quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

GIRIA VERMELHA – A HORA DO REVIDE TÁ CHEGANDO




Não sou um especialista na arte do Rap. Gosto de ouvir as belas poesias que expressam a vida e a luta de classes, que muitos insistem em negar. Reconheço que a maioria das letras dos cantores de Rap americano poderia ir pra lata do lixo.

No Brasil é diferente: temos boas letras. Antes mesmo de conhecer as dos que fazem o Rap maranhense, aprendi a admirar as letras do Mano Brow dos Racionais. Ainda os vejo comum um dos melhores do Brasil.

No entanto, ao ouvir o CD do Gíria Vermelha, vejo que os Racionais terão que melhorar ainda mais para manterem-se no topo da lista. O grupo Gíria Vermelha é formado pelo Professores de História e Mestres em Educação Hertz e Verck, pela cantora e Farmacêutica Luciana Pinheiro e pelo camarada e lutador Preto Rubens.

As letras do grupo estão sempre antenadas com a vida do povo pobre. Além do mais eles não só escrevem como estão praticando o que está escrito. Estão sempre à frente das principais lutas dos professores e também das lutas gerais da nossa classe. A criação é coletiva, mas (apesar de não admitir) os camaradas Hertz e Verck são os responsáveis pela maioria das letras.

Abaixo publico uma das que eu mais gosto. Chama-se, O Imortal. Leiam com atenção e descubram vocês mesmos quem são os imortais. Dou uma dica: não é o Mubarack do maranhão. Se quiserem ouvir a música vá até o site do GIRIA VERMELHA (http://giriavermelha.blogspot.com/) ou blog de músicas maranhense (http://musicamaranhense.blogspot.com) e baixem.


O IMORTAL

O imortal o que é o imortal?
O imortal é um pivete nascido no gueto
De tanto chorar já não consegui sorrir

De tanto sofrer já não sente mais medo
O imortal é aquele pivete que você humilhou
No Hiper Bompreço

Só que agora não pede esmola
Ele quer a jóia, a bolsa, o dinheiro
Suas palavras já não o comovem
Acho bom dá a senha do cofre
Seja chique madame não grite
Seja forte, não chore, não chore

Nossas forças foram sugadas
Nossas vidas nem foram contadas
Fora do sermão da igreja nossa alma
Não valia nada

Desconheço suas leis e regras
E meu pai viciado em merla
Apanhava três vezes ao dia
Hoje meu coração é de pedra
Meu sentimento é só de vingança
Só que ainda sou uma criança
Que herdará o reino do céu
Ó o céu no fiel da balança

Sou um monstro criado por ti
No lixão do jaracati
Foi ali que vi minha mãe
Garimpando o rango pra mim
Foi ali que vi os irmãos
Todos eles com calos nas mãos
Atração para um boy
Que filmava da sacada de sua mansão

Foi ali que vi o contraste
Duas cidades numa cidade
Foi ali que vi que nós era
Patrimônio da desigualdade

Foi ali que encostei os lábios
Na taça do ódio
E tomei o elixir da vida
Com erva colhida no jardim da morte

Virei Imortal
Eu sou Imortal,
Virei Imortal
Eu sou Imortal

O Imortal tem cheiro de morte
Moleque pobre no esgoto da vida
Não teme a morte e nem a policia
O noticiário da mídia

O sistema fabrica imortais
O ciclo não se desfaz
Morre um nasce três no lugar
Eis aí um plano eficaz

O presente é sempre meu tempo
O meu tempo é sempre presente
Meu passado é só sofrimento
Meu futuro eu carrego nos dentes

Vocês arrancaram minha alma não foi
Vocês me jogaram na vala não foi
Vocês me tiraram o feijão com arroz
Vocês me deram uma arma depois

Vocês humilharam minha mãe
Vocês viciaram meu pai
Vocês sabem bem como
Para fabricar imortais

Minha vida não vale a moldura
Da obra de arte de Portinari
Nem o vídeo de Cicarele
Sendo possuída na praia

Mesmo assim sou mais resistente
Fui criado na lama
O seu filho é cheio de frescura
Chama empregada de mama

Vocês que se abanam com o leque
Arrancaram o sorriso da plebe
Não satisfeito você que arrancar
O Estatuto que não me protege

Vocês não respeitam direitos
É só preconceito pro lado de cá
Vocês criaram o BOP
E o ROBOCOP pra me matar

Mas aí eu não temo a morte
Eu não posso morrer
Eu não posso morrer
Imortais, seremos milhões
Enquanto capitalismo viver

Serei Imortal
Eu sou Imortal,
Virei Imortal
Eu sou Imortal

O Imortal é um paranormal
Manimal, psicopata
Sem direito a porra nenhuma
Transformado no homem de pata

Se protege como pode
Da tropa de choque, os marionetes
Despenou um boy que cheirava
Na entrada do Studio sete

Foi manchete no Imparcial
Foi destaque no Bandeira Dois
Contemplado pelo governo
Isso aí ele nunca foi

É o terror, seu tataravô
Liderou revolta de escravo
Hoje o boy pede pro homens
Elimina esse desgraçado

Tá encurralado faz passeata
Pede mais repressão da policia
Incrimina cantor de Rap
Bate palmas pro Tropa de Elite

Esse é o pique da luta de classe
Os imortais ressuscitam Marx
Os coveiros da Burguesia
Espalhados por todas as partes

Olha o contraste na cena da ponte
Olha quem tá debaixo da ponte
Olha o carro em cima da ponte
É uma Ferrari de quinhentos contos
Atiça os monstros

Olha aí Janio Arley, filma o contraste
Ou então cala a boca Cadela
Que queima a favela
De segunda a sábado

Este é o cenário, é ou não é ?
O Imortal também já foi anjo
Arrancado do paraíso
Transformado num belo dum monstro
Sobre os escombros do Capital
Então, sangra você burguesia

Cospe fogo no renascença um
Tiamate da periferia
Não era isso que cês queria:
Ódio na veia, revolve e capuz?

Pra você que enriqueceu
Desviando dinheiro do SUS
Pra você que compra canal de TV
Com dinheiro de favelado
Com milhões da conta da Tia
Que nem sabia lá no Coroado

Estes são os fatos
Este é o fardo
Pra quem vive neste inferno
Tira o sonho de Vidigal
Tira o sono do Coronel Melo
No verde amarelo, azul e branco
Manchado de sangue

O imortal é tua cria
Burguesia assassina e gangster



Hertz foi candidato a Vice-Governador do Maranhão pelo PSTU

Nenhum comentário:

Postar um comentário