sábado, 3 de julho de 2010

A trajetória de um operário que não mudou de lado


José Maria de Almeida nasceu em Santa Albertina, interior de São Paulo, em 1957. Com 20 anos, foi estudar na Fundação Santo André, no ABC. De dia trabalhava como metalúrgico. “Eu era calouro de Matemática, mas fui assistir a um debate na calourada de Sociologia”, lembra. “Fiquei ali, sem entender muita coisa”, diverte-se. Até que o orador começou a falar dos operários, da exploração nas fábricas... “Isso aí eu entendia. Acabei conhecendo o pessoal, que era da Liga Operária”, conta Zé Maria.

1977
Ele já era próximo ao grupo trotskista e foi convidado a distribuir o boletim “Faísca”, para o 1º de Maio. “Fui preso na minha primeira panfletagem”, lembra. Eles ficaram 30 dias na cadeia e a campanha pela libertação motivou as primeiras passeatas dos estudantes contra a ditadura.

1978
É uma das lideranças da onda de greves no ABC paulista e um dos principais dirigentes em Santo André. Operário da Cofap, torna-se um dos membros do comando de greve do ABC. Propõe no congresso dos metalúrgicos em Lins (SP) a fundação de um Partido dos Trabalhadores. Participa, depois, da fundação do PT e da CUT.

1980
Preso com Lula e mais 10 sindicalistas, Zé Maria é enquadrado na Lei de Segurança Nacional e fica mais de um mês preso.

1984
Muda para Minas Gerais, onde participa da vitória da chapa de oposição, dirigida pela Convergência Socialista, no Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem.

1989
Zé Maria lidera a greve com ocupação da siderúrgica Mannesman. Durante sete dias, centenas de operários controlaram a empresa. Em uma greve radicalizada, os operários usavam barras de ferro e, encapuzados, prometiam reagir diante de uma invasão, como havia ocorrido no anterior, na CSN, em Volta Redonda (RJ). A greve da Manesmann foi notícia nacional e permitiu a fundação da Federação Democrática dos Metalúrgicos de Minas Gerais, naquele ano.

1992
Com a Convergência, é expulso do PT por levar a campanha do Fora Collor, que, então, a maioria da direção do PT era contrária. Zé Maria é um dos fundadores do PSTU, dois anos depois.

1995
Na Executiva Nacional da CUT, esteve à frente dos grandes enfrentamentos contra FHC, como a greve dos petroleiros. E nos anos seguintes, na greve do funcionalismo, em apoio aos sem-terra e contra as privatizações.

1998
É candidato à Presidência da República pelo PSTU, com o lema “Contra burguês, vote 16”

1999
Participa da preparação da marcha dos 100 mil em Brasília, onde coloca em votação a proposta de Fora FHC e o FMI.

2000
É preso e agredido na forte repressão da polícia de ACM e FHC, contra a marcha Brasil Outros 500, em Porto Seguro (BA).

2002
Candidato a presidente, oferece uma alternativa a Lula e Serra, que haviam assinado protocolo de intenções com o FMI. O PSTU põe a campanha a serviço da denúncia da Alca, que iria transformar o país em uma colônia dos EUA. O partido sai fortalecido, e Zé Maria recebe 440 mil votos. Lula é eleito. O PSTU adverte que, sem romper com a Alca e o FMI, Lula não iria governar para os trabalhadores.

2003
No primeiro ano do governo Lula, Zé Maria participa ativamente da greve dos servidores contra a reforma da Previdência e das marchas a Brasília.

2004
Entrega seu cargo na Executiva Nacional da CUT e defende a necessidade de uma nova direção para o movimento sindical brasileiro. É um dos organizadores do Encontro em Luiziânia (GO). Em 16 de junho, é um dos principais dirigentes da marcha da Conlutas a Brasília, contra as reformas de Lula e do FMI.

2005
Explode o escândalo do “mensalão”. Em agosto, Zé Maria é um dos líderes da marcha que toma conta de Brasília.

2006
O Conat aprova a fundação oficial da Conlutas. Em junho, ato lança a Frente de Esquerda (PSOL-PSTU-PCB), com Heloísa Helena. A frente tenta ser uma alternativa aos dois blocos: de Lula e de Alckmin. Zé Maria é proposto para vice, refletindo o peso do PSTU. No entanto, o PSOL, de forma hegemonista, aprova um vice próprio.

2007
No 8 de março, o Dia Internacional das Mulheres é também de luta contra a presença de Bush. Ele foi recebido por Lula enquanto, na Av. Paulista, a tropa de choque atacava barbaramente os manifestantes, ignorando os protestos de Zé Maria, do carro de som. Em junho, uma caravana da Conlutas viaja ao Haiti, exigindo a retirada das tropas. Essa será uma das principais campanhas da Conlutas.

Neste ano, Zé Maria também lançou o livro “Os sindicatos e a luta contra a burocratização” pela Editora Sundermann. Na obra, ele debate a estrutura dos sindicatos atualmente e um projeto político para a luta sindical que questione a exploração capitalista.

2008
Em abril, participa do I Encontro Nacional de Mulheres da Conlutas. Em maio, é preso na Parada GLBT de São Paulo. A pedido da organização, a PM retira o carro da Conlutas, espancando ativistas. “Uma intolerância inacreditável”, disse Zé Maria. “A marcha é uma manifestação contra a intolerância e foi proibida nossa participação”. Em julho, ocorre o II Congresso da Conlutas, em Betim (MG). Representantes de diversos países, incluindo o Haiti, participam do Elac.

2009
Israel invade Gaza. Zé Maria e o PSTU usam o programa de TV para denunciar o massacre. A crise capitalista provoca milhares de demissões, como na GM e na Embraer. Zé Maria denuncia que o presidente da CUT sabia das demissões na Embraer. Em janeiro, participa de ato em Itabira (MG), com trabalhadores da Vale. Em novembro, é um dos principais organizadores do Seminário de Reorganização, que marca um congresso para 2010 e pode significar a unidade de Conlutas e Intersindical.

Zé Maria no Dieese Memória

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