segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A resistência, o registro e a educação popular

Direto de Palmas fico feliz com os anos de batalha do Vias de Fato. Publico seu Editorial abaixo:



Esta é nossa 25º edição. Estamos comemorando, neste mês de outubro, dois anos de fundação. Vamos celebrar a data com um debate no próximo dia 9 de novembro, no Sindicato dos Bancários, sobre o tema Mídia Alternativa, Sociedade Civil e Luta Social. Convidamos para o evento o jornalista Igor Felippe Santos, que atua em São Paulo editando o site do MST, integra o Centro de Estudos Barão de Itararé e a Rede de Comunicadores pela Reforma Agrária. Além dele, participarão desta nossa atividade dois professores universitários: a jornalista e socióloga Helciane Araújo (UEMA) e Flávio Reis (Ciências Sociais/ UFMA).

A imprensa alternativa, na década de 1970, cumpriu um papel político importante no Brasil. A chamada imprensa nanica, ligada diretamente às correntes de esquerda, marcou época, principalmente entre o AI-5 (fim de 1968) e a anistia (1979). Foram dezenas de jornais, casos de O Pasquim e Opinião. Nenhum deles diário. Na ocasião o país vivia dominado por uma ditadura que matava, torturava, censurava, fechava as instituições, reprimia as organizações sociais, as manifestações artísticas, os estudantes e mandava adversários para o exílio.

Durante a tortuosa “abertura democrática”, já na década de 1980, com o surgimento de partidos progressistas e o avanço de um novo e amplo movimento social, os jornais alternativos perderam espaço no Brasil. Mas, na grande imprensa, a censura (e autocensura) continuou a ocorrer com nova roupagem, sendo driblada na última década pela subversiva comunicação social via internet.

Consideramos que hoje o Brasil ainda vai muito mal politicamente, com uma “democracia” tão fajuta quanto degenerada. Um regime onde o Poder Judiciário, por exemplo, a cada dia perde mais credibilidade. Ninguém, minimamente informado, deixa de desconfiar atualmente deste Poder. É lamentável, mas é verdade. A começar pelos tribunais superiores. As recentes decisões do Superior Tribunal de Justiça (STF) de anular as provas de três importantes operações da Polícia Federal (PF) - Boi Barrica, Satiagraha e Castelo de Areia - são, sob qualquer aspecto, inadmissíveis. E como se diz em qualquer esquina deste país, é uma merda, mesmo!

E não tem essa balela de que decisão judicial se cumpre e não se discute. Este tipo de decisão se discute, se critica e se denuncia. Afinal, estas operações da PF investigaram desvio de uma montanha de dinheiro público. Dinheiro da sociedade! Então, esta mesma sociedade pode sim opinar, quando considerar o fato uma cagada feita por alguns ministros do STF.

Mas, se a coisa está ruim em Brasília, no Maranhão está bem pior, pois o nosso Estado ficou, até hoje, sob o comando de um dos principais representantes da já citada ditadura. Um gangster que se manteve no poder após sucessivas fraudes, criando um ambiente totalitário, que liquidou a oposição, oprimiu e/ou corrompeu os partidos políticos e calou a mídia tradicional, deixando o povo brutalmente submetido à miséria e a diferentes formas de violência.

É neste contexto, alastrado pelo atraso, que surge no Maranhão, em outubro de 2009, o indiscreto Vias de Fato, um jornal que iria reacender a postura crítica dos anos 70, mas com a marca da contemporaneidade, seis meses após o golpe judiciário que recolocou Roseana no Palácio dos Leões e um ano antes da fraude e do abuso escancarado de poder político e econômico, que manteve no governo a filha do gangster.

Fundar um jornal é sempre uma atitude política. Independente de ser de direita, esquerda, conservador, progressista, liberal, socialista, capitalista, anarquista, cristão ou comunista. A regra é todo veículo de comunicação nascer a partir de uma vontade de interferir na vida social e política da comunidade onde ele circula. Mesmo quando exacerbam no conteúdo alienado, os jornais colaboram na idiotização de uns, para facilitar a dominação de outros.

Na atual conjuntura maranhense consideramos que a comunicação alternativa é, antes de tudo, uma necessidade política. Precisamos incentivar no Estado um jornalismo que, além de informar sem medo, estimule um debate quase inexistente, dê voz às organizações de cunho popular e promova uma crítica tão profunda quanto plural.

E logo ao nascer, este pequeno projeto de comunicação se juntou aos processos de resistência que existem na sociedade maranhense, mas a imprensa tradicional finge que não vê ou conta os fatos a seu modo. E, no meio da nossa caminhada, naturalmente, nos integramos à poderosa mídia alternativa do século XXI: a grande rede de computadores e todas as suas múltiplas possibilidades.

Neste processo, alegra-nos ainda o fato de poder colaborar com professores e alunos (de ensino médio e universitário), que utilizam o material que nós produzimos mensalmente para a realização de trabalhos de colégio e estudos acadêmicos. Trata-se de outra forma de resistência. Além da denúncia, da opinião e do desacato escancarado aos ditos poderosos, colaboramos, modestamente, com aqueles que querem contar uma história bem longe da influência dos que corrompem, exploram e oprimem.

E, finalmente, informamos aos nossos leitores e diferentes colaboradores que em breve desenvolveremos um projeto piloto, no interior do estado, na área de comunicação alternativa. Será junto a assentados, articulados com pastorais sociais e rádios comunitárias. Um trabalho de aprendizado mútuo, onde todos nós estaremos aprendendo e ensinando, a partir de nossas diferentes linguagens.

Além da resistência política e de um registro diferente da história, sempre esteve claro para nós que, atualmente, um projeto de mídia verdadeiramente alternativo tem que buscar uma conexão com o processo de formação política, tem que discutir os malefícios da grande mídia, tentando uma ligação com um trabalho de educação popular e de construção de um novo caminho, de uma nova via, onde a sociedade possa superar os entulhos do atraso citados neste editorial e ao longo destas 25 edições.

Vamos tocando frente! E obrigado a todos que nos ajudaram a chegar até aqui...

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