terça-feira, 11 de outubro de 2011

DESEMPREGO E MISÉRIA DA ECONOMIA.

O espectro das favelas latino-americanas, asiáticas e africanas apavora a refinada social democracia enquanto seus economistas lutam para evitar o velho e corrosivo longo prazo na recuperação do ciclo. Por JOSÉ MARTINS, economista que escreve mensalmente um Bolentin Econômico.

Os capitalistas não sabem o que fazer com o desemprego da força de trabalho no centro do sistema. Em um sinistro relatório sobre a situação do mercado de trabalho nas economias centrais, a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (CDE) aponta para uma situação de inédito travamento do mercado de trabalho nos EUA, Europa e Japão. 1 Enquanto o desemprego permanece obstinadamente elevado nas principais economias do sistema, o risco de que esse ele permaneça neste nível elevado de maneira durável aumentou de maneira proporcional ao aumento do desemprego de longo prazo, quer dizer, número de desempregados que procuram emprego há mais de um ano.

Nos Estados Unidos, a proporção dos desempregados procurando trabalho há mais de um ano triplicou e atingiu em meados de 2011 um nível recorde de mais de 30 por cento da massa total de desempregados. Em 2007, antes da última crise, essa proporção de desemprego de longo prazo não passava de 10 por cento. Em 2010, para uma média na OCDE de 32.4 por cento, essa proporção já atingia mais de 40.0 por cento na França (40.1), Bélgica (48.8), Itália (48.5), Alemanha (47.4), Espanha (45.5), Portugal (52.3), Grécia (45.0), etc.

Essa proporção dos desempregados de longo prazo é socialmente explosiva. As pessoas nesta situação são as maiores candidatas a cair na situação de miséria absoluta e nas camadas mais excluídas da economia de mercado. Contingentes enormes da população das antigas sociedades do “bem-estar social” e da social democracia, do pós-guerra, deslizam com incrível velocidade para a condição de miseráveis do terceiro-mundo. O espectro das favelas latino-americanas, asiáticas e africanas apavora a refinada social democracia do imperialismo. Na apresentação do sinistro relatório, Angel Gurría, secretário geral da OCDE, lança um apelo dramático para os governantes da OCDE: “De todas as facetas da crise financeira e econômica, o desemprego elevado é a manifestação mais visível do desafio de um crescimento durável. Trata-se da visão humana da crise. Os governantes não podem deixar de reagir. Os desafios de um desemprego elevado e durável, a melhoria das possibilidades de emprego e a garantia de adequada segurança social, devem estar no topo da agenda política”.

MUDANDO O DISCURSO – O discurso não foi sempre assim. Antigamente, até a grande Depressão dos anos 1930, pelo menos, a economia política dos capitalistas ainda encarava com certa ingenuidade o problema do emprego da força de trabalho no momento da crise econômica. Opunha-se, ferozmente, a qualquer intervenção política que impedisse a livre elevação da taxa de desemprego. No longo prazo, diziam eles, o livre jogo do mercado (oferta x demanda) se encarregaria de reestabelecer seu “ponto de equilíbrio” – os salários cairiam a um nível suficientemente baixo para que os capitalistas tivessem interesse de recontratar os trabalhadores, aumentar novamente a produção, os salários, etc.

Pura apologia das virtudes do mercado para esconder a necessária elevação da exploração dos trabalhadores a cada ciclo econômico. Porém, com os estragos provocados pela sucessão dos grandes choques periódicos de superprodução de capital, no século 20, essa doutrina da estabilização automática dos mercados foi caindo em desuso pelos capitalistas. Continua com livre curso apenas nas faculdades de Economia. O problema é que ela é de difícil execução prática: quem vai colocar o guiso no gato, quer dizer, segurar a barra política e social – salvar os capitalistas da fúria das massas enquanto as forças endógenas do capital se ajustam morosamente em direção do “ponto de equilíbrio” que só existe nos insonsos manuais de microeconomia?

Depois das criativas catástrofes sociais e geopolíticas do regime capitalista ocorridas nos últimos oitenta anos, os economistas do Estado organizado trocaram o discurso – agora eles apregoam que o obstáculo à recuperação e ao crescimento econômico é justamente a elevada taxa de desemprego e o consequente subconsumo das massas. Essa velha tese populista requentada e travestida de moderna macroeconomia keynesiana mantém o núcleo teórico daquela velha economia neoclássica de antes da Grande Depressão: os gastos dos consumidores determinam a dinâmica da produção e dos investimentos.

E a origem do lucro, repetindo a velha economia neoclássica, está na circulação, no momento da venda da mercadoria. Essa é a maior imbecilidade jamais cometida na história do pensamento econômico. Por isso a economia política dos capitalistas é conhecida como economia vulgar. Apenas centralizaram a aplicação dos mecanismos de ajuste da oferta e demanda de trabalho: do livre jogo do mercado para o Estado. Por isso, a dinâmica da crise, hoje em dia, é tratada apenas como um assunto de política econômica e monetária dos governos.

Como se recupera de uma crise? Para o senso comum do mercado é muito simples. Até o Lula e a Miriam Leitão sabem de cor e salteado a receita infalível: basta o governo aplicar medidas de estimulo ao consumo individual. A economia vulgar é animada por gente perfeitamente adequada às suas grosseiras formulações. Na prática, então, trata-se de executar políticas fiscais e monetárias para aumentar os meios de pagamento e de crédito na economia para que os consumidores voltem a comprar mercadorias e, com isto, os desesperançados capitalistas voltem a investir e contratar novos trabalhadores, etc. Tomando os devidos cuidados, é claro, com a inflação, a queridinha das instabilidades e incertezas do sistema financeiro.

BARULHO EM WALL STREET – Não foi exatamente essa popular macroeconomia de se botar pilha na demanda e se carregar os mortos-vivos para o próximo ciclo que se fez no centro do mundo, nos últimos três anos, com os voos rasantes dos helicópteros de Bernanke espalhando trilhões e trilhões de dólares do Tesouro pelo mercado? Se com essa receit keynesiana a economia tivesse se recuperado com a exuberância dos ciclos econômicos da era Greenspan, antecessor de Bernanke na direção do banco central dos EUA, não só a teoria quanto a nova prática de administração estatal do mercado teriam mantido suas inabaladas virtudes.

Mas no meio do caminho aparece uma inconveniente taxa de desemprego de 9.1 por cento. Impassível. Insensível. Por que essa pentelha de uma taxa não se reverte e desaparece em novo período de expansão do capital? Como fazia na era Greenspan?
Não dá para se esperar pelo longo prazo para se alcançar o “ponto de equilíbrio” – não é isso que a moderna economia capitalista sabe muito bem? Quando esse angustiante tempo de espera se metamorfoseia em manifestações por mudanças radicais em todas as partes do mundo, desde o Cairo até Wall Street – os donos do mundo resolvem classificar o desemprego como a verdadeira “crise nacional”. Como fez na última semana o cada vez menos poderoso presidente do banco central dos Estados Unidos: “A situação do desemprego é a „crise nacional‟, declarou Bernanke respondendo a questões depois de palestra em Cleveland, dia 28 de Setembro. Obama está em campanha pela aprovação do Congresso de $447 bilhões para seu programa de emprego centrado em reconstrução da infraestrutura e ampliação dos cortes das taxas de contribuições dos empregadores sobre as folhas de pagamento.”

Mistério na Corte de Washington. Não se pode evitar o longo prazo eternamente. Será que, ao contrário das necessidades práticas de governabilidade da luta de classes, essa taxa de desemprego de 9.1 por cento não precisaria aumentar um pouco mais, para resolver o problema do capital? O plano de Obama, se aprovado pelo Congresso, o que dificilmente deve acontecer, não jogaria mais gasolina na fogueira? Esse é o grande mistério do ciclo econômico atual. Trataremos do dito cujo no

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