quarta-feira, 20 de março de 2013

O VÔO DO DRAGÃO

Texto escrito por Jonadabe Gondim.

“Mesmo quando luta contra um gato, o tigre usa toda a sua força”.
(provérbio chinês)


O aforismo acima deve ser compreendido para além das artes marciais, embora faça uma referência clara a estas; este provérbio nos exorta a darmos sempre o nosso melhor e a viver plenamente. Talvez este provérbio seja a síntese perfeita da vida do ícone Bruce Lee (Lee Jun Fan): um homem intenso, que conseguiu ser, ao mesmo tempo, UM e MUITOS homens. Um homem que conseguiu ser, simultaneamente, o tigre o gato; poderoso e delicado, forte e fluído. Isso era parte essencial de sua filosofia: ser firme, mas não estático; enxergar e exercer a vida com fluidez e compreender esta como um processo dinâmico.

Intensidade e fluidez definem sua vida. Um homem que não aceitava menos de que o seu melhor. Ao se dedicar, quando jovem, a dança do chá chá chá, não bastou aprender os passos. Não, ele teve que ser o campeão nacional! Essa intensidade, essa capacidade de entrega, o levava constantemente a elevar o seu próprio nível e ao fazer isso, acabava por elevar o de todos a sua volta. As artes marciais não seriam mais as mesmas após sua passagem, o cinema e o MUNDO também não.

Sua capacidade de entrega, somada a sua imensa fluidez transformaram o mundo em sua volta como poucos artistas o fizeram. Isso que fazem hoje os torneios de MMA, depois da revolução que os Gracies desencadearam, em que o diálogo entre diferentes técnicas, de diferentes modalidades de lutas, constitui um somatório em que TODAS se convertem em UMA só, adaptando as velhas fórmulas as diferentes situações criadas, em um constante desenvolvimento e evolução, teve em Bruce um predecessor e uma fonte de inspiração.


Já nos anos 60, Lee, frustrado com as limitações com que se deparava em seus aprendizados nas artes marciais chinesas, sobretudo o Wing Chun, que era a base de sua técnica, desenvolveu o seu próprio método, tendo como objetivo atingir outro patamar de eficiência e mesclar as mais diversas modalidades de lutas, extraindo de cada uma o seu melhor. Este conjunto, batizado por ele de Jeet Kune Do (o caminho do punho interceptor) deveria romper com os tradicionalismos (distorções do sentido de tradição) e apresentar-se de forma bastante dinâmica, transformando-se constantemente, com a maior fluidez possível.

Antes dele, as artes marciais ocupava um lugar extremamente marginal no cinema (e na sociedade como um todo). A partir de seus filmes e de sua exposição, estas fascinaram o ocidente, deixando de ser algo “exótico” e constituindo, cada vez mais, parte do cotidiano. Mas Bruce queria, obviamente, mais que isso: não bastava desenvolver no ocidente o apreço pela cultura marcial oriental, mas desenvolver o entendimento cultural como um todo, derrubando barreiras e possibilitando um intercambio intenso, que mudaria o mundo e suas diferenças. Para Lee, estava claro que o mundo precisava de maior fluidez.
Para se alcançar isso, era preciso mudar o próprio entendimento que as diferentes culturas tinham umas sobre as outras e de si mesmas, quebrando os estereótipos que as separam, tornando o mundo um só.

O seu próprio nome artístico simbolizava isso: BRUCE LEE agregava em si elementos tanto do ocidente, quanto do oriente. Este sino-americano, que cresceu em Hong Kong e mudou-se para os Estados Unidos ao completar 18 anos, sabia e fazia muito bem aquilo que Platão ensinava e que costumeiramente esquecemos fazer: OUSAR A UTOPIA. As artes marciais foram apenas a ponte para que se pudesse atingir algo maior para o mundo e para si mesmo. Esse é o seu maior legado.

Nesse ano faz 40 anos que Bruce se tornou eternamente jovem, nos deixando, como alguns poucos raros, com perspectivas maiores e melhores sobre esse campo de existência e mesmo passado tanto tempo ele continua a nos instigar e preencher os nossos espíritos. Como um tigre. Como um gato.

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