segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Segundo turno consolida vitória da direita

O segundo turno, encerrado ontem (30), consolidou o triunfo da direita tradicional nas eleições municipais de 2016. Trata-se, portanto, de um inegável avanço político das forças conservadoras.

Os partidos que hoje formam a base do governo Michel Temer (PMDB) e que sustentaram o impeachment de Dilma Rousseff (PT) vão comandar 81% do eleitorado do País. Das 57 cidades onde ocorreu segundo turno, as siglas governistas venceram em 46.

Ao todo, somando o resultado obtido no primeiro turno, os partidos da base de Temer elegeram 4.446 prefeitos. Das 26 capitais, as siglas governistas venceram em vinte.

Dessa forma, o desfecho das eleições municipais reforça o apoio institucional ao governo golpista, o que confere mais força à aprovação das contrarreformas sociais no Congresso Nacional.
Ainda que não seja um elemento central da análise eleitoral, vale notar a taxa recorde de votos brancos e nulos no segundo turno. No total, 14,3% dos eleitores que foram às urnas não escolheram nenhum dos candidatos. Em 2012, no segundo turno, os brancos e nulos somaram 9,2%. O índice de abstenção, de 21,5%, registrou uma ligeira alta. Em 2012, esse percentual ficou em 19,1%.

O principal vencedor: o PSDB de Alckmin

Os candidatos do PSDB vão comandar municípios que abrigam 23,9% do eleitorado, isto é: um a cada quatro eleitores terá como prefeito um tucano. Em 2012, a porcentagem do eleitorado governada pelo PSDB era de 13,1%.
Os tucanos venceram em sete capitais: São Paulo, Porto Alegre, Manaus, Belém, Porto Velho, Maceió e Teresina. O êxito do PSDB também se revela no triunfo em importantes cidades industriais como São Bernardo, Santo André, Contagem, São José dos Campos, entre outras.

Geraldo Alckmin, por sua vez, termina as eleições como o principal nome do ninho tucano. O governador de SP, além de emplacar o prefeito da capital paulista no primeiro turno, obteve uma estrondosa vitória nas grandes e médias cidades do estado. Ao mesmo tempo, assistiu a derrota do seu competidor interno, Aécio Neves, em Belo Horizonte. Desse modo, Alckmin pavimenta o caminho à disputa presidencial de 2018.

A derrocada do PT

O desmoronamento político-eleitoral do PT confirmou-se neste domingo. Das sete cidades em que concorria no segundo turno, o partido de Lula perdeu em todas. Em Recife, a única capital onde estava na disputa, o PT não alcançou 40% dos votos válidos.
O peso do massacre fica ainda evidente quando observamos o resultado no ABC paulista, berço político do PT. Pela primeira vez em sua história, o partido não elegeu prefeito na região. Em Santo André, o candidato petista foi humilhado pelo concorrente tucano no segundo turno: 78% (PSDB) a 22% (PT) dos votos válidos.
Em nível nacional, a parcela do eleitorado governada pelo PT desabou de 19,9% para 2,9%. Das 92 cidades com mais de 200 mil eleitores, o partido só venceu em uma (Rio Branco, no Acre). Ou seja, o PT foi varrido do comando das grandes e médias cidades do País. A queda é monumental e assume, incontestavelmente, proporções históricas.

O PSOL se fortalece à esquerda

Num contexto de avanço das forças da direita, o resultado do PSOL, ainda que modesto, foi inegavelmente vitorioso. No segundo turno, apesar de derrotado eleitoralmente, o partido obteve expressivas votações: Marcelo Freixo obteve 40,6% no Rio, Edmilson Rodrigues 47,6% em Belém e Raul Marcelo 41,5% em Sorocaba.

O desempenho, especialmente nos grandes centros urbanos, credencia o partido como a força política dinâmica da esquerda brasileira. A parcela minoritária do eleitorado que desgarrou do PT e se movimentou à esquerda, viu nas candidaturas do PSOL uma referência política e eleitoral. Destaca-se, nesse cenário, a campanha de Freixo no Rio, que levou milhares de jovens e trabalhadores às ruas em grandes comícios e atividades de campanha.

O resultado do PSOL está longe de representar a superação do PT por uma nova alternativa de esquerda enraizada na classe trabalhadora. Porém, um pequeno passo foi dado. É preciso valorizá-lo. O principal desafio do PSOL será apresentar um projeto de esquerda que evite os caminhos que conduziram às traições cometidas pelo PT.

Nesse sentido, a ruptura com o programa de conciliação de classes, a retomada do projeto socialista e a prioridade da mobilização e organização da classe trabalhadora são decisivos. Alianças do PSOL com partidos burgueses, como ocorreu em Belém, por exemplo, vão na contramão da necessidade de aprender com os erros do PT.

Construir o 3º turno nas lutas

As eleições fortaleceram a direita e o governo Temer para seguir e aprofundar os ataques aos trabalhadores, à juventude e aos oprimidos. A ofensiva da classe dominante se intensificará no próximo período.

Por isso, é absolutamente central a construção da mais ampla unidade na luta. O conjunto das forças e lideranças da esquerda, dos movimentos sociais, das organizações dos oprimidos e das entidades sindicais e democráticas precisa levantar um programa de ação comum em defesa dos direitos sociais, trabalhistas e democráticos. A resistência unificada é o único caminho para barrar a ofensiva reacionária. A construção de uma Frente ampla de resistência, com todos os setores dispostos a lutar, de modo algum deve estar ligada ao projeto petista para a corrida presidencial de 2018.
Nesse sentido, é fundamental cercar de solidariedade ativa as escolas ocupadas no Paraná e em todo país, assim como fortalecer as greves em curso (como a da Fasubra) e as lutas contra a PEC 214 e a Reforma da previdência. Por outro lado, é necessário preparar, desde já, fortes dias nacionais de luta em 11 e 25 de novembro. Nas ruas, está a principal trincheira da esquerda.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Um paradoxo da esquerda brasileira

Por: Valerio Arcary, colunista do Esquerda Online
Sejamos sérios: o impeachment não teria sido possível sem a Lava Jato.
Não se pode, portanto, ser contra o impeachment e apoiar a Lava Jato.
Tampouco, se pode ser a favor do impeachment e contra a Lava Jato.
Nenhuma destas duas posições faz sentido. Porque o pacote é indivisível. Falta coerência, nexo, coesão interna.
E, no entanto, temos estas duas posições, nem sempre muito bem fundamentadas, ou mesmo, razoavelmente, explicadas, na esquerda marxista brasileira.
O que é um paradoxo. Um paradoxo, dizem os dicionários, é “o oposto do que alguém pensa ser a verdade” ou uma situação que contradiz a intuição comum”.
A chave da resposta a esta contradição lógica está na evidência de que a Lava Jato é muito popular. E o que é muito popular, porque unifica os humores das diferentes classes sociais que, em outras circunstâncias, estão divididas, é raro e tem muita força.
A Lava Jato é popular porque a imensa maioria do povo está exasperada contra a corrupção. Mas, ser a favor da luta contra a corrupção, uma reivindicação democrática, justa e progressiva não é igual, e não deve se confundir com ser a favor da Lava Jato.
A campanha política que culminou no impeachment foi tão bem sucedida, justamente, porque se iniciou dissimulada, camuflada, mascarada pela Lava Jato.
Sim, a Lava Jato tem muito apoio. Acontece que nem tudo que mobiliza os trabalhadores é progressivo, e muito menos, revolucionário. Ao contrário, as massas populares podem se mobilizar, transitoriamente, por palavras de ordem reacionárias. 
Ou seja, mobilizarem-se contra os seus interesses.
Acontece até com relativa frequência. Será temporário, efêmero, passageiro, provisório, não indefinidamente. Mas, acontece.
A consciência dos trabalhadores oscila sempre.

Ela é uma expressão da luta entre as ideias da classe dominante e as lições duras de suas experiências práticas de vida.

Só para relembrarmos um exemplo, a mobilização de apoio ao Papa João Paulo II no estádio do Morumbi, no início dos anos oitenta, foi uma mobilização muito popular, porém, ultra-reacionária. Juntou dezenas de milhares de trabalhadores e não se ouviu um só “Abaixo a ditadura”. O objetivo da visita do Papa, depois da onda de greves que sacudiu a ditadura militar no final dos anos setenta, era apoiar o projeto de transição gradual, lenta, controlada que estava sendo operado desde Brasília por Golbery e Figueiredo, com o apoio de Carter e, depois, de Reagan, no contexto da última etapa da guerra fria.

Temiam o perigo de uma ruptura.

Queriam evitar que a ditadura fosse derrubada.
Trabalhavam associados com Washington para garantir um projeto inspirado no Pacto de La Moncloa, que garantiu a transição no Estado Espanhol, sem a queda da monarquia, sem que se abrisse uma crise revolucionária.
Lula fez questão, nas cerimônias fúnebres do Papa polonês, de lembrar que esteve presente, o que, para dizer o mínimo, foi triste, ou lamentável.

Felizmente, a maioria da esquerda brasileira de então não caiu na armadilha. Não convocou para ir ao estádio do Morumbi ouvir o Papa polonês Woytila.

Outro exemplo: quando Tancredo faleceu em 1985 ocorreram grandes manifestações, em São Paulo, e as massas comovidas saíram aos milhares para saudá-lo. O mesmo aconteceu, também, em Minas Gerais. Muitos se perguntavam até se Tancredo não teria sido assassinado. Embora muito massivas foram ações dos setores mais atrasados e confusos.
Podemos lembrar, também, o apoio popular intenso ao Plano Cruzado, em 1986, que teve apoio de grupos com origem na esquerda, como o MR-8, ou, até pior, ao Plano Real em 1993. Ambos muito populares.
Nada deveria ser mais importante para um socialista, portanto, do que favorecer a organização e mobilização independente dos trabalhadores. Independente quer dizer separada, apartada e autônoma da classe dominante. A luta pela organização independente é uma luta contra a influência que as ideias burguesas têm sobre o conjunto da sociedade, portanto, também, sobre parcelas dos próprios trabalhadores.

Um programa é a forma de traduzir a defesa de interesses.
A primeira responsabilidade de um agrupamento socialista é procurar expressar a defesa dos interesses dos trabalhadores. Se os trabalhadores, ou a juventude, ou qualquer outro segmento social popular duvida das suas forças, o esforço de uma política marxista é levantar o programa e a palavra de ordem para a ação que melhor corresponda aos seus interesses, mas, ao mesmo tempo, que corresponda ao seu estado de espírito e à sua disposição de luta: a proposta mais revolucionária não é aquela mais “à esquerda”: Marxismo não se faz com critérios cartográficos.

A geografia é uma ciência linda.
Mas, coletivos socialistas que definem suas posições pelo critério de delimitação não são sérios.

A melhor proposta é aquela que coloca as massas em movimento.
Mas, de forma independente.
Não como um vagão auxiliar do trem dirigido pelo inimigo de classe
A política marxista tem, portanto, limites de classe.

Não deve ser um vale tudo.
O empirismo é mal conselheiro.
Esse é o problema da palavra de ordem: 
“Lava Jato até o fim”.
Há um plano político por trás da Lava Jato.
Esta operação não é uma investigação independente.
Ela é indivisível do Fora Dilma e Fora PT, que levou milhões às ruas para entregar o poder ao Congresso. 
Que o devolveu a Temer.
Sem que houvesse um só cartaz rabiscado por algum distraído em manifestação alguma exigindo: “Temer deve ser presidente, e chamar Meirelles para governar”, ou “ Façam o ajuste fiscal cortando verbas públicas da educação e saúde para tranquilizar os credores da dívida!”, ou ainda, “Reforma da Previdência com idade mínima de 65 anos, já!”.
Não ocorreu a ninguém, entre as centenas de milhares que saíram às ruas vestidos de verde-amarelo, com as camisetas da seleção, levantar estas reivindicações.
Gritavam: “A nossa bandeira jamais será vermelha”, um slogan anticomunista. primitivo. Havia, é certo, aqueles que pediam que o Exército tomasse o poder. Pegaram carona. O ambiente reacionário os absorveu.
A relativa autonomia técnica de procuradores do Ministério Público e de delegados da Polícia Federal pode cegar a perspectiva da classe média que estava enfurecida até três meses atrás. Mas, não deveria ofuscar ninguém na esquerda de que a Lava Jato esteve articulada, desde o princípio, a uma estratégia política que tem ramificações internacionais.
A burguesia esteve dividida, seriamente, em relação a este projeto durante, pelo menos, um ano e meio. Esperou para verificar se o segundo mandato de Dilma Rousseff poderia fazer o ajuste.
Só a partir do final de 2015, foi se constituindo uma maioria. E houve frações burguesas derrotadas, justamente, porque temiam o preço da Lava Jato.
Mas, a esquerda socialista precisa resistir à pressão da maioria burguesa que venceu na luta pelo golpe parlamentar “a la paraguaia”.
Esses são os que estão atrás do biombo da Lava Jato.
Eis o plano: criminalizar a direção do PT, e deslocar o bloco político que ofereceu sustentação aos seus governos, desembaraçando-se, se necessário, também, dos líderes das oligarquias e frações mais atrasadas e corruptas, para abrir um caminho para uma nova hegemonia. Conseguiram unir a a maioria da burguesia, mesmo com uma fração do empresariado indo para a cadeia, apoiando-se na classe média, para tentar levar até o fim um ajuste liberal: quem o dirige é Meirelles.

Sejamos claros: nunca houve e não haverá capitalismo sem corrupção, nem aqui, nem na Suécia, para que o exemplo seja claro. As taxas da infecção podem variar, mas o vírus é mutante, se adapta, resiste. É um parasita da acumulação de capital.
O regime de presidencialismo de coalizão favoreceu a metástase.
Por muitas e variadas razões: a oportunidade de negócios milionários nas privatizações; a impunidade histórica que protege a riqueza rápida; a inexistência de um partido burguês liberal de dimensão nacional; processos eleitorais, estupidamente, caros; e, claro, as peculiaridades brasileiras do processo de seleção dos quadros políticos dirigentes.
Podemos denunciar a corrupção sem nos deixarmos impressionar pelo apoio popular que têm juízes, policiais e procuradores.
Podemos denunciar a corrupção, inclusive dos dirigentes do PT, sem apoiar a Lava Jato.

Os limites de classe da Lava Jato não tardarão a ficar claros.

A esquerda socialista não deve cair nesta armadilha

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

A ‘nova’ Reforma Política e a ofensiva da burguesia

Está prevista, para esta quarta-feira (19), a instalação da Comissão Especial da Reforma Política da Câmara dos Deputados. A necessidade de continuar os debates tem sido uma unanimidade na base aliada do governo golpista de Michel Temer (PMDB) e mesmo na oposição dirigida pelo PT. As funções de relator e presidente da comissão serãodesempenhadas pelo PT (Vicente Cândido) e PMDB (Lúcio Vieira Lima), respectivamente.
Devemos localizar a Reforma Política no mesmo pacote de ataques que o governo Temer (PMB), apoiado pela maior parte da burguesia brasileira, está aplicando neste momento contra os trabalhadores e estudantes, como a PEC 241, ou PEC do Teto dos Gastos e as contrarreformas da Previdência, Trabalhista e do Ensino Médio.
As mudanças no sistema político, na atual conjuntura, não vão beneficiar a maioria da população. Seu objetivo é restringir a liberdade política e de organização da classe trabalhadora e tentar impedir o surgimento de uma alternativa dos trabalhadores perante o governo golpista de Temer e a crise do PT.
É bom lembrarmos que a Reforma Eleitoral de Cunha, aprovada em 2015, foi um primeiro movimento de ataque a direitos políticos. Diminuiu o tempo de TV de partidos ideológicos, como o PSOL , PSTU, PCB e PCO. Limitou, também, ainda mais a participação desses partidos nos debates de TV, principalmente o PSOL, impedido em várias cidades importantes do país, mesmo estando ente os primeiros nas pesquisas, simplesmente porque não foi convidado pelas emissoras de televisão.
Na atual proposta de Reforma Política o objetivo central é criar dois tipos de partidos, os partidos com ‘funcionamento parlamentar’, com acesso ao fundo partidário e tempo de TV e rádio, com direito a funcionamento no Congresso Nacional e a propor ações no Supremo Tribunal Federal e os outros partidos que seriam praticamente semi-legais sem acesso à TV, fundo partidário e direito de ação no STF.
O Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), já informou que a primeira apreciação deprojetos da Reforma Política será no dia 8 de novembro, quando será analisada, no Senado, a cláusula de barreira e o fim das coligações.
Quais são os ataques previstos?
Cláusula de Barreira para os partidos políticos – A proposta é impor uma cláusula de barreira de 2% para ser conquistada em pelo menos 14 estados do Brasil. Caso não se consiga essa votação, os partidos políticos não chegariam ao parlamento, nem teriam acesso ao fundo partidário. Essa medida hoje prejudicaria o PC do B, PSOL, PSTU, PCB e PCO. Como já afirmamos, o objetivo principal é impedir o surgimento de uma alternativa pela esquerda aos partidos da base aliada de Temer e o PT.
Sistemas eleitorais na Reforma Política – O PMDB e o PSDB, que vão dirigir a Comissão Especial, querem mudar o sistema que hoje é proporcional para o distrital. Esse sistema favorece os grandes partidos, em detrimento dos menores. Divide o território em distritos, onde se elege o mais votado. Esse modelo existe na Inglaterra. Querem impor um sistema eleitoral que conduza o Brasil para o bipartidarismo ou um favorecimento explícito para os grandes partidos como o PMDB, PSDB, PP, PSB e mesmo o PT.
Volta do financiamento empresarial – O financiamento empresarial dos partidos e campanhas eleitorais foi derrubado pelo STF em setembro de 2015. Essa decisão do STF significou a redução de 65% da arrecadação nas campanhas eleitorais em relação a 2012. O objetivo do PSDB e PMDB, em articulação com o Ministro Gilmar Mendes do TSE e STF, é permitir a volta do financiamento das pessoas jurídicas em um fundo administrado pela Justiça Eleitoral e direcionado aos partidos que as empresas querem doar.
Uma campanha unificada contra a Reforma Política
As propostas atuais da Reforma Política não representam um ataque ao PSOL, PSTU, PCB e PCO, mas ao conjunto das organizações da esquerda brasileira. Inclusive ao PC do B. É parte da ofensiva burguesa que busca retirar direitos da classe trabalhadora. Devemos nos posicionar de maneira categórica contra mais um ataque desse Congresso corrupto.
É preciso uma campanha unificada de todos os partidos políticos e movimentos sociais contra o retrocesso que significa a Reforma Política que será apresentada pelo governo golpista de Michel Temer. Essa pauta deve estar presente e ser denunciada em todas as mobilizações da classe trabalhadora e da juventude. O dia 24 de outubro e as mobilizações contra a PEC 241 devem ser um primeiro momento de denúncia desse ataque.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

600 ESCOLAS OCUPADAS NO PARANÁ: NACIONALIZAR A LUTA JÁ!

Do blog Esquerda On Line

Por Otávio Tinoco, direto de Curitiba e Matheus Gomes,Porto Alegre, RS
A mobilização dos estudantes no Paraná é histórica, já passou em números o que foi em São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Ceara. Compara-se em seu peso político ao que aconteceu no Chile (lembrando que o país tem apenas 6 milhões de habitantes a mais que o estado): somado a greve dos trabalhadores da educação estadual, a ocupação de 8 universidades e 2 núcleos de educação, há um movimento intenso de milhares de jovens e trabalhadores.
Não é brincadeira o que a piazada daqui está fazendo frente a crise política, econômica e de retiradas de direitos não só no Brasil mas que toda a América Latina vive. Eles e elas não dizem não apenas a Reforma do Ensino Médio ou a PEC 241, dizem não a Beto Richa, Michel Temer e a esse sistema político e educacional que não dialoga com os desejos da juventude e com sua necessidade em debater temas como o de opressões e desigualdade social presente na maioria das ocupações através das oficinas.
As 600 escolas ocupadas do Paraná com sua organização, mobilização e com a participação e apoio das comunidades e de seus pais e mães impõem ao governo de Beto Richa uma situação delicada, pois todos os olhares voltam-se ao seu estado, qualquer ação errada de repressão equivocada pode desencadear um movimento de ocupações a nível nacional com ainda mais força, trazendo talvez um novo cenário de luta a juventude brasileira. Lembrando que já existem ocupações no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Maranhão e Pernambuco, a maioria de Institutos Federais.
Já está provado que não será fácil esse processo de desocupação e desarticulação do movimento através ações violentas da polícia, por isso Beto Richa se reuniu no domingo com seu secretariado para tentar articular um movimento de criminalização velada escola por escola através do Conselho Tutelar, Ministério Público, CPMs e Direções de Escolas, indicando eles a cumprir um papel que não é deles ou, pelo menos, não nos moldes que Beto Richa quer e espera que ocorra. Eles também mobilizam grupos semelhantes ao movimento “Desocupa”, que utilizou métodos violentos nas ocupações do RS.
Mais do que nunca os estudantes dizem através desse número gigante de escolas ocupadas que é necessário nacionalizar as ocupações, as greves e as mobilizações contra todas as medidas autoritárias do governo golpista de Michel Temer ou dos governos estaduais que mesmo com a aprovação em primeira estância no congresso da PEC 241 querem aprovar separadamente a privatização ou repasse da responsabilidade com a educação para iniciativa privada e “Organizações Sociais” o mais rápido possível.
A juventude dá a pista que não será com direções burocráticas de movimentos estudantis e sindicais atravancando os nossos caminhos que se dará a unificação do movimento e muito menos o fim dele. O recado é bem ao contrário, será conectando as pautas entre estudantes e trabalhadores(as), com negociações amplamente debatidas, sem negociatas de gabinetes, sem apropriações partidárias e que só assim a juventude vê um caminho para derrubar a Reforma do Ensino Médio e a PEC 241, dizendo não a Temer, Beto Richa e outros governos autoritários que querem impor a juventude e aos trabalhadores e trabalhadoras um futuro sem perspectivas.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

O povo tem o governo que merece?

Por: Camila Lisboa, de São Paulo, SP

O resultado eleitoral na cidade de São Paulo foi desastroso. A alegria e surpresa de Geraldo Alckmin, com a vitória de João Dória no primeiro turno, é inversamente proporcional à perplexidade e temor que tomou conta de milhares de pessoas. Principalmente aquelas que têm uma larga experiência com o PSDB.
Truculência no Pinheirinho, falta de água no Estado, repressão aos movimentos sociais, demissão dos metroviários, truculência nas negociações com professores e demais categorias estaduais. Reorganização escolar e polícia batendo nos jovens estudantes. Isso para não falar do propinoduto tucano na CPTM e Metrô. Uma longa lista de absurdos que fazem muitos e muitos jovens estudantes e trabalhadores paulistas ficarem indignados com uma vitória eleitoral acachapante do pupilo de Alckmin, um dos principais responsáveis por todas essas atrocidades tucanas.
Compartilhamos dessa perplexidade, indignação e preocupação. Será muito importante reunir e reorganizar forças para enfrentar as medidas privatistas e “antipovo” que João Dória vai encabeçar.
Mas é preciso compreender este resultado. E acreditamos que apenas a constatação de que “o povo é ignorante”, “desinformado” ou pouco instruído, não explica este resultado. Ela é apenas uma constatação de que as pessoas se informam pouco para votar. E isso é uma infeliz verdade, que deve ser explicada junto a este resultado. Nos preocupa a repetição constante dessa constatação na forma de comentários preconceituosos, de que “o povo é burro”, que “tem o governo que merece”. O povo de São Paulo não merece o governo de João Dória.
Como é a participação e educação política do povo?
A participação política da população é pouquíssimo estimulada. A organização dos trabalhadores em seus sindicatos, na briga por seus direitos, ou da juventude na defesa da sua escola é um aprendizado político praticado por uma porcentagem pequena da população. E mesmo entre essas formas de organização, há diferenças entre si, que garantem mais ou menos aprendizados políticos.
Em geral, quanto mais precário é o trabalho, há menos organização desta ou daquela categoria. E com isso, menos conquistas materiais e menos aprendizados políticos. E quem trabalha de forma mais precarizada na cidade de São Paulo – assim como em todo o país – mora na periferia da cidade. É também a população mais pobre e mais carente que tem menos acesso a uma educação de qualidade, o que é consequência de anos e anos de sucateamento e depredação do ensino público.
A combinação entre pouco aprendizado político, vindo de uma luta por salários, por direitos, etc e pouca formação de qualidade estimula a pouca participação política. E a pouca participação política diminui a memória política da população. Mas até aqui, demonstramos que as raízes disso não está na disposição deste ou daquele indivíduo ir atrás das propostas. Isso pode acontecer dentre as pessoas mais desprovidas de acesso à informação. Mas não é a regra social, ou seja, o fato mais recorrente que ocorre. Por isso, há uma explicação social para isso.
Nesta explicação, é possível então associar que a destruição da educação pública, assim como a precarização do trabalho e a pouca organização sindical e política da população serve muito aos poderosos de plantão. Trata-se de um processo estimulado quando este ou aquele governo sucateiam as áreas sociais. O que demonstra que a “alienação do povo” é estimulada.
O recado da quebrada
E mesmo diante de toda essa realidade adversa, as poucas vias de ampliar a instrução coletiva e política da população não elimina totalmente a memória política da população. Porque este resultado na cidade de São Paulo também revela recados políticos importantes que se conectam com diversos fatores políticos da realidade em que ocorreram as eleições. E que demonstram que a “alienação do povo” tem limites.
Um deles foi a desilusão com o PT. Por razões de seu estelionato eleitoral. Por razões de seus ataques aos trabalhadores, de sua infeliz opção de tentar governar para ricos e pobres. Uma fórmula que não funcionou ou que favoreceu os ricos. Por razões de entrar no jogo dos poderosos contra os quais o PT tanto lutou.
Aqui em São Paulo, essa desilusão se somou ao fato de que Haddad abandonou a periferia. Abandonou e ignorou a base social que o PT tinha na cidade. As medidas democráticas no centro dessa megalópole, como a ciclovia, o Wi-Fi, a Paulista aberta, não impactaram positivamente a vida no Capão Redondo, na Cidade Tiradentes, na Cohab II, na Brasilândia, São Matheus, etc. E o povo deu o seu recado. Distorcido e com uma péssima resultante. Mas foi um recado importante. Um recado que deve ser compreendido por aqueles que querem mudanças reais e definitivamente não vêem no PSDB – e nem em Marta e em Russomano – o caminho para isso.
Regras antidemocráticas
Dentro de todo esse contexto, a eleição é um jogo super controlado pelo poder econômico e pelo poder dos que já estão no poder. O tempo de TV dos candidatos é calculado pela quantidade de parlamentares que um partido ou uma coligação possuem.
Em 4 minutos, Dória tinha muito mais oportunidade de apresentar suas ideias do que, por exemplo, Luísa Erundina, que tinha 10 segundos em seu programa. Isso é uma forma de manter os mesmos partidos no poder. As campanhas mais ricas conseguem mais alcance. Em uma cidade como São Paulo, isso é determinante.
“Eu não sou político, sou gestor”Essa foi a frase mais repetida pelo candidato que saiu vitorioso. Um jogo de marketing mentiroso – pois Dória estava se candidatando para um cargo político e teve vários cargos indicados, como a presidência da Embratur. Mas ao mesmo tempo, um slogan que empalmou na indignação da população com a “classe política” em geral. E que reforça a ideia de que as melhores administrações são aquelas “isentas”, preocupadas em administrar. Também uma ideia mentirosa, porque seu projeto – revelado ainda mais nessa semana com a anúncio de uma lista de privatizações – não tem nenhuma isenção. Privatizar é um projeto político de país, um projeto que favorece empresas e empresários e destrói os serviços para a população.
Unir a quebrada, os movimentos sociais, dos trabalhadores e da juventude, contra os ataques de DóriaÉ claro que nos preocupa a ampla adesão eleitoral que teve esse programa. E reforça a tarefa de desenvolver argumentos que demonstrem como se trata de uma péssima saída para os problemas da população. Mas isso não vai se desenvolver com a reprodução dos comentários preconceituosos de que o “povo é burro”. Isso vai se desenvolver com a ampliação da relação dos movimentos sociais, das organizações de luta dos trabalhadores com as lutas da periferia. Isso vai se desenvolver com o fortalecimento de uma alternativa sólida de esquerda, provada nas lutas políticas e ideológicas, que tenham corpo e alcance para se fazerem vistas pelo povo.
Esse discurso divide aqueles que precisam se unir para derrotar Dória e o estelionato político e eleitoral do PT. A periferia mostrou que decide. E as ações políticas dos governos estão a serviço de não estimular a participação política do povo. Ao contrário, não querem que a quebrada expresse em lutas e em votos a indignação com a desigualdade social e com as dificuldades que as administrações pública voltadas aos ricos geram.
A associação de que a “senzala” elegeu seu “Senhor de engenho” é uma associação preconceituosa, que não condiz com a história de luta dos negros escravizados. Na história de nosso país, a senzala insurgiu contra seus senhores de engenho. A população paulistana não votou em Dória porque o viu como seu Senhor de engenho. O povo não é burro. O povo é vítima de um sistema político, econômico e social extremamente injusto e controlado pelos poderosos.
E o desafio daqueles que têm uma larga experiência com o PSDB é se unir ao povo, compartilhar essa experiência. E aprender com a sua força. Que se não fosse tão decisiva, os discursos dos candidatos e governantes não seria tão debruçado sobre as demandas da periferia.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Sobre a nota do PSTU de Natal em relação a não eleição de Amanda Gurgel

O PSTU soltou uma nota pública durante a assembleia dos Profissionais de Educação de Natal, no dia 05 de outubro, sobre a não reeleição de Amanda Gurgel, mesmo sendo a segunda mais votada, com 8.002 votos.
Achamos importante destacar que o PSTU reconheça que a não eleição de Amanda é uma derrota da classe trabalhadora. O resultado tem provocado grande consternação em toda a cidade e muita solidariedade diante dos ataques sofridos durante a campanha e de agressões de adversários políticos, que consideram um castigo ela voltar à sala de aula.
Mas, infelizmente, a nota do PSTU e a fala de Dário Barbosa, presidente do PSTU-RN, na assembleia, escolhem outro caminho e nos obrigam a produzir esta resposta, sobre a posição do MAIS (Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista) a respeito das eleições de Natal, e a de seus militantes quando ainda estavam no interior deste partido.
A nota do partido afirma: “Ninguém do PSTU, nem mesmo Amanda, defendeu realizar uma frente eleitoral com o PSOL na chapa de vereadores. Ela, como todos os demais camaradas, defendemos lançar chapa própria do partido. O debate que havia era sobre a coligação para prefeito”.
Esta afirmação não é verdadeira. A decisão comum do partido (de acordo com resolução interna do dia 19 de março de 2016) foi adiar a definição sobre a tática específica de Natal para depois da conferência nacional eleitoral. Nenhuma outra decisão foi tomada além desta e todos os militantes do partido tem conhecimento dessa resolução.
Portanto, não é verdade que todos os camaradas, muito menos Amanda, defendiam o lançamento de chapa própria do partido para as eleições da Câmara Municipal. Ao contrário, os camaradas defendiam a construção da frente de esquerda e socialista como prioridade em todo o País, como todos e todas no PSTU sabem, e que foi a posição derrotada na Conferência Nacional, com 45% dos delegados. Inclusive, Amanda e os nossos camaradas aqui de Natal defenderam essa posição.
Defendemos a construção de frente de esquerda e socialista, porque entendíamos que o processo progressivo de ruptura com o PT, que governou para as grandes empresas, estavam sendo aproveitados pelos partidos da velha direita e pelos setores mais conservadores para se fortalecerem como alternativa, o que se confirmou nas urnas, a despeito de qualquer otimismo que o PSTU possa ter nutrido.
Somente após a ruptura e da conformação do MAIS, o PSTU discutiu e lançou chapas próprias do seu partido, escolha que aqui em Natal teve efeito direto na não reeleição de Amanda. A responsabilidade por essa política, que consideramos equivocada, é somente deste partido, e é errado querer dividi-la com os(as) militantes que deixaram o PSTU no dia 06 de julho, e fundaram o #MAIS.
Prova é que, no dia 03 de agosto, ainda antes das convenções partidárias do PSOL e do PSTU, o #MAIS de Natal publicou uma nota (disponível na internet) chamando a construção de uma Frente de Esquerda na cidade: “É hora de construir uma frente de esquerda totalmente independente, sem alianças com os partidos patronais ou governistas, sem financiamento empresarial e com um programa que apresente uma Natal para os trabalhadores (as). Em Natal é totalmente possível uma frente de completa independência em relação aos patrões, não há razão para apostar na divisão”.
Já alertávamos ao PSTU que a divisão da frente de esquerda poderia trazer perigosas conseqüências tanto para as possibilidades da esquerda socialista nas eleições para a Prefeitura de Natal, como para a Câmara de Vereadores. Infelizmente, isso se confirmou, como uma tragédia anunciada. com a diminuição a bancada da esquerda socialista na Câmara e com um desempenho inferior as nossas possibilidades na votação para a Prefeitura, mesmo com a votação positiva de Robério do PSOL.
E, o que é o pior, opinamos que a decisão do PSTU de não repetir a frente de esquerda em Natal, como nas eleições de 2012, não se explica apenas por “critérios políticos e programáticos”, como afirmam em sua nota. Afinal, frentes eleitorais do PSTU com o PSOL foram formadas em outros municípios do RN, como Ceará-Mirim e Currais Novos, com o PSOL encabeçando as chapas para a Prefeitura e, inclusive, elegendo um vereador do PSOL nesta importante cidade do Seridó.
Na verdade, em nossa opinião, a convicção pela chapa própria do PSTU em Natal vem muito mais da avaliação que era possível os votos de Amanda garantirem um segundo vereador do PSTU. No afã de se fortalecer, apoiados em uma avaliação superestimada da conjuntura (apoiada na consigna do Fora Todos), acabaram por fortalecer tanto a direita quanto o PT e, como conseqüência direta de seus erros, Amanda Gurgel está fora da Câmara.
Não queremos abrir uma guerra contra o PSTU, não os enxergamos como inimigos, justo o contrário. Mesmo na ruptura, não procuramos a imprensa, procurando estabelecer e preservar as relações entre nós. Mas a recíproca não tem sido verdadeira. Já vivenciamos situações absurdas, com o mesmo Dário atacando ao microfone, em outra assembleia dos profissionais de educação, nos acusar de sair do PSTU para defender o governo Dilma, o que é uma verdadeira calúnia, pois sabe que nossa posição contrária ao impeachment foi feita combatendo também os ataques do PT aos trabalhadores. Lamentamos que a direção do PSTU de Natal, em meio a uma onda de ataques dos setores mais reacionários da burguesia contra a professora Amanda Gurgel, queira desrespeitá-la perante os profissionais de educação.
O #MAIS e a camarada Amanda Gurgel seguirão nas lutas da classe trabalhadora, da juventude e do conjunto dos explorados e oprimidos, de onde nunca saímos. Seja nos atos do Fora Temer e por eleições gerais, seja nas lutas dos servidores contra os ataques dos governos, nas lutas da educação, nas ocupações da juventude, do conjunto da classe trabalhadora, contra as opressões, entre tantas outras. Dedicaremos nossos esforços à unidade da esquerda socialista e a construção do MAIS, como uma alternativa socialista.
Natal, 6 de outubro de 2016. Coordenação Municipal do #MAIS Natal Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista