segunda-feira, 25 de março de 2013

Um passo adiante na articulação internacional dos trabalhadores A realização do Encontro Internacional Sindical, entre os dias 22 a 24 de março em Paris, pode ser um passo adiante muito importante na articulação internacional do sindicalismo alternativo

Trata-se de um momento que deve ser acompanhado por todos os ativistas que entendem a importância de uma resposta internacional articulada dos trabalhadores. Com o domínio das burocracias sindicais e reformistas, as mobilizações têm muitas vezes dificuldades para atingir um alcance mesmo nacional. Assim, é muito mais difícil enfrentar as multinacionais que fazem chantagens ameaçando transferir sua produção para outros países. Conseguir uma articulação internacional era ainda mais difícil e limitado. As centrais sindicais internacionais são ligadas à social-democracia ou a algum aparato stalinista, e ajudam a bloquear as mobilizações.

Mobilização de massas no dia 2 de março em Portugal

Em 2012, ocorreu pela primeira vez na história uma greve geral europeia com peso maior em Portugal e Espanha, mas gerando mobilizações em vários países europeus. As burocracias sindicais dirigentes desses países utilizaram essas mobilizações para conseguir desbloquear as negociações com os governos existentes nesses países, sem nenhum compromisso de continuidade na luta. Mas existiu um exemplo internacionalista para os trabalhadores de todo o mundo.

Isso dá mais importância ainda para a realização desse encontro no coração da Europa, em um momento em que as lutas se reaquecem com a greve geral na Grécia, a mobilização gigantesca realizada no dia 2 de março em Portugal, assim como as manifestações de peso na Espanha convocada para 16 de março.

Existe já em curso um importante processo de reorganização em muitos lugares ao compasso da experiência que vai sendo feita com as burocracias sindicais colaboracionistas. O encontro internacional deve reunir representações de 30 países, com um peso desigual de região para região. Mas o que pode se verificar desde já é que não se trata das direções majoritárias do sindicalismo destes países (hegemonizada pelas burocracias), tampouco de setores marginais. Em geral, são representações de sindicatos importantes em cada um desses países, ou de articulações do sindicalismo alternativo com algum peso.

Não é por acaso que o Encontro tenha sido convocado pela CSP-Conlutas do Brasil e pelo Solidaires da França, duas expressões de importância na reorganização sindical desses países.

Do Estado Espanhol vão estar presentes representantes de grande parte do sindicalismo alternativo como Cobas (Comissões de Base) de Madrid, a CGT (Central Geral dos Trabalhadores), Intersindical, assim como do sindicalismo das nacionalidades do País Basco e da Catalunha. A articulação dessas correntes possibilitou um ato de 60 mil pessoas em Madrid na última greve geral europeia.

Da Inglaterra, participarão do encontro membros da direção do RMT, o sindicato nacional de transporte, que tem impulsionado lutas juntos com outros países europeus. Também da Inglaterra participará uma representação da TUC Merseyside que, ao lado do RMT, está promovendo conferências para unificar o ativismo um plano de luta com chamados a greve geral no país. Da Itália vão membros do “No Austerity”, recém-fundada coordenação do sindicalismo alternativo, que inclui algumas das lutas mais importantes do país. Virão representantes de sindicatos do Egito, Tunísia e Marrocos, expressando outro pólo das grandes lutas que sacodem o mundo no Norte da África e Oriente Médio. Da América Latina, além da CSP-Conlutas estarão representantes do Paraguai, Peru e Chile, estando em discussão a presença também dos mineiros bolivianos.

Temas de suma importância estarão na pauta. O mais importante tem a ver com a construção ou não de uma rede internacional de articulação do sindicalismo alternativo. Essa rede pode ter importância para a efetivação da solidariedade em cada uma das lutas nacionais em cada um de nossos países. E poderia também incorporar campanhas políticas comuns onde exista acordo. Pode servir de pontos de apoio e atuar em segmentos dos trabalhadores com peso de massas como transportes, mineiros e outros setores onde esses sindicatos estão já implantados. O caso recente da mobilização da GM, em São José dos Campos, onde houve uma articulação de sete países para apoiar a luta dos metalúrgicos é uma mostra do que pode ser encaminhado pela rede a ser formada.

quarta-feira, 20 de março de 2013

O VÔO DO DRAGÃO

Texto escrito por Jonadabe Gondim.

“Mesmo quando luta contra um gato, o tigre usa toda a sua força”.
(provérbio chinês)


O aforismo acima deve ser compreendido para além das artes marciais, embora faça uma referência clara a estas; este provérbio nos exorta a darmos sempre o nosso melhor e a viver plenamente. Talvez este provérbio seja a síntese perfeita da vida do ícone Bruce Lee (Lee Jun Fan): um homem intenso, que conseguiu ser, ao mesmo tempo, UM e MUITOS homens. Um homem que conseguiu ser, simultaneamente, o tigre o gato; poderoso e delicado, forte e fluído. Isso era parte essencial de sua filosofia: ser firme, mas não estático; enxergar e exercer a vida com fluidez e compreender esta como um processo dinâmico.

Intensidade e fluidez definem sua vida. Um homem que não aceitava menos de que o seu melhor. Ao se dedicar, quando jovem, a dança do chá chá chá, não bastou aprender os passos. Não, ele teve que ser o campeão nacional! Essa intensidade, essa capacidade de entrega, o levava constantemente a elevar o seu próprio nível e ao fazer isso, acabava por elevar o de todos a sua volta. As artes marciais não seriam mais as mesmas após sua passagem, o cinema e o MUNDO também não.

Sua capacidade de entrega, somada a sua imensa fluidez transformaram o mundo em sua volta como poucos artistas o fizeram. Isso que fazem hoje os torneios de MMA, depois da revolução que os Gracies desencadearam, em que o diálogo entre diferentes técnicas, de diferentes modalidades de lutas, constitui um somatório em que TODAS se convertem em UMA só, adaptando as velhas fórmulas as diferentes situações criadas, em um constante desenvolvimento e evolução, teve em Bruce um predecessor e uma fonte de inspiração.


Já nos anos 60, Lee, frustrado com as limitações com que se deparava em seus aprendizados nas artes marciais chinesas, sobretudo o Wing Chun, que era a base de sua técnica, desenvolveu o seu próprio método, tendo como objetivo atingir outro patamar de eficiência e mesclar as mais diversas modalidades de lutas, extraindo de cada uma o seu melhor. Este conjunto, batizado por ele de Jeet Kune Do (o caminho do punho interceptor) deveria romper com os tradicionalismos (distorções do sentido de tradição) e apresentar-se de forma bastante dinâmica, transformando-se constantemente, com a maior fluidez possível.

Antes dele, as artes marciais ocupava um lugar extremamente marginal no cinema (e na sociedade como um todo). A partir de seus filmes e de sua exposição, estas fascinaram o ocidente, deixando de ser algo “exótico” e constituindo, cada vez mais, parte do cotidiano. Mas Bruce queria, obviamente, mais que isso: não bastava desenvolver no ocidente o apreço pela cultura marcial oriental, mas desenvolver o entendimento cultural como um todo, derrubando barreiras e possibilitando um intercambio intenso, que mudaria o mundo e suas diferenças. Para Lee, estava claro que o mundo precisava de maior fluidez.
Para se alcançar isso, era preciso mudar o próprio entendimento que as diferentes culturas tinham umas sobre as outras e de si mesmas, quebrando os estereótipos que as separam, tornando o mundo um só.

O seu próprio nome artístico simbolizava isso: BRUCE LEE agregava em si elementos tanto do ocidente, quanto do oriente. Este sino-americano, que cresceu em Hong Kong e mudou-se para os Estados Unidos ao completar 18 anos, sabia e fazia muito bem aquilo que Platão ensinava e que costumeiramente esquecemos fazer: OUSAR A UTOPIA. As artes marciais foram apenas a ponte para que se pudesse atingir algo maior para o mundo e para si mesmo. Esse é o seu maior legado.

Nesse ano faz 40 anos que Bruce se tornou eternamente jovem, nos deixando, como alguns poucos raros, com perspectivas maiores e melhores sobre esse campo de existência e mesmo passado tanto tempo ele continua a nos instigar e preencher os nossos espíritos. Como um tigre. Como um gato.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Eleição direta para diretor de escola no município de São Luís: Uma bandeira que não pode ficar tremulando nas mãos dos inimigos da democracia e da educação pública

Está aberto no município de São Luís o debate em torno da eleição direta para diretor de escola. Esse não é um debate qualquer e nem muito menos pode escapar entres os dedos da comunidade escolar para cair nas mãos de grupos políticos que sempre se beneficiaram com a feudalização política do ambiente escolar. Vereadores ligados à oligarquia Sarney, como Fábio Câmara (PMDB), ou ao corrupto ex-prefeito João Castelo, como Francisco Carvalho (PSL), apelam descaradamente para o conceito de “democracia” em razão da exoneração de mais de 150 diretores de escolas da rede pública municipal de São Luís levado a cabo pelo prefeito Edvaldo Holanda Júnior (PTC, PC do B, PSB e PDT).


Para além da forma como se deu as exonerações, o problema mais grave foram os critérios adotados para efetivação dos “novos” diretores, todos claramente político-partidários e autocráticos. Diante deste fato, e da insatisfação de muitas comunidades, os apoiadores do ex-prefeito João Castelo e os “roseanistas” começaram a pressionar o prefeito Edvaldo Holanda Júnior e o seu secretário de Educação Alan Kardec (PC do B) para tentar recuperar a direção de certas escolas que saíram das mãos de alguns de seus fieis cabos eleitorais. O PTC e o PC do B, por seu turno, querem apenas mudar a suseranía das escolas para garantir a hegemonia plena do feudo. Tudo indica que a maioria das direções das escolas de São Luís ficaram com o PC do B, o que demonstra o grau de adesão desse partido ao vale tudo comum aos partidos burgueses. Todos eles olham para as direções das escolas como um indispensável capital político para as eleições de 2014. Com essas práticas as escolas do município de São Luís foram transformadas em um mero aparelho de arregimentação de cabos eleitorais.

Para nós do PSTU, a única forma de democratizar a escola é com eleição direta para diretor e com cargos que possam ser controlados pela comunidade escolar. Não acreditamos que eleição direta vá resolver os graves problemas da educação pública, que passa fundamentalmente pelo aumento de recursos que possibilitem a contratação de professores, técnico-administrativos, construção de escolas, etc. Só em 2012 a presidenta Dilma cortou 1, 9 bilhões de reais do orçamento do Ministério da Educação. No entanto, não podemos mais aceitar que as direções de escolas continuem funcionando como extensão do monolitismo político-pedagógico das secretarias de educação. É desse autoritarismo que brotam as turmas superlotadas, a falta de fiscalização com os parcos recursos que chegam as escolas, o stress ocupacional e o assédio moral contra os professores. Na própria Constituição Federal, em seu artigo 206, inciso sexto, diz que nosso país deve ter uma gestão democrática do ensino público. Mas, para grupos reacionários que vivem do clientelismo político caquético, a perda do controle político da escola é encarada como uma ameaça eminente. Tinha razão Carlos Drummond Andrade tinha ao afirmar que “os lírios não nascem da lei”.

É inadmissível que quase 30 anos depois da redemocratização do país tenhamos que conviver com microditaduras instaladas no interior da maioria das escolas brasileiras. Mais grave ainda é constatar que o governo de Edivaldo Holanda(PTC/PCdoB), pela miséria de suas degenerações políticas, permita que as velhas oligarquias se apropriem, indevidamente, de uma bandeira que sempre deploraram. A vereadora Rose Sales (PC do B), principal liderança do atual governo de Edivaldo Holanda na câmara, que quando na oposição afirmava defender a educação e a democratização nas escolas contra a política do ex-prefeito Castelo, não pode mais ficar só na retórica e precisa se posicionar imediatamente em favor da categoria que diz defender. Se é a favor da eleição direta para diretor de escola, então por que esperar tanto tempo? Esperar por quem? Por vereadores de uma câmara que historicamente tem legislado contra os trabalhadores?

A comunidade escolar tem muito mais autoridade para conduzir um processo dessa natureza do que três dezenas de vereadores que logo no primeiro mês de seus mandatos aumentaram seus próprios salários em 52% sem se preocupar com a tão propalada crise deixada pelo corrupto ex-prefeito João Castelo (PSDB). São esses mesmos senhores que utilizaram critérios pra lá de indecentes para eleger o fisiologista Isaias Pereirinha (PSL) para presidente da câmara municipal de São Luís. Democracia nessa casa legislativa é uma palavra oca.

Fala-se ainda em concurso público para diretor de escola. Esse método é democrático apenas para quem participa, mas não para a comunidade escolar. Nesse caso o diretor escolhe a escola, mas a escola não escolhe o diretor. Por ser um cargo técnico, mas que envolve atos políticos, e por considerar a diversidade política em um ambiente ou comunidade escolar, a forma mais correta para escolha de diretor de escola é a participação direta e universal da comunidade escolar (professores, técnico-administrativos, pais de alunos e alunos).

A lição que os trabalhadores de maneira geral e os educadores especificamente têm que tirar desse episodio é que quando são seus direitos que estão em jogo, as fronteiras políticas existentes entre os partidos burgueses (PMBD, PSDB, PTC, PDT, PSB) e a esquerda degenerada (PC do B e PT) ficam cada vez mais tênue. Nós do PSTU do Maranhão apostamos somente na força da organização e mobilização das frentes de trabalhadores em educação (CSP Conlutas, MRP, ASPEMA, MOPE, Gestão Unidade Para Mudar) e dos movimentos estudantis combativos como a ANEL (Assembleia Nacional de Estudantes Livres) que são grupos que sempre estiveram na luta em defesa dessa e de outras bandeiras que visam a melhoria da educação pública brasileira.

EDUCADORES (AS) DO PSTU DO MARANHÃO

quarta-feira, 13 de março de 2013

SINOS, PAPA, ARGENTINA E PÓ.

No mundo da mídia e do espetáculo e acamado por motivo de gripe acompanhei a eleição do novo Papa. Nosso Raul Seixas escreveu uma música que tem o titulo Por quem os sinos dobram? Não sei se ele referia-se aos sinos do Vaticano que se dobram quando elegem um Papa. Raul não está mais entre os vivos para nos responder, mas talvez o novo Papa (Argentino) que se chamará Francisco, se um dia for questionado talvez responda.

Muitas curiosidades envolvem a história dos Papas. Com a eleição de hoje essas curiosidades aumentarão se olharmos alguns números. Foi escolhido no dia 13/03/2013. Os números sempre terminam com 3 e o numero 13 se sobressai. A idade do atual Papa é de 76 anos, que somados os dois algarismos será igual a treze. Treze para a numerologia sugere renovação, transmutação e recomeço. Comentaristas afirmam que ele escolheu ser chamado de Francisco para homenagear o santo de mesmo nome, este fazia críticas severas aos dirigentes do catolicismo em sua época e desejava fazer algumas reformas que entedia necessárias no Vaticano. Treze também significa azar para outros, é um número de sorte para outros, como o brasileiro Zagalo.
Os Maias usavam 13 números (chamados de tons) para identificar os 13 fluxos de energia em estado puro que emanam em espiral de forma grandiosa do Criador do universo; em nossa história recente, havia 12 apóstolos e Jesus (Sananda) formando o 13º, como representante da energia divina.



Outra curiosidade muito interessante foi sobre Leão 13. Dizem que ele foi um papa que liderou a renovação na igreja deixada pelo seu antecessor Pio IX. Ficou conhecido como o Papa que condecorou a Cocaína. Inclusive fazia propaganda do Vin Mariani, bebida com alto teor de cocaína. Quem desejar se arriscar a escrever mais sobre papas precisará de muita disposição, pois é extensa e conturbada a história desses chefes do maior partido político internacional, segundo Engels, o partido cristão. Ele tem núcleos (igrejas) em quase dois terços do planeta e é dirigido pelo Comitê Central que se reúne em Roma; tem mais de um bilhão de filiados, mas somente 115 tem o direito de eleger seu chefe máximo. Da minha parte fico por aqui e reafirmo que agora no mundo globalizado o papa é cada vez mais pop como diz a letra da música dos Engenheiros do Hawaaí. Se tal letra fosse escrita na época de Leão XIII seria O PAPA É PÓ. E por último antes que Maradona e os demais Argentinos venham tira onda conosco avisamos: SE O PAPA É ARGENTINO, DEUS É BRASILEIRO. Agora com um Papa Argentino, MAIS BRASILEIRO DO QUE NUNCA.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Qual o legado de Chávez? O nacionalismo burguês representado pelo chavismo não acabou com a pobreza ou a desigualdade social na Venezuela

DIEGO CRUZ, DA REDAÇÃO


Chávez: uma variante do velho nacionalismo burguês

• Desde que Chávez anunciou publicamente no dia 8 de dezembro a reincidência de seu câncer e uma nova cirurgia de emergência em Cuba, pouco ou nada se sabe sobre seu real estado de saúde. Especulações e boatos à parte, é quase consenso que a grave situação do dirigente bolivariano é irreversível e que muito dificilmente ele retornará ao cargo de presidente.

Deve-se respeitar a comoção de inúmeros ativistas e militantes honestos perante o drama pessoal de Chávez. Mas os acontecimentos recentes na Venezuela reacendem o debate sobre o chavismo e o real significado de seu “Socialismo do Século XXI”.

Durante os 14 anos em que esteve à frente do país, Chávez se tornou principal referência para grande parte da esquerda no mundo. “Hoje temos uma economia em transição ao socialismo” chegou a discursar o vice-presidente Nicolás Maduro ao dizer que a política do governo não mudaria no tempo em que Chávez estivesse convalescendo em Havana.

Mas seria mesmo a Venezuela dirigida pelo chavismo um país rumo ao socialismo ou, pelo menos, um avanço na luta contra o imperialismo?

Um nacionalismo burguês em nova roupagem
O fenômeno que possibilitou o surgimento do chavismo foi um produto da mobilização das massas venezuelanas. Em 1989 uma verdadeira insurreição popular contra a miséria e a inflação, conhecida como “Caracazo”, havia sacudido o país. O governo conseguiu sufocar a revolta, mas a crise econômica e política só se aprofundaram. Em 1992 o então tenente-coronel das Forças Armadas, Hugo Chávez, aproveitou-se do desgaste do governo de Carlos Andrés Pérez para tentar um golpe de Estado. Chávez fracassa, é preso, mas se transformou em uma referência política.

Em 1998 o militar de discurso nacionalista, já anistiado, lidera uma frente de partidos reunidos no "MovimentoV República" (MVR) e vence as eleições presidenciais, pondo fim à hegemonia de 40 anos dos partidos tradicionais da direita. A Venezuela que Chávez assume é um país com uma brutal desigualdade social e pobreza e com os políticos desacreditados após sucessivos escândalos de corrupção.

No governo, Chávez anuncia sua “revolução pacífica”, ou seja, uma política de mudanças graduais por dentro do Estado burguês, apoiando-se sobretudo, em sua base social, as Forças Armadas. Já a nova constituição promulgada em 2000 teve como principal medida centralizar ainda mais o poder nas mãos do Executivo. Com a onda de revoluções que passou pela América Latina na virada do século, Chávez foi reorientando o discurso nacionalista para a sua versão peculiar de socialismo.

Se por um lado Chávez e seu governo são produtos da mobilização das massas, porém, por outro se coloca à cabeça desse processo para institucionalizá-lo, desviando-o para uma política nacionalista burguesa, autoritária e que, apesar do discurso, não rompe com o imperialismo.

Apoiado em um setor da burguesia venezuelana que esteve ao seu lado mesmo antes de ser eleito, o governo passou à cooptação das direções sindicais e dos movimentos populares. Em 2007, Chávez avançou ainda mais em seu projeto de centralização política ao lançar as bases do PSUV (Partido Socialista Único da Venezuela), um partido com o objetivo de reunir toda a sua base e a esquerda, colocando-os sob a disciplina chavista. Quem não aderiu ao partido de Chávez foi tachado de “contrarrevolucionário”, mesmo que a legenda também reunisse “empresários socialistas”.

Produto da cooptação de dirigentes do movimento, da aproximação com empresários leais ao regime e da corrupção no aparelho do Estado, surge ainda a chamada “boliburguesia”, a burguesia “bolivariana”, que enriquece graças aos negócios com o Estado. Entre os exemplos mais proeminentes desse setor estão o presidente da Assembleia Nacional e um dos principais dirigentes do chavismo, Diosdalo Cabello e o presidente da PDVSA, a estatal do petróleo, Rafael Ramírez, ambos figuram entre os homens mais ricos da Venezuela. Cabello é dono de três bancos, indústrias e ações de empresas que mantém negócios com o Estado.

As nacionalizações realizadas com estardalhaço pelo governo Chávez, por sua vez, não passam de aquisições de ações de empresas, compactuadas com as multinacionais do setor sem qualquer conflito. Isso ocorre principalmente no setor petrolífero, em que a PDVSA participa de empresas mistas junto com as multinacionais da área, como também na CANTV (Compañía Anónima Nacional Teléfonos de Venezuela), uma das maiores e mais lucrativas empresas do país em que, apesar de ser oficialmente estatal, tem a maior parte controlada por empresas privadas.

A Venezuela deixada pelo chavismo
Não seria justo atribuir os graves problemas sociais da Venezuela apenas ao chavismo. Durante décadas a direita tradicional governou o país atendendo os interesses do imperialismo e tornando a Venezuela um dos países mais desiguais e pobres do continente. No entanto, passados 14 anos de governo Chávez, esses problemas persistem e tendem a piorar diante do agravamento da crise econômica.

Os programas sociais do governo venezuelano reduziram a pobreza extrema no país de 49% em 1999 para 29,5 % em 2011 (dados da Cepal). Mesmo assim, está acima da média da América Latina, de 28,8%. Na zona rural do país, os níveis de pobreza chegam a 59%.

Nos últimos 10 anos o conjunto de países no subcontinente foi favorecido pela alta demanda por matérias-primas, sobretudo da China. A condição de exportadores de commodities permitiu um relativo crescimento e, em geral, as taxas de pobreza e desemprego melhoraram, como ocorreu no Brasil, ainda que os problemas sociais estruturais estejam mais presentes do que nunca (a região conta ainda com 167 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza). Mesmo assim, em 2011, a Venezuela foi na contramão desse processo e teve um aumento de 1,7% na índice de pobreza e 1% na taxa de indigentes.

A verdade é que, por trás do discurso pretensamente revolucionário do chavismo, esconde-se uma política econômica que, em si, não difere muito dos governos anteriores. É totalmente dependente da exportação de petróleo (representa 90% das exportações venezuelanas e algo como 30% do PIB), continua atrelado e pagando em dia a dívida externa (que passou de 14% do PIB em 2008 para 30% em 2010) e com uma das mais altas taxas de inflação do mundo, que em 2012 fechou em 20% e que atinge de forma dramática os mais pobres. Como se isso não bastasse, a violência urbana explodiu nos últimos anos.

Por trás dessa situação que continua afligindo o povo da Venezuela está um sistema que permanece beneficiando as grandes empresas e o imperialismo.



A farsa do “anti-imperialismo”
Não é por menos que a Organização dos Estados Americanos, a OEA, tenha aceitado a manobra do governo em postergar indefinidamente o atual mandato diante da impossibilidade de Chávez em comparecer à cerimônia de posse, que deveria ocorrer dia 10 de janeiro. O imperialismo contrariou boa parte da direita venezuelana a fim de garantir uma estabilidade política que, em última instância, o beneficia.

Exemplo dessa situação foi o que o diretor para mercados emergentes do Eurasia Group, Christopher Garman, expressou ao jornal Estado de S. Paulo do dia 9 de janeiro: “Existe a percepção de que uma Venezuela pós-Chávez pode ser melhor para os negócios, mas nós temos de lembrar que as instituições políticas foram criadas em torno de Chávez”, explicou, para depois afirmar: “Com a oposição ou com um chavismo sem Chávez, nossa preocupação é que a instabilidade política e institucional possa afastar os investimentos e a confiança do investidor”.

O setor mais importante da Venezuela atende os interesses do imperialismo. Grande parte do petróleo cru exportado pelo país, por exemplo, tem como destino os EUA (suprindo o petróleo que a potência deixou de contar com o Oriente Médio deflagrado). Enquanto isso, a Venezuela se vê obrigada a importar petróleo refinado, assim como uma série de produtos básicos que não fabrica.

A desnacionalização da produção do petróleo, cujo marco foi a quebra do monopólio estatal em 1995, aprofundou-se com Chávez e hoje as gigantes do setor se apoderam da matéria-prima venezuelana. A PDVSA atua em conjunto com grandes empresas multinacionais, que também contam com áreas exclusivas de exploração. Empresas como a Conoco-Phillips, a Chevron-Texaco e a Exxon-Mobil controlam algo como 40% da produção do país.

Mas se do ponto de vista econômico, a Venezuela não contraria os interesses do imperialismo, politicamente Chávez seria um apoio à luta anti-imperialista na região? Infelizmente, nem isso. Em 2011 o governo venezuelano deixou a esquerda perplexa ao prender o representante das Farc que visitava o país, o jornalista Joaquín Pérez Becerra, e enviá-lo ao governo da Colômbia.

Chávez assumiu publicamente a responsabilidade pela medida, que passou ao largo de qualquer lei internacional em defesa dos refugiados e exilados políticos, apenas para atender um pedido do presidente colombiano Juan Manuel dos Santos, sucessor de Álvaro Uribe.

A esquerda chavista, que tanto aplaude de forma efusiva qualquer palavra do presidente contra os EUA, calou-se. E a história mostrou mais uma vez que o nacionalismo em um país periférico não é capaz de se contrapor ao imperialismo.

A responsabilidade da esquerda
Para além dos discursos ufanistas da cúpula chavista, as perspectivas não são nada boas para os trabalhadores venezuelanos. A situação da economia se agrava, o aumento da dívida pública provoca um rombo nas contas e um déficit fiscal de 20%. Pouco antes da internação de Chávez, o governo preparava o anúncio de um pacote de ataques a fim de enfrentar a crise. Conjuntura que já vêm produzindo arranhões no governo.

O desgaste do chavismo se expressou nas eleições outubro quando, apesar de Chávez ter ganhado com relativo folga, a vantagem de 54% dos votos contra 44% do candidato adversário foi a menor desde as eleições de 1998. Grande parte dos votos do candidato da direita, o governador de Miranda Henrique Capriles, ocorreu porque muitos trabalhadores resolveram “castigar” Chávez.

Sem uma alternativa política que conseguissem identificar, muitos trabalhadores que rompiam com o chavismo acabaram dando seu voto ao representante da direita. A mesma direita que destruiu o país nos anos 1980 e 1990 e que, alijada do poder, tentou um golpe em 2002 contra o governo de Chávez.

Esse é o dilema da esquerda. O governo Chávez conta hoje com o apoio da grande maioria da população, sobretudo dos mais pobres. Porém, tal apoio está ligado aos programas sociais (as “missões”), assistencialistas, que constituem fonte de sobrevivência a milhões de pessoas. Além de não resolverem os problemas estruturais do país, tais programas tendem a desaparecer diante do agravamento da crise.

A grande maioria da esquerda socialista, no entanto, não só não se lançou à tarefa de construir um polo independente, classista, como passou de malas e bagagens para o lado do chavismo, oferecendo um apoio quase que incondicional ao dirigente bolivariano e ao seu nacionalismo burguês. E aí está o drama para os trabalhadores. Quando as massas venezuelanas fizerem sua experiência com o chavismo, qual a alternativa que aparecerá para a classe trabalhadora? Nenhuma, além do retrocesso da direita.

A exemplo de Lula no Brasil, o chavismo vai na contramão do classismo e lança confusão entre os trabalhadores ao afirmar que é possível chegar ao socialismo junto com os empresários. Impede a livre organização dos trabalhadores ao reprimir e limitar a atuação dos sindicatos, partidos e movimentos independentes. Tenta fazer crer que o desenvolvimento da Venezuela não é antagônico aos interesses do imperialismo e suas empresas.

A única política realmente progressiva que se pode ter diante dessa complexa conjuntura é a luta pela organização independente dos trabalhadores, denunciando a direita neoliberal e pró-imperialista e explicando pacientemente às massas venezuelanas o real papel e caráter do chavismo.

Artigo publicado no Opinião Socialista 455 de 23 de janeiro de 2013

sexta-feira, 1 de março de 2013

PSTU responde ao artigo mentiroso de Maristela Pinheiro Maristela Pinheiro, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), escreveu um artigo mentiroso em que acusa a ativista síria, Sara al Suri, e o PSTU de colaborarem com o imperialismo. O texto se baseia em fontes duvidosas e suposições levianas. O artigo foi publicado no blog Somos Todos Palestinos. O PSTU desmente as acusações e condena o método de calúnias. Leia, abaixo, a nossa resposta a Maristela.


Da redação do site Nacional do PSTU

• Ao
Partido Comunista Brasileiro (PCB)
At. Maristela R. Santos Pinheiro

Ref: artigo sobre a revolução síria

Cara Maristela (com cópia à direção nacional do PCB)

Fomos surpreendidos pelo mentiroso artigo escrito pela companheira Maristela chamado “Suposta ‘militante’ síria elogiada em sítio das forças armadas dos EUA!? o que pode significar isso?”, veiculado no sítio carioca de solidariedade ao povo palestino, Somostodospalestinos, artigo que calunia a companheira Sara al Suri, o PSTU e a Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-QI) chamando-os de agentes do imperialismo.

Este método, utilizado amplamente por Stalin contra toda opinião dissidente, nunca serviu à luta pelo socialismo. Ao contrário, teve sempre o objetivo de impedir o debate saudável entre diferentes posições. Para não discutir a fundo uma posição diversa à sua, Stalin e seus asseclas lançavam calúnias contra todos que se contrapusessem a sua política, seja de agente do imperialismo, do nazismo ou ainda do patronato.

Complementar ao método de calúnias, Stalin também utilizava a eliminação física de seus opositores. A maioria dos dirigentes do Comitê Central do partido bolchevique à época da revolução russa de 1917 foi assassinada por Stalin ao longo dos anos em que esteve à frente do partido comunista soviético. Ato sempre precedido de uma campanha de calúnias sobre cada um deles como no caso de Zinoviev, Bukarin e todos os demais dirigentes do Comitê Central bolchevique, até chegar ao assassinato de Trotsky no México. Stalin sabia muito bem da integridade revolucionária daqueles camaradas e os caluniava para poder destruí-los, para poder calar a oposição. Após a morte de Stalin, esses métodos foram denunciados por seu próprio sucessor no Partido Comunista da União Soviética, Nikita Khruschev.

Por que fazemos essa comparação? Por que, assim como a direção stalinista na época, você, companheira Maristela, conhece muito bem a nossa corrente política e sabe que não temos qualquer relação política ou material com o imperialismo e seus agentes. Sabe que estivemos e estaremos na linha de frente no apoio à libertação dos povos que lutam contra a dominação imperialista e, em especial, conhece nossa militância a favor da Palestina e de todos os povos do Oriente Médio e Norte da África.

No entanto, Maristela, você preferiu fazer uma calúnia contra nós a fazer o debate político sobre a revolução síria. Sabemos que é difícil defender um ditador assassino como é Bashar el Assad, cujo principal papel na região é colaborar com Israel sem tomar qualquer medida para retomar os territórios sírios ocupados por Israel: as colinas de Golã. Sabemos que é difícil defender um regime político que invadiu o Líbano em 1976 a pedido de Henry Kissinger, para impedir que as milícias cristãs de extrema direita fossem derrotadas na guerra civil; que enviou cinco mil soldados sírios para apoiar as tropas imperialistas de George Bush na guerra do golfo contra Sadam Hussein em 1991. Para nossa indignação, em especial daqueles que conviveram com a companheira em várias lutas, Maristela preferiu seguir o método stalinista da mentira e da calúnia em sua pior face.

A CSP-Conlutas promoveu várias atividades públicas com a companheira Sara al Suri, militante da luta contra a ditadura Assad, nas principais capitais do país. O PSTU, através de seus militantes, apoiou a campanha e divulgou as atividades com uma série de vídeos e artigos em seu sítio. A campanha toda durou quatro meses. Os vídeos estiveram em forma constante nos sites do PSTU e da LIT, onde estava a versão em inglês. Tempo em que certamente não só Maristela, mas outros integrantes do PCB acompanharam o debate através do país. Numa dessas atividades, em Porto Alegre, Maristela esteve presente, mas preferiu não se pronunciar, preferiu se omitir. Para nossa surpresa, ao final desses meses todos é lançado este artigo para dar fundamento a sua posição de defesa do ditador Assad e questionar a política do PSTU e da LIT QI, lançando a GRAVE ACUSAÇÃO à Sara de ser uma “agente do imperialismo” no blog citado. Qual seria a prova dessas acusações? A suposta colaboração da companheira Sara com um site ligado aos militares norte-americanos.

Esclarecemos que o vídeo em questão foi produzido pela equipe de comunicação do PSTU e que o entrevistador era o companheiro Aldo Sauda, ativista pró-revoluções árabes e integrante do PSTU. Após sua produção, ele foi veiculado em inglês no sítio da LIT(QI) e em português no próprio sítio do PSTU. Ele não foi produzido nem disponibilizado para nenhum sítio das forças armadas estadunidenses ou qualquer outra mídia pró-imperialista. O que ocorreu de fato? Esse site norte-americano publicou um dos vídeos produzidos pela equipe de comunicação do PSTU sem dar a procedência e foi advertido pelo partido sobre esse roubo. Quanto à montagem com uma foto da companheira Sara, tirada no Recife, em meio à campanha que a CSP-Conlutas promove em solidariedade à revolução síria, sua confecção nunca foi autorizada e desconhecemos quem a fez. Maristela, no entanto, utilizou-a como se fosse a expressão da verdade sem o menor questionamento de tal montagem. Ao contrário, se vale disto para tentar dar sustentação às suas calúnias.

Reiteramos, como é público e notório para todos os que assistiram suas palestras que Sara, assim como o PSTU e a LIT-QI, se opõe a qualquer intervenção imperialista pois entende que qualquer intervenção imperialista tem como objetivo impedir um triunfo revolucionário contra o regime sírio. Um triunfo revolucionário contra o ditador Bashar el Assad provocará novos levantes e revoluções em toda a região, abalando a dominação imperialista, além de alimentar a luta do povo palestino contra o Estado racista de Israel.

Sabemos que os companheiros e companheiras do PCB defendem o regime sírio e se opõem à revolução democrática em curso. Julgamos que é muito importante que todos os ativistas dos movimentos sociais conheçam todas as posições em debate e consideramos legítimo que cada grupo, partido ou militante defenda sua posição. No entanto, acreditamos e defendemos sempre que o debate não pode ser feito utilizando-se de calúnias desta natureza.

Para dar um exemplo, citamos a posição do PCB sobre o Estado de Israel. O PCB e o governo da antiga União Soviética sempre apoiaram a existência do Estado de Israel. É de conhecimento público que Stalin proveu o armamento que foi utilizado pelas milícias sionistas para efetuar massacres de aldeias palestinas, como Deir Yasin, e promover a expulsão de cerca de 800 mil palestinos durante a chamada Nakba em 1947 e 1948, que levou à formação do Estado de Israel. Temos uma polêmica com o PCB sobre sua posição para a Palestina, pois apoiam a existência do Estado de Israel através da defesa de “dois estados” no território histórico da Palestina, posição que se mantém até os dias de hoje. Esta posição coincide, por exemplo, com as posições dos governos imperialistas dos Estados Unidos e Europa. Apesar disso nunca fizemos nem faremos uma campanha chamando o PCB ou algum de seus militantes de “agentes do imperialismo” pela defesa destas posições. Polemizamos com as suas posições tais como são sem necessidade de fazer calúnias ou inventar mentiras.

Acreditamos que é necessário eliminar esse método de utilizar acusações morais e calúnias para destruir o adversário e desviar o debate político entre ativistas e suas organizações.

Exigimos a retirada imediata da calúnia que acusa Sara. O PSTU e a LIT-QI de “agentes do imperialismo” e desafiamos os companheiros e companheiras do PCB a promovermos um debate honesto sobre a revolução síria, aberto a todos os ativistas interessados.

Entendemos que esta é a melhor forma daqueles que lutam por uma perspectiva socialista tratarem suas divergências

Saudações socialistas,

Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado