quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Voyager 1: A conquista do cosmos e a promessa do comunismo

Henrique Canary do Site do PSTU

Sonda Voyager 1, lançada em 1977, entrou numa zona desconhecida do Sistema Solar, onde pode começar a sofrer influência de outras estrelas. Mas o que revela a viagem da Voyager? O que a humanidade pode ver por trás das dezenas de milhares de fotografias enviadas pela sonda desde o início de sua missão?

"A importância da foto reside no fato de mostrar a Terra como ela realmente é: uma parte infinitamente minúscula do Universo"
 
Dito assim, não parece grande coisa. Mas é. E das maiores. Um objeto construído pelas mãos do homem, num tempo em que não havia telefones celulares, nem internet, em que os computadores mais potentes tinham a memória menor do que a de um disquete velho – um objeto desta natureza se encontra agora a uma distância de cerca de 19 bilhões de quilômetros da Terra, seguindo um curso perfeitamente traçado há quase 40 anos, a uma velocidade de cerca de 62.000km/h (17km/s!), em estado completamente funcional, enviando até hoje fotos e dados de todos os eventos e corpos celestes que encontra em seu caminho.
 
Espera-se que as baterias nucleares da Voyager 1 funcionem até pelo menos 2020, quando todo e qualquer contato com a Terra deve ser perdido para sempre. Mas isso não deterá a viagem da sonda. Se a Voyager 1 não esbarrar em nenhum obstáculo físico (como detritos, asteroides ou cometas), em apenas 40.000 anos ela cruzará o sistema estelar AC+79 3888, na constelação de Girafa, uma constelação vista somente do hemisfério norte. No mesmo período, sua irmã gêmea, a Voyager 2 (lançada também em 1977, mas com um curso um pouco distinto da Voyager 1), estará cruzando o sistema estelar Ross 248, na constelação de Andrômeda; e em cerca de 296 mil anos (uma fração de segundo no relógio cósmico!), entrará triunfante no grandioso sistema de Sirius A, a estrela mais brilhante do céu noturno, localizada na constelação de Cão Maior.
 
Mas o que revela a viagem da Voyager? Que conclusões de caráter social, político e econômico podemos tirar desta fantástica jornada? O que a humanidade pode ver por trás das dezenas de milhares de fotografias enviadas pela sonda desde o início de sua missão? Eis uma questão que deveria interessar a todo trabalhador consciente, lutador social ou simplesmente humanista sincero.
 
O Projeto Voyager
O Projeto Voyager (“viajante”) consiste fundamentalmente no envio de duas sondas espaciais para uma missão em duas fases. Primeiramente, a exploração do Sistema Solar Exterior, onde se encontram os gigantes gasosos: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, bem como suas numerosas luas e anéis. Mais tarde, uma vez cumprida esta primeira fase, as sondas deixariam o Sistema Solar e passariam a explorar o espaço interestelar, ou seja, o vazio existente entre dois ou mais sistemas estelares. O ano de lançamento (1977) foi especialmente escolhido devido a um raro alinhamento dos grandes planetas gasosos, o que permitiria a ambas as sondas passar perto de todos eles, sem alterar significativamente sua trajetória.
 
A Voyager 1 passou por Júpiter em 1979 e por Saturno em 1980. Depois disso, deveria visitar Plutão (naquela época considerado também um planeta), mas sua trajetória foi alterada para que ela pudesse observar mais de perto Titã, a grande lua de Saturno. Já a Voyager 2, além de Júpiter e Saturno, visitou também Urano e Netuno, mas isso atrasou um pouco sua viagem e, por isso, ela ainda se encontra dentro do Sistema Solar, embora já se encaminhe para deixá-lo, seguindo o rastro de sua irmã.
 
Para azar dos militares norte-americanos, o lançamento das sondas Voyager ocorreu dois anos depois da derrota dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã. A opinião pública norte-americana se encontrava naquele momento absolutamente hostil a qualquer iniciativa militar por parte do governo, o que permitiu que os objetivos da missão permanecessem estritamente dentro dos marcos da ciência e do conhecimento.
 
Aos longo dos 36 anos que já dura a missão, as sondas Voyager enviaram à Terra dezenas de milhares de imagens e dados essenciais para o conhecimento mais profundo de nosso Sistema Solar (somente de Júpiter e suas luas, foram enviadas 19 mil fotografias!). Descobriu-se, por exemplo, que a famosa mancha vermelha arredondada na superfície de Júpiter é uma tempestade do tamanho da Terra e que assola o planeta há pelo menos 300 anos; que Saturno possui os mais devastadores ciclones do Sistema Solar, com ventos que chegam 5.000km/h; que Urano, assim como a Terra, possui movimento de rotação, mas está “deitado” sobre seu próprio eixo, o que faz com que uma parte do planeta esteja sempre virada para o Sol, e a outra – sempre na escuridão; que Titã, uma das luas de Saturno, possui hidrocarbonetos (uma família de compostos químicos combustíveis, similares ao petróleo) sob sua atmosfera, além de nitrogênio na própria atmosfera, o que poderia criar condições favoráveis ao surgimento da vida no satélite. Descobriu-se também que Netuno possui oito e não dois satélites, como se acreditava até então; e que Io, uma das luas de Júpiter, possui inúmeros vulcões ativos, ou seja, é um astro geologicamente tão vivo quanto a Terra, e muitas outras descobertas.

Em uma palavra, as sondas Voyager 1 e Voyager 2 revolucionaram para sempre nossa compreensão sobre o Sistema Solar e coletaram peças essenciais do enorme quebra-cabeças que tenta explicar a origem da Terra, da vida e do próprio Universo. Mas isto era apenas a metade de sua missão...
 
O disco de ouro da Voyager
Ora, se as sondas Voyager 1 e Voyager 2 estavam destinadas a vagar para sempre na imensidão do Cosmos, por que reduzir seu papel à mera coleta de dados? Por que não utilizá-las para mandar uma mensagem de toda a humanidade a uma possível civilização alienígena, habitante de algum dos sistemas estelares que as sondas iriam algum dia atravessar? Assim, a exemplo do que já havia sido feito com as sondas interplanetárias Pioneer 10 e Pioneer 11, lançadas na primeira metade da década de 1970, e que levavam consigo placas de ouro com imagens de seres humanos e um mapa da localização da Terra no Sistema Solar, decidiu-se lançar com as sondas Voyager 1 e 2 uma série de fotos, sons, mapas e mensagens.
 
Mas, desta vez, optou-se por mandar muito mais informações do que havia sido feito com as sondas Pioneer. Ao invés de uma placa com alguns poucos desenhos, foi enviado um disco de ouro, com centenas de informações inseridas analogicamente, como em um LP, além das instruções sobre como recuperar as informações contidas no disco.
 
O responsável por selecionar as imagens e sons a serem enviados ao espaço foi o cientista norte-americano Carl Sagan. Sagan ficou famoso no mundo inteiro no início da década de 1980 ao criar e apresentar a série televisiva “Cosmos”, um clássico da divulgação científica, e que já foi vista por mais de 500 milhões de pessoas. No início de sua carreira, Sagan e sua esposa, Ann Druyan, também cientista, costumavam contrabandear exemplares da História da Revolução Russa de Trotsky para dentro da URSS “para que nossos colegas pudessem conhecer um pouco sobre seus próprios primórdios políticos”, costumava explicar. Sagan talvez não fosse trotskista, mas era sem dúvida um humanista e uma alma sensível. Com ele à frente do projeto, havia uma boa chance de que a mensagem enviada às estrelas vizinhas seria, ao menos, relevante.
 
Obviamente, Sagan não era completamente livre em sua escolha e a realidade política influenciou a seleção. Ele já havia sido criticado nos meios conservadores por ter gravado a imagem de um homem e uma mulher nus na placa de ouro enviada nas sondas Pioneer 10 e 11. Não se sabe bem com que lógica, mas alguns políticos norte-americanos consideraram que isso seria ofensivo aos costumes e à moral dos alienígenas, e exporia a humanidade inteira ao ridículo. Assim, a NASA proibiu Sagan de incluir qualquer imagem contendo nudez no disco de ouro da Voyager, além de obrigá-lo a inserir uma mensagem gravada pelo então presidente dos EUA, Jimmy Carter, que só disse boçalidades e expôs a humanidade a um ridículo muito maior do que o nu frontal das sondas Pioneer.
 
Entre os muitos materiais selecionados por Sagan estavam:
 
Imagens: Terra vista do espaço, estrutura do DNA humano, anatomia humana, óvulo fertilizado, feto, família da Malásia, dunas de areia, outono e queda de folhas, flores, golfinhos, escola com crianças, sapo, homem velho com cachorro e flores, atletas soviéticos, festa chinesa, hora do rush na Índia, trem, pôr do Sol com pássaros, violino com partitura, pescadores portugueses;
 
Sons: saudações em 55 idiomas, terremoto, grilo, sapo, batimentos cardíacos, risos, ovelhas, ônibus, mulher beijando seu filho;
 
Músicas: folclórica de diversos países, clássica de vários compositores, e a melhor de todas: “Johnny B. Goode”, de Chuck Berry.
 
Sagan queria ainda incluir a canção “Here comes the Sun”, dos Beatles e chegou a entrar em contato com eles para pedir autorização, no que foi prontamente atendido, mas a gravadora EMI, detentora dos direitos autorais, não permitiu a inclusão da música, pois entendeu que a propriedade intelectual era um conceito válido para todo o Universo. Felizmente, este fato jamais será conhecido da civilização que porventura venha a encontrar a Voyager um dia, e com isso nossa espécie será poupada desta vergonha cósmica...
 
Que grandioso e emocionante é apenas pensar na remota possibilidade de que um dia uma civilização alienígena venha a encontrar o disco de ouro da Voyager e descubra nele os hábitos, a beleza e as imperfeições de uma civilização antiga que um dia viveu em um minúsculo planeta rochoso que orbitava uma estrela nada especial, perdida na periferia da galáxia! Se isso acontecer (por motivos óbvios, as chances são mínimas), será algo muito mais importante do que todo o conhecimento acumulado pela humanidade ao longo dos séculos até hoje, conhecimento este, que foi tremendamente enriquecido com as missões da Voyager 1 e 2.
 
O pálido ponto azul e a grandeza do espírito humano
No dia 14 de fevereiro de 1990, quando a Voyager 1 já havia cumprido a primeira fase de sua missão e se encontrava a 6,4 bilhões de quilômetros de distância da Terra, Carl Sagan, ainda no comando do projeto, teve uma ideia ao mesmo tempo singela e genial: virar a câmera da sonda em direção à Terra e tirar uma foto. O comando correspondente foi enviado à Voyager, que realizou a tarefa com perfeição. Na imagem obtida, a Terra aparece como um pequeno ponto azul claro na imensidão infinita. Devido a um efeito óptico involuntário, um raio solar parece “sustentar” a Terra no espaço, dando ainda mais beleza à imagem, que logo se tornou histórica. Segundo o próprio Sagan, a importância da foto reside no fato de mostrar a Terra como ela realmente é: uma parte infinitamente minúscula do Universo e, ao mesmo tempo, tudo o que temos.
 
Somos uma espécie jovem e inexperiente, e certamente nos encontramos ainda na infância de nosso desenvolvimento. Há pouco mais de 50 mil anos mal dominávamos o fogo e vivíamos ainda em cavernas. Há 5 mil anos, não líamos nem escrevíamos. Há apenas 150 anos, não sabíamos voar e, há 30 anos, não tínhamos computadores em casa. Mas o espírito humano sempre foi maior do que os acampamentos que montamos, do que os oceanos que nos cercavam, do que os abismos que se abriam. Agora, este mesmo espírito se provou maior do que a maior estrutura com a qual já tivemos contato direto: o Sistema Solar. E uma parte de nós viaja agora muito além do que qualquer navegador jamais sonhou.
 
Não, o sucesso da Voyager não é a prova da superioridade do capitalismo. Tal superficialidade seria digna de um colunista da Veja. Ao contrário: é a prova de que o capitalismo, apesar de toda sua força destruidora, não será capaz de deter o espírito humano. Um novo mundo, que já habita as entranhas do velho, há de nascer.
 
A conquista do Cosmos e o reino da liberdade
Marx imaginou o comunismo como uma sociedade em que o altíssimo nível de desenvolvimento da técnica, associado a uma organização racional da produção e distribuição das riquezas, permitiria ao homem produzir com folga todo o necessário para o bem-estar de todos os habitantes do planeta. Assim, a produção industrial e o próprio trabalho não seriam determinados pela necessidade imediata, pois esta já estaria satisfeita com algumas poucas horas (ou talvez minutos) de trabalho diário de cada cidadão. O trabalho e a produção se tornariam, assim, atividades livres, formas de expressão de nossa natureza humana, meios de socialização e integração de todos os membros desta imensa associação de produtores livres chamada sociedade comunista. A humanidade deixaria assim o “reino da necessidade” e entraria no “reino da liberdade”, liberdade esta entendida não como o bel-prazer individual, mas como a satisfação consciente de todas as necessidades.

Nos anos 1980, o trotskista argentino Nahuel Moreno afirmou que esta lei geral de Marx sofria uma inflexão particular, devido ao fato de que, por uma série de processos naturais, a Terra não poderia sustentar indefinidamente a espécie humana. Isso colocava a conquista do Cosmos como uma necessidade real para a humanidade, embora realizável, evidentemente, apenas em um futuro distante. Assim, “o reino da liberdade” de Marx se defrontaria ainda com uma última necessidade: a de encontrar um novo lar para seus habitantes (é sabido, por exemplo, que dentro de algumas centenas de milhares de anos, o aumento da atividade natural do Sol tornará a vida na Terra insustentável, independentemente de nossos cuidados com o clima).
 
Mas a Terra ainda é o único planeta habitável que conhecemos. E ainda que se descubram outros, a possibilidade de transladar seres humanos vivos a tais distâncias é uma enorme interrogante científica. Pelo menos por enquanto, é aqui que precisamos ficar.
 
E isto remete a outra ideia: a de que o tempo que nos resta na Terra está sendo artificialmente encurtado pelo lucro, pela ganância e pela propriedade privada.
 
A promessa do comunismo
Em junho de 2013, nós, lutadores sociais, só olhamos para o céu para nos protegermos dos helicópteros da PM, que jogavam bombas covardemente sobre nossas cabeças. Por isso, não notamos a grandiosidade do que ocorria acima daquelas nuvens cinzas e ácidas. Mas não devemos nos culpar. Fizemos a coisa certa. Olhamos para o que era mais importante: uns para os outros – e nos reconhecemos; cerramos fileiras; estendemos a mão para os colegas caídos; enfrentamos juntos o opressor. Ali abrimos um novo capítulo no livro de nossa história, e tal como a Voyager 1, começamos uma nova jornada. No início era apenas uma “zona desconhecida”, mas agora temos certeza: começamos algo grandioso. E se fomos capazes de superar a imensidão do Sistema Solar, por que não haveremos de superar as barreiras criadas por nosso próprio desenvolvimento social?
 
Sim, não negamos o fato de que o comunismo, assim como a conquista do Cosmos, continua sendo, pelo menos por enquanto, uma promessa e um sonho. Mas por acaso não são os sonhos a própria matéria da qual é feito este espírito humano do qual falamos? Não foram sonhos e promessas que nos deram as grandes revoluções do passado e que nos trouxeram até aqui? Não foram sonhos, lutas e promessas que levaram a Voyager 1 até a fronteira do Sistema Solar e além?

 
 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Sobre o mensalão, hipocrisias e fraudes

Presidente Nacional do PSTU

Zé Maria: corrupção maximiza os lucros privados
Como era de se esperar, a combinação do julgamento do chamado mensalão pelo STF com a campanha para as eleições municipais, tem gerado muita polêmica. Mais ainda porque agora, diferente do entendimento que se tinha antes, começa a se disseminar a percepção que de o julgamento – e o vasto noticiário a respeito - incide na formação de opinião dos eleitores. Vou me permitir, neste artigo, uma opinião a respeito.

Hipocrisia I
Começo falando das hipocrisias que tem cercado as discussões sobre o assunto. Primeiro a hipocrisia da direita tradicional do país, representada partidariamente pelo DEM, PSDB, PPS e assemelhados. Declarações dos dirigentes políticos destes partidos apresentam o julgamento como uma evidência de que a corrupção na política brasileira é obra exclusiva do PT e de Lula, e que esta prática seria extirpada do cenário político do país com a condenação dos acusados, Zé Dirceu à frente. Fala-se até em resgate da política no Brasil. Inacreditável, simplesmente deletam, só para dar um exemplo, a existência do mensalão de Minas, em torno das atividades do ex-governador Azeredo, do próprio PSDB.

Chegam a soar patéticas as peças da propaganda eleitoral do candidato do PSDB na cidade de São Paulo, José Serra, atribuindo ao candidato do PT, Fernando Hadad, a pecha de ser portador de relações perigosas com pessoas envolvidas no crime de corrupção em pauta. Um dos condenados no julgamento do mensalão apóia a candidatura do próprio Serra. O PSDB chega a apresentar o mensalão como o maior processo de corrupção que já ocorreu na história do nosso país. No entanto, para sermos justos, o mínimo que precisa ser dito é que este título é disputado, palmo a palmo, com a bandalheira com patrimônio e recursos públicos realizada nos processos de privatização nos governos do tucanato, nos oito anos que antecederam o primeiro governo Lula.

Esta é a verdade, evidente para qualquer cidadão medianamente informado em nosso país. A corrupção tem sido marca registrada de todos os governos e governantes que passaram pelo Palácio do Planalto. Não vale a pena perder tempo falando de Collor de Mello, mas é preciso registrar que esta prática foi utilizada com particular intensidade nos governos do PSDB/DEM /PMBD encabeçados pelo ex-presidente FHC. Isto se pode observar nos processos de privatização, passando pelas maracutaias para salvar banqueiros amigos, até a compra de votos no Congresso Nacional para aprovar emenda constitucional que possibilitou mais um mandato para o então chefe de governo.

A cumplicidade de boa parte da imprensa nacional (Veja e rede Globo à frente) que dá guarida a esta versão falaciosa sustentada pela direita conservadora, apenas serve para nos lembrar de que os grandes meios de comunicação não estão aí para informar o público. Estão aí para difundir as informações que atendam aos interesses – quase nunca publicáveis - dos proprietários destes meios de comunicação. Da mesma forma que alguns outros meios de comunicação usam os mesmos métodos para defender o governo e o PT, movidos também por interesses nada republicanos.

Hipocrisia II
Mas há outra hipocrisia em toda esta discussão, e por isso o plural no título deste artigo. Os defensores do PT e dos acusados no mensalão, contra todas as evidências e fatos concretos teimam em dizer que não houve corrupção, que se trata de tentativa de golpe da direita contra Lula, que tudo isso não passa de invenção da mídia golpista. Com o maior cinismo, alguns dizem que tudo se resumiu a caixa dois de campanha, como se combater esta prática não fosse uma das razões que o PT alegava para a sua própria existência. Fosse isso apenas, e já seria grave o suficiente para ser repudiado por todos.

E não são apenas os fatos relacionados ao chamado mensalão. Que nome dar à troca do apoio de Maluf ao candidato do PT em São Paulo, pela nomeação de um apaniguado deste senhor para um alto cargo do Ministério das Cidades? Este “afilhado” de Maluf foi nomeado para agregar competência técnica, preocupação social ao Ministério das Cidades? Alguém acredita nisso? Que falar dos acordos vergonhosos feitos pelo Governo Dilma para segurar investigações que poderiam acabar com o mandato (e muito mais) do senador José Sarney, fato este ocorrido ainda no ano passado? Cadê a faxina?

E, à exceção do trabalhador comum, que muitas vezes têm em relação à Lula uma confiança quase messiânica, todos os demais defensores do legado Lula o fazem com a consciência de que, sim, a corrupção foi um elemento importante na constituição da base de sustentação do governo Lula (e agora Dilma). Muitos são dirigentes e ativistas das lutas sindicais e populares, muitas vezes estão nas lutas dos trabalhadores junto conosco. Isso é o que causa mais tristeza.

Parecem ter esquecido que no sistema político vigente há séculos em nosso país, os altos cargos da administração pública são utilizados como instrumentos dos grupos políticos que estão no poder para oferecer benefícios – quase sempre pouco lícitos – aos grupos empresariais. Estes, em troca, financiam as campanhas eleitorais dos políticos donos dos cargos. O que mudou desta prática nos governos Lula e agora, no governo Dilma? Nada! O nome disso, caros companheiros, é corrupção. O mesmo nome que tinha quando o governo era FHC e todos nós, juntos, denunciávamos esta prática.

Para sermos um pouco mais precisos teríamos de registrar que a corrupção é parte essencial do sistema político e do sistema de governo da sociedade capitalista. Apropriar-se dos recursos públicos e/ou usar de favores dos governantes para potencializar seus ganhos privados é uma política universal do grande empresariado de todas as partes do mundo. Qual explicação, se não essa, para a prática generalizada dos bancos e grandes empresas em investir (sim, o termo é esse mesmo, investir) centenas e centenas de milhões de reais para financiar candidatos em todas as eleições?

Identidade política ou ideológica não vale como resposta, pois os grandes financiadores têm dado dinheiro igualmente para o PT, PSDB, PMDB (ou outro partido qualquer que apresente chance de ganhar as eleições). Isso é assim para que, depois, o governante eleito fique comprometido em atender os interesses - não do eleitor que lhe deu o voto - mas sim o do financiador que lhe deu milhões de reais (afinal de contas, em quatro anos haverá outra eleição e alguém terá de pagar sua campanha milionária).

É preciso, portanto, repudiar sim, com veemência as práticas corruptas que estiveram presentes no governo Lula e que estejam presentes no atual governo. Da mesma forma que é preciso, com igual veemência,a repudiar a corrupção dos governos do PSDB, DEM, PMDB e companhia. Não se pode admitir a idéia de que por sermos “todos iguais”, seria hipocrisia um falar da corrupção do outro. Não! Nós não somos todos iguais. Eu sou dirigente de um partido que não tem nem aceita esta prática, assim como há muito dirigentes e militantes políticos em outras organizações que não coadunam com a corrupção.

O STF está frente ao desafio de, além de condenar aqueles contra os quais haja provas de corrupção no processo em curso do mensalão, também julgar com celeridade, e condenar aqueles contra os quais haja provas de corrupção no processo de mensalão de Minas. Isso para não falar de tantas outras denúncias paradas nos escaninhos da Justiça brasileira. Se não o fizer, estará apenas confirmando mais uma vez o caráter político, e não jurídico, da atuação dos tribunais em nosso país.

Fraude
Mas não quero terminar estas linhas sem tocar numa questão que surge do julgamento em andamento no STF. Uma fraude, gigantesca, que teria sido praticada contra o país, no Congresso Nacional. O relator do julgamento, Ministro Joaquim Barbosa, afirmou em seu voto que a aprovação da Reforma da Previdência em 2003 (além de outras leis importantes aprovadas neste período) foi garantida na base da compra de votos de parlamentares. Aliás, a própria Procuradoria Geral da República em sua denúncia já havia chamado a atenção para a coincidência entre votações importantes no Congresso e o repasse de dinheiro do esquema do mensalão a parlamentares.

Já havíamos feito este questionamento antes junto à Procuradoria Geral da República que, naquele momento, não aceitou dar curso à denúncia. Confirmada esta hipótese pelo julgamento, estará provado que a aprovação daquela reforma se deu em base a uma fraude. Uma fraude não pode – pelo ordenamento legal brasileiro - constituir ato jurídico perfeito. Teremos então que direitos de milhões de trabalhadores foram e estão sendo prejudicados por uma lei que não pode ter sua validade mantida, pois foi fruto de uma fraude. Há que se corrigir esta ilegalidade!

*Zé Maria é metalúrgico, participa da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas e é presidente nacional do PSTU

Artigo escrito para o site Congresso em Foco

domingo, 15 de setembro de 2013

PREFEITURA DE SÃO LUÍS MANTÉM FUNCIONÁRIOS DE ESCOLAS EM REGIME DE SEMIESCRAVIDÃO

 DENUNCIA:


Desde quarta-feira, 11 de setembro, dezenas de funcionários de escolas, os cooperativados, estão realizando manifestações em frente à prefeitura de São Luís para pressionar o prefeito Edvaldo Holanda Júnior (PTC/PCdoB) a pagar os 16 meses de salários atrasados da categoria. Infelizmente o prefeito está fazendo ouvidor de mercador.

Tudo começou na gestão do famigerado prefeito João Castelo (PSDB) que permitiu que a Multicooper, cooperativa que presta serviços à Secretaria Municipal de Educação (Semed) ficasse os últimos sete meses de sua gestão trabalhando sem remunerar esses profissionais da educação (vigilante, porteiros, recepcionistas, professores, etc.). 

Na gestão de Edvaldo Holanda Jr., a situação, que já era grave, piorou. Além de nove meses sem remuneração, os cooperativados estão trabalhando sem vínculo formal com a prefeitura ou com qualquer prestadora de serviço. O último contrato da Multicooper encerrou em abril de 2012. O método que a prefeitura vem utilizando para mantê-los trabalhando em condições análogas a semiescravidão é o assedio moral.

Os cooperativados são constantemente assediados por diretores de escolas com ameaças do tipo “se vocês se negarem a trabalhar serão demitidos sem direito a receber nenhum centavo”. Os trabalhadores relatam que a superintendente da educação infantil, Fabiana Canavieira, propôs aos cooperativados que assinassem um requerimento abrindo mão das horas e dias trabalhados como se fossem “trabalhadores voluntários”. A assinatura desse documento implicaria na “legalização” do trabalho não remunerado, ou seja, semiescravo.

 
Não bastando tanto absurdo, a câmara de vereadores de São Luís elegeu o vereador Ricardo Diniz (PHS) para presidir a Comissão de Educação do município de São Luís, mesmo sabendo que esse cidadão é sócio da fraudulenta Multicooper. Isso demonstra a conivência dos vereadores de São Luís com esse crime trabalhista praticado contra mais de mil e quatrocentos trabalhadores. Há graves denúncias de que a “CPI das Terceirizadas” que teria a finalidade de apurar contratos de irregulares com a prefeitura, foi “vendida” para não ser instalada. As irregularidades prefeitura/ terceirizadas teria iniciado no fim da gestão do ex-prefeito Tadeu Palácio.

As manifestações em frente à prefeitura iniciaram porque, enquanto o prefeito Edvaldo Holanda Jr. alegava falta de verbas para regularizar os vencimentos e os direitos trabalhistas dos cooperativados, assinava o vergonhoso acordo que prevê o repasse de dois milhões de reais por mês para o SET (Sindicato dos Empresários de Transporte). Por isso mesmo, a palavra de ordem mais cantada pelos manifestantes é “Edvaldo que papelão/ tem dinheiro pra empresários, mas não tem pra educação! A vereadora Rose Sales (PC do , que na gestão castelista fingiu está ao lado cooperativados, tem tentado, em vão, convencer os cooperativados a não realizar manifestação públicas contra a prefeitura. 

Diante de tamanho absurdo, nós, da Setorial de Educação da CSP Conlutas e do DCE-UFMA, ANEL (Assembleia de Estudantes Livres), MML (Movimento Mulheres em Luta), o Movimento Nacional Luta Popular nos juntamos a essa luta e exigimos que o prefeito Edvaldo Holanda Jr. e os vereadores de São Luís regularize imediatamente os direitos trabalhistas desses profissionais da educação, pagando todos os seus vencimentos em atrasos. Também exigimos que o Ministério Público e o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) tomem as providências cabíveis para que os envolvidos no “esquema das terceirizadas” sejam severamente punidos, já que o legislativo e o executivo municipal demonstram não ter interesse e imparcialidade para solucionar o problema.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

SERVIDORES REALIZAM PARALISAÇÃO DE ADVERTÊNCIA PARA COBRAR NEGOCIAÇÂO SOBRE REFORMA DO PCCV E REAJUSTE DO TÍQUETE.


Os servidores do legislativo estadual realizaram uma paralisação de advertência no dia 04/09, na entrada principal da Assembleia Legislativa do Maranhão, no bairro do Cohafuma, em São Luís. O ato teve como
objetivo sensibilizar o presidente da Casa, deputado Arnaldo Melo, a abrir um canal de diálogo com a direção do SINDSALEM. 

REIVINDICAÇÕES
Os servidores querem negociar a proposta de reforma do Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos (PCCV), além do reajuste do tíquete-alimentação para R$500. No entanto, a direção da Casa silencia e se recusa a dialogar com os trabalhadores.

NOTA DE REPÚDIO

Durante a manifestação, a categoria também repudiou a prática de assédio moral e a conduta antissindical do diretor geral da ALEMA, Heraldo Marinelli, que coagiu dirigentes do Sindicato no dia anterior à paralisação.

APOIO E COMPROMISSO

Ao contrário da maioria dos parlamentares, que passaram direto pelo protesto, o deputado Zé Carlos ouviu os servidores e fez um discurso apoiando o movimento. Em seguida, ele marcou uma reunião, onde os diretores do SINDSALEM puderam explicar as reivindicações da categoria. Após o encontro, o deputado firmou o compromisso de convencer o presidente Arnaldo Melo a negociar com a direção do SINDSALEM sem restrição de nomes, visto que na véspera do movimento, o presidente do Sindicato, Luiz Noleto, foi impedido de participar de uma reunião com diretores da Casa. Zé Carlos e Bira do Pindaré ainda utilizaram o pequeno expediente da sessão para prestar solidariedade à luta dos servidores.

PRÓXIMOS PASSOS

Diante disso, o SINDSALEM informa que aguardará os próximos passos da direção da ALEMA. Caso haja uma resposta que atenda aos anseios da categoria, as ações em frente à Assembleia serão suspensas.


terça-feira, 10 de setembro de 2013

  Do blog do Jornalista Itevaldo.

Assembleia Legislativa pagará R$ 2,3 milhões por aluguel de caminhonetes

Assembleia caminhonetes
A Assembleia Legislativa alugou com dispensa de licitação 30 caminhonetes Hilux SRV, da Toyota no valor de R$ 2,3 milhões. Cada veículo custará aos cofres do legislativo estadual R$ 6.440,00 mês.
Solicitei há cinco dias informações a Assembleia Legislativa sobre o contrato de aluguel dos veículos. Não obtive, até hoje, nenhuma resposta. O contrato assinado pelo presidente da Assembleia Legislativa tem duração de um ano.
O contrato com dispensa de licitação aderiu a uma Ata de Registro de Preços com a empresa Locadora São Luís. O período de vigência do contrato coincidirá com o período eleitoral.
O contrato com dispensa de licitação para aluguel das caminhonetes foi denunciado na semana passada, pela direção do Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa (Sindsalem).
Na última semana de agosto, o comando da Alema pagou R$ 146.625,00 pelo alugu

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

LIÇÕES SOCIALISTAS SOBRE A FORMA DA POLÍTICA: ou duas ou três coisas que “eu sei” sobre a Ocupação da Câmara de Vereadores de São Luís


Do militante e socialista Saulo Pinto Silva[1]
Uma das características mais notáveis instituída nos modos de racionalidade contemporâneos estaria na sua natureza cínica. Aliás, para o cínico, não apenas o cinismo é sua modalidade fundamental de pensar o mundo social, mas, sobretudo, somente é possível ser racional sendo cínico, posto que o cinismo aqui é o padrão inesgotável de racionalidade. Não ser cínico, pois, significa desviar-se desta economia das fraudes imperfeitas para recolocar o pensamento e a tarefa da crítica nas barricadas da luta de classes dos símbolos.
Lenin havia dito que o esquerdismo é a doença infantil do comunismo. Um ataque contundente aos agrupamentos da “esquerda  da esquerda” que, entre outros termos, foram e ainda são incapazes de perceber a genial fórmula de Gramsci, quando indicava o paradoxo ontológico da forma da política socialista contra tudo o que existe, a saber, o verdadeiro dilema realmente socialista entre “pessimismo da inteligência” e “otimismo da vontade”. Deslocar-se entre dois pontos do curto-circuito da luta de classes que se inicia, mas que segue, sem nunca acabar-se, exige dos socialistas de todos os partidos a capacidade de perceber que embora seja necessário e urgente a destruição da forma da política do capitalismo, por exemplo, nem toda luta deve ser suficiente na consecução deste objetivo estratégico ineliminável do horizonte agudo de lutas contra o capitalismo realmente existente.
Assim, num processo de luta contra o capitalismo, que demanda o protagonismo do elemento ativo da classe desgarrada dos tentáculos do Capital, existe uma complexa e árida relação, ora mediata, ora imediata, entre a forma da política (tática) e seu conteúdo oculto e substantivo mais fundamental (estratégia) que a move em todas as direções. Não preciso salientar que em grande medida boa parte das diferenças entre os esquerdistas encontra-se na compreensão e no acordo da necessidade em adotar táticas estritas para situações da luta de classes que envolvam recuos necessários nas posições e disposições de luta. Um pequeno exemplo pode ser observado, em toda a sua potente dimensão, nos acontecimentos da Ocupação da Câmara de Vereadores de São Luís. Aqui, como em alhures, a herança do Real e a disputa pela memória do Real potencializam todo tipo de interpretação, muito embora o sentido deste ensaio esteja em desautorizar vigorosamente algumas “leituras” que não apenas são equivocadas, mas estruturam-se em torno de uma série inescrupulosa de mentiras em estado puro. Como havia salientado antes, a condição ontológica da mentira no nosso tempo presente estaria não numa verdade oculta por detrás de uma forma enganosa. Ao contrário, a mentira hoje não precisa de esconderijo para reproduzir-se e mostrar-se mediante algum depuramento meticuloso. A potência da mentira é que ela tem uma forma e um conteúdo em absoluto reconhecível sem algum esforço sofisticado. Isto é, ela mostra-se como mentira em estado puro e seu conteúdo de existência está na sua condição de ser trágica, depois farsante, por fim trágico-farsante. Não seria esta a condição das análises risíveis que buscam produzir um balanço positivo da Ocupação da Câmara de Vereadores de São Luís? Refiro-me, mais precisamente, aos dois textos (escandalosamente ridículos) produzidos pelo proto-anarquista Artemio Suvarin[2], em que possibilita-se a tentar reconstruir a história recente conforme seus desígnios esbórnicos, o limite-absoluto de sua razão cínica. Vamos ao pomo da discórdia!
O elemento fundante da discórdia encontra-se na forma da política que o movimento de Ocupação instituiu na formulação de sua política de enfrentamento, seus impasses e resolução dos conflitos estruturais básicos. Denomino isto de método, ou seja, a forma como o movimento auto-organiza-se e delibera sua política na resolução dos conflitos fundamentais. As questões de método são questões de princípios, portanto, inegociáveis nos seus termos. A Ocupação definiu o método do horizontalismo como o mecanismo político de direção política do movimento. Isso significa que não havia líderes instituídos e que a auto-gestão seria a modalidade de organização da forma e do conteúdo da Ocupação. Qualquer definição técnica (por exemplo: o quê, como e quando comer) ou deliberação política (por exemplo: devemos ou não negociar com a Câmara de Vereadores; a forma de negociação, deliberação sobre comissões, etc.) estaria ortodoxa e radicalmente vinculada às Assembléias públicas no processo de Ocupação, em que cada militante poderia abertamente apresentar suas posições e disposições, teses, diferenças e discordâncias sobre qualquer tema ou política ali destacada. Ora, em linguagem socialista, não estamos falando sobre o conteúdo da democracia proletária? Todavia, o vocabulário da política e sua consequente disputa pelo léxico do conflito azedam, grosso modo, os esquerdistas que dividem-se fundamentalmente no mundo contemporâneo entre esquerdistas “das causas sem classe” e esquerdistas “das causas com classes”.
Destarte, o horizontalismo definido como método da forma da política da Ocupação esquadrinhou-se pelo respeito às decisões da maioria. Pois, mediante a total possibilidade de desacordo e desagravo, pelo exercício da democracia radical nos espaços no movimento de Ocupação, posição vencida tornar-se-ia disposição assumida pelo coletivo na sua totalidade, inclusive pelas minorias derrotadas nas votações existentes. Toda posição que é relativa objetiva tornar-se hegemônica, aspira à universalidade. O que deve ser assegurado é o método, para além do que apresentei, que garanta o direito de crítica e de questionamento de toda e qualquer posição adotada sem, todavia, ignorarmos a necessidade da hegemonia como forma de poder proletária, que conduza o movimento em direção a conquistas importantes para a classe que luta.
Um contraste aqui se desenha de maneira sublime. Nosso herói nacional insiste em dizer que sempre esteve certo, defendendo o agravo da investidura direta contra os podres poderes. Trata-se, sem dúvida alguma, de uma posição minoritária no movimento de Ocupação, de tal maneira que todas as vezes que foram apresentadas diferenças de encaminhamento, o processo negocial sempre prevaleceu sobre a ação direta, pois os proletários ali agrupados e reunidos estavam bastante dispostos a encaminhar resoluções práticas para os problemas pautados coletivamente e com grande apoio popular. A ação direta é uma tática, uma forma de enfrentamento, historicamente utilizada pelos proletários, mas em situações mais fortemente revolucionárias ou de simples autodefesa da classe em si mesma. Mas numa Ocupação, que estava dotada de uma pauta específica, com um programa mínimo para a cidade de São Luís? A maioria do ocupantes entendia bem isso e definia em todas as votações pela manutenção da Ocupação (um ato em si mesmo bastante radical) e do diálogo político com os Vereadores. Além disso a natureza do diálogo estava estipulada de maneira bastante precisa, a saber, a abertura do debate público através de Sessões Extraordinárias e Audiências Públicas que garantissem o amplo debate com os movimentos sociais ali organizados. Caso garantíssemos isso, haveria algum sentido em manter a Ocupação? Para a maioria da Ocupação não, mas para o nosso herói nacional... Logo, se eu sou um golpista ou um manipulador, todos que votaram e defenderam esta posição o são! A questão é que conquistamos uma enorme vitória sobre o grupo político do poder governamental, fazendo-o recuar e arrancando na luta o debate público, mesmo dominado por manipulações e enrolações, sobre os problemas de interesse proletário. Mas nosso herói parecia estar nas falésias da revolução de um homem só!
Não satisfeito com sua esquizofrenia risível, nosso herói nacional insiste em dizer que não houve erro político no dia 13 de agosto. Ele pergunta-se, pois, qual a diferença de método desta com a Comissão do dia 07 de agosto. Pois bem, vamos ao caroço do problema. A Comissão do dia 13 de agosto fora votada apenas para ir representar o movimento na manutenção do diálogo com a Câmara dos Vereadores, mesmo após os absurdos acontecimentos de agressão e violação de princípios constitucionais básicos contra cidadãos legítimos. Nada mais, nada menos. Depois, dirigimo-nos ao movimento e, numa pequena Assembleia, deliberamos pela manutenção do diálogo. Não preciso salientar que o nosso herói nacional retirou-se da Assembleia em função de sua monossilábica palavra de ordem: “ação direta já!”. Uma coerência assustadora, diga-se de passagem. A comissão do dia 13 de agosto além de ter sido eleita “apenas” para representar o Coletivo na Audiência Pública do dia 14 de agosto, aceitou ir a uma reunião no dia 13 de agosto e pelos relatos, às 20 horas, para receber do emissor governamental que a Audiência Pública estaria cancelada. Ora, não é preciso muito para saber que é verdade que existe uma tensão entre a Câmara e a Prefeitura de São Luís, todavia em questões fundamentais de interesse da reprodução destes grupos atrasados possuem amplo e irrestrito acordo. E mais: estão todos contra o movimento de Ocupação e nossa análise sobre a senilidade política da Câmara. Não havia nenhuma posição oficial da Mesa Diretora da Câmara, mas apenas operou-se uma manobra política conduzida por apenas 3 Vereadores. Como sabemos, no dia 14 de agosto, haveria o Painel sobre Mobilidade Urbana, mas pela ausência dos representantes da Prefeitura e do movimento de Ocupação, a mesma não aconteceu. É sabido, conforme relatou nosso herói, que seu único erro foi ter de maneira “horizontalista”, “isolada”, em função de “circunstâncias emergenciais”, cancelado o Ato do dia 14 de agosto. Caso não se tratasse de um proto-anarquista, não ficaria surpreso pelo excessivo “centralismo” autoritário. Mas, tratando-se de um libertário, o que pensar? Agora compreendo bem as diferenças “arrogantes” de Marx com o minúsculo e “humilde” Bakunin e seus delírios ridículos. A política é substituída pela administração da “logística”. Para preservá-la, nosso herói, em nome da democracia radical, cancela com um grosseiro argumento de segurança algo que deveria ser canalizado para o embate político amplo. Mas como convocar uma Assembleia às 20 horas do dia 13? Parece-me uma pergunta descabida, posto que deveríamos manter o Ato e manter posição de vigilância e de denúncia pública da Prefeitura e da Câmara por desrespeitar acordos firmados publicamente com o movimento de Ocupação. Uma lição socialista inegociável. O movimento do Real modifica-se, o que exige reorientação da política do movimento. Nesse caso, o Ato tinha o caráter de “acompanhamento”, mas deveria ser reafirmado como um Ato de denúncia pública da manobra levada a termo pelo poder governamental.
Portanto, trata-se de uma atitude política do poder governamental em tentar desmobilizar o processo de luta e enfrentamento contra os podres poderes. O movimento deslizou numa tática antiga usada largamente pelo poder instituído para desmobilizar a resistência aos ataques. Particularmente, fiz apenas a exigência pública de explicações sobre o ocorrido e indicando a convocação de um espaço público para resolver o problema. Para o nosso herói nacional trata-se de uma tentativa singular de “tumultuar” o processo auto-organizativo do Coletivo. Imagino que o direito inalienável de crítica não guarda nenhuma correlação com tumulto. Um proletário tem o direito ontológico de desconfiar e de vigiar seus lideres. Da mesma maneira que os proletários coletivamente têm o direito ontológico de lutarem contra o Estado Ilegal. Mas como nosso herói não é muito afeito ao rigor do debate, ou mesmo às premissas filosóficas das diferenças políticas, entendo seu pouco trato com as questões de método. Contudo, não posso me furtar de tentar colocar as coisas em seu devido lugar. Marx já havia dito que não há programa mais preciso do que aquele que é a classe mesma em movimento. Nunca exigi nenhuma Carta de Princípios ou algum Regimento Interno de algo que foi apenas uma frente de mobilização de ação direta ocupante da Câmara de Vereadores de São Luís. Minha exigência é mais radical, mais substantiva na forma e no conteúdo de seus predicados. Minha exigência pauta-se na defesa radical da democracia proletária, com todos os atributos qualitativos que tentei esboçar provisoriamente. No que diz respeito a verdade, pois, tenho que miseravelmente lembrar, conforme magistral fórmula apresentada por Guy Debord, que “a verdade é um momento do que é falso”. Não estaríamos diante de uma mentira em estado puro do estatuto da envergadura do nosso herói nacional? Descartes, perto de muitos “radicais livres”, é mais revolucionário na história da Humanidade do que meros portadores de palavras de ordem vazias e totalmente desprovidas de conteúdo efetivamente revolucionário. Luto, penso, logo existo!


[1] Economista e Professor do IFMA, Campus Maracanã.
[2] Como nosso herói nacional não assina seus textos com seu nome completo, adotei, com uma camada fina de ironia, sua identificação na rede social da falsificação universal. Na verdade, não seria menos curioso que numa rede da mentira, um mentiroso publique textos mentirosos sobre os acontecimentos que ele delira saber julgar. Uma pequena ironia para um fanfarrão que, talvez nem ele mesmo, possivelmente julgue-se com alguma seriedade.

domingo, 8 de setembro de 2013

Do site Nacional do PSTU

Contra a criminalização dos movimentos: liberdade imediata ao Black Bloc e a todos os presos políticos!

Todo dia tem manifestação no Rio de Janeiro: ninguém aguenta mais o ditador Sergio Cabral

Foto: Samuel Tosta
 
Acuado nas ruas, o governador Sérgio Cabral (PMDB) – o ditador do Rio – percebe que seu governo está cada vez mais questionado e criminaliza os movimentos sociais para seguir seu mandato. Às vésperas do Grito dos Excluídos, montou mais uma farsa com o objetivo de criminalizar quem luta contra seus desmandos, criminalizar os movimentos sociais que lutam em nosso estado.
 
A “Copa das Manifestações” (Copa das Confederações) foi um aviso importante ao governador. Para não perder o controle novamente, Cabral desenvolve uma política de repressão e contenção das demandas sociais, tendo em vista a Copa do Mundo em 2014. Tudo isso para passar uma imagem de cidade “pacificada” – capital do samba e do futebol – para os turistas e para as redes de hotelaria e grandes empresas multinacionais que patrocinam o evento.
 
Não é primeira vez que o ditador do Rio utiliza o aparato policial contra quem enfrenta o seu governo. Não é a primeira vez que monta artifícios legais para que as prisões que ordena não possam sequer ser respondidas em liberdade.
 
Demonstrando sua subserviência ao governo norte-americano encarcerou 13 manifestantes contra a presença de Obama, a maioria militantes do PSTU. Tentando usar estas prisões como forma de amedrontar quem tentasse lutar contra seu governo, a farsa montada naquele momento foi acusá-los de tentativa de incêndio. Dessa forma a maioria dos presos foi enviada a presídios.
 
Nos últimos dias, comprovando seu caráter antidemocrático, mandou retirar, usando vias judiciais, outdoors do PSTU que chamavam a luta pelo fim de seu governo. Seus aliados na Assembleia Legislativa apresentaram projeto que vai criando no Rio um Estado de Exceção, proibindo uso de máscaras em manifestações, autorizando a polícia a “cadastrar” (fichar) manifestantes, entre outras aberrações.
 
Com métodos autoritários, Cabral esconde-se atrás da polícia e de farsas jurídicas. Nas atuais jornadas de luta seu governo já acusou de formação de quadrilha pessoas que sequer se conheciam. Montou uma farsa contra o ativista Bruno que precisou ser desmontada com vídeos gravados pelos participantes das manifestações.
 
Ontem desalojou, violentamente, profissionais da educação da rede estadual do prédio da Secretaria Estadual de Educação. Em seu governo os manifestantes são atacados com tiros, bombas, armas químicas (spray de pimenta e gases), choques elétricos e porretadas. O resultado em feridos são muitos. Gigante, um ativista da Baixada, faleceu em função dos ataques químicos de que foi vítima.
 
Nas comunidades as ações do Estado dirigido por Cabral revelam também o caráter ditatorial do governador. A exigência de ‘autorizações’ para realização de manifestações culturais, como os bailes, em nada diferem da perseguição ao samba no início do século passado.
 
Na Rocinha, o desaparecimento e morte do pedreiro Amarildo coloca na ordem do dia a pergunta: Cadê o Amarildo? Na Maré, uma operação policial resultou em dez mortos a bala. Na manifestação realizada na Avenida Brasil, denunciando o Estado que mata, ouviu-se o grito de denúncia: “Chega de hipocrisia, esse governo mata pobre todo dia”.
 
Quem deve estar na cadeia são os corruptos e corruptores. São os que, negando recursos para a saúde e educação, deixam nossa juventude sem perspectiva de futuro. São os que superfaturam ou realizam obras desnecessárias para transferir dinheiro público para seus amigos empresários.
 
O PSTU, antes de tudo, defende aqueles que lutam e são reprimidos pelo Estado e pelos governos capitalistas, mesmo que não tenhamos acordo com seus métodos de luta e programa.
 
De nossa parte, é pública nossa polêmica com os métodos e políticas utilizados pelo Black Bloc, assim como polemizamos com outras organizações políticas. No entanto, para nós, a defesa dos Black Blockers encarcerados por Sérgio Cabral deve ser incondicional. Trata-se da solidariedade necessária entre os que lutam. Significa defender mais estes presos políticos do governo Cabral, o ditador do Rio. Devemos impulsionar uma ampla campanha democrática para libertar os Black Blockers e todos os presos políticos do governo Cabral.
 
Cyro Garcia, presidente estadual do PSTU, vai articular junto à OAB e demais entidades democráticas e dos trabalhadores, uma reunião com a finalidade de denunciar a postura repressora do governo Cabral, exigindo ampla liberdade de manifestação.
 
Não podemos esquecer do ataque desferido pela Globo e demais emissoras contra o mandato da deputada estadual Janira Rocha, que vem sendo perseguida por Cabral e seus seguidores. O PSTU tem inúmeras diferenças com a administração e com a política que vem sendo tocada tanto no mandato quanto na condução do Sindsprev. O PSTU não tem nenhuma vinculação política ou financeira com o gabinete da deputada. Mas todas essas diferenças não nos colocam em campos opostos. Defendemos o mandato de Janira Rocha contra os ataques da direita encabeçada pelo governador Sérgio Cabral. Os problemas do Sindsprev devem ser resolvidos dentro do próprio movimento de forma clara e profundamente democrática, de modo que os trabalhadores possam ter voz ativa para recuperar seu instrumento de luta.
 
– Pela imediata libertação dos Black Blockers e todos os presos políticos do governo Cabral!
– Pelo fim de todos os processos jurídicos de cunho político contra ativistas, contra os partidos e organizações dos movimentos sociais!
– Pela realização de uma ampla campanha democrática contra a criminalização dos movimentos sociais!
– Pelo direito irrestrito de manifestações e greves!
– Chega de dinheiro para Copa e Olimpíadas, e mais para saúde e educação públicas!
– Pela desmilitarização da Policia Militar, pelo fim da PM!
– Fora Cabral, ditador do Rio!
 
Atualizada em 5/9/2013, às 15h38