamos discutir as iniciativas nos estados, as mobilizações, greves e campanhas salariais em curso e pautar a necessidade da greve geral. O segundo, é fazer avançar a construção desse campo de luta dos trabalhadores, que deve ser classista, de oposição ao governo e também de oposição ao pólo burguês de direita. Uma alternativa que expresse, desde já, as lutas e mobilizações que ocorrem por todo o país. E, em terceiro lugar, possibilitar o  dos ativistas dos mais diversos setores. Em São Paulo, nos dias 18 e 19, vamos nos encontrar com parte importante da vanguarda lutadora do país.
Ato está sendo convocado por 40 entidades
A marcha do dia 18 está sendo convocada por cerca de 40 organizações sindicais, populares, coletivos estudantis, de luta contra as opressões, correntes sindicais e partidos políticos. Além da CSP Conlutas e diversas entidades nacionais a ela filiadas, a Confederação Nacional dos Aposentados (Cobap), a Federação dos Trabalhadores da Seguridade Social (Fenasps), a Federação dos Assalariados Rurais de São Paulo (Feraesp) também convocam o ato. Na última semana, a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) também decidiu pela participação. O PSTU, o PCB, setores do PSOL e outras organizações políticas também convocam a marcha. A central Intersindical informou que não pretende participar, pois não está a favor de um ato claramente delimitado contra o governo Dilma. Já o MTST ainda não respondeu se participa.
Publicado no Opinião Socialista 504

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Black Alien está de volta

Onze anos depois do lendário "Babylon By Gus", rapper lança segundo álbum solo “No Princípio Era o Verbo”


Após mais de uma década do lançamento do disco que já nasceu clássico, "Babylon By Gus", Gustavo de Almeida Ribeiro, o Black Alien, ou Mr. Niterói, está de volta. E em grande estilo. Nesse dia 3 de setembro, o rapper que fez história no Planet Hemp durante os anos 1990, lançou seu esperado segundo álbum, "No Princípio era o Verbo", marcando seu inconfundível estilo de versos criativos e longe do lugar comum.

A longa espera foi marcada pela ansiedade e também pela tensão. Foram 11 anos em que Black Alien desceu ao inferno e, tal qual uma Fênix rediviva, renasce das cinzas com um grande disco. Foram anos de luta contra o vício e o alcoolismo marcada por internações e sucessivas recaídas. No final de 2013, Gustavo parecia que ia, enfim, retornar à ativa. Lançou um projeto de "crowfunding" (financiamento coletivo na Internet) para a gravação do novo disco, recomeçou a temporada de shows, mas seu aspecto frágil e abatido ainda assustava. E um ano depois se internava novamente numa clínica de recuperação onde ficaria nos seis meses seguintes.

"No Princípio Era o Verbo" foi escrito quase que totalmente dentro da clínica. Em meados de 2015, Mr Niteroi saía para entrar em estúdio e finalizar seu trabalho. E o resultado não deixa margem para dúvidas. A doença de Alien pode ter debilitado seu corpo, mas a mente continua afiada, fazendo versos contundentes e rimas imprevisíveis.

Criado na periferia de São Gonçalo, Gustavo começou sua carreira no SpeedFreaks, nome do projeto de Cláudio Márcio de Souza Santos, formando a dupla Black Alien & Speed. Mas se tornou nacionalmente conhecido quando subsituiu BNegão no vocal do Planet, durante a turnê de "Usuário", disco de estreia da banda que balançou o país há 20 anos.

Após a fase do Planet, Gustavo se reinventou e lançou aquele que se tornaria um dos melhores, se não o melhor, disco de rap já gravado no país: "Babylon By Gus, Vol.1 o Ano do Macaco", cravando como hit praticamente todas as faixas do álbum. Mas vai se decepcionar quem esperar o Black Alien de onze anos atrás. Temos agora o disco de um homem maduro, tentando ficar bem consigo próprio e o mundo, como expressa o refrão do single "Terra": "Eu vou ficar, eu vou ficar, eu vou ficar bem". Reflete a vida de Alien hoje, um tanto reclusa em meio a uma paisagem bucólica, longe da agitação dos grandes centros.

Mas, em meio às canções de amor, a crítica social ainda está lá, como não poderia deixar de ser. Como no início do petardo "Rolo compressor": "Você me conhece doutor?/Se não conhece faz sentido/Eu sou o rolo compressor/Em favor do povo oprimido/Sou o rolo que amassa/O opressor do meu povo ".

Será essa o retorno definitivo de Black Alien? Esperamos que sim. Como dizem os versos de Terra,"Hoje meus amigos/ eu lhes trago boas novas/ Diga ao povo que eu fico/ a nova aurora é agora".


terça-feira, 1 de setembro de 2015

É possível reformar o Estado brasileiro e seu regime político?

Quinto artigo da série “Crise e degeneração do PT”. O objetivo é oferecer ao nosso leitor uma análise sobre a história e as origens da falência do projeto petista

 

As revelações da delação premiada de Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, caíram como uma bomba para o governo e para o PT. Pessoa declarou, entre muitas outras coisas, que pagou propina às campanhas de Lula, de Dilma e de vários políticos do PT.
A direção do PT vem se defendendo, dizendo que a corrupção é provocada pelo financiamento das campanhas eleitorais por grandes empresas privadas. Isso corromperia todos os partidos e o regime político como um todo, não só o PT. Por isso, propõe uma reforma política e defende o financiamento público das campanhas eleitorais e o fim do financiamento pelas empresas.
É óbvio que o regime político brasileiro é um dos mais podres do mundo. As grandes empresas compram os partidos e candidatos com suas doações que, na verdade, são empréstimos cobrados mais tarde.
Mas a podridão da política brasileira não justifica, de jeito nenhum, a corrupção do PT. Bastaria a direção desse partido recusar as doações de empresas e fazer suas campanhas eleitorais com contribuições e campanhas financeiras de militantes e simpatizantes do partido, como fazia em seus primeiros anos.
No entanto, a discussão é muito mais profunda. O problema é se essas reformas (ou outras) significariam uma mudança no Estado e no sistema político brasileiro a favor dos trabalhadores e do povo pobre. Mais ainda, se com essas mudanças esse Estado poderia ser utilizado pela classe trabalhadora e pelos setores oprimidos a favor dos seus interesses.
A direção do PT acredita que sim. Em sua visão, Estado e regime seriam instituições progressivas que devem ser defendidas e reformadas apenas em alguns aspectos negativos. Antes mesmo de eleger Lula presidente do país, o PT já assumia essa postura sob a justificativa de defender o Estado de Direito. Isso se expressou na defesa que a direção do partido faz de instituições como o Congresso Nacional, o Judiciário, a Polícia Federal e as Forças Armadas.
Seus dirigentes podem pregar algumas mudanças no regime, como a reforma política, mas pretendem governar o Estado tal como é. Essa é a sua estratégia.
PODER E OPRESSÃO
>> Estado é uma máquina para garantir a exploração
O problema é que o Estado brasileiro, como todo Estado burguês capitalista, é um instrumento de opressão para garantir a dominação de uma classe exploradora sobre outra classe explorada. Basta ver que a democracia que temos só garante os direitos dos ricos. Os pobres têm os seus direitos constantemente violados.
Nas eleições, no Congresso, nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras de Vereadores, prevalece o poder econômico. Empresas compram os políticos para que aprovem leis de seu interesse sobre mineração, terras, terrenos urbanos, e retirem direitos dos trabalhadores.
Nos governos estaduais, em prefeituras e na presidência da República, vigora um sistema permanente de corrupção. As empresas pagam para ter contratos de obras e prestação de serviços a preços superfaturados. Todos os partidos se beneficiam, e as empresas muito mais. O Judiciário garante a impunidade para os ricos e castiga os trabalhadores e demais setores explorados que lutam por salários, terra e moradia.
A polícia garante a propriedade dos ricos, atacando e desalojando os que ocupam terrenos urbanos e terras porque precisam de um lugar para morar ou plantar. As PMs implantam um regime de terror contra a população pobre e negra das favelas, executando milhares de jovens por ano.
A repressão policial se apoia nas Forças Armadas, que mantêm a mesma estrutura da ditadura. Nenhum dos militares que torturaram e assassinaram foi punido, pois as Forças Armadas protegem os que aplicaram sua política de Estado contra seus opositores políticos.
Os trabalhadores ainda vivem sob uma ditadura dentro das empresas: não há liberdade de expressão, nem de organização sindical em seus locais de trabalho. Os protestos e greves são punidos com demissões, como mostram os 42 ativistas demitidos do Metrô de São Paulo pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB).
O sistema eleitoral corrupto simplesmente está estruturado para manter essa situação, garantindo que os mesmos partidos (PMDB, PSDB, DEM e outros) continuem no poder. Não é por acaso que a reforma política que estão fazendo é para impor cláusulas de barreira aos partidos de esquerda e impedir que os msmos cresçam.
As televisões e rádios, que são concessões do Estado, defendem esse sistema. Se agora denunciam a corrupção, é simplesmente porque estão em oposição ao governo do PT e querem desgastá-lo.
A conclusão é evidente: este Estado e este regime político são uma máquina de exploração, opressão e corrupção que não podem ser reformados. A libertação da classe trabalhadora e de todos os setores oprimidos só é possível destruindo este monstro.
PAGANDO CARO
>> O PT na defesa do Estado e do regime corrupto
 
Ao defender o Estado e o regime político brasileiro, a direção do PT causou um enorme dano à classe trabalhadora. Primeiro, porque, ao fazer alianças com partidos corruptos e de direita, como PMDB, PDT e PP, ajudou instituições desprestigiadas como o Congresso e os políticos desses partidos a continuarem no poder. Além disso, deixou de denunciar essas instituições. Ficou para trás a época em que Lula classificava o Congresso como uma instituição “com mais de 300 picaretas”.
Pior, o PT defendeu as instituições mais repressoras do Estado: as Forças Armadas e a polícia. Os governos do PT não fizeram nada para julgar os militares acusados de crimes durante o regime militar e reservaram à Comissão Nacional da Verdade um papel meramente decorativo. E quando tiveram as PMs estaduais e a Polícia Federal sob seu comando, ordenaram a repressão aos movimentos sociais, como foi o caso da atuação da Força Nacional ao reprimir as rebeliões dos trabalhadores das hidroelétricas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte.
Essa defesa do Estado burguês é tão desastrosa que, agora, a burguesia utiliza essas mesmas instituições, como a Polícia Federal, o Ministério Público e o Judiciário, para atacar e enfraquecer o próprio PT.
Por fim, um dos aspectos mais negativos da ação do PT foi levar a classe trabalhadora a acreditar que não existe nenhuma alternativa a esse Estado e ao regime político existente. Muitos companheiros de luta, alguns que apoiam o PT e, inclusive, outros que já não acreditam nesse partido dizem que o PT não podia ter feito nada diferente, já que não é possível derrubar esse sistema. Nada mais falso.
OLHAR PRA TRÁS
>> O que a história nos ensina
 
Revoluções socialistas, em diferentes momentos da história, destruíram estados burgueses e expropriaram as fábricas e os negócios da burguesia. Foi assim na Rússia, em 1917, na China, em 1949, em Cuba, em 1959, e em vários outros países. Apesar de o capitalismo ter sido restaurado nesses países, essas revoluções deixaram importantes lições sobre que tipo de Estado e regime político os trabalhadores necessitam e podem construir. Queremos destacar dois exemplos.
A Comuna de Paris, em 1871, mostrou que os trabalhadores podem construir seu próprio Estado, em que os funcionários não tenham privilégios e não recebam salários maiores que os de um operário especializado. A Comuna adotou, também, pela primeira vez, o critério de que os mandatos dos representantes do povo seriam revogáveis a qualquer momento.
Na Revolução Russa de Outubro de 1917, surgiu, pela primeira vez, o regime político dos Soviets, que eram Conselhos de deputados operários e camponeses. Os deputados eram eleitos somente pelos trabalhadores e pelos setores populares. Burgueses e donos de terra não podiam eleger nem ser eleitos e, portanto, nem usar seu poder econômico. Os Soviets nomeavam um governo de trabalhadores e camponeses.
O dirigente da Revolução Russa, Lenin, dizia: “A teoria de Marx deixou clara a verdadeira tarefa de um partido socialista revolucionário: não inventar planos de reestruturação da sociedade, nem ocupar-se de pregar aos capitalistas (…) sobre a necessidade de melhorar a situação dos operários, (…) mas sim organizar a luta de classe do proletariado e dirigir essa luta, que tem como objetivo final a conquista do poder político pelo proletariado e a organização da sociedade socialista”. Essas palavras estão mais atuais do que nunca para quem quer construir um partido que defenda de verdade os interesses dos trabalhadores.