segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Força feminina impulsionou revolução na Tunísia



Autoria: Eleanor Beardsley (av)
Revisão: Carlos Albuquerque


Enquanto a revolução ferve no Egito,
a Tunísia se reorganiza após queda do
ditador Ben Ali. Mas a mudança não foi só mérito
masculino: com um histórico de igualdade,
as tunisianas são uma exceção no mundo árabe.



As mulheres da Tunísia representaram um papel central na revolução popular que levou à derrubada do ditador Zine el Abidine Ben Ali. Ao contrário da população feminina de grande parte do mundo árabe, as tunisianas praticamente gozam de igualdade em relação aos homens. Porém algumas temem que partidos radicais islâmicos, até então banidos, retornem, provocando um retrocesso.

"Mais civilizadas"

Vozes femininas soaram fortes durante os protestos de massa no país. Na capital Túnis, senhoras idosas, adolescentes e mulheres trajando a túnica negra dos juízes desfilaram pelas ruas, exigindo o fim do regime autoritário. Quase nenhuma portava o lenço de cabeça muçulmano, e hoje elas parecem estar por toda parte, participando de tudo ao lado dos homens.


A advogada Irgui Najet, de 36 anos, está envolvida numa discussão de rua, defendendo o governo provisório da Tunísia. Impressionados com seus conhecimentos e com sua argumentação, os homens à sua volta dizem que ela deveria se candidatar à presidência. Ninguém parece ver sua condição feminina como um obstáculo.
Najet define a diferença entre as tunisianas e suas irmãs do mundo árabe: "Nós nos sentimos mais livres e mais civilizadas do que outras árabes. Especialmente após nossa revolução, temos pena das mulheres nos países vizinhos. Olhe a Líbia, onde elas têm que cobrir a cabeça e não podem sequer conversar com os homens: é uma catástrofe!".

Antecedentes feministas

A população feminina da Tunísia é bastante presente: consta mesmo que um terço dos juízes do país são mulheres. Diante da lei, elas possuem o mesmo direito ao divórcio que os homens, e a poligamia é ilegal. Desde 1962, têm acesso ao controle de natalidade e o aborto já foi legalizado em 1965: ou seja, oito anos antes dos Estados Unidos.

As tunisianas devem suas numerosas liberdades e a igualdade ao Código de Direito Civil de 1956, assim como a um excelente sistema educacional, aberto a todos. Elas também são gratas ao presidente Habib Bourguiba, o pai fundador que liderou a luta de independência em relação à França, e que desejava que as mulheres fossem parte integrante da sociedade.

Ninguém atribui o menor crédito ao deposto Ben Ali: segundo Khadija Cherif, ativista do feminismo há anos, o ex-ditador só fingia apoiar os direitos femininos para agradar ao Ocidente.

Um eventual retorno dos partidos radicais islâmicos, banidos sob Ben Ali, poderá representar uma ameaça, mas as mulheres permanecerão vigilantes, promete. "A força do movimento feminista tunisiano foi nunca ter se distanciado da luta pela democracia e pela sociedade laica. Continuaremos a combater, para assegurar que a religião continue totalmente separada da política."


Bildunterschrift: Força feminina, do véu muçulmano à minissaia
De lenço ou de minissaia

A advogada de 31 anos Asma Belkassem tampouco demonstra medo de uma volta dos extremistas religiosos: "O que está certo é que nós, mulheres, temos direitos na Tunísia. Ninguém vai tomá-los: nem os radicais, nem ninguém!".

O advogado Bilel Larbi confirma essa avaliação. Ele considera as manifestações de janeiro a melhor maneira de julgar as relações entre os sexos na Tunísia: "Veja como as tunisianas estiveram lado a lado com os homens. Elas foram às ruas protestar, de lenço na cabeça, de minissaia. Não importa: elas estavam lá!"

Larbi assegura: depois de ter se erguido juntos para derrubar o ditador, os homens da Tunísia não pretendem deixar ninguém retirar as liberdades das mulheres do país.

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